PASSAGENS – G32

1ª ETAPA

A mobilidade está relacionada com os deslocamentos diários de determinada população no espaço urbano, não apenas a sua efetiva ocorrência, mas a possibilidade e facilidade de situações que acontecem durante estas viagens.

Em metrópoles como São Paulo, a grande demanda de passageiros provinda de certas áreas bastante populosas, utilizando do mesmo meio de transporte e com destino a locais não muito próximos da região, acarreta em problemas como excesso de passageiros, dificuldade de locomoção, entre outros, mostrando a insuficiência e ineficiência do sistema de transporte público na cidade.

O fluxo de passageiros que utiliza transporte público na cidade, em sua maioria, são residentes da Zona Leste (51% de usuários por dia da região usufruem do transporte público; representam 29% do total de pessoas que utilizam do metrô em São Paulo). Essa quantidade tende aumentar cada vez mais, já que grande parte dos pólos empregatícios (78% dos passageiros possuem vínculo de emprego) concentra-se em outras regiões da cidade – 65% no Centro -, distante das regiões onde mora a maior parte de seus funcionários e, em contrapartida, há pouca disponibilidade de trabalho nas áreas periféricas e mais populosas – 4,7% de oportunidade de trabalho na Zona Leste -, uma vez que o custo de vida nessas regiões é menor em comparação com o Centro.

Elencamos então, o Terminal Aricanduva (atende 25.000 usuários/dia) como ponto de partida do desenvolvimento do nosso trabalho, por ser um terminal de pequeno porte e carente de projeto, situado embaixo do Viaduto Engenheiro Alberto Badra, entre os distritos Tatuapé e Penha.

Tendo em vista que é um local intermediário entre o Centro e a periferia da Zona Leste, está conectado com o Parque Dom Pedro II, que atende por volta de 160.000 pessoas diariamente, provindas principalmente das regiões Nordeste, Sudeste e Leste da cidade. Em suas redondezas, estão localizadas as estações de metrô do Carrão e da Penha (Linha 3 – Vermelha), com capacidade para 20.000 pessoas/hora nos horários de pico, atendendo 54.000 e 39.000 passageiros por dia sucessivamente.

O projeto procura determinar o terminal como um ponto de distribuição de mobilidade na Zona Leste, criando conexões diretas com a área central da cidade e localidades próximas, como os metrôs da Penha e Carrão. Ademais, gerar condições para que, tanto as experiências de passagem, quanto as de permanência, sejam aproveitadas, e assim, impulsionando o uso do transporte público.

Também busca requalificar o Terminal Aricanduva primordialmente, criando programas de usos como creches, ciclovia e bicicletário, que atendam às necessidades da população, além da reforma do mobiliário urbano e intervenções nos arredores imediatos.


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2ª ETAPA

GAROTO NO TREM

Me atrevo entre as pessoas, buscando encontrar algum espaço como num jogo de cadeiras que, quando se acaba a música, procuramos o primeiro assento para não ficar de pé. Sim, dessa vez venci, com o toque de abertura das portas, consegui um bom lugar. Com ar de campeão saboreei minha vitória, sento-me.

Do meu lado esquerdo tenho uma vista da cidade através de uma grande vidraça suja e com carimbas de arranhões marcado por tags. Apesar de estar agora em velocidade, fito meus olhos atentos para janela, de forma que não reflito o que vejo, apenas deixo que se passe em minha cabeça os longos pensamentos, os sonhos e algumas obrigações que ainda tenho que fazer. Interrompo-me.

Nesse momento, vejo do outro lado do cristal, muitas almas livres que se locomoviam ainda mais devagar do que eu as imaginava. A maioria delas andavam no sentido da linha do trem e outras poucas no sentido contrário, onde se encontrava um verdadeiro arranjo musical de ônibus sanfonados que, de forma sincronizada, saiam do terminal. Imaginei por um devaneio que pudesse de fato estar presente entre elas.

Então fui detido por um longo muro, de onde saiam cabos de alta tensão que acredito ser algum ponto importante de distribuição da energia da cidade – ou de parte dela.

Voltei meu olhar para dentro, pois um rapaz de aparência bem franzina, deixara em meu colo um chiclete que vendia a preço exclusivo, muito mais barato que nas doceiras convencionais. Esses segundos de desatenção foram exatos para que o muro, de forma rápida, saísse de cena. No seu lugar agora estava um simpática avenida, no qual o verde se confundia com os carros, e os automóveis  se embaraçavam com o chão. Pude notar em passo acelerado que existia algo diferente naquela esquina em relação aos outros vértices da cidade. Havia uma calma entre as pessoas que os unia, de forma que andavam tranquilamente ao longo do calçadão, que se misturava com a rua sem que houvesse uma hierarquia.

Assim, o fluxo seguia até uma entrada franca e se dispersara. Há uma espécie de parque ali, onde o piso parecia um grande lago, com gramíneas nascidas das frestas por entre as pedras. Me davam a falsa noção. Acredito eu que, pela velocidade do trem e meu cansaço, estava vendo realmente água ali.

Agora olho para dentro. O vendedor de guloseimas passou novamente com seus olhos desconfiados, recolhendo com rapidez seus doces, de modo que quando colheu o último, um som me alertara que havia chego em meu destino. Me levanto de pressa para que eu pudesse ficar mais próximo da porta de saída. Seguro firme nas barras de ferro que se estendem por todo o teto do vagão e, por fim, o trem cessa seu movimento. Com passadas curtas as pessoas saem do mesmo modo que entraram, esbarrando-se umas nas outras.

E penso de novo naquela passagem que vi há minutos atrás pela janela. Eu queria realmente estar lá.

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3ª ETAPA