A cidade, os resíduos e a vegetação

A paisagem no meio urbano se construiu com um olhar diretamente ligado a uma indústria que busca sempre gerar formas. Dentro do enquadramento dessa malha se encontra uma grande quantidade de espaços indecisos e desprovidos de função, áreas residuais que se espalham nas mais diversas escalas . Os resíduos fazem parte de todos os tipos de espaço que a cidade proporciona : no núcleo central, zonas industriais, pontos turísticos… é um produto do ordenamento. A falta de manutenção, que muitas vezes acaba se dando como abandono, permite o surgimento de uma vegetação ruderal entre escombros e brechas, que possuem uma vasta riqueza na diversidade desses bosques de resíduo, dada pela grande variedade de ambientes e condições em que elas brotam.

A cidade produz esses resíduos de acordo com o seu desenvolvimento e expansão do seu tecido urbano. O processo de instauração de uma cidade no espaço se inicia numa preexistência primaria que já tem estabelecido um equilíbrio natural e uma policultura que se abastece. Ao implantar uma malha urbana, o espaço preexistente se isola e vai continuar se dividindo cada vez mais enquanto o processo de ordenamento se expande, gerando uma membrana urbana que interrompe a continuidade biológica e prejudica o núcleo que ali existia. A multiplicidade desses fragmentos contribui com fator seletivo da diversidade, só sobrevivendo as espécies que conseguem se adaptar melhor com o espaço reduzido e as condições adversas.

A situação da cidade de São Paulo se encaixa muito bem com esse contexto graças ao seu crescimento desenfreado e não planejado, sua paisagem altamente verticalizada, todas as formas geométricas da malha urbana e todo o caótico e intenso cotidiano. O resultado disso é o aparecimento de muitas áreas residuais que vão desde o centro até os limites do perímetro urbano. O ponto de criação da cidade é o cenário perfeito de fragmentação e geração de áreas residuais e o maior exemplo é o Parque Dom Pedro II, um dos últimos resquícios de área verde no centro que ao longo do tempo foi ilhado por grandes vias arteriais e hoje se encontra em um estado de abandono. Toda a vegetação que resta no parque é parte de uma nova paisagem que se modificou muito da sua origem e nos permite delirar sobre uma possível construção de futuro, tendo o Parque Dom Pedro II como um embrião da terceira paisagem em meio aos resquícios do crescente caos que é a cidade hoje.

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