EV_G14_Reconhecer São Paulo

ASPECTOS GERAIS

Sinédoque

si·né·do·que

sf

GRAM, RET Figura de linguagem, considerada uma espécie de metonímia, que se baseia na relação quantitativa entre o significado usual da palavra e seu conteúdo criado na mente, mais abrangente e extenso; os casos mais comuns são:

  1. a) o gênero pela espécie: O homem destrói a natureza (homem por raça humana);
  2. b) a parte pelo todo: Andei nas asas da extinta Panair (asa por avião);
  3. c) o singular pelo plural: É preciso ajudar o necessitado (necessitado por todas pessoas pobres), ou vice-versa, o todo pela parte: O Brasil jogou bem na Copa de 84 (Brasil por time brasileiro) etc.

 

Palimpsesto

pa·limp·ses·to

sm

Pergaminho que teve sua escrita raspada para ser reaproveitado outras vezes.

 

Paisagem e Espaço

A paisagem se dá como um conjunto de objetos reais – concretos. Nesse sentido a paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e presentes, uma construção transversal.

O espaço é sempre um presente, uma construção horizontal, uma situação única. Cada paisagem se caracteriza por uma dada distribuição de formas-objetos, providas de um conteúdo técnico específico. Já o espaço resulta da intrusão da sociedade nessas formasobjetos. Por isso, esses objetos não mudam de lugar, mas mudam de função, isto é, de significação, de valor sistêmico. A paisagem é, pois, um sistema material e, nessa condição, relativamente imutável: o espaço é um sistema de valores, que se transforma permanentemente

SANTOS, Milton. “A Natureza do espaço”. São Paulo: EDUSP, 1996. pp. 103

 

IMIGRAÇÃO _ GLICÉRIO

Fundado em 1554 pelos Padres Jesuítas Nobrega e Anchieta o Povoado de Piratininga nasce fundamentalmente da miscigenação entre a população colonizadora portuguesa e colonizada indígena. No período que se sucede até meados do século XIX, mostrando-se hegemônica a pratica da policultura voltada a subsistência e utilização da mão de obra indígena, tal caráter é preservado. Só a partir de então, com o desenvolvimento da lavoura açucareira e integração da cidade ao mercado internacional, é que a população africana escrava passa a se estabelecer de forma expressiva na então metrópole em ascensão: São Paulo.

Com o crescimento e consolidação desta potência econômica, implementação simultânea de políticas higienistas e de branqueamento que ocorreram ao longo da história do Brasil -como ainda no governo imperial com dom Pedro II, que promoveu a chegada de aproximadamente 6 milhões europeus no pais, ou na República com Getúlio Vargas- somados a políticas e diplomacia externas convidativas aos olhos dos refugiados, foi garantida à cidade o posto de anfitriã das maiores populações étnicas portuguesa, libanesa, italiana, japonesa e espanhola fora de seus respectivos países, somando uma totalidade de entrada de 2,3 milhões de imigrantes das mais variadas etnias desde o século XIX no estado.

Segundo dados da Polícia Federal, os Haitianos responderam à maior parte do fluxo migratório para o Brasil em 2015 (cerca de 22% do total), com 14.535 imigrantes.

Um exemplo significativo do atual movimento migratório está presente na Baixada do Glicério, bairro situado às margens do rio Tamanduateí no distrito da Liberdade, centro de São Paulo.

A Baixada do Glicério configura-se como reduto da imigração em São Paulo pelo fato de ali funcionar a Pastoral do Imigrante, na Igreja Nossa Senhora da Paz. A Pastoral oferece serviços de auxílio e apoio à imigrantes e refugiados que buscam a legalização e permanência no Brasil.

O Bairro abriga dezenas de cortiços, moradias populares, grandes edifícios, indústrias e instituições sociais como o Movimento Nacional dos Catadores, o Movimento da População em Situação de Rua, o Fórum Centro Vivo e o Fórum para Desenvolvimento oferecem assistência social à população do Glicério.

História do Bairro

Em meados do século XIX a família Castilho se estabeleceu às margens do rio Tamanduateí, no centro da cidade de São Paulo, área antes habitada pelos índios Colorados. Em 1876 os índios se reestabeleceram na região.

A partir do início do século XX o General Francisco Glicério iniciou a construção dos trilhos da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (atual Rede Ferroviária Federal). A família Castilho retomou posse do terreno e, por volta de 1913, foi fundado o povoado de Castilho, contando com várias habitações e grande número de trabalhadores que se estabeleceram no local, atraídos pela fertilidade do solo. Diante de seu progresso, o povoado foi elevado a Distrito de Paz, com o nome de Glicério, em homenagem ao General Francisco Glicério.

