O ESPAÇO DO COTIDIANO | Grupo 28

1° Etapa

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“Acordei, como faço todos os dias, me pus à mesa pela primeira vez: cozinhar, comer, conversar, planejar, dividir ou hierarquizar. Já estava no meu primeiro momento social, e não coincidentemente era à mesa. Sai de casa, não queria mais ouvir meus familiares ou amigos, queria apenas me libertar. Encontrei outra mesa: trabalhar ou estudar. Estava sozinho ou recebia ordens, obedecia mais do que aprendia. Horas e horas de labuta; podia ser teclando, costurando, lendo ou até desenhando mas não conseguia fugir da mesa. Finalmente são 18 horas! Vou para casa! Será que finalmente me libertei da mesa? Talvez sim, talvés ao invés de ir pra casa cozinhar mais um pouco, eu possa ir a um bar brindar com uns amigos.”

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O cotidiano pode ser entendido como aquilo que é rotineiro e abrange a maior parte das pessoas, tarefas e costumes simples como trabalhar, comer, conversar e rezar. Tendo isso em mente, decidimos analisar um objeto específico que é frequente no cotidiano, que se relaciona e interfere com os espaços e pessoas ao seu redor: a mesa.poemacerto

Como passar um dia sem estar à mesa? Sem comer, trabalhar ou estudar? Surgiu, então, um objeto que além de configurar um espaço de convívio social ( de trabalho, familiar ou de lazer), também configura uma objetificação dos cotidianos comuns.

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2° Etapa

O trabalho já estava claramente definido como analítico. Queríamos analisar a mesa explorando características culturais que dela fossem provenientes. Ao procurarmos um filtro que nos trouxesse aspectos culturais fortes para revelar identidades, surgiu o nosso primeiro recorte: a refeição.apresentacao2-ev  “De todos os atos naturais, o alimentar-se foi o único que o homem cercou de cerimonial e transformou lentamente em expressão da sociabilidade, ritual político, aparato de alta etiqueta” (CASCUDO, 2004, p.36).

 

 As três estratégias analíticas sobre mesa e cultura partindo de relações espaciais:
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A disposição da mesa no espaço
. Não queremos falar de layout, mas sim dos significados que dele emergem. Qual é a importância da mesa em determinada cultura? Ou, mais diretamente, qual é a importância das refeições? O espaço de alimentação vincula-se a outros espaços do ambiente doméstico? E nos espaços públicos? Qual é a relação que se estabelece entre alimentação e convívio social? Existe alguma espécie de apropriação ou desapropriação do espaço público? Até que ponto a relação entre alimentação e espaço público é democrática?

A disposição do sujeito no espaço da mesa. Novamente, não queremos falar de uma coisa em específico. Não queremos falar de medidas, mas das relações que dela emergem. Qual é o grau de intimidade que a disposição dos assentos estimula? Existe alguma relação hierárquica ou democrática que o desenho da mesa propicia?

O comportamento espacial do sujeito. Como se dá a interação entre as pessoas na mesa? Trata-se de uma relação mais despojada com mais movimentos e mais liberdade de se apropriar do seu micro espaço? Ou existe um comportamento mais controlado e reservado? Como cada cultura se insere dentro desses dois extremos(o reservado e o despojado)? Que relações de conforto e desconforto aparecem? Como as duas outras estratégias de analise interferem nessa?

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Em suma, a mesa continuou sendo o nosso tema central. Ainda queremos analisá-la explorando características culturais provenientes dela . Mas como arquitetos, usaremos diferentes escalas como método de análise , as relações entre espaço, sujeito e mesa nos trouxeram a materialidade do mundo real e arquitetônico para se chegar à cultura, não como resposta direta, mas como possibilidade de estudo para investigar os limites entre os desenhos e as intenções em relação à realidade. A cultura surge como peça chave ,pois é a partir dela que a arquitetura consegue dar plenitude às suas intenções.

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Como ler espaços cotidianos que a mesa configura sem vivenciá-los? Como apreender um cotidiano diferente do seu sem estar em contato com ele? Como conhecer uma cultura sem viajar?

Diante dessas perguntas, a Escola Itinerante surgiu como resposta. Cinco alunos com três viagens diferentes a serem estudadas nesse Estúdio Vertical. Uma oportunidade de vivência e convivência para pôr em prática esse trabalho. Manaus, Assunção e Vale do Paraíba mostraram-se como oportunidades para ler o tripé; pessoa, mesa e espaço, versus cultura.

