G35_modos de pensar, modos de fazer

Beatriz Brantes I Juliana Souen I Larissa Fogaça I Maristella Pinheiro I Salome Gerbi

ENTREGA 04

Na distância entre teoria e prática, fazer e pensar, floresce o desejo de sair do papel e chegar na escala das proporções do corpo. Construir e desenhar sem que exista ordem ou hierarquia, de modo que o mundo material objetivo está interligado e influencia o mundo das ideias. Se busca compreender os processos criativos envolvidos em uma relação de mão dupla entre ideia e matéria.

Procura-se compreender as relações entre o fazer e o pensar, nos debruçamos sobre o livro “O Artifície” de Richard Sennett, no qual faz uma investigação histórica do trabalho manual de artífices de diferentes ordens, em busca de entender a relação entre práticas concretas e ideias. “O entendimento técnico se desenvolve a partir da força da imaginação. Repetir possibilita a autocrítica, permite modular a prática de dentro para fora. Os momentos de criação estão, na verdade, ancorados na rotina. À medida que uma pessoa desenvolve sua capacitação, muda o conteúdo daquilo que ela repete. ”

Para Sennett, é possível aprender conhecendo a técnica, mas esta aprendizagem está inteiramente ligada à disposição de experimentar por meio do erro. “Tenho um padrão de referência que me diz o que eu estou buscando, mas meu compromisso com a verdade reside no simples reconhecimento de que cometo erros. Devo dispor-me a cometer erros, tocar notas erradas, para eventualmente acertar. ”

Neste sentido, nasce a vontade de fazer uma cadeira, na qual o objetivo é construir protótipos que consolidem um objeto de reflexão. A prática deixa de ser repetição digital para se transformar em uma narrativa. Fixa-se um ritmo até chegar a versão final.

A história de evolução da espécie humana contém uma série de lacunas que ainda intrigam os estudiosos, como o processo de criação das primeiras ferramentas. Paralelamente a este processo de domínio de objetos, aqueles primeiros humanos aprendiam o caminhar bípede que os permitia maior mobilidade, simultaneamente portando com as mãos suas primeiras ferramentas, o que certamente exigia um enorme esforço. Talvez aí tenha surgido a necessidade do sentar.

Diferente do deitar, o sentar ainda requer um corpo preciso, atento e tensionado em vários pontos. Não é uma posição que vence a verticalidade por completo. Desse modo, o campo de visão fica ainda muito parecido com o da posição ereta, tendo como diferença principal a altura. Sentado, é possível estabelecer contato visual com o ambiente e manter relações com ele, observar, interagir.

Se analisarmos a produção de cadeiras ao longo do tempo, podemos fazer uma análise social, política e econômica de diferentes sociedades. Funcionalmente, cadeiras de mandar, de conversar, comer, trabalhar, estudar, de massagear e até eletrocutar. Materialmente, pedra, madeira, aço, plástico e a evolução de diferentes técnicas para adequar o móvel a cada material.
A cadeira como artefato. Registro de diferentes tempos e costumes.

Assim, podemos entender que ao se pensar e produzir uma cadeira do zero, constrói-se com ela o olhar, a técnica, o material e a necessidade um tempo específico. O que seria então a cadeira do ser contemporâneo, mais precisamente, de 2017? Podemos pensar que a cadeira de 2017 talvez já exista, uma vez que a modernidade com sua tecnologia, velocidade e dinamismo, já parece ter atendido a todas as necessidades do ser humano.

Porém, resolveram-se problemas e criaram-se outros. A vida agitada e frenética das grandes cidades deixa poucos momentos de parada, de contemplação, ócio, devaneio. O espaço e tempo passam muitas vezes desapercebidos. O surgimento de não-lugares (Marc Augé). Espaços entre, apenas de conexão, são exemplos dessa alienação e maquineifação da vida. A natureza vive quase que por completo afastada do meio urbano. A natureza não só como árvores, rios e mares, mas como atmosfera. Ambientes extremamente controlados, ar condicionado, luz artificial, são elementos comuns a nossa rotina.

O natural nos aparece em frestas, recortes, janelas, enquadramentos conformados por empenas, alguns poucos respiros na cidade.

Assim surge a cadeira Zênite (ponto da esfera celesta, que está na vertical do observador), como uma resposta a esse frenesi do dia-a-dia, como uma possibilidade de tanto integração com o meio natural, quanto de um momento de parada, de contemplação.

