o espaço dança a luz

grupo 40

rafaela caminhola

stephanie lima

matheos schnyder

helena caixeta

pol barjau

 

O interesse da pesquisa foi entender o avanço da tecnologia relacionado à criação de espetáculos cenográficos – com foco em iluminação cênica e multimídias; em casos em que a o roteiro se interliga à técnica – pela prática intermidiática e multimidiática sem limites, onde ocorre o jogo com a experiência do conflito entre o corpo presente e a manifestação imaterial de sua imagem dentro de uma mesma encenação.

Entendendo tecnologia como TÉCNICA, ARTE E OFÍCIO, o objetivo do trabalho envolveu uma breve pesquisa introdutória sobre o avanço e transformação das técnicas cenográficas. Iniciando por questões acústicas e visibilidade, geometria e tipologia dos palcos, tecnologia náutica para desenvolvimento da cenografia e  a luz como elemento cenográfico. Após uma aproximação do tema, procuramos aplicar a técnica de projeção mapeada baseada no trabalho do cenógrafo Philippe Decouflé. Buscamos entender a técnica considerando-a como um MODO DE FAZER e PENSAR simultIâneo. 

Em um terceiro momento do trabalho propomos um projeto de uma instalação cenográfica. No subsolo do edifício IAB montamos um cubo com arestas de dois metros e o cobrimos com tecido branco. Dois projetores foram instalados, de forma que cada um deles era responsável por mapear dois lados do cubo. Existem diferentes métodos de construção de um projeto cenográfico nesse sentido, como por exemplo: a trilha sonora pode originar uma coreografia, que mais tarde definirá um cenografia que complemente a história a ser contada. A narrativa partiu do poema  “O menino que guardava água na peneira”, do escritor Manoel de Barros. Os despropósitos imaginários de uma criança foram inspiração para a criação de uma animação que foi projetada como cenário. 

A coreografia foi pensada junto à criação do storyboard e a trilha sonora complementou todo o processo do projeto. As linhas projetadas seguem os movimentos do corpo da dançarina que dança ao redor do cubo, e reforça a idéia de “preencher vazios”, inspiarada no poema.

A projeção virtual foi instrumento essencial para criação de um cenário imaginado a partir de invenções de uma criança. Ao final da coreografia, surgem quatro projeções, cada uma em uma face, de uma série de vídeos do artista Francis Alÿs, denominado “Children’s Games”, em que crianças de diferentes partes do mundo se apropriam do espaço para jogos e brincadeiras. O trabalho percorreu um caminho de intensa pesquisa de referências e destrinchamento de técnica de vídeo-mapping como cenário. O resultado obtido na última apresentação será o primeiro passo de uma pesquisa de conclusão de curso, que será desenvolvida no segundo semestre de 2017, que terá como tema “a cenografia como interlocutora da arquitetura: de que maneira luz e sombra afetam nossa perceção de espaço?”. 

“O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.

Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água

O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.

Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.

Falava que os vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito porque gostava de carregar água na peneira

Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu que era capaz de ser

noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.

Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.

E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.

Até fez uma pedra dar flor!

A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.

Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos.”