G21 – Cinema e São Paulo

ETAPA 1

Visamos desenvolver através do cinema e do estudo de processos urbanos ao longo do tempo, a percepção de como a cidade influenciou e foi influenciada pelo cinema, no campo urbanístico, social, político e cultural.

O objetivo é reconhecer São Paulo como uma cidade impulsiva e transitória por sua forte cena cultural e política que se expressa nos espaços urbanos e nas relações das pessoas com o eixo. A partir desta tese, elegemos três principais cinemas que se relacionam com a proposta de estudo.

Belas artes

Cine Caixa Belas Artes

 

Fonte: www.viacultural.org.br/site/?p=2683

O cinema de rua hoje em São Paulo, se tornou uma espécie de resistência a vida privada que cada vez mais prevalece sobre a pública. Sendo uma das atividades que estimulam uma experiência coletiva e conjunta da cidade.

Sendo um dos poucos cinemas de rua remanescentes da capital, se integra a uma mancha cultural e artística, que mostrou ter um grande papel na memória coletiva de moradores, de adolescentes a idosos, quando, no final de 2011 teve que encerrar suas atividades devido a pressão da especulação imobiliária, e ao fim do patrocínio no banco HSBC. Admiradores do cinema, reinvindicaram a reabertura do espaço por meio do Movimento Cine Belas Artes o que resultou em uma parceria com o banco Caixa que deu o impulso para sua reabertura em 2014. Atualmente é Patrimônio Cultural, sendo um espaço significativo de resistência e preservação da memória.

Compreendendo a questão de patrimônio cultural e especulação imobiliária, e como a população pode atuar em prol do espaço público, contextualizaremos o cinema na cidade, sua atuação e o seu papel na sociedade. Como ele gera um sentimento de pertencimento das pessoas ao lugar, a relação afetiva criada com o espaço e com a vivência deste. Exploraremos os diálogos entre o Cine Caixa Belas Artes e seu entorno, da Av. Paulista ao Centro.

Cine Marrocos

Fonte: www.ibirajaproducoes.com.br/?portfolio=cine=marrocos

O Cine Marrocos localizado no Centro de São Paulo, próximo a Praça da Artes e o Teatro Municipal, foi inaugurado em 1951, auge do cinema de rua, como um edifício ícone do cinema na cidade, com cerca de 2000 poltronas. Foi mantido em funcionamento até 1992 e desativado por 21 anos até sua ocupação em 2013 pelo Movimento Sem-Teto de São Paulo (MSTS) até 2016 quando teve a reintegração de posse pedida pela Prefeitura de São Paulo.

Através da ressignificação do espaço do cinema enquanto estrutura e elemento urbano que acompanha a transformação do Centro e seus diferentes usos, analisaremos a cidade e seus processos de transformação. Questionando o papel do Cine Marrocos e sua transformação de acordo com uma reestruturação do centro no âmbito social, cultural e econômico, visando o movimento de moradia e o conceito de patrimônio histórico e cultural. O recorte investiga o uso do espaço e os diversos modos de morar e ocupar, em meio ao contexto da especulação imobiliária busca compreender o diálogo entre sua localização, paisagem urbana e arquitetura.

 

Cinemas Rua/ Itinerantes

fonte: http://www.rapnacional.com.br/mostra-cultural-da-cooperifa-oferece-9-dias-de-atividades-gratuitas-nas-periferias/

Instituto Cidade em Movimento, Cine Degrau, Cine Quebrada, Cine lage, dentre outros coletivos.

Através de coletivos que utilizam o cinema como forma de apropriação dos espaços, por meio de exibições itinerantes pela cidade, discutiremos novas formas de ativação do espaço público através de atividades culturais que possibilitam a vivência dessas áreas pela população, levantando questionamentos sobre o lugar, o espaço e a ocupação.

Visamos estabelecer um diálogo entre o cinema e a cidade através de suas diversas formas de ocupação por meio de suas exibições, que acabam por unir e reativar locais pouco ocupados ou utilizados pela população, observando o funcionamento do coletivo, suas conexões com a cidade e a possibilidade de potencializar um espaço economicamente e socialmente congelado, por meio da reapropriação.

ETAPA 2

O Cine Marrocos foi inaugurado no Centro de São Paulo no ano de 1951, pelo empresário Lucydio Ceravolo,  considerado o cinema mais luxuoso da América Latina, com uma arquitetura imponente e com muitos requintes, contendo cerca de  2000 mil poltronas e doze pavimentos superiores contendo salas comerciais.Seu auge foi em 1954, ano de comemoração do quarto centenário de São Paulo, onde acabou sediando o I Festival Internacional de Cinema do Brasil, onde foram exibidos filmes clássicos. Após anos de prestígio em suas exibições, o declínio começa a ser progressivo até 1970 quando começa a ter uma programação com filmes pornôs que vai até 1992.

