Ladeira Porto Geral. O maior centro comercial a céu aberto da América Latina, onde o valor do metro quadrado é superior à Oscar Freire, a rua mais luxuosa de São Paulo. O faturamento diário é de 120 milhões de reais. Grande ponto de referência da cidade. Local de conhecimento geral e de passagem. Provedor de inúmeras e diversas mercadorias. Abrange múltiplas atmosferas: os sons, os movimentos, as pessoas, os carros, os edifícios, a topografia, o consumo, as transações, os caminhos, a rapidez. Atmosferas que caracterizam este conglomerado urbano— de extrema singularidade — como uma região a ser explorada.
“E todos sabemos que (as coisas) reagem umas com as outras! Materiais soam em conjunto e irradiam, e é desta composição que nasce algo único.”
ZUMTHOR, Peter. Atmosferas. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2006.
Levantadas as tais questões, a Ladeira Porto Geral, portanto, foi escolhida como objeto de estudo e intervenção. Na primeira etapa, cada integrante do grupo representou graficamente algumas das atmosferas captadas e as suas significâncias, como a seguinte imagem, que traduz o caos ensurdecedor presente em uma montagem:
Na segunda etapa, buscou-se destrinchar os conceitos relacionados ao capitalismo selvagem, propulsor das atividades na Ladeira e, em adição, a
“ (…) sociedade sinóptica de viciados em comprar/assistir, os pobres não podem desviar os olhos; não há mais para onde olhar. Quanto maior a liberdade na tela e quanto mais sedutoras as tentações que emanam das vitrines, e mais profundo o sentido da realidade empobrecida, tanto mais irresistível se torna o desejo de experimentar, ainda que por um momento fugaz, o êxtase da escolha.”
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. São Paulo: Editora Zahar, 2001.
Além disso, o cenário atual pode ser interpretado, de certo modo, como um espaço-lixo descrito por Rem Koolhaas, no qual ele “sempre muda, mas nunca evolui” e ainda “troca de arquitetura como um réptil troca de pele.”
Conforme as análises e o levantamento das atmosferas presentes — já citadas anteriormente —, foram propostas intervenções que as potencializem, dentre elas: escadas rolantes, passarelas e o uso exagerado de propagandas.
Conexões propostas em diferentes níveis acima do térreo já consolidado.
Overdose de anúncios na Ladeira Porto Geral, que fomenta esse mundo do consumo.
A necessidade de apresentar o trabalho até este ponto surgiu com o objetivo de se obter um retorno de quem frequenta o local. Como resposta, os abordados — de modo geral — aprovaram as ideias, todavia o grande imaginário do projeto provocou questionamentos.
[ F A Z E R ]
Como potencializar o local consolidado?
A partir desta indagação, a compreensão de que existem outras potências a serem exploradas levou o grupo a investigar os espaços subutilizados acima da cota da rua para descomprimir o cenário babélico atual. Optou-se portanto, avançar para dentro da quadra contornada pelas Rua da Constituição, Rua Florêncio de Abreu, Rua Boa Vista, Ladeira Porto Geral e Rua 25 de Março.
[ P E N S A R ]
Como a pulsação transformará a região?
Neste sentido, a topografia consolidada dos edifícios gerou espaços residuais que demonstram possibilidades interessantes de intervenção. Em contraponto à topografia do terreno, buscou-se agir nas coberturas, a topografia artificial dos edifícios.
Levando em conta o raciocínio do consumo + descompressão + pulsação, foram designadas novas ligações através da quadra trabalhada e a criação de outras fachadas ativas nesses térreos da cidade que emergiram com a proposta do projeto.
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E N T R E G A 0 4
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E N T R E G A 0 3
[ F A Z E R ]
Como potencializar o local consolidado?
[ P E N S A R ]
Como a pulsação transformará a região?
descompressão metabolismo coberturas
conexões acessos passagens
topografias transações consumo
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E N T R E G A 0 2
“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar.“
“Três décadas de orgia consumista resultaram em uma sensação de urgência sem fim.”
“Numa sociedade sinóptica de viciados em comprar/assistir, os pobres não podem desviar os olhos; não há mais para onde olhar. Quanto maior a liberdade na tela e quanto mais sedutoras as tentações que emanam das vitrines, e mais profundo o sentido da realidade empobrecida, tanto mais irresistível se torna o desejo de experimentar, ainda que por um momento fugaz, o êxtase da escolha.”
Modernidade Líquida, Zygmunt Bauman
“O junkspace troca de arquitetura como o réptil troca de pele.“
“O junkspace é como líquido que tivesse se condensado em qualquer forma.”
“O junkspace sempre muda, mas nunca evolui.”
“A continuidade é a essência do junkspace; ela explora qualquer invenção que permita a expansão, incorpora qualquer elemento que promova a orientação.”
Junkspace, Rem Koolhaas
- passam por lá aproximadamente 400 mil pessoas por dia.
- na época do Natal, a média é de 1 milhão de pessoas.
- o faturamento diário é de R$120 milhões.
- na região da 25 de Março, encontram-se 350 lojas, mais de 3 mil stands e 2 mil camelôs (sendo apenas 74 legalizados).
- em 2014, o preço do metro quadrado era de R$12 mil. O valor é superior ao da Rua Oscar Freire, onde o metro quadrado custa R$8.396.
- nas galerias, o aluguel de um box chega a custar R$5 mil por mês.
“O maior centro comercial a céu aberto da América Latina.”
[Dados de 2013: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,25-de-marco-tem-o-m-mais-caro-que-a-oscar-freire,1082384]
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E N T R E G A 0 1
O corpo da arquitetura
“O que considero o primeiro e maior segredo da arquitetura, é que consegue juntar as coisas do mundo, os materiais do mundo e criar este espaço.” (p. 23)
A consonância dos materiais
“E todos sabemos que (as coisas) reagem umas com as outras! Materiais soam em conjunto e irradiam, e é desta composição que nasce algo único.” (p. 25)
O som do espaço
“… construir um edifício e pensá-lo a partir do silêncio.” (p. 30)
A temperatura do espaço
As coisas que me rodeiam
Entre a serenidade e a sedução
A tensão entre interior e exterior
“A fachada diz: sou, posso, quero, mas eu não mostro tudo.” (p. 49)
Degraus da intimidade
“… proximidade e distância, num sentido mais corporal de escala e dimensão.” (p. 54)
A luz sobre as coisas
“… pensar o edifício primeiro como uma massa de sombras e a seguir, como num processo de escavação, colocar luzes e deixar a luminosidade infiltrar-se.” (p. 62)
ZUMTHOR, Peter. Atmosferas. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2006
A Ladeira Porto Geral, localizada na região do centro antigo de São Paulo, liga a Rua Boa Vista com a Rua 25 de Março e é historicamente conhecida por abrigar grande pólo comercial regional.
Devido a sua proximidade com a várzea do Rio Tamanduateí e pelo desenvolvimento de uma área portuária, ainda na segunda metade do século XIX, a localidade passa a ser ponto de escoamento, recepção e distribuição de produtos fundamentalmente agrícolas, já que neste momento a Rua 25 de Março, até então chamada de Rua de Baixo, continha os chamados Mercado dos Caipiras e Mercado Velho, anteriores ao atual mercado municipal.
Com a retificação do Rio Tamanduateí, já na década de 1930, a região perde sua navegabilidade e a Rua Ladeira Porto Geral seu caráter portuário. Porém, a dimensão do fluxo que ali se articulava fora tamanha ao ponto de garantir a contínua vitalidade do local, que até hoje resiste como centralidade comercial formal e informal paulistana.
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