G33 | Largo da Batata

 Etapa 01

Largo da Batata: dos planos de requalificação urbana à ressignificação do espaço

Urbanistas e arquitetos vêm discutindo soluções para as problemáticas do Largo da Batata desde a entrega do projeto de Reconversão Urbana do Largo da Batata em 2013, que fez parte da Operação Faria Lima iniciada em 1990. O projeto, entregue após 6 anos de obras, visava a melhoria, ampliação e promoção qualitativa do espaço público, porém o resultado do mesmo em muito divergiu do que foi idealizado pelo arquiteto Tito Lívio. Como resultado, a população recebeu duas grandes esplanadas que se caracterizavam como praças secas, com árvores muito pequenas, com grande defasagem de mobiliário urbano e uma completa ausência de sombras.

É nesse impasse que surgem movimentos populares como A Batata Precisa de Você, liderado pela arquiteta Laura Sobral, que se mobilizam até hoje para construir mobiliários urbanos decentes para este local que em 2013 se via tão abandonado pelos órgãos municipais e pela população. O movimento surge em forma de mutirões de ocupação e construção de bancos, jardins, mesas para jogos de salão, coberturas simples e suas devidas manutenções. Frisa-se aqui que tais movimentos tem sua devida importância – sem os quais talvez o Largo não tivesse a ocupação e usufruto que tem atualmente – pois serviram para chamar atenção para a problemática daquele espaço tão potencial e tão carente de qualidade urbana. Por outro lado, nota-se que tais movimentos, como analisa o sociólogo Francisco de Oliveira, em 2004, tem uma nítida dimensão econômica, caracterizada pelo rebaixamento do custo de produção da força de trabalho por meio do uso da mão de obra autogerida. Em outras palavras:

O Estado e os industriais reduziriam seus custos de produção de habitação repassando a responsabilidade pela mão de obra da construção (ou gestão do projeto) para os próprios moradores. Estado mínimo, exploração máxima (KOGAN, 2016).

Porém, o que não se pode negar são as mudanças que o Largo da Batata tem vivenciado no que diz respeito ao seu uso e ocupação nos últimos anos – o que foi notavelmente catalisado por estas construções de mobiliários pela iniciativa popular, além do fato de que as secas esplanadas pontilhadas por tímidos bancos e coberturas foram, a partir de 2013, palco de inúmeras manifestações e atos populares, o que agregou ao Largo da Batata um sentido de ocupação e militância. De um lugar de passagem e transito expresso – quando lá se localizava o terminal de ônibus que depois foi relocado para o atual Terminal Pinheiros -, sem permanência ou atividades de lazer, hoje temos o cenário ilustrado pelo Carnaval de 2018, por exemplo: suas esplanadas fervilhadas de pessoas, bares lotados e até uma montanha russa financiada pela Skol. A vida noturna no Largo em dias normais também tem aumentado, principalmente do lado da avenida onde se localizam os bares, e consequentemente, a permanência de pessoas na praça. Ainda é notável a mudança de público pela qual o Largo passou. Em sua origem, com caráter essencialmente comercial e frequentado por imigrantes nordestinos e japoneses, agora os arredores da estação Faria Lima comportam um dos principais destinos noturnos da classe média-alta de São Paulo.

Como uma das principais problemáticas atuais do Largo da Batata, o nosso grupo destaca a esquina da Av. Faria Lima com a Rua Teodoro Sampaio, que comporta um “buraco” de amplas dimensões, canteiro de obras paralisado desde 2011. A obra, ainda em fase de fundações, cria um desagradável afunilamento da calçada e está envolta por tapumes, o que impede a conexão visual dos quatro lados da esplanada.

