O ESPAÇO DO COTIDIANO | Grupo 24

4ª Etapa

 

Nessa etapa final de trabalho, foi necessário aprofundar-se em relacão a algumas questões a fim de se conformar um edifício completo, com início e fim. Assim, elementos como circulação vertical, eventual envelope, ventilação, estrutura, iluminação foram fundamentais para se assegurar coerência global e conferir força e definição à pesquisa. Dessa forma, levando-se em consideração esses elementos e a partir do posicionamento de unidades no térreo, pensou-se nas relações tanto dos pavimentos superiores com o térreo quanto dos andares entre si, além das possíveis relações em um mesmo pavimento.

 

Esse aprofundamento aconteceu em duas situações hipotéticas, uma horizontal e outra vertical, que conduziram a questionamentos distintos de acordo com cada uma delas. Em ambas percebeu-se como se davam os espaços públicos e privados, o que mudaria se eles tivessem ou não aberturas e, também, como a densidade demanda, de acordo com seu aumento, uma maior infraestruturalização.

 

Com essas tipologias remontadas, observa-se que enquanto horizontal, as relações revelam-se mais fáceis de serem reprogramadas para não serem apenas espaços de transição. Já verticalmente, nota-se uma dificuldade maior ao tentar descontruir o bloco, uma vez que essa tipologia vertical, por ser mais densa, tem menos espaços de permanência e necessita de mais espaços rápidos, de transição. Além disso, criar espaços que permitissem a entrada de luz, ventilação e gerassem interações entre os blocos, promovendo apropriação deles foi mais difícil nesse caso. Assim, essa última fase de análise foi importante para perceber como o estudo de laje sobre laje e de composição com diversas tipologias interfere e é responsável pela determinação de outros elementos que dão uniformidade e identidade à um projeto de arquitetura, mesmo que este trate de uma investigação que busca se desvincular das diretrizes tradicionais.

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3ª Etapa

“Para quem são essas casas? A quem, a que formas de vida estão destinadas? Que valores traduzem-se nesse espaço privado, e também- ainda que seja apenas pela evidência com que este é negado- no espaço público? Quem são os seus sujeitos? De que noção de homem partem os projetos dessas casas? Que referências pressupõem?” ¹

 

Estudando-se a relação entre os modos de viver e as formas da casa, tanto ao projetá-la quanto ao habitá-la, o espaço doméstico revela-se uma materialização de certas ideias arquetípicas em torno da casa e dos modos de vida que tem origem. Considerando a etapa anterior desse trabalho, realizou-se um estudo que objetiva, ainda que sem finalidades práticas imediatas ou pretensões de fornecer instruções sobre como projetar, ser um alerta que contribua para ampliar os vínculos existentes entre os modos de pensar, de ver o mundo, de viver, ou seja, o cotidiano e as técnicas de projeto. Ao estudar essas possibilidades, o arquiteto torna-se usuário, passando a olhar através dos olhos do habitante, e assim adota uma atitude mais próxima a de uma pessoa qualquer, livrando-se dos preconceitos impostos pela formação arquitetônica, uma vez envolvido pela experiência real da casa, da sua domesticidade e do cotidiano que ela abriga.

Esse estudo dá-se através de 3 diferentes modelos de habitações, reais e/ou imaginárias com as quais se compõe um panorama dos espaços do cotidiano. Cada habitação, constituída a partir de um grid de base modular de 90cm (baseada em questões como, por exemplo, as dimensões de uma cama), visa a investigação do que se constituiriam as idealizações da casa, do âmbito da privacidade e do público, concebidas nesses espaços, além do vazio interpretativo como espaço do cotidiano acerca de sua finalidade enquanto habitação. Assim, essa pesquisa revela-se ser uma reflexão sobre as formas de viver, de apropriar o espaço privado e, por consequência, também, sobre o espaço de interação.

Para essa etapa do trabalho, foi necessário realizar uma redução e uma simplificação, o que consistiu em dar visibilidade a uma série de arquétipos, das entrevistas feitas na etapa anterior, definindo-os por suas características mais marcantes. Essa situação se assemelha, por sua vez, com o que ocorre com as caricaturas que, ao realçarem certos traços, distanciam-se da realidade. Os arquétipos que foram estudados são, assim, imaginários, pois foram construídos a partir da manipulação de distintas referências e tratadas como fragmentos de uma colagem e, tais arquétipos são, também, uma forma de pensar as relações entre público e privado e, através delas, o âmbito da cidade.