Depois anos de decadência foi comprado pela Prefeitura de São Paulo, e em 2010 o prefeito Gilberto Kassab anunciou a instalação da Secretaria Municipal de Educação. Essa proposta de mudança resultou em um projeto de restauração do hall de entrada do cinema, que se trata de um espaço tombado e imponente, que passaria a ter uma integração com a Secretaria Municipal de Cultura e a Praça das Artes. Esse projeto estava previsto para acontecer no início de 2012, mas acabou fracassando e o edifício do Cine Marrocos ficou abandonado até outubro de 2013 quando foi ocupado pela MSTS – Movimento Sem Teto de São Paulo.

No período da ocupação as salas comerciais se transformaram em quitinetes pelos integrantes do movimento, que pagavam 250 reais de matrícula e cerca de 200 reais mensais para morarem no Cine Marrocos, esse valor era revertido para pagar a conta de luz, a água, comida que era oferecida na cozinha comunitária, o leite distribuído duas vezes por semana e os colaboradores e coordenadores do movimento além da segurança do edifício.

Já no hall de entrada do cinema ficavam abrigados moradores de rua que eram um número menor de pessoas e o grande espaço do cinema se transformou em um auditório para as assembleias do movimento. Em outubro de 2016 a prefeitura realizou a reintegração de posse do Cine Marrocos e as 600 famílias foram obrigadas a deixar o edifício que até hoje encontra-se com suas portas fechadas.   

O objetivo desse projeto é estabelecer um diálogo entre os diferentes valores e usos que foram agregados ao Cine Marrocos durante seus 66 anos, mantendo um paralelo com a urbanização do Centro de São Paulo. Buscando reconstruir e ativar a história do Cine Marrocos através da memória e do imaginário das pessoas que frequentaram esse ambiente além de suas ressignificações ao longo do tempo, passando desde cinema, salas comerciais, espaços de festas, edifício sem uso, ocupação pelo MSTS, aos dias atuais que permanece fechado após sua desapropriação.

Reconstruiremos essa trajetória através de produtos gráficos, como fotos de arquivos e autorais, mapas ilustrados, desenhos, colagens dentre outros aparatos que resultarão em um livro ilustrado sobre o Cine Marrocos.  

 

ETAPA 3

Ao decorrer do trabalho, realizamos entrevistas com pessoas que participaram de importantes momentos históricos do Cine Marrocos e, trouxeram narrativas de diferentes períodos e pontos de vista. Dentre os entrevistados, estão: o filho do dono do Marrocos, Armando Ceravolo, que narrou a época de inauguração do Marrocos, trazendo memórias e relatos sobre o seu pai, Lucydio Ceravolo. O ex morador Fagner, que habitou o Marrocos durante a ocupação do MSTS em 2013, que nos deu a perspectiva do olhar de imigrantes e pessoas que experienciam o déficit habitacional de São Paulo. O jornalista Ricardo Calil, que realizou um documentário sobre o Marrocos em 2016 e reconstruiu seu espaço como cinema e, portanto, traz relatos sobre a vivência cineasta.

Para proceder o trabalho, daremos continuidade às entrevistas, que serão nosso ponto de partida para realizar nossa composição gráfica da linha do tempo do Cine Marrocos. Como objeto gráfico, elegemos trabalhar com o vídeo, o qual terá uma base fixa (um corte longitudinal do Marrocos) e, em cima deste cenário, passará o vídeo narrando a cronologia do cine através de imagens, colagens e desenhos em animação, acompanhadas da trilha sonora de filmes respectivos ao período apresentado e as principais frases reinterpretadas das entrevistas.

ETAPA 4

Durante a etapa final, foi possível compreender a história do Cine Marrocos
como um dos retratos de processo de urbanização da cidade de São Paulo.
Suas mudanças internas e externas do edifício acontecem em paralelo a
metamorfose do centro, marcada por riqueza e glamour na década de 50 e
estado de abandono nos anos posteriores principalmente nas décadas de 60 e
70, refletindo no cinema que atualmente tem suas portas fechadas.

O projeto final consiste em um curta-metragem que narra a trajetória do Cine
Marrocos desde sua época áurea até seu declive, composto por entrevistas
com pessoas que tiveram suas vidas ligadas ao cinema em diferentes épocas,
como Armando Ceravolo, Ricardo Calil, Fagner Oliveira e Gabriela di Bella.

O filme é narrado através de diversos cortes do edifício que são modificados
conforme seu tempo de vida, composto por acervos fotográficos, retirados da
revista Acropole e do fotolivro “Marrocos” do Gringo Coletivo além de posters e
trechos de filmes clássicos, que fazem alusão da trajetória do Cine Marrocos.

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20162017