EVRSP_G22 reconhecer são paulo

Etapa 01

Em meio a onda de privações ocorrendo atualmente em São Paulo e a perspectiva de mudanças acontecendo em vários lugares significativos para o reconhecimento da cidade, o grupo acredita que reflexões diversas sobre alguns destes espaços funcionam como forma de estudo, debate e documentação da cidade que hoje habitamos, e que está prestes a mudar. A escolha por abordar lugares que passam diretamente por estas mudanças é uma proposta de acompanhamento e discussão das transformações da cidade e do significado do termo “público” que temos hoje. Qual a memória produzida por estes espaços (apresentados em ordem decrescente de preferência de estudo) para os habitantes de São Paulo e de que forma tais mudanças tem reorganizado as formas de uso, ocupação e reconhecimento da cidade?

  1. ESTÁDIO DO PACAEMBU (Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho)

Inaugurado em 1940, sendo assim o estádio mais antigo de São Paulo, o Estádio do Pacaembu é um importantíssimo marco para a memória e reconhecimento da cidade. Situado entre os tradicionais bairros do Pacaembu e Higienópolis (que possuem características físicas tão distintas) e entre dois dos grandes eixos viários da zona oeste, a Avenida Doutor Arnaldo e a Avenida Pacaembu, o estádio está implantado em um contexto muito importante da cidade, compondo junto com o Cemitério do Araça e o bairro do Pacaembu uma enorme área verde próxima ao centro da cidade. O modo como se insere no vale, se apropriando dele para compor sua forma de maneira sutil, configura uma paisagem singular na cidade, uma apropriação da topografia para produzir arquitetura. O estádio foi palco de importantes acontecimentos, tanto esportivos quanto políticos, e, mesmo com todas as mudanças pelas quais passou em 70 anos, preserva grande parte da sua história. Apesar de ser subutilizada e permanecer vazia quase a semana inteira, a área designada para o estacionamento também é muito importante para a composição da paisagem e das visuais do estádio, para a dinâmica do bairro por abrigar diversas feiras, e por estar em cima do “piscinão da SABESP”, o principal meio de capitação de águas da região. Além do estádio, o complexo abriga diversos equipamentos esportivos, como quadras e piscinas e, mais recentemente, o Museu do Futebol. O entorno do estádio passa por mudanças significativas, com a construção de uma das estações da nova linha seis laranja do metrô, e o “abandono” da Avenida Pacaembu, que atualmente tem quase o mesmo número de imóveis ocupados que desocupados – a venda ou para alugar.

As propostas de privatização do estádio indicam mudanças consideráveis para o complexo e consequentemente para o seu entorno. O principal projeto para o local é transformá-lo numa arena, com a instalação de uma cobertura retrátil, para que possa abrigar mais pessoas, em shows e em jogos. A problemática do Pacaembu, no entanto, diz respeito mais a problemas administrativos do que espaciais. No entanto, se a evidente privatização deste espaço tornar ainda mais elitizado o público do complexo, pela implantação de gastos obrigatórios ao frequentador, o Pacaembu perderá assim completamente todo o potencial de espaço disponível ao público da cidade, cidade esta com cada vez menos espaços abertos ao pedestre e voltados ao lazer e à prática de esportes. Estudar o Estádio do Pacaembu neste semestre é uma busca pela compreensão das principais mudanças do complexo, tanto em suas dinâmicas internas quanto e seu entorno.

2. CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo)

Localizado na “esquina mais importante de São Paulo”, o CEAGESP é hoje um dos espaços mais debatidos ao se falar de mudanças na cidade. O bairro da Vila Leopoldina está passando por uma crescente verticalização, fruto da especulação imobiliária. A implantação do CEAGESP é complexa: de um lado, o rio como barreira fixa; do outro, uma avenida (Gastão Vidigal) de fluxo intenso e um bairro em crescimento desenfreado. O entreposto, que surgiu no final da década de 60, é fundamental para o abastecimento de produtos hortícolas para a cidade e hoje está em pauta sua relocação. Já em 1980 parte das atividades do Ceagesp foram descentralizadas com o intuito de abrir espaço para o mercado imobiliário em ascensão. Tais alterações territoriais se inserem dentro de um contexto de várias transformações funcionais na metrópole, com a crescente diminuição de atividades industriais nos grandes centros urbanos e seu deslocamento para regiões periféricas. A gestão Haddad previa a mudança do CEAGESP para a zona norte. A gestão atual indica Suzano como a opção mais provável. Sendo a saída da companhia praticamente certa, há inúmeros debates possíveis sobre a mudança: para quem a relocação do entreposto é vantajosa? É possível a reformulação espaço que mantivesse seu papel atual? Se realocado, de que forma o terreno imenso (700 mil m²) será ocupado? Como as mudanças neste espaço afetam o entorno imediato do local, incluindo a favela do Nove, da Linha do Cingapura Madeirite?

