MPMF_G09 – Gambiarra

ETAPA 01

Durante o processo de discussão do que pode ser entendido como intenções que guiam a análise do tema MODOS DE PENSAR, MODOS DE FAZER, surgem partidos essenciais para a formação do trabalho, tais como o entendimento de que há uma impossibilidade de separar o pensar e o fazer, apresentando a relação de codependência entre a reflexão crítica e o ato de produzir.

MODOS DE PENSAR, MODOS DE FAZER nos propõe a exploração de diversos métodos no âmbito da criação, do improviso, da flexibilidade e principalmente da necessidade. Em que nada mais é um empecilho na busca de caminhos possíveis na concretização de ideias.

A “gambiarra” então surge como partido principal, sendo a exemplificação do que é adaptar e construir com engenhosidade usando recursos e técnicas disponíveis. Em que a necessidade obriga a criatividade a se aflorar dando espaço ao improviso. A prática da gambiarra se associa facilmente à identidade brasileira, que marcada pelas dificuldades encontradas, como desigualdade social e a burocracia, usa da criatividade para solucionar problemas no cotidiano, e assim influenciando seu uso mais frequente, o que popularizando a gíria “jeitinho brasileiro”.

Da gambiarra nascem várias vertentes de que podemos nos apropriar. Tais como o conceito de design de produtos e gambiarra podem estar próximos em suas concepções, a partir do momento em que há a criação de um objeto ou até mesmo na funcionalidade de se atender as necessidades especificas. Dessa forma apresentando também a “Gambiologia”, o termo que define a ciência da gambiarra, que pesquisa a tradição brasileira de improvisar e encontrar soluções criativas para pequenos problemas do cotidiano e aplicá-las às artes.

Já a idiossincrática é o método de projetar voltado para as necessidades e realidades de cada individuo, que usaria como matéria prima o “lixo rico”, que são resíduos sólidos com atributos particulares em bom estado. Sendo assim uma nova saída para a diminuição dos resíduos da produção industrial. Em que a adaptação no conserto ou na construção de novos produtos a partir de materiais disponíveis no momento, diminui a quantidade de resíduos à medida que aumenta a sobrevida de aparelhos ou reutiliza objetos que seriam descartados. Relacionando também os conceitos de gambiarra ao modo de construir sustentavelmente.

É importante salientar que para a construção da gambiarra, independente de seus diferentes ramos, os artefatos criados tem em comum uma lógica criativa composta por três elementos fundamentais.

  1. Existência de uma Necessidade: O que você precisa? Por quê? Pra quê?
  2. Recursos Materiais Disponíveis: Que peças, objetos serão usados?
  3. Definição de uma Ideia: Como? De que maneira vou proceder?

Dessa forma, a organização do processo lógico se dá, quando é um processo de transformação investido sobre um ou mais recursos materiais disponíveis, conduzido pela existência de uma necessidade, a partir de uma ideia definida, em que o resultado deste processo dependeria da habilidade ou capacidade criativa de adequar tais recursos à determinada necessidade, resultando num objeto improvisado. Podendo também habilitar indivíduos a novas formas e métodos de criação, contribuindo para a evolução de engenhosidades, assim como novas técnicas de trabalho.

ETAPA 02

As pesquisas acerca da gambiarra se baseiam em 3 elementos necessários para a sua produção. A existência de uma necessidade, os recursos materiais disponíveis e a definição de uma ideia.

Desta forma, percebemos que no lixo doméstico é possível encontrar uma ampla gama de materiais recicláveis que possibilitem a construção de novos produtos. Porém notamos a menor reutilização do papel, um dos materiais recicláveis mais presentes no nosso cotidiano, na criação de novos produtos. Isso acontece por ser considerado um componente de pouco tempo útil, decompondo-se rapidamente comparado aos metais e plásticos, além de aparentemente não ser rígido o suficiente para resistir as forças de tração e compressão.

Nossa escolha é investigar estruturas feitas de papel para serem usadas como apoio. Tais estruturas serão elaboradas com o intuito de serem reproduzidas continuamente para a formação de uma rede.

ETAPA 03

Nossas investigações sobre gambiarra direcionaram este projeto desde o início, entretanto percebemos que a necessidade primordial para que a gambiarra seja executada inexiste em nossos estudos técnicos, portanto decidimos focar no âmbito material da construção informal, mais especificamente naquele que provém do lixo doméstico, na categoria papel.

Desta maneira, encaminhamos nossas análises e testes para a construção de estruturas e vedamentos a partir de objetos cotidianos descartados como lixo, como jornal, tubo de papelão, tetra pak e caixa de papelão ondulado, que sejam capazes de resistirem à esforços e serem adaptadas para a execução de um projeto.

E nosso objetivo final, após o estudo e desenvolvimento de tais estruturas apresentadas a seguir, é de construir em escala 1:1 elementos espaciais que possam produzir uma nova experiência e conscientização sobre a reciclagem. À noção de que cada lixo produzido é rico!

 

ETAPA 04

Na etapa final, tivemos a grande oportunidade de participar da Primeira Feira de Arte Independente da Revista Vaidapé, um evento organizado por um coletivo que procurava por pessoas que possuíam cavaletes para improvisar uma mesa. Nos propusemos a fazer parte das mesas com nossa estrutura de papelão ondulado desenvolvida na terceira etapa, que por se tratar de encaixes de módulos, é muito versátil e possibilita inúmeras disposições e formas.

Foram projetadas quatro mesas para o evento seguindo o módulo inicial de 25x25cm e encaixes perpendiculares, o que proporciona à peça muita resistência vertical e a propriedade de se flexionar lateralmente, facilitando o deslocamento e armazenamento. Dos quatro apoios, três assemelham-se, em planta, com as letras “X”, “C” e “V”, e um em vista com a letra “M”. Durante a feira foi possível medir suas resistências, e observamos que o único modelo que não aguentou resistiu até o final foi o “M”, cujas extremidades foram se abrindo.

Em conclusão a este semestre de investigações, ressaltamos as riquezas de estruturas possíveis que são descartadas no nosso lixo diário e como o papel, um material que à priori parece não possuir resistência ou durabilidade, dependendo do modo de pensar, rs, é possível fazer estruturas que suportam à compressão e podem ser muito versáteis.