A concepção é simples: uma posição que se configure entre o sentar e o deitar, elevando o campo de visão até o céu, enquadrando-o em diferentes situações, tirando o ser de sua realidade e transportando-o para um outro momento, uma outra velocidade.

Mas o que seria esse céu? Não necessariamente a abóbada celeste, mas também frestas, o simples encontro entre a parede e o teto. Percebemos que o ato de elevar o campo de visão, por si só, já é o suficiente para distorcer um pouco a realidade e trazer esse momento de reflexão.

Fixamos duas materialidades: a madeira e o tecido. A madeira, trabalhada com encaixes, é desenhada de maneira ortogonal, geométrica, reta. Contrastando com essa geometria vem o caimento do tecido, que se adequa melhor às curvas do corpo humano.

É justamente nesse encontro de materialidades que se deu nossa maior dificuldade: como ajustar a tensão do tecido em relação às dimensões da estrutura da cadeira? Dessa forma, surgiu a ideia de se criar um objeto-protótipo de estudo, com a finalidade de definir a catenária do tecido.

A partir dessa conclusão da catenária, partimos para a produção da cadeira na marcenaria do designer Leon Ades, que nos auxiliou muito durante todo o processo de realização da cadeira.

 

 

ENTREGA 03

Tendo já bem definido o conceito da cadeira-céu, fora chegado o momento de refinarmos o desenho da mesma. Fixamos duas materialidades: a madeira e o tecido. A madeira, trabalhada com encaixes, é desenhada de maneira ortogonal, geométrica, reta. Contrastando com essa geometria vem o caimento do tecido, que se adequa melhor às curvas do corpo humano.

É justamente nesse encontro de materialidades que se deu nossa maior dificuldade: como ajustar a tensão do tecido em relação às dimensões da estrutura da cadeira? Dessa forma, surgiu a ideia de se criar um objeto-protótipo de estudo, com a finalidade de definir a catenária do tecido.

O objeto acontece da seguinte forma: duas placas de compensado, de dimensões 1,6m x 1,1m, fixadas paralelamente, com a distância de 0,7m entre elas. Fizemos furos iguais em ambas as placas, com 4cm de diâmetro e com a distância de 10cm entre eles. Dois tubos de madeira apoiam o tecido, que fora fixado com velcro em 4 posições possíveis. Os tubos, de 4cm de diâmetro, se encaixam nos furos e permitem testarmos várias combinações da estrutura, afim de encontrarmos a ergonomia ideal, que traga a sensação de conforto sem se distanciar do nosso partido original.

Acabamos por perceber que o objeto criado para testar a estrutura se mostrou mais interessante do que o esperado, justamente por permitir essa flexibilidade de posições, podendo atender aos mais diferentes corpos.

Propomos, para a entrega final, traçar uma média das posições ideais da estrutura e a partir delas, redesenhar a cadeira, de modo a torná-la mais flexível e também mais precisa.

 

ENTREGA 02

A história de evolução da espécie humana contém uma série de lacunas que ainda intrigam os estudiosos, como o processo de criação das primeiras ferramentas. Paralelamente a este processo de domínio de objetos, aqueles primeiros humanos aprendiam o caminhar bípede que os permitia maior mobilidade, simultaneamente portando com as mãos suas primeiras ferramentas, o que certamente exigia um enorme esforço. Talvez aí tenha surgido a necessidade do sentar, que ao mesmo tempo em que fornecia a pausa necessária para recompor suas energias, garantia o campo visual necessário para ter tempo hábil na sobrevivência a possíveis ataques de predadores.

Diferente do deitar, o sentar ainda requer um corpo preciso, atento e tensionado em vários pontos. Não é uma posição que vence a verticalidade por completo. Desse modo, o campo de visão fica ainda muito parecido com o da posição ereta, tendo como diferença principal a altura. Sentado, é possível estabelecer contato visual com o ambiente e manter relações com ele, observar, interagir.

Outra lacuna nesta história é o momento em que surge o objeto cadeira, objeto móvel síntese do sentar. Há indícios de um objeto assento, simples, sem encosto, de cerca de 5.800 anos atrás, produzido pelos egípcios, mas não existem vestígios concretos.

Se analisarmos a produção de cadeiras ao longo do tempo, podemos fazer uma análise social, política e econômica de diferentes sociedades. Funcionalmente, cadeiras de mandar, de conversar, comer, trabalhar, estudar, de massagear e até eletrocutar. Materialmente, pedra, madeira, aço, plástico e a evolução de diferentes técnicas para adequar o móvel a cada material.