Além das preexistências direta e indiretamente ligadas ao entreposto, a presença de uma memória do CEAGESP em futuras ocupações do terreno é de grande importância não apenas neste caso, mas em todas as transformações pelas quais uma grande cidade passa. Novos projetos para espaços que carregam histórias e significados para a cidade de São Paulo precisam levar em conta suas memórias. As questões em torno no CEAGESP são extensas e complexas. A possibilidade de se estudar este espaço é fundamental para o acompanhamento dos processos de transformação ocorrendo atualmente pela cidade de São Paulo.

3. CAMPO DE MARTE (Aeroporto de São Paulo Campo de Marte)

Localizado na zona norte e com uma área total de 2,1 km², o Campo de Marte é outro grande terreno na cidade passando por mudanças administrativas, estruturais e espaciais. Em acordo recente entre a Prefeitura de São Paulo e União, 20% da área do Campo de Marte será transformada em parque, sendo o destino dos outros 80%, com a desativação do aeroporto, incerto. A proximidade do local ao Complexo do Anhembi e ao Sambódromo e os projetos para o Campo de Marte de caráter nebuloso, juntamente aos vários outros processos de privatização ocorrendo na cidade, tornam este espaço mais um alvo de interesse da gestão atual e portanto complexo objeto de pesquisa.

 

 

Etapa 02

ESTÁDIO PACAEMBU

A partir de uma revisão histórica crítica, desde a criação do bairro do Pacaembu até 2017, com a aprovação de concessão do complexo pela câmara dos vereadores, o grupo visa retomar o papel do estádio e do complexo esportivo para a constituição de um desenho democrático da cidade de São Paulo. Ao ocupar o fundo do vale do ribeirão Pacaembu com o complexo, a Cia City consolida finalmente o bairro e a plena urbanização daquela área, cujo terreno era fisicamente de difícil ocupação. Retomando eventos como a Copa do Mundo, a destruição da concha acústica, o tombamento do complexo e a inauguração da Arena Corinthians, discutimos hoje os rumos do Pacaembu, estádio e complexo esportivo. A situação do Estádio se insere num amplo plano de desestatização que vem sendo discutido desde a década de 90, tendo sido mote eleitoral do atual prefeito e marca de suas ações políticas, sendo assim o fim dos espaços públicos da cidade seu maior projeto. A concessão do complexo à iniciativa privada traz discussões fundamentais sobre a arquitetura que produzimos hoje em dia e da cidade estamos desenhando.

 

 

 

 

 

Etapa 03

Após a retomada da história do Pacaembu e da implicação de alguns de seus eventos no contexto atual, o grupo optou pela produção de um pequeno documentário sobre o espaço em debate, com o intuito de agrupar diferentes olhares e apontamentos sobre o assunto. O documentário, em fase de desenvolvimento, trará imagens e falas dos entrevistados e do Pacaembu em diferentes contextos, produzidas pelo grupo exclusivamente para o projeto. Além de agregar ao debate atual, o documentário visa produzir um material de memória do estádio e complexo esportivo

 

Etapa 04

A conclusão do curta/documentário “Reconhecendo o Pacaembu” (14:29 min) encerra o semestre de debates e estudos acerca de um dos equipamentos públicos mais antigos de São Paulo. As discussões abordadas no vídeo se estruturam principalmente a partir das entrevistas realizadas ao longo do semestre, realizadas com diferentes figuras que, de diferentes maneiras, colaboram para acrescentar no olhar sobre o estádio e complexo esportivo. O vídeo conta também com imagens e vídeos históricos, que foram acrescentados com o intuito de enriquecer o debate e ilustrar as diversas falas.

A discussão proposta no curta mostra desde a implantação do estádio no novo bairro do Pacaembu até o debate atual em torno de sua concessão. As várias camadas que estruturam este local fortaleceram a hipótese de que o futuro do Pacaembu deve se desenvolver sempre acompanhado de uma revisão histórica deste espaço, da conexão entre futebol e democracia e do papel atual deste equipamento na cidade. O curta, mais do que defender um posicionamento em relação às atuais mudanças, propõe um debate ampliado sobre este grande espaço público da cidade e o acompanhamento das mudanças que ainda estão por vir.