TEMPO LIVRE – G07

ETAPA 3

São Paulo é uma metrópole complexa e fragmentada. “É pagode com feijoada. Samba da vela, sarau da Cooperifa e poesia do Binho. É ser 1Dasul e 100% favela” (VAZ, Sérgio, 2012). Cidade do conflito. Uma cidade onde os espaços públicos se configuram como espaços de circulação e não de sociabilidade; e o tempo livre dos seus habitantes são os momentos de tráfego entre diferentes lugares.

Em sua periferia, objeto de estudo deste trabalho, todos esses fatores são mais caóticos, acontecem de forma mais incisiva. “É a rapaziada nos campos de várzea. É “as mina” de vestidinho e chinelo de dedo no churrasco da laje” (VAZ, Sérgio, 2012). É onde as ocupações, por muitas vezes irregulares, mostram que o modo de se relacionar com o que é público é muito particular. Campos de futebol são por excelência os espaços públicos de convívio e lazer. São milhares em contraposição à ausência de outros tipos de vazios: formam uma rede falha com outros equipamentos públicos, grande parte desvinculados do uso cotidiano dos habitantes destes lugares.

Como então pensar e projetar o tempo livre? Se o tempo livre é muitas vezes o tempo do deslocamento, a ideia é espacializar o tempo, fazendo com que os percursos “entre” sejam mais prazerosos, criando dispositivos coletivos em rede, que potencializem os equipamentos já existentes.  Como em uma tática de jogo de futebol, a ideia é ocupar o campo de maneira eficiente para que os jogadores (no caso, equipamentos) melhor desempenhem o seu papel; e as jogadas (no caso, os percursos “entre”), se potencializem com as virtudes de cada um para que o jogo aconteça.

Ao analisar o território, identificamos três escalas diferentes de alcance dos equipamentos de interesse. Na primeira, a escala macro, estão os terminais de ônibus e metrô, CEUs, Shopping, SESC e Parque Santo Dias, equipamentos que têm um grande alcance e fluxo de pessoas. Na segunda, a escala média, estão os campos de futebol, praças e pontos de cultura como o CITA (Cantinho de Integração de Todas as Artes), equipamentos que atendem aos moradores dos bairros próximos. Na terceira, a escala micro ou escala do pedestre, está a rua propriamente dita, que une todos esses pontos e completa a rede.

Portanto, o entendimento de uma grande rede de equipamentos em potencial, formada por outras pequenas redes, atualmente falhas, motivou o projeto a ressaltar as qualidades e potencialidades já existentes neste território. Assim, a partir dos equipamentos existentes no Campo Limpo, buscou-se efetivar esta grande rede por meio da criação de ligações físicas ou visuais que valorizem lugares até então à margem ou longe dos olhos dos habitantes deste lugar.

Buscando reflexões e referenciais em Marc Augé e seus conceitos de “lugar” e “não-lugar”, tomamos uma de suas questões como norteadora do projeto: “Como pensar o contemporâneo, o urbano, a cidade, tendo como elemento central o sujeito que a habita, a produz e a simboliza?” (PEIXOTO, Elane e GOLOBOVANTE, Maria da Conceição, 2008). Dessa maneira, é a partir prioritariamente da escala do pedestre, daquele que caminha pelo Campo Limpo e se relaciona com as diferentes escalas identificadas, que o projeto se dá.

Ao caminharmos pelo bairro, percebemos que é possível reconhecer por todo este lugar fatores marcantes do território, como o relevo, que, muitas vezes acentuado, dificulta o trânsito de pessoas e a ocupação dos terrenos; os acessos aos equipamentos públicos, por vezes pouco francos e pensados majoritariamente para carros; e por fim, as vias mal desenhadas e executadas, que não facilitam nem priorizam a conexão dos equipamentos públicos.

Assim, dentro da falha rede de equipamentos identificada, escolhemos para o desenvolvimento do projeto um trecho urbano, que contém, além de suas vias, dois terrenos que mesclam os fatores citados acima e exemplificam, portanto, questões projetuais presentes em todo o circuito. Com a intenção de costurar as falhas da rede e responder a essas questões, o projeto visa o tratamento das vias para que sejam mais receptivas aos pedestres, e a ocupação desses dois terrenos com equipamentos públicos que dialoguem com o existente, por meio de programas que supram as necessidades do lugar, dispositivos coletivos que proporcionem possibilidades de fluxos e apropriações espaciais; partido que poderia ser reproduzido por toda a área, levando em conta as especificações de cada situação.

Referências:

PEIXOTO, Elane e GOLOBOVANTE, Maria da Conceição. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.1, jan./abr. 2008.

VAZ, Sérgio. “Mil graus na terra da garoa”. São Paulo: Global Editora, 2012.

ETAPA 2

O projeto visa potencializar os equipamentos existentes assim como aumentar a área de influência de coletivos de cultura e lazer já atuantes na região, através da criação de uma rede. Para tal, levantamos as principais adversidades existentes no percurso e propomos soluções pontuais para estas.

ETAPA 1