A cadeira como artefato. Registro de diferentes tempos e costumes.

Assim, podemos entender que ao se pensar e produzir uma cadeira do zero, constrói-se com ela o olhar, a técnica, o material e a necessidade um tempo específico. O que seria então a cadeira do ser contemporâneo, mais precisamente, de 2017? Podemos pensar que a cadeira de 2017 talvez já exista, uma vez que a modernidade com sua tecnologia, velocidade e dinamismo, já parece ter atendido a todas as necessidades do ser humano.

Porém, resolveram-se problemas e criaram-se outros. A vida agitada e frenética das grandes cidades deixa poucos momentos de parada, de contemplação, ócio, devaneio. O espaço e tempo passam muitas vezes desapercebidos. O surgimento de não-lugares (Marc Augé). Espaços entre, apenas de conexão, são exemplos dessa alienação e maquineifação da vida. A natureza vive quase que por completo afastada do meio urbano. A natureza não só como árvores, rios e mares, mas como atmosfera. Ambientes extremamente controlados, ar condicionado, luz artificial, são elementos comuns a nossa rotina.

O natural nos aparece em frestas, recortes, janelas, enquadramentos conformados por empenas, alguns poucos respiros na cidade.

Assim surge a cadeira-céu, como uma resposta a esse frenesi do dia-a-dia, como uma possibilidade de tanto integração com o meio natural, quanto de um momento de parada, de contemplação.

A concepção é simples: uma posição que se configure entre o sentar e o deitar, elevando o campo de visão até o céu, enquadrando-o em diferentes situações, tirando o ser de sua realidade e transportando-o para um outro momento, uma outra velocidade.

Mas o que seria esse céu? Não necessariamente a abóbada celeste, mas também frestas, o simples encontro entre a parede e o teto. Percebemos que o ato de elevar o campo de visão, por si só, já é o suficiente para distorcer um pouco a realidade e trazer esse momento de reflexão.

Existe também uma preocupação com a escolha dos materiais para a feitura da cadeira. Se nos debruçarmos sobre a produção de mobiliário brasileiro, podemos encontrar nos anos 50 uma preocupação específica com a identidade dos materiais tipicamente brasileiros, que representassem nossa cultura, ancestralidade e particularidades climáticas regionais. Nesse contexto, a madeira fora extremamente estudada.

Nos propusemos, portanto a dar continuidade a essa experimentação, buscando uma madeira que seja resistente, porém não tão pesada, que aguente as intempéries e que seja esteticamente favorável ao conceito da cadeira. A escolha de trabalharmos com encaixes, veio também no sentido de exploração do material, mas também pela vontade de ter uma cadeira facilmente montável.

Uma cadeira que expressa uma necessidade extremamente contemporânea, que se antepara na materialidade e responde a questões de identidade. Essa é a cadeira-céu.

 

 

ENTREGA 01

Na distância entre teoria e prática, fazer e pensar, floresce o desejo de sair do papel e chegar na escala das proporções do corpo. Construir e desenhar sem que exista ordem ou hierarquia, de modo que o mundo material objetivo está interligado e influencia o mundo das ideias. Se busca compreender os processos criativos envolvidos em uma relação de mão dupla entre ideia e matéria.

Na busca de compreender as relações entre o fazer e o pensar, nos debruçamos sobre o livro “O Artifície” de Richard Sennett, no qual faz uma investigação histórica do trabalho manual de artífices de diferentes ordens, em busca de entender a relação entre práticas concretas e ideias. “O entendimento técnico se desenvolve a partir da força da imaginação. Repetir possibilita a autocrítica, permite modular a prática de dentro para fora. Os momentos de criação estão, na verdade, ancorados na rotina. À medida que uma pessoa desenvolve sua capacitação, muda o conteúdo daquilo que ela repete. ”

Para Sennett, é possível aprender conhecendo a técnica, mas esta aprendizagem está inteiramente ligada à disposição de experimentar por meio do erro. “Tenho um padrão de referência que me diz o que eu estou buscando, mas meu compromisso com a verdade reside no simples reconhecimento de que cometo erros. Devo dispor-me a cometer erros, tocar notas erradas, para eventualmente acertar. ”

Neste sentido, nasce a vontade de fazer uma cadeira, na qual o objetivo é construir protótipos que consolidem um objeto de reflexão. A prática deixa de ser repetição digital para se transformar em uma narrativa. Fixa-se um ritmo até chegar a versão final.

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