 

 

MODAIS DE TRANSPORTE _ TERMINAL BARRA FUNDA

Durante o século XX é inaugurada na região central a primeira linha de bonde elétrico na cidade de São Paulo e em 1926 são importados ônibus da Europa, assim, os bondes passam a ser responsáveis por 65% e os ônibus por 35% do transporte coletivo. Já em 1975 é instaurado o sistema metroviário com a integração entre os diversos modais. No final dos anos 90 ocorre a privatização da CMTC (Companhia Municipal de Transporte Coletivos) e a substituição do gerenciamento pela SPTrans. Hoje, a cidade de São Paulo possui um transito de 11.000.000 habitantes por dia se somadas as redes de transporte público e a maior taxa de crescimento de fluxo de veículos.
Propõe-se o estudo da mobilidade urbana através do levantamento de usos e rotas de diferentes modais a partir de um ponto central, formando então mapas arteriais do transporte paulistano. São Paulo se interliga através da sobreposição de fluxos e do reflexo de vivências particulares. Assim, o estudo destes traz também aspectos sociais importantes para a leitura de uma cidade. Apartir da análise de diversos meios (metrô, ônibus, a pé, trem, carro, moto, entre outros) serão feitos gráficos baseados na proporção entre tempo e distância.
A escolha do ponto se da pela centralidade e acessibilidade dos locais, com variados fluxos:
_ terminal barra funda.

 

TEMPO E ESPAÇO _ PÁTIO DO COLÉGIO

O Pátio do Colégio, conhecido espaço da fundação de São Paulo, é um dos locais que mais transparece os processos de mudança dos quais a cidade passou, seja pela conservação de um trecho da parede da primeira construção jesuítica no interior do museu, ou pelos monumentos e edifícios que se encontram no local e no seu entorno. Contudo a leitura da paisagem que conforma o local é comprometida pela ocupação urbana que lá se encontra. É uma grande dificuldade compreender que o Pátio do Colégio está em uma região alta cercada por dois corpos d’agua (Rio Tamanduateí e Córrego do Anhangabaú), pois os edifícios tampam a visão do horizonte com seus gabaritos.

São vastos os registros que tratam dos processos históricos e sociológicos que ocorreram no Pátio do Colégio após a ocupação Jesuíta, mas o mesmo não ocorre quanto ao período de ocupação Tupi-guarani. Com o intuito de compreender as significações passadas dadas aos espaços da cidade de São Paulo, abordar o Pátio do Colégio e seus entornos é tratar não só do local fundador da cidade, mas também compreender a importância que os diversos povos indígenas davam aos espaços.

 

EV_G14_ Anita Abreu Solitrenick_Giulio Michelino_Laís Martins de Almeida Barreto_Pedro Borges Valeri

 

 

PALIMPSESTO URBANO: BAIXADA DO GLICÉRIO

Se colocado em questão o que de mais característico tem a cidade de São Paulo, provavelmente, em um primeiro momento, nos venha a mente imagens típicas de uma paisagem metropolitana e globalizada: Um mar de arranha-céus, uma extensa malha de viadutos e avenidas que se alonga ao horizonte, onde o movimento não cessa, habitado por milhões de pessoas, das mais variadas culturas e descendências possíveis. Mas nem sempre foi assim.

São Paulo, dentre as grandes metrópoles, se destacou por um processo de explosão demográfica violento, caótico e desordenado, capaz de multiplicar sua população, em 50 anos, por 20 vezes, na virada do século XIX para o XX. Sob esse contexto, marcado por intenso fluxo imigratório, é que se evidencia a intensificação de um fenômeno: uma espécie de palimpsesto urbano, ou seja, a reconfiguração, reconstrução ou sobreposição tanto de elementos da paisagem como do espaço urbano. Termos desenvolvidos por Milton Santos em “Metamorfose do Espaço Habitado”.

“Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima. A paisagem se dá como um conjunto de objetos reais-concretos. Nesse sentido, a paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e presentes, uma construção horizontal, uma situação única. Cada paisagem se caracteriza por uma dada distribuição de formas-objetos, providas de um conteúdo técnico específico. Já o espaço resulta da intrusão da sociedade nessas formas-objetos. Por isso, esses objetos não mudam de lugar, mas mudam de função, isto é, de significação, de valor sistêmico. A paisagem é, pois, um sistema material e, nessa condição,
relativamente imutável: o espaço é um sistema de valores, que se transforma permanentemente. O espaço, uno e múltiplo, por suas diversas parcelas, e através do seu uso, é um conjunto de mercadorias,
cujo valor individual é função do valor que a sociedade, em um dado momento, atribui a cada pedaço
da matéria, isto é, cada fração da paisagem(…)”

Assim, da curiosidade analítica sobre as razões das permanências e sobreposições provocados por um processo de ocupação territorial agressivo, não planejado, e tendo em vista o fluxo migratório como agente emblemático na composição da paisagem e espaço urbano, é que compreendemos o bairro do Glicério como um local simbólico para o desenvolvimento da primeira etapa desta produção: um estudo de caso sobre como se estabeleceu e ocorreu a ocupação no espaço, ambicionando identificar algumas de suas influências.

A Baixada do Glicério, localizado nas proximidades do rio Tamanduateí, compreendido no distrito da Liberdade, configura-se como reduto da imigração em São Paulo pelo fato de ali funcionar a Pastoral do Imigrante, na Igreja Nossa Senhora da Paz. A Pastoral oferece serviços de auxilio e apoio à imigrantes e refugiados que buscam a legalização e permanência no Brasil. O bairro abriga dezenas de cortiços, moradias populares, grandes edifícios, industrias e instituições sociais como o Movimento Nacional dos Catadores, Movimento da População em Situação de Rua, o Fórum Centro Vivo e o Fórum para o Desenvolvimento, que oferecem assistência social.

