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ETAPA I

Imagem do google street view; acesso em 16 de agosto de 2017

 

Território em disputa, a área selecionada se localiza na região da Bela Vista sob o Viaduto Júlio de Mesquita Filho na altura da Rua Jaceguai, próxima ao Teatro Oficina Uzyna Uzona. Rebatizada Maloca do Jaceguai, a ocupação de mais de 50 famílias que existe desde 2015 foi recentemente alvo de mais uma ação truculenta da política higienista do Estado que age como braço armado do Capital a serviço dos interesses privados do mercado imobiliário. Compreendido como um foco de resistência ao pensamento urbanístico hegemônico, a escolha do local se deve a intenção de reconhecimento de São Paulo através da narrativa da violência sistemática e da barbárie associada a processos urbanos. Há interesse no mapeamento do território selecionado por ser entendido como um foco de resistência ao pensamento urbanístico hegemônico, como também o intuito de compreende-lo como uma área síntese das forças que se cruzam e produzem o desenho da metrópole. A importância está no estudo da reação ao abandono do Estado, da compreensão da materialidade dos espaços negados e da dimensão estética que representam na experiência urbana.

 

imagem autoral

A existência de uma plataforma abandonada na estação D. Pedro II do metrô provoca diversas reflexões acerca da identidade de São Paulo. Uma pesquisa cujo tema fosse o sistema de transporte público da cidade promoveria não só uma melhor compreensão acerca do crescimento dela, como também dos confrontos político-sociais até conflitos ligados ao mercado imobiliário e, consequentemente ao valor da terra. De qualquer forma, hoje o investimento tão caro pode ser considerado desperdício, evidenciando contradições no desenvolvimento da capital. Apesar de bastante próximo a áreas de comércio especializado consolidado – localizado entre o centro antigo já verticalizado e o Brás, onde ainda predominam galpões -, o local é também um entroncamento entre a Avenida do Estado e Radial Leste, e a lógica dos fluxos parece ainda ser privilegiada em detrimento da qualidade dos espaços. Por tal motivo, a região é constantemente foco de planos urbanísticos e de revitalização. Porém, o desinteresse pelo subterrâneo mantem esquecido o espaço já construído e subutilizado. Portanto, pondo em xeque ações publicas em relação a espaços residuais, imaginamos potencialidades e possibilidades de uso para um lugar esquecido na metrópole.

 

imagem aérea do Google Maps; acesso em 17 de agosto de 2017

Entre prédios e antigas construções industriais, circundada por trilhos, a Favela do Moinho abriga cerca de 500 famílias e resiste há 25 anos no centro de São Paulo. A especulação imobiliária alinhada ao descaso do Estado, tornam-na uma área em constante disputa. O espaço é alvo de ações que tentam, por meio de diversas estratégias, remove-la, já foi vítima de dois incêndios considerados “criminosos” pelos moradores que sentem na pele o que é estar em uma área de fogo cruzado, de crescente interesse econômico e sem amparo do Estado. Dessa forma, o desenvolvimento do trabalho se daria a partir da compreensão especialmente no que se refere a sua identidade, ao processo afastamento das favelas em relação ao centro, e o estudo da materialidade das construções “informais”.

 

ETAPA II

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“As ideias se relacionam com as coisas como as constelações com as estrelas”

Walter Benjamin

 

Qual que é a memória de espaços que não tem tempo para existir? como registrar? como construir a materialidade dos espaços negados?

 

Através da compreensão da complexidade da cidade contemporânea e da busca de outras formas de apreensão crítica e pesquisa analítica, entendemos que a leitura sensível seria fundamentada no registro empírico – a única forma possível na medida que o espaço em questão é fragmentado, e acima de tudo, mutável.

 

A intuição é a principal forma de conhecimento, ela dá diretamente o objeto como objeto de pensamento.

intuição intelectual;

Só podemos conhecer aquilo que se apresenta à sensibilidade.

A sensibilidade é uma faculdade de intuição, de apreensão,

de mergulho.

 

Ao vivenciar o espaço, construímos uma narrativa na qual as experiências, permeadas por relações humanas, nos permitem a apreensão das fronteiras e a compreensão de que o desenho da cidade é um desenho de valores.

A cartografia das resistências é difícil e sempre diz respeito a memória, mas é justamente assim que a alcançamos a percepção da relação corpo-matéria e do papel reativo que os moradores do baixio tem em resposta as disputas da cidade.

A sobreposição de camadas com os registros das visitas é capaz de não só transformar o processo em produto, como também evidencia a dinâmica espacial da área.

Nessa metodologia o resultado é uma constelação da experiência, que leva em consideração o caráter efêmero da materialidade do lugar e a ideia de história não linear.

 

ETAPA III

Nessa etapa do trabalho continuamos o estudo por meio da escuta de agentes atuantes na região.

Na medida em que planos foram apresentados em audiência publica pudemos compreender com clareza quais vozes tem mais força na discussão acerca do futuro daquela área.

Para além disso, a experiência ali nos levou a percepção do que as disputas da cidade e as fronteiras entre relações humanas estão condicionadas, ou no mínimo, associadas ao espaço físico. Assim, tornou-se cada vez mais necessário um levantamento do entorno.

Por meio de vídeo procuramos registrar características que evidenciam as dinâmicas espaciais do lugar, levando em consideração o caráter efêmero da materialidade da maloca do Jaceguai.

ENTREGA FINAL

Por fim, foram compreendidos a circunstância em que aqueles indivíduos estão inseridos, quem são eles, e o próprio viaduto que, apesar de configurar uma cicatriz urbana, serve de abrigo e é seu vazio que possibilita as ocupações.

Considerando a vulnerabilidade de toda a situação como também das pessoas que estariam sendo registradas junto à busca de ter um processo muito próximo da matéria, a fotografia de lata surgiu como ferramenta de leitura. A impossibilidade de controle sobre o resultado interessou, pois assim o produto passou a ser o próprio processo de apreensão do espaço através do que a ferramenta revelou de forma imprecisa, por meio de registros de luz e sombra, as fendas do baixio.