 

3° Etapa

Jogar baralho no intervalo entre aulas ou almoçar no domingo na casa da avó: as relações afetivas vinculam-se à mesa trazendo tamanho significado que esse trabalho nos parecia uma brincadeira, um quebra-cabeças, enfim, um jogo. Era e, ainda, é divertido ao mesmo tempo que adquire um tom de responsabilidade, justamente por ser um trabalho acadêmico. Nos divertimos ao mesmo tempo que formamos estratégias para vencer esse jogo. Continuando com essa relação comparativa, podemos dizer que a estratégia de análise (a disposição da mesa no espaço; a disposição do sujeito no espaço da mesa; o comportamento social do sujeito) da mesa e os significados que dela emergem tornaram-se os grandes enigmas desse jogo.

diagrama                                                                                         A mesa: ao mesmo tempo espaço e cotidiano.

Para aplicar tais estratégias de acordo com essa metodologia, fizemos da nossa primeira jogada o uso da vivência externa proporcionado pela Escola Itinerante. Nossa vivência trouxe a falsa impressão de um jogo perdido, algo vago que não tivesse nos ajudado diretamente no desenvolvimento de nosso trabalho, porém, concluímos que serviu como uma carta na manga, de modo que aguçamos e apuramos o nosso olhar sobre a mesa e os diferentes significados e relações que dela são provenientes.

Agora, nessa etapa de trabalho, procuramos desenvolver, então, a aplicabilidade dessas estratégias para uma leitura espacial a partir da mesa, podendo ser separada em duas situações: o espaço de aula da Escola da Cidade, mais especificamente as carteiras, e o espaço doméstico que, em sua maioria, possui um forte potencial de leitura devido aos diferentes tipos e usos para cada mesa.

O primeiro espaço, a sala de aula, nos remete ao nosso pensamento inicial de que a mesa carregava um caráter de acorrentar o sujeito, quando aparecia constantemente vinculada à questões de obrigatoriedade. “A toda mesa o homem encontra-se acorrentado”. Justamente por isso tratávamos consequentemente do tema da hierarquia, o que nos aproximou de algo bastante presente no nosso cotidiano. Nesse local, o professor sempre está à frente da sala, com um desenho de mesa diferente ao dos alunos, sendo mais confortável, maior e mais interessante. Enquanto isso, as carteiras dos alunos condicionam certa postura e o olhar direto para o professor e a lousa, evitando o contato direto com os colegas.

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A mudança do layout diariamente nas salas de aula, nossos chamados experimentos, surgiram como forma de testes, de modo a verificar o quão verídica eram nossas interpretações. Assim, as carteiras foram dispostas de formas diversas que desconstruísse tanto o hábito de olhar apenas para o professor como também o hábito – ou o não hábito – de olhar para os seus colegas e, em geral, o que o rodeia. Quase todos os experimentos foram negados pelos alunos, sendo que ao final do dia as carteiras estavam, em sua maioria, alinhadas e voltadas completamente para a lousa. O desenho da carteira também estimulou a não adesão das diferentes propostas, de modo que esse mobiliário é pensado para uma única pessoa, que quando associada a outras carteiras, não configura uma única mesa ou um mobiliário confortável, criando uma espécie de confrontos individuais.

O espaço residencial, nosso segundo tópico em questão, resgata um tema central desde a nossa primeira avaliação: a família à mesa, tendo o caráter fundamental daquilo que configura o espaço de encontro no ambiente familiar. Além disso, a disposição das mesas no espaço da casa dizem muito sobre uma dada época, a concepção familiar e cultural provenientes do arquiteto e do contexto onde o mesmo se insere. O caráter da estratificação dada, por exemplo, por Adolf Loos na Casa Muller, na planta livre e dinâmica de Andrade Morettin para as habitações do Segundo Concurso de Living Steel, ou no “meio termo” entre a setorização rígida e a planta livre dado por Rino Levi na Residência Carmen Portinho, podem ser lidas a partir dos espaços, como é feito de maneira mais comum, mas também podemos nos apropriar dessa mesma leitura a partir da presença das diferentes mesas, trazendo suas importâncias de acordo com os diferentes usos, além das relações entre si, deixando em aberto a questão de que a mesa exerce sua função a partir de um desenho específico para determinado uso, como por exemplo a mesa da cozinha, a mesa de jantar, a do escritório ou a tábua de passar roupa.

