1ª Etapa
corpo presente
“dou como desperdiçado todo dia que não se dançou” Nietzsche
Existência e preexistência são conceitos humanos. O corpo é mediador das relações do homem com o mundo. Experienciamos o mundo com o corpo e a todo momento o corpo está sentindo o espaço, assim o espaço é o que a nossa experiência faz dele.
Se o corpo é: nossos gestos, nossas capacidades, nossas expressões faciais, a forma como sentimos, agimos ou desejamos; o corpo é sujeito. O corpo com consciência é um corpo sujeito.
A forma como este corpo percebe o mundo se materializa na forma como organizamos o espaço. O espaço pode ser construído com números e medidas, mas a percepção nem sempre é exata. Diferentes movimentos, diferentes ações, conformam diferentes espaços.
Revertendo a lógica que o espaço se desenha a partir das necessidades do corpo,
buscamos um corpo com ação e reação a partir de uma provocação de estranhamento posto no espaço. A forma como ele se relaciona com este, se posicionando , propõe uma nova consciência.
O espaço deve ser provocador e não anestésico e assim mudar a ação cotidiana O objetivo é gerar um questionamento do próprio corpo e o fazer sair da sua zona de conforto.
A ideia é provocar o estranhamento através de obstáculos criados em espaços públicos propondo uma nova percepção, fora da ação cotidiana, obrigando o corpo a lidar com ela.
2ª Etapa
corpo presente
Partimos do princípio que o corpo é o mediador das relações do homem com o mundo; e através de experiências artísticas vivenciais, buscamos a afirmação do corpo não como suporte e sim pela sua capacidade de ação, pela sua extroversão ou introversão, a partir de elementos que ativam a desnaturalização dos seus hábitos, o ato corporal, o movimento para além do cinetismo. Elementos que transformam o corpo, a sua percepção de si e do espaço.
O espaço é o viaduto Santa Efigênia, ele e seus usuários são os focos desta observação, mas aqui o espaço deixa de ser referenciado por suas características geométricas simplistas, ganha status de corpo.
Não se trata de um site specific, não remete a arquitetura do Santo Efigênia e sim as ações situadas no contexto do corpo só e do corpo coletivo. Nos interessa uma ação que desprograme e desfuncionalize esse espaço.
A ideia é criar eventos e objetos que são suportes para acontecimentos, que sugerem a ocorrência de comportamentos diversos. A obra é a ação. Algo a ser concretizado, para além do ato de projetar, por depender de um corpo participante como força criativa. A ação se efetiva com a participação do público.
3ª Etapa
corpo presente
Partimos do corpo como pré-existência, uma vez que é o mediador da relação dos indivíduos com o mundo. Notamos, no entanto, que na pressa de seus afazeres diários, as pessoas muitas vezes passam desapercebidas às questões externas imediatas, cada um absorto em seus próprios pensamentos, configurando um estado coletivo de automação.
É somente quando o corpo vivencia experiências ritualísticas que se torna sujeito, se torna presente. Isso porque passa por um liminar, em que o corpo sai de seu estado passivo para um estado ativo, e retorna a uma situação de consumação da nova ordem estabelecida, de compreensão do outro como seu semelhante e do corpo como extensão do mundo. Entra, assim, em uma atmosfera coletiva consciente que só foi possibilitada pelo encontro com o outro e consigo.
Baseando a pesquisa em torno da descoberta do estímulo necessário para trazer as pessoas a esse estado de consciência, propusemos duas frentes de ação, através de um objeto e de um evento. Nessa etapa trabalhamos com a chave do evento e produzimos dois experimentos: o primeiro, um convite à dança no espaço público; o segundo, um banquete, no meio do Viaduto Santa Efigênia.
O que investigamos é a possibilidade de ativar um espaço independente da sua qualidade arquitetônica, como estrutura física feita de relações métricas. Procuramos entender com essas intervenções a capacidade do corpo como sujeito transformador no espaço. As ações não existem por si só, elas se complementam ou de fato se efetivam a partir do corpo como participante ativo e não como mero expectador da ação. Esse modelo de intervenção busca, através da implementação de elementos ativadores no espaço, testar argumentos e experimentar situações.
No primeiro experimento, a dança, foi necessário um gatilho para que a ativação se efetivasse. O participante não agia pelo simples estímulo da dança ou da música, era preciso um convite para que a ação se consumasse. No segundo experimento, por outro lado, não foi necessário o gatilho, o estímulo gerado pela instalação da própria intervenção foi suficiente para que a ação se realizasse.
Para a próxima etapa, pretendemos desenvolver um objeto que cause um estranhamento mais duradouro que os eventos e que, portanto, deve ser convidativo por si só, independente de um gatilho (como o convite à dança ou a comida gratuita). Deve significar um ritual efêmero que gera o encontro, ao mesmo tempo que transforma o corpo inerte em um corpo presente.
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