 

 

 

 

ORTOFOTO 2004                                                                                                        1- Metrô Sé

2- Metrô Liberdade

3- Metrô São Joaquim

4- Metrô Pedro II

5- Rio Tamanduateí

SARA BRASIL 1930

 


 

IMPLANTAÇÃO 

 

TOPOGRAFIA + GABARITOS  

 

 

 

 

EDIFICAÇÕES DE PERMANÊNCIA

CORTIÇOS

 

 

TERCEIRA ETAPA: LINHA DO TEMPO

A Baixada do Glicério, assim como qualquer espaço urbano, foi palco de diversas ações e transformações promovidas por inúmeros agentes: a constante massa de migrantes e imigrantes; as transformações urbanas como a demolição de edifícios para a construção do Viaduto do Glicério, a inauguração da Casa do Imigrante e do Centro de Estudos Migratórios e muitos outros.

A leitura e análise territorial do Glicério requer um entendimento das complexas transformações que aconteceram e acontecem diariamente no bairro. Compreender o Glicério é conhecer seu processo histórico, a formação das Chácaras, das vilas, das industrias e galpões e mais tarde dos cortiços. É também compreender a ação de agentes do mercado imobiliário, do poder público, dos moradores, proprietários e imigrantes, cada grupo com seus interesses próprios. Não obstante disso é importante relacionar as transformações urbanas do ponto de vista das escalas municipal, estadual, federal e internacional; por exemplo, o crescimento urbano de São Paulo, a invenção do elevador de segurança na feira internacional do Palácio de Cristal, a invenção do motor a combustão, a criação dos automóveis… Todos estes fatores foram importantes, direta ou indiretamente, para a formação urbana do Glicério.

A partir dessa leitura histórica do Bairro do Glicério desejamos entender e analisar os processos de renovação e sobreposição da cidade, o Palimpsesto Urbano que caracteriza São Paulo.

 

 

 

 

 

QUARTA ETAPA: O CONGELAMENTO DA BAIXADA DO GLICÉRIO

Pode-se identificar no mundo moderno e globalizado a intensificação, mais acentuada a cada dia, de movimentos de interesses especulativos e mercadológicos por parte dos Estados e políticas públicas destinadas às zonas centrais. Esses movimentos desencadeiam a fomentação das atividades dos setores dominantes, tais como o setor imobiliário, o turismo ou a indústria cultural. No Brasil esses projetos são numerosos, como por exemplo, na requalificação do Pelourinho em Salvador; na construção do corredor cultura no Rio de Janeiro ou com a Lei da Operação Urbana Centro em São Paulo.

Sobre este contexto localizamos a região da Baixada do Glicério, situada próxima à Praça da Sé, como uma área peculiar e de exceção à tendência especulativa e mercadológica. Retomando às origens do bairro e analisando seu percurso histórico a partir de diferentes escalas e perspectivas procuramos identificar como e porque essa região culminou-se, apesar de sua localização central, em uma área economicamente congelada e em processo de encortiçamento.

Com a intenção de localizar as principais mudanças, permanências e possíveis causas desse movimento de deterioração contraditório buscamos reunir um acervo de mapas, notícias teses acadêmicas e registros fotográficos que abordam sobre as diferentes ocupações do bairro, as modificações da paisagem e os palimpsestos urbanos ; conceitos pontuados por Milton Santos em “A Metamorfose do Espaço Habitado”. Sobre este espectro as medidas oriundas do processo de renovação urbana Previsto pela lei Operação Urbana Centro se mostram emblemáticas para a compreensão do processo de deterioração do bairro do Glicério. Paradoxalmente a lei, que promove o tombamento e preservação de vilas operárias existentes, acaba por conter os investimentos nesses imóveis pela dificuldade, ou impossibilidade de alterar sua fachada ou estrutura. Essa dificuldade acaba comprometendo as condições estruturais das moradias e colaborando para o processo de deterioração da paisagem e do espaço urbano.

 

 

Rua dos Estudantes

Rua Anita Ferraz

 

 

 

 

 

 

Praça Ministro Costa Manso

Rua Dr. Lund

 

 

 

 

 

 

Rua dos Estudantes

Paróquia Nossa Senhora da Paz

 

 

 

 

 

 

Paróquia Nossa Senhora da Paz

Viaduto do Glicério

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Terminal rodoviário do Glicério, 1975

Rua dos Estudantes, 1992

 

 

 

 

 

 

Rio Tamanduateí e Viaduto do Glicério, 1975

Rua Conde de Sarzedas, 1970

 

Praça Anita Garibaldi, 1940

Rua Conde de Sarzedas, 1970

 

 

Paroquia Nossa Senhora da Paz, 1993

Complexo viário do Glicério, 1971

 

 

 

 

                

1881                                              1924                                              2017