Essas habitações são projetos individualizados e inteiramente avessos à ideia de estandardização, por causa de suas diferentes formas de implantação, diferentes proporções dos terrenos, diferentes profundidades e orientação, diferentes métricas (maior ou menor área da casa) sendo o sistema empregado para materializá-las o único elemento ali constante. Então o que é importante é a ideia de individualizar um “sistema”, de operar com poucas variáveis, ligadas entre si, para obter resultados completos e diversos, tanto constitutivos, quanto espaciais ou estruturais e isso, por sua vez, justifica a função do grid. Elas, também, se organizam como um meio contínuo que se movimenta, dispondo seus móveis e objetos de tal forma que, em função do isolamento obtido através destes movimentos, não é difícil determinar a particularidade de cada lugar e seu uso.

Dessa maneira, essa investigação revela uma tentativa de se recriar o método de projeto, no qual, a técnica se desenvolve a partir desses percursos pelas ideias de espaço e de cidade, constituindo, assim, um sistema de projeto baseado na pessoa e no tempo rememorativo e circular, componentes fundamentais de seu cotidiano

 

¹ ÁBALOS, Iñaki. La buena vida. Visita guiada a las casas de la modernidad. Barcelona: Editorial Gustavo Gili SA, 2003. p. 23.

 

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2ª Etapa

O recorte do cotidiano, investigado conceitualmente na primeira etapa do trabalho, e sua apreensão como um conjunto de imagens e descrições que podem ser realocadas se tornaram ao longo das discussões do grupo a estratégia para lidar com o problema do cliente médio no desenho da habitação.

O conjunto de características niveladas pelo mercado através da figura do consumidor médio se torna o elemento responsável tanto pela homogeneização do projeto habitacional quanto pela normatização dos impulsos e desejos do sujeito em relação à moradia. O questionamento desenvolvido ao longo das últimas semanas interroga essa lógica e tenta compreender um exercício arquitetônico que coloca em primeiro plano o fluxo subjetivo de desejos de usuários quaisquer.

O caráter fragmentado e isolado de depoimentos que constituirão a base dos projetos arquitetônicos a ser desenvolvidos serão unidos em um empreendimento imobiliário hipotético; a justaposição dos diversos recortes através da colagem. Desta forma a tipologia residencial é conformada pelo recorte do discurso e da observação e a habitação assume sua condição mais próxima do cotidiano -a de diferenciação e contraste.

Visando desvendar as essências particulares do cotidiano dos mais variados cidadãos de uma metrópole, foram realizadas entrevistas com crianças, porteiros, garotos de programa, estudantes, professores e garçons. Nessas entrevistas, a partir de uma série de perguntas, organizadas em um roteiro, questionou-se o lugar que eles habitam (as suas casas) e seus desejos para uma possível “casa dos sonhos”. Dessa forma, com os produtos dessas entrevistas, ainda que de maneira lúdica, foram gerados espaços conformados em módulos de 5×5, que se repetiam ou não, de acordo com a necessidade particular de cada um dos entrevistados.
Esses espaços representados em planta e/ou em modelo 3D revelam os desejos expressos por essas entrevistas e pelo modo como essas pessoas relataram os seus mais diversos cotidianos, seguindo uma linha de pensamento condizente com o imaginário e o com o universo onírico dos entrevistados.

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Vídeo de referência para continuação do projeto:

Ficción inmobiliaria 2

1ª Etapa

reflexões sobre o cotidiano estudio vertical

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Percursos compreendem a relação com o transporte e os pontos de encontro; as intersecções de diferentes cotidianos dentro do mesmo cotidiano. Momentos em que a massificação e a singularidade se tornam evidentes.

O cotidiano deve ser questionado ou entendido como um modelo?

2

A ruptura de certos cotidianos pode explicitar a construção social que permite sua rotina, como por exemplo​ os ​rolêzinhos. Tipologias como o Shopping Cidade Jardim também induzem um cotidiano socialmente específico.