É sob esta perspectiva que propomos um projeto urbanístico, promovendo a melhoria da qualidade urbana do espaço público. O ponto focal do projeto é este grande “buraco”, que de acordo com o projeto de Tito Livio, deveria ser um centro de eventos culturais que impulsionaria uma centralidade. Entendemos que uma das forças atuantes mais importantes no Largo são os fluxos de pessoas, caracterizados principalmente pelo trajeto trabalho-ponto de ônibus/estação de metrô-casa. O projeto, portanto, visa gerar qualidade e atratividade para os fluxos já existentes, criando elementos que os movem e geram maior permeabilidade e atratividade. Sendo o espaço definido uma grande potência para a divergência e requalificação de tais fluxos, propomos uma praça rebaixada, utilizando o rebaixamento da área existente hoje, indicando a intenção de configurá-lo como uma saída do metrô, que desembocaria nesta praça rebaixada. Sua conexão com a cota da rua seria feita por meio de grandes escadas, rampas e patamares, que podem ser ocupadas em diversas ocasiões: descanso, comércio, shows, eventos… Visando a efemeridade característica dos elementos presentes no largo, isto é, seu mobiliário que ora é colocado, ora é retirado e modificado, propomos então um espaço mais definitivo e concreto. Visto que uma das problemáticas da área é a falta de espaço disponível para o comércio ambulante na calçada da Teodoro Sampaio, onde camelôs e comerciantes exercem suas atividades acompanhando o fluxo expresso de pessoas, notamos que se houver uma conexão com a saída do metrô, tais comerciantes podem ser redirecionados para esta praça, uma vez que os fluxos também serão convergidos para esta área, proporcionando uma relação de maior qualidade com o espaço disponível. Portanto, a partir destas premissas, nas próximas etapas deste trabalho, nos propomos a repensar o projeto urbanístico do Largo da Batata na tentativa de quitar estas problemáticas e de promover uma relação mais qualitativa e saudável com o espaço urbano, articulando conexões visuais e pedonais, considerando as pré-existências, fluxos necessários e a potencialidade da efemeridade característica dos arredores da grande e falha esplanada.

 

 

 

_pontos de onibus

_Rotas intermunicipais que saem do Largo da Batata

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ETAPA 02

Largo da Batata: da requalificação urbana à ressignificação do espaço

A região do Largo da Batata, no coração do bairro de Pinheiros, foi foco de múltiplas transformações ao longo de sua história, a começar pela inauguração da primeira sede do Mercado de Pinheiros onde hoje é o encontro da Teodoro Sampaio com a Avenida Faria Lima, em 1910. A principal atividade exercida na região era o comércio popular, principalmente de agricultores que viviam nas periferias a sudeste de Pinheiros, como Cotia e Itapecerica da Serra.

A iniciativa privada começa a olhar para o Largo da Batata a partir de 1990, quando o então prefeito Paulo Maluf inaugura a Operação Urbana Faria Lima, que previa o projeto da Reconversão Urbana do Largo da Batata. Mas é somente em 2008 que a obra se inicia. O projeto, entregue somente em 2013, visava a melhoria, ampliação e promoção qualitativa do espaço público, porém o resultado do mesmo em muito divergiu do que foi idealizado pelo arquiteto Tito Lívio. Como resultado, a população recebeu duas grandes esplanadas que se caracterizavam como praças secas, com árvores muito pequenas, com grande defasagem de mobiliário urbano e uma completa ausência de sombras.

É a partir desse momento que o nosso grupo detecta o início da história recente do Largo da Batata, pois é sob a perspectiva do novo contexto daquele espaço urbano que as pessoas passam a enxergá-lo como uma grande área cujo potencial não fora explorado. Portanto, entendemos que de 2013 a 2018, o Largo da Batata passa por 3 importantes momentos em que seu significado na memória afetiva da população foi subvertido.

O primeiro momento foi a onda construções populares que remodelaram e reurbanizaram a grande praça seca, que a partir das atividades organizadas pelo grupo “A Batata Precisa de Você”, conformaram um novo espaço caracterizado pelo urbanismo tático (com a construção de mobiliários efêmeros e eventos), chamando a atenção da população e da prefeitura para as urgentes questões do novo projeto recém construído.

O segundo momento que agregou uma nova significação à região foram as manifestações contra o aumento da passagem do transporte público. O Largo da Batata, portanto, passou a receber um valor político, pois foi palco de inúmeras manifestações populares.

O terceiro momento foram os carnavais – principalmente a partir de 2016 – que tiveram no Largo da Batata seus maiores eventos, contando com grandes patrocínios e uma grande atenção da prefeitura para possibilitar o carnaval nesta região – o que contou com uma roda-gigante em 2017 e uma montanha-russa em 2018 (o que diz muito sobre a mudança do olhar para o largo).

