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1ª Etapa

Quando estamos diante das cidades, estamos falando não só dos seus aspectos físicos e formais, mas das pessoas que as constroem e as idealizam. Como fruto da construção humana, a cidade carrega consigo mais que um valor histórico, ela agrega o valor da memória subjetiva de quem de alguma forma se relacionou com aquele espaço. Quando há a subtração de pessoas nesses espaços, observamos que poucas vezes a memória desse lugar perdura.

Um exemplo de subtração e grande esvaziamentos ocorreu em Detroit. Nas fotos de Yves Marchand e Romain Meffre observamos que a cidade ainda guarda consigo a memória daquilo que já ocupou aqueles volumes naquela cidade, mesmo abandonados.

São Paulo é uma metrópole que constantemente se renova e se recria. A cidade vai se sobrepondo em camadas de histórias e memórias, deixando o seu passado embaixo de seus novos usos e ambições. A busca de um utópico e questionável progresso ergueu diversas edificações na cidade que ou foram mantidas e preservadas ou se tornaram ruínas. Quando uma edificação é mantida e preservada, ela guarda consigo um valor de memória pautado por uma imagem de um passado e de uma relação de poder que definiu que essa edificação seria mantida.

É como a cidade de Eusápia de Calvino, que para não se perder da memória, fora criada outra cidade, as dos mortos, que é cópia da cidade dos vivos. Na cidade dos mortos, alguns indivíduos pedem depois da morte um novo destino a sua vida, para que na memória sua atividade seja mais importante do que na sua vida real. A cidade dos mortos vai se inovando a tal ponto que não se sabe qual cidade fora construída primeiro e não há mais como saber quem são os vivos e os mortos.

Ao pensarmos em todas essas relações com São Paulo, achamos que apesar de alguns edifícios que foram importantes marcos para a construção da cidade serem mantidos na sua forma física, acabaram tornando-se ruínas, já que seus usos se modificaram e seu passado fora deixado de lado. Alguns edifícios mantém sua estrutura, mas seu uso está totalmente desconectado com a história na qual ele foi constituído. Nesse sentido achamos importante colocar em evidência a memória desses lugares na cidade, ou seja, projetar uma cidade dos mortos para São Paulo.

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2ª Etapa

A figura de um caleidoscópio, coleção de fragmentos associados onde a cada movimento novo combinações novas e variadas surgem como efeito visual, algo que não existe materialmente mas que, composto por fragmentos existentes e a princípio não conectados, dão forma a algum aspecto original. Assim a memória pode ser lida, não como lógica sequencial no tempo e armazenável de forma racional, mas junção, sobreposição, justaposição ou mesclagem de sinais e referencias, não obedecendo alguma hierarquia temporal ou de qualquer ordem métrica.

Do jogo de imagens é que se pode tomar a memória em campos analíticos traduzíveis, ainda que não separáveis, seriam eles a memória individual, aquela correlata aos aspectos afetivos e referenciais de um indivíduo de forma bastante particular e intransferível, a memória coletiva, formada pelos signos de uma comunidade, através da transmissão inter e intra gerações de determinados traços em comum, além da memória nacional ou social, aquela traduzida pela propaganda, pelos meios mais abrangentes de transmissão de ideias e valores para um conjunto maior de pessoas e sempre derivados de algum gesto político.

Pensar então a memória sem obedecer fielmente qualquer ordenamento cronológico é como entender a possibilidade de que a partir de uma nova situação ou um novo encontro – como pretende ser a situação analisada, por exemplo – o passado possa ser tanto recordado quanto reinventado. Desse modo, a história de um sujeito, de uma comunidade ou nação, pode ser a história dos diferentes sentidos que emergem em suas relações. Ou, de outro modo: abre-se a possibilidade de que a memória, ao invés de ser recuperada ou resgatada, possa ser criada e recriada, a partir dos novos sentidos que a todo tempo se produzem tanto para os sujeitos individuais quanto para os coletivos – já que todos eles são sujeitos sociais. A polissemia da memória, que poderia ser seu ponto falho, é justamente a sua riqueza e dela, portanto, tomamos partido para a leitura desapressada do nosso foco de interesse: a Várzea do Carmo, cidade de São Paulo.