3

O cotidiano é uma noção espacial e temporal. Não só diferentes cotidianos demandam determinados espaços de acordo com o tempo em que estão inseridos como esses espaços estabelecem outra noção de tempo na cidade. A construção verticalizada e caótica de São Paulo permite observar esse fenômeno explícitamente não só com a coexistência de diferentes ritmos de vida mas também através da heterogeneidade histórica que forma a paisagem.

4

Espaços são invariávelmente ligados ao cotidiano, à rotina e à frequência. O abandono da regularidade de um modo do seu uso se relaciona diretamente com a noção de memória. Cotidianos permitem o esquecimento e lembrança do lugar.

5

A maneira como os espaços são condicionados pelo cotidiano podem se tornar explícitos através do recorte.

6

O recorte é, em seu primeiro momento, apenas uma delimitação, uma moldura. Tal recorte permite não só a visibilidade de um lado mas também através da sua face oposta. Como uma janela que não só olha para a cidade mas também que permite que a cidade a observe.

7

A janela é como um espaço de transição entre o privado e o público. Um diálogo que permite a concessão e coexistência de cotidianos íntimos e expostos. Um momento de encontro de olhares opostos, de curiosidade e apreciação.

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A fachada cega é um ato que nega a demanda pelo olhar. Janelas irregulares se abrem em sua face como ato de protesto.

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O recorte, através da sua redução de elementos fornece uma nova imagem; uma representação. Se torna uma ferramenta que oferece uma nova maneira de compreender a realidade. Uma nova partida que estimula o imaginário.

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“O olhar a partir do dentro, projetado sobre o mundo de certas abordagens românticas ao tema, não revela mais sobre a realidade ontológica, que o campo visual enquadra mas que o sujeito não evidencia, ignorando­a, para seguir, através de um processo mnemónico que desagua no metafísico, imagens evocadas ou sonhadas de uma realidade que já não está ali e que atormenta a sua psique, gerando o tédio e a saudade”

“Segundo a lição de Leopardi e, mais ainda, de diálogo entre o olhar, conduzido do interior, e as figuras reavivadas, através da imaginação, acaba por instaurar­se através de uma espécie de janela introspetiva um inquietante contacto/diálogo entre finito e infinito, que gera uma perturbação e, ao mesmo tempo, uma deslocaçãopsicológica do sujeito, determinado por uma forma de visãoautoreflexiva, que se distancia da realidade objetiva – olhada mas não vista – e que se perde – mais vincadamente em recordação e da alienaçãonostálgica.”

Eu, “o privilegiado da janela”. A poética do olhar da janela em Fernando Pessoa. Piero Ceccucci

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“Quem olha, de fora, através de uma janela aberta, não vê jamais tantas coisas quanto quem olha uma janela fechada. Não há objeto mais profundo, mais misterioso, mais fecundo, mais tenebroso, mais deslumbrante do que uma janela iluminada por uma vela, O que se pode ver à luz do sol é sempre menos interessante do que o que se passa atrás de uma vidraça. Nesse buraco negro ou luminoso vive a vida, sonha a vida, sofre a vida.

Além das vagas do teto, percebo uma mulher madura, enrugada mesmo, pobre, sempre inclinada sobre qualquer coisa e que nunca sai de casa. Por seu rosto, por seus vestidos, por seus gestos, por quase nada eu refaço a história dessa mulher, oti antes, sua legenda e, às vezes, conto a mim mesmo, chorando, essa história.

Se tivesse sido um pobre velho, eu, também, refaria a dele, facilmente.

E me deito orgulhoso de ter vivido e sofrido nos outros como se fosse em mim mesmo.

Talvez vocês me dirão “Estás certo de que esta fábula seja verdadeira?” Que importa o que possa ser a realidade situada fora de mim, se ela me ajuda a viver, a sentir que existo e o que sou?”

As Janelas. Baudelaire

 

 conclusão

O cotidiano toma a forma de um limite.

Entender a influência do cotidiano como recorte na delimitação do visível e do espaço de ação; como uma janela que ao mesmo tempo cobre e evidencia uma parcela da realidade.

A área deixada de lado é o que vemos como mais interessante; como potencial representativo e de reflexão. Através de um mecanismo como um raio­x, essa área pode novamente revelada e a narrativa por sua vez funcionará como vontade do que se é visto.

 

APRESENTAÇÃO