Analisando todas as modificações pelas quais o lugar aqui estudado passou, ressaltamos que há uma sobra, um resíduo: uma obra embargada que possui 10.000 m², localizada na esquina da Teodoro Sampaio e da Av. Faria Lima – onde antes ficava o antigo mercado de Pinheiros, a Sede Comercial da Cooperativa Agrícola de Cotia e seu depósito. O terreno atualmente pertence à VR Investimentos, que inicialmente construiria um shopping, mas que atualmente tem planos de construir um edifício de escritórios – vale ressaltar que em 2015 o gerente de incorporações da VR disse, em uma entrevista com Daniel Caldeiras, que em dois meses iriam começar as obras. Porém, o terreno permanece em desuso e inacessível ao público até hoje –  sem previsões de mudanças. Portanto, podemos ler este espaço como um junkspace (KOOLHAAS, 2014), tanto pelo seu projeto inicial (o de um shopping center), quanto por sua condição de vazio atual, pois “o espaço-lixo é o que resta depois da modernização seguir o seu curso, ou mais concretamente o que se coagula enquanto a modernização está em marcha, o seu resíduo” (KOOLHAAS, p.69, 2014).

Entendemos o “buraco”, desta forma, como um enorme junkspace, o resíduo decorrente das diversas mudanças e modernizações que ocorreram em seu entorno ao longo de um século – com foco em sua história recente, a partir da entrega do projeto do arquiteto Tito Lívio.

Das principais questões elencadas em torno do “buraco”, destacamos a sua inacessibilidade; sua falta de relação com o entorno; sua superdimensão; seu grande vazio (que fotografias aéreas principalmente dos carnavais e manifestações, deixam muito nítido o contraste de densidades de dentro e de fora de seu perímetro); sua conformação como uma barreira física e visual (não é possível enxergar o que há dentro dele e nem o que ocorre do outro lado devido à existência de tapumes, então ele impede que ocorra uma continuidade física e visual do próprio Largo); e sua falta de função social (pois o terreno de amplas dimensões permanece subutilizado, inacessível, como uma grande “bolha” em um dos lugares mais significativos da cidade de São Paulo.

Sob estas questões, propomos uma série de intervenções possíveis, cujo caráter crítico de cada uma apontaria para uma destas questões. Nas próximas etapas, escolheremos uma das intervenções para desenvolver, e se possível, construí-la de fato. Se sua construção não for possível, desenvolveremos seu projeto e faremos cartazes com seu possível resultado, que seriam colados no tapume para que a nossa crítica alcance as pessoas que passam todos os dias no local, gerando as reflexões propostas e criando visibilidade àquele lugar.

 

 

 

ETAPA 03

Largo da Batata: do vazio às urbanidades imaginadas

Os tapumes que escondem 10.000m² de área – ¼ do Largo da Batata! – entre a Avenida Faria Lima, a Rua Teodoro Sampaio, a Rua Dr. Manuel Carlos Ferraz de Almeida e a Rua Cardeal Arcoverde, abrigam vestígios de uma obra embargada desde 2013. O terreno em si, no entanto, está desocupado desde 1994. Neste vasta área, se localizavam o antigo Mercado de Pinheiros, a Sede Comercial da Cooperativa Agrícola de Cotia e um depósito para armazenamento de produtos agrícolas (principalmente batatas!) vindos de produtores das periferias a sudeste de Pinheiros, como Itapecerica da Serra e Cotia. As antigas construções foram demolidas em 1968 com as obras de abertura da Avenida Faria Lima. Hoje em dia, o terreno pertence 100% à VR Investimentos.
Segundo o gerente de incorporações da empresa, o projeto imobiliário foi originalmente pensado para ser um shopping center. Depois de algumas implicações burocráticas, a empresa trocou o projeto inicial por um prédio de escritórios. No entanto, as obras não tiveram continuidade e o terreno se encontra, hoje, como uma grande área sem integração com a cidade e desprovida de qualquer função social. A obra murada, mantida ainda em fase de fundações, conforma um espaço invisível na cidade e mais especificamente, desconectado da vida e de toda e qualquer atividade no Largo da Batata (que aumentaram consideravelmente nos últimos anos). Um espaço inacessível, que gera barreiras físicas e visuais, faz com que o pedestre não possa ter uma apreensão de suas dimensões.
Com a experiência proposta, a população poderá enxergar este objeto e ter uma noção maior desde empecilho urbano, de suas consequências para o Largo da Batata e para a cidade, trazendo à discussão as questões dos rumos do mercado de incorporação imobiliária. 10.000 m² podem transformar consideravelmente um lugar. A obra parada em questão nos dá margem para refletir sobre o que este lugar poderia vir a ser. Como ocupar este terreno de forma a requalificar este trecho urbano e devolver a área para a cidade? Como trazer vida para este lugar tão dissociado da vida urbana? O que você acha que deve ser construído aqui?