ARQUITETURA É FORMA DE CONHECER | ementa

ARQUITETURA É FORMA DE CONHECER

A cidade educa?

Arquitetura pode ser uma forma de conhecer a técnica? A história? A arte? O homem?

Arquitetura é forma de conhecer reivindica um lugar para arquitetura/urbanismo além do campo disciplinar que abarca o saber específico.

Conhecimento é o conjunto de ideias, hipóteses, conceitos, apreendidos e elaborados através de um processo de aprendizagem.

Conhecer é ação. 

Arquitetura/Urbanismo estão relacionados à ação, são atividades propositivas por definição. Imaginar o futuro é matéria de nosso trabalho.

Arquitetura/Urbanismo falam também sobre algo existente, que faz parte do “mundo real”, e proporcionam experiência direta sobre isso.

A partir deste abrangente tema, gostaríamos de utilizar a cidade de São Paulo – seus lugares, seus problemas, seus encantos – como laboratório de projeto, como local de investigação e limites de nossa própria profissão. 

Estúdio Vertical

Desde o princípio da formação da grade curricular da Escola da Cidade, o Estúdio Vertical foi pensado como um espaço de reflexão e experiência coletiva de caráter transdisciplinar, envolvendo grupos de alunos de diferentes anos no enfrentamento de questões ligadas ao campo da arquitetura e do urbanismo.A partir da escolha de temas relevantes ligados à vida e ao desenvolvimento de nossas cidades, a experiência do EV sempre reivindicou o papel de laboratório, lugar de ensaio para o tratamento crítico dos problemas presentes no cotidiano e a construção de novas perspectivas para os espaços de convivência em nossa sociedade. Um lugar de síntese capaz de refletir, em seu processo e na diversidade de suas propostas, o conjunto dos pensamentos dessa escola a partir de suas diversas sequências disciplinares – projeto, urbanismo, tecnologia, desenho, história e teoria.

A variedade de temas, somada à diversidade e abrangência das propostas desenvolvidas pelos estudantes, nos obriga ao desafio de reinventar novas questões a cada semestre, seja a partir de temas candentes suscitados por nossa cidade ou por nossa disciplina, seja pela aproximação a outras pesquisas desenvolvidas em nossa escola.

Mais do que propiciar o enfrentamento de importantes temas de projeto para a nossa cidade, o EV possibilita, apoiado na integração dos alunos de diversos anos nos grupos de trabalho, a construção da autonomia dos estudantes a partir do trabalho coletivo.

Durante o segundo semestre de 2017, a partir das experiências anteriores do Estúdio Vertical, propusemos a realização da pesquisa Reconhecer São Paulo, base para a realização do XIII Seminário Internacional – Arquitetura é forma de conhecer, e ponto de partida para os trabalhos que serão desenvolvidos ao longo do primeiro semestre de 2018.

Reconhecer São Paulo

 

                        “Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto

                        Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão

                        A ave passa e esquece, e assim deve ser

                        O animal, onde já não está e por isso de nada serve,

                        Mostra que já esteve, o que não serve pra nada

                        A recordação é uma traição à Natureza

                        Porque a Natureza de ontem não é Natureza

                        O que foi não é nada, e lembrar é não ver

 

                        Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!”

Fernando Pessoa

                     O Guardador de Rebanhos XLII

 

Conhecida genericamente por atributos superlativos ligados ao papel econômico, à escala urbana ou à diversidade populacional, a cidade de São Paulo merece, do ponto de vista arquitetônico-urbanístico, um estudo aprofundado dos espaços incorporados ao cotidiano de sua população que, por este mesmo motivo, podem ser reconhecidos simbolicamente como representativos da metrópole.

Que edifícios ou espaços públicos podem explicar São Paulo?

Onde a cidade está – ou poderia estar – lembrada?

Não somente os conhecidos cartões postais – Copan, MASP, Avenida Paulista ou Parque do Ibirapuera – podem figurar em uma lista hipotética de edifícios ou lugares-síntese de nossa cidade. Além destes, poderíamos nos aproximar a locais únicos   como a Rua 25 de março, a Feira da Madrugada do Brás, o Largo da Batata, entre tantos outros. Espaços que marcam a vida comunitária proporcionada pela apropriação dos espaços públicos, através de diferentes formas de convivência na diversidade da composição de nossa metrópole – seja a partir de aspectos ligados à sua importância histórica, à sua pujança econômica ou à precariedade de suas áreas periféricas.

Independentemente da escala, localização ou uso, propusemos um exercício de reconhecimento de nossa cidade, do alcance da ação dos arquitetos e urbanistas por meio de suas obras, mas também do levantamento de espaços latentes ou potenciais que, mesmo que não possuam quaisquer atributos arquitetônicos em especial, sejam reconhecidos por parte da população e incorporados à vida cotidiana de nossa cidade.