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Em suma, esse jogo de mesa nos trouxe uma série de curiosidades sobre a nossa própria cultura e, justamente por isso, esse trabalho passa de jogo à prato: ainda estamos falando e olhando para a mesa sob o mesmo olhar, mas agora, com a finalidade de servir os outros do nosso conhecimento adquirido e acumulado desde o início desse semestre.

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Entrega Final

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Ao longo do semestre, passamos a olhar todas as mesas com um olhar diferente. Nos divertimos ao mesmo tempo que formamos estratégias para vencer esse jogo. Continuando com essa relação comparativa, podemos dizer que as estratégias de análise da mesa tornaram-se os grandes enigmas desse jogo.

Em suma, esse jogo de mesa nos trouxe uma série de curiosidades e, justamente por isso, esse trabalho passou de jogo à prato: iremos servi-los com o nosso conhecimento adquirido e acumulado desde o início desse semestre de uma maneira divertida, do mesmo modo como foi pra nós. Assim, criamos um jogo, ou melhor, um jogo de cartas informativas que fará o jogador refletir sobre das as questões que pensamos até agora, mas em forma de perguntas e respostas, uma vez que constatamos que essas respostas são pessoais e intransferíveis, dependendo da cultura, sociedade, local e época em que o sujeito que joga está inserido.

Essas cartas são divididas de acordo com a relação entre os nossos temas e os significados dos naipes:

PAUS – CRIATIVIDADE – MESA COMO SIGNO NO ESPAÇO COTIDIANOModel

Esse conjunto de cartas traduz a síntese que criamos sobre todas as leituras advindas das nossas análises estratégicas. A percepção explícita de que a mesa pode ser tanto espaço quanto cotidiano e, nesses naipes, as cartas mostram justamente essa espécie de versatilidade.

“Relacionado com o elemento Fogo, o naipe de Paus agrupa as cartas que governam o crescimento, autodesenvolvimento, criatividade, engenhosidade,energia, ideias, inspiração, paixão.”

 

COPAS – EMOÇÃO – EXPERIMENTOS/VIVÊNCIAModel

Definido pelos experimentos espaciais e imagéticos para apreender a mesa como espaço, cotidiano ou espaço e cotidiano, e também para perceber a influência da mesa no dia a dia e na percepção espacial.

“Relacionado com o elemento Água, o naipe de Copas e suas cartas relacionam-se ao mundo dos sentimentos, do amor, sonhos, fantasias, dons artísticos e psíquicos.”

 

ESPADAS – LÓGICA – REFERENCIAL TEÓRICOModel

Definido pelas leituras e referencias que utilizamos para pensar em questões interessantes sobre a mesa por si só. Transcrevemos alguns aprendizados para que o jogador pudesse perceber o mesmo, de modo que as cartas soltas e descontextualizadas fossem contextualizadas a partir dessas teorias.

“Relacionado com o elemento Ar, o naipe de Espadas e suas cartas simbolizam a forma e a matéria, geralmente representando a mente lógica e racional. Este naipe também tem a ver com disputa, luta, busca da verdade.”paus

 

 

 

OURO – MATERIALIDADE – ANÁLISE ARQUITETÔNICAModel

Sempre estivemos falando de arquitetura, mas podíamos utilizar a implantação das mesas para analisar a arquitetura, principalmente no espaço doméstico, uma vez que pensar um espaço a partir da teorização da mesa significa pensar que tipo de habitação o arquiteto está projetando, principalmente no âmbito doméstico e socioeconômico. Ao pensar na estratificação ou nas plantas livres residenciais, percebe-se a quantidade de mesas presentes e o quanto elas “se olham”, verificando a relação entre os ambientes. Existe a cultura de utilizar uma diferente mesa para cada atividade, mas e se existisse somente uma que cumprisse todas as funções?

“Relacionado com o elemento Terra, o naipe de Ouros e suas cartas representam a expressão física, dinheiro, trabalho e materialidade.”

Cada jogador terá um tanto de carta nas mãos e outro na mesa. Não há um número limite de jogadores. Claro que para cada jogo, sempre há um perdedor, porém, nesse, apesar de alguém perder também irá ganhar em forma de conhecimento, uma vez que todos irão refletir diante das perguntas e constatações. Concluímos que a mesa, em suma, teve ao longo desse trabalho duas vertentes de entendimento: o repensar sobre a mesa e, portanto, sua ressignificação e o olhar para a mesa como forma de entender outras coisas que podem ser constatadas a partir de sua análise.

4ª Etapa Apresentação