Território de intensas sobreposições de projetos, aspectos, contornos e eventos, a Várzea do Carmo, como poucos lugares em uma cidade relativamente nova, traduzem de forma tão rica esta sedimentação de aspectos correlatos tanto à vida nacional e traduzível pela propaganda, quanto pelo inconsciente coletivo de uma comunidade, basicamente a população paulistana e também interfere intensamente na constituição referencial de pessoas que ali depositaram a suas histórias ou deste lugar extraem as suas mais particulares e decisivas memórias, desde a constituição da cidade na segunda metade do século XVI, até os dias de hoje onde passado, presente e futuro ainda parecem dançar na possibilidade do projeto.

O foco portanto, estaria na região comumente conhecida pelas cheias do rio Tamanduateí que, sob ação humana e reflexo de uma cidade em vertiginoso crescimento a partir do final do século XIX e mais intensamente ainda depois dos anos 50 do século XX, a geografia vai se alterando completamente, assim como o skyline da cidade no seu entorno, captando diferentes e correlacionados momentos como a retificação do rio Tamanduateí, a Ilha dos Amores, o Hospício dos Alienados, viário implementado, o Parque Dom Pedro, o Terminal Parque Dom Pedro, a intensificação do fluxo automotivo e da sua infraestrutura, a implantação de equipamentos culturais no entorno, além dos sucessivos projetos arquitetônicos para os sucessíveis ideais de futuro. Sobretudo o trabalho procura olhar com particular cuidado e já tomando ele como ponto ordenador de uma sequencia de eventos pregressos e futuros, o Edifício São Vito e seu espaço de implantação, em distintos aspectos: propaganda, gesto empreendedor, ocupação, esvaziamento,demolição, vestígios materiais e imateriais. Tradução do existente e do inexistente, em movimento dentro do mesmo caleidoscópio referencial.

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3ª Etapa

Foi da vontade de encarar a memória não como lógica sequencial no tempo e armazenável de forma racional, mas junção, sobreposição, justaposição ou mesclagem de sinais e referencias, sem obedecer qualquer hierarquia temporal ou de qualquer ordem métrica, que 7 propostas de intervenções espaciais que, lavadas ao extremo da caricatura formal, dessem conta de ressaltar uma linha discursiva e tornar mais claros, pelos tencionamentos, os pontos de contato entre diferentes propostas com o objetivo de encontrar uma só solução.

Superada a fase de definição, onde território (Várzea do Carmo), ponto ordenador temporal (Edifício São Vito), leitura de memória e levantamento de aspectos são enfim definidos, o trabalho encontra um quadro síntese que pudesse dar conta da leitura mais ampla e direcionar para uma proposta prática de intervenção. Dele se compreende novamente o São Vito como eixo ordenador do pensamento em duas frentes correlatas à memória do lugar, sua demolição literal, aquela sofrida pelo gesto ativo no tempo curto de ação pela força política e econômica e vinculada as memórias individuais e, em paralelo, a demolição simbólica do edifício, vinculada aos eventos passivos no curso do tempo mais alargado, onde força do cotidiano vinculada a vocação do território em conflito com o projeto original do prédio resulta no seu paulatino esvaziamento programático.