Do ponto de vista metodológico, solicitamos a cada equipe, como primeira atividade de nosso curso, uma listagem de três obras arquitetônicas ou espaços públicos da cidade, amparada por um pequeno texto e uma imagem que justificasse sua escolha como espaço representativo da cidade.

A partir deste trabalho inicial, a coordenação do EV realizou uma tabulação dos locais apontados, base para uma conversa entre estudantes e professores para a escolha dos exemplos estudados por cada equipe ao longo do segundo semestre de 2018.

Considerando a definição do lugar, as premissas de abordagem se deram livremente de acordo com o interesse e autonomia de cada equipe e da interação com seus professores orientadores.

Terminado o semestre, catalogamos os 48 trabalhos realizados em 12 eixos temáticos capazes de abarcar a totalidade das propostas de nossas pesquisas, mas também viabilizando o vínculo das diversas equipes com cada professor convidado do nosso Seminário Internacional, de acordo com a listagem abaixo:

  1. ESPAÇOS DO COTIDIANO | Padarias de São Paulo, Bar Estadão
  1. PROJETOS PARTICIPATIVOS | Mutirão Cidade Tiradentes, Filhos da Terra
  1. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES | Pontos de ônibus, Viaduto Dr. Arnaldo, Edifícios Garagem do Centro de São Paulo
  1. ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL | Bairro de Perus e antiga fabrica de cimento, Casa Vanorden, Moinho Matarazzo, Vila Maria Zélia
  1. CIDADE IMIGRANTE | Baixada do Glicério, Bom Retiro, Praça Kantuta
  1. ESPAÇO OBSOLETO E POTENCIAL | Campo de Marte, Carandiru
  1. MAPEAMENTOS E ANÁLISES SENSORIAIS | Vale do Anhangabaú
  1. ESPAÇOS DE RESISTÊNCIA | Aparelha Luzia, Casa Amarela, Ocupação Oscar Freire X Peixoto Gomide, Maloca do Jaceguai e Teatro Oficina, Perspectiva de gênero na arquitetura e urbanismo
  1. ÁGUAS DA CIDADE | Represa Guarapiranga
  1. ARQUITETURA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO | Igreja Nossa Senhora dos Aflitos, Cinemas Centro, Estádio Pacaembú
  1. CONTRASTES URBANOS | “São Paulo (Jaraguá, Parelheiros, Real Parque)”, Jardim Panorama x Shopping Cidade Jardim, Alphaville
  1. ARQUITETURA EVENTUAL | 24 horas reconhecendo sp: Virada Cultural

 

Como proposta inicial de nosso curso, considerávamos a hipótese de que cada uma das pesquisas desenvolvidas no segundo semestre de 2017 seria desenvolvida ao longo do primeiro semestre de 2018, como um desdobramento projetual dos locais estudados e considerando o Seminário Internacional como importante ponto de retomada dos trabalhos.

Ao mesmo tempo que inúmeros grupos seguirão a lógica proposta, terminado o semestre, reconhecemos que algumas pesquisas se concluíram, sem possibilidade e interesse de continuidade. Além disso, inúmeras equipes foram reconfiguradas – parcialmente ou em sua totalidade – seja pela saída dos alunos que se formaram em 2017, seja pela chegada de alunos que retornam se seus intercâmbios em 2018, mas também pela reconfiguração natural das equipes por conta do interesse de cada aluno em relação à diversidade de áreas de estudos abarcadas pelo Estúdio Vertical.

A estas equipes novas equipes, sugerimos o ingresso em um dos 12 eixos temáticos propostos, realizando novos trabalhos a partir das pesquisas previas apresentadas, seja um tema já estudado por um dos integrantes da equipe, seja pelo interesse de um tema desenvolvido por outra equipe.

Novos locais de estudo ou temas serão permitidos, desde que se encaixem em um dos eixos temáticos propostos, e que seja apresentado materiais de pesquisa e bases de qualidade para possibilitar a interlocução com os professores convidados.

O encaminhamento de cada pesquisa durante o Seminário Internacional, seus recortes metodológicos ou definição de produtos, bem como seus desdobramentos futuros, serão livremente definidos pelos professores convidados em sua interlocução com suas quatro equipes, podendo ser desenvolvidas pesquisas independentes dentro do mesmo grupo temático ou, caso seja de interesse, um único projeto coletivo.

Ao final do Seminário, teremos uma conversa final para avaliação desta importante semana de trabalho, certos da enorme colaboração oriunda de professores de diversas locais, com diferentes formações e áreas de atuação.