O ESPAÇO DO COTIDIANO | Grupo 42

ENTREGA 01

Designados como uma grande rede de catalisadores automobilísticos, os trilhos de trem, as vias expressas e, principalmente os viadutos, que transpõem o Rio Tamanduateí para conectar as zonas Leste e Central de uma forma mais rápida e efetiva, fragmentaram o Parque Dom Pedro II em diversas ilhas que, em sua maioria, não possuem função de interesse público, e nem sequer convidam o pedestre a cruzar e/ou permanecer nestes espaços residuais que, unificados já foram um verdadeiro parque. Espaços impermeáveis, não-porosos, não-isotrópicos e sem identidade. Ignorados, esquecidos e vencidos pelo carro.

A cultura instalada, roubada imposta nos é passado, presente e futuro, de uma civilização criada em padrões externos impostos pela colonização. O esforço é cada vez mais exaustivo, implica na constante reprodução da memória coletiva e daquilo que se apaga, que dá lugar a outras lógicas e outras necessidades, que não necessariamente correspondem às intenções dos mais numerosos, mas sim aquelas dos que possuem mais poder. Tais situações foram transmutadas no venenoso formaldeído da História, o re-iterado da nossa pobreza e do poder deles, mito taxinômico da classe dirigente.

Algumas cidades introduziram sumptuosos cortejos alegóricos nos quais grandes complexos são construídos e dispostos pelos labirintos das ruas. A leveza e a fragilidade dos fatos também se traduzem no espaço urbano.

O arquipélago urbano, pode ser interpretado e reinterpretado sendo passível de novas significações. Por uma cidade livre, de livre entendimento, e a sua libertação através da autonomia criativa, que supera a velha divisão entre o trabalho imposto e o ócio passivo. A cidade é impositiva. Sua grelha não revela a possível consciência conjunta e lúdica de si mesma, mas sim sucumbe ao diacronismo da violência do poder.

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Assim como o Parque, o Edifício Guarani, projetado por Rino Levi em 1936, é também resquício das mudanças pragmáticas da sociedade paulistana, resumo da desintegração do local e seus ritos de passagem. Tornou-se a própria definição do espaço construído como um dispositivo mnemônico, ou palácio da memória, não como ornamento, mas como a própria base de construção e de sustentação do espaço.72

O objetivo, contudo, não é perder a inconsciência, porém recapturar aquilo que a inconsciência nos separou, aquilo que a consciência deturpou.


ENTREGA 02

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ENTREGA 03

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ENTREGA 04

Foi quando, desde o princípio da ocupação, na chegada dos velhos colonizadores que aquela historia começou a ser contada. Não por acaso, foi na beira da colina histórica, no curso do Rio Tamanduateí, que a Várzea do Carmo recebe seu nome e marca o inicio da eterna construção e desconstrução do Parque Dom Pedro II. Nesta construção e desconstrução, adição e subtração, camada por camada, momentos, períodos e histórias foram escritas. E sob uma infinita escavação urbana, indispensável para o consciência do Parque, vê-se que a cidade se vai, lado a lado, sendo escrita por este espaço.

De um simples brejo a beira do rio, com suas lavandeiras e pequenos sítios, para um impressionante e romântico parque, digno da cidade que se expandia para seus dois lados, sua localização não poderia ser mais emblemática. Separando fisicamente a Zona Leste do Centro, sendo a primeira medida pública de fragmentação e empoderamento urbano, o parque viu-se exageradamente ligado às transformações que a cidade produzia. Logo instalar-se às bordas do Parque tornou-se o que havia de mais disputado, e num movimento mais acelerado ainda, afastar-se deste perímetro tornou-se o que havia de mais corriqueiro.

O Parque Dom Pedro virou o grande catalizador de São Paulo. Berço das transformações viárias de dois grandes governos autoritários, durante as décadas de 1930 e de 1970, viadutos, trilhos de trem, avenidas e ruas desertas passaram a disputar o mesmo espaço publico que antes abraçava a cidade, e que hoje, a renuncia. Muitos são aqueles que resistem a tamanha sobreposição de cidades ideais, e assim como a cidade pode ser pareada ao Parque, o Parque pode ser pareado a seus personagens urbanos que o circundam.

Implantado de maneira estratégica no centro do Parque Dom Pedro II, sob a colina histórica e no início da Avenida Rangel Pestana, mais do que qualquer um na cidade, o Edifício Guarany conta junto com o Parque suas histórias e transformações. Em suas sete décadas de historia, o Guarany leva em si as marcas desta metarformose, e torna-se o grande o akashic da cidade e suas memórias.

Seus moradores diante das varandas arredondadas da obra de Rino Levi, viram de perto o verde virar cinza, e a contemplação virar pressa. Internamente, diante de tamanha transformação e decadência, o edifício passou a resistir ao que toda a área sentiu, o abandono. Enquanto viadutos eram construídos e ilhas vazias formadas, a vizinhança marcou um constante movimento de revezamento daqueles que admiravam sua grande arquitetura, conforto e história, imprimindo, cada vez mais o palimpsesto do Guarany, e do Parque Dom Pedro II.

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APRESENTAÇÃO