Do quadro síntese nasce a ideia de representação no espaço de elemento que desse conta, tanto de resgatar simbolicamente a vocação do território nas suas mais diversas camadas, sobretudo as que caracterizam historicamente a Várzea do Carmo como palco de programas que, ao mesmo tempo dissociados da engenharia funcional de cidade naquilo que se apresentava simbolicamente como progresso urbano, representava tanto escapismo de tal situação como real mecânica a favorecer, ainda que escondida, aquela dinâmica simbolizada pelo skyline original e toda a cidade que se desenvolvia a partir dele: (industrias têxteis, químicas e alimentícias, ilha dos amores, hospício dos alienados, comercio informal, rede de abastecimento metropolitano e nó viário). Em outro aspecto, o elemento deveria da mesma forma não literal, mas sensível, resgatar no plano das escalas, a presença do marco territorial representado pelo edifício São Vito, em contato com as memórias dele derivadas e sua relação em termos de visual com a colina histórica, como resgate do primeiro skyline da cidade.

O elemento encontrado se traduz em uma “Roda Mirante”, mecânica circular em permanente funcionamento, atingindo a mesma altura máxima do edifício São Vito, 112 metros, conduzindo 27 cabines (número de andares do antigo arranha céu) a um percurso permanente de superação de cotas, apreciação da paisagem fundacional da cidade, descolamento da vida produtiva do ethos urbano pelas pessoas e possibilidade de inserção de narrativas variadas por instalações internas efêmeras. A Roda Mirante então tem sua implantação no eixo da rua que dividia o lote em dois, sendo o antigo São Vito em uma fração menor, confrontada com o Mercado Municipal e recolhedor de público e atrás, toda área livre de praça justaposta a ele, favorecendo a criação de dois espaços diversos nas suas cotas, porém e integrados de passeio ou permanência de pessoas. O programa como um todo – Roda e Praça – se articula então ao vizinho Museu Cata-Vento, otimizando as áreas residuais entre eles, vencendo qualquer barreira visual ou de percurso e otimizando atuais e novos públicos, através do reordenamento geométrico de parte do viário, favorecendo também a a criação de um elemento horizontal de conexão do Mercado Municipal do outro lado do rio, até a zona cerealista, através de eixo peatonal e ciclovia cruzando a formação citada. Assim se consolida a nossa fase de desenvolvimento.

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4ª Etapa

Dada a retomada de toda a problemática apresentada acima, entendeu-se que o mais interessante a ser feito seria o desenvolvimento de um elemento síntese ao qual fosse possível o maior controle e desenho projetual.

Sendo assim, o novo elemento desenhado se traduz em um demarcado mirante, atingindo a mesma altura máxima do edifício São Vito, 112 metros, a um percurso permanente de superação de cotas, conduzido ao extremo vertical tanto por sequencia de escadas como por elevador exclusivo para a subida, assim como a descida acontece por outro elevador exclusivo para esta função. Apreciação da paisagem fundacional da cidade, descolamento da vida produtiva do ethos urbano pelas pessoas e possibilidade de inserção de narrativas variadas através de distintos recortes de cidades em diferentes níveis, cada patamar direciona o olhar do observador urbano para um enforque mais preciso que o todo, que só é possível apreender no ultimo pavimento, em visão panorâmica.. O mirante então tem sua implantação em praça redesenhada, confrontada com o Mercado Municipal, favorecendo a criação de dois espaços diversos nas suas cotas, um suave declive converge para o interior de um abrigo onde de fato se encontra a implantação do mirante. É portanto através deste nível -4,0m que o público, já sem o referencial do seu entorno urbano, acessa a estrutura vertical em direção as suas cotas superiores. O programa como um todo – Mirante e Praça – se articula então ao vizinho Museu Cata-Vento, otimizando as áreas residuais entre eles, vencendo qualquer barreira visual ou de percurso e compartilhando atuais e novos públicos, através do reordenamento geométrico de parte da antiga praça, favorecido também pela criação de um elemento horizontal de conexão do Mercado Municipal do outro lado do rio, até a zona cerealista, através de eixo suspenso e conectado ao primeiro patamar permanente do Mirante a 8 metros da cota urbana, possibilitando o cruzamento do rio de forma.

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Apresentação