Equipe: Alexandre Makhoul, Artur Correa, Laura Levi, Lívia Volpato e Stella Bloise
Orientação: Martin Corullon
4ª etapa
O espaço urbano pode ser reconhecido por ser onde os fluxos de pessoas, mercadorias e informação é mais intenso. Era imprescindível para o grupo que o local escolhido estivesse em contato máximo com esses fluxos. A partir de um levantamento prévio de 42 ruínas urbanas em um raio de 2.5 km do marco zero da cidade, o edifício da rua Aurora, 446 foi escolhido também pelo fato de contrariar a ideia de ruína romântica a fim de apontar que o projeto como plano de ação pode se estender a outros espaços desabitados na cidade.
A volumetria do edifício preexistente é composta por um volume frontal desocupado e um posterior que hoje é usado como estacionamento em todos os seus 9 pavimentos sustentados por uma malha de pilares rígida.
As diretrizes adotadas no projeto se baseiam portanto em um entendimento de que a vivencia na cidade enfrenta um problema de automatização e na intenção de dialogar com a temática e usos preexistentes da rua. Dessa maneira, os programas propostos são uma intersecção entre as intenções projetuais e as dinâmicas locais; Motel, sauna, piscinas, restaurante, bar, estúdio de tatuagem, escola de dança, estúdios, casa noturna e administração.
A elevação do térreo foi proposta a fim de criar uma tensão visual que intrigue o transeunte que, ao adentrar no edifício, encontra uma grande situação de praça com programas que acompanhem os diferentes tempos dos frequentadores da rua.
Em lugar central, se encontra a caixa de circulação vertical, que propõe uma escada solta, com uma passada “promenádica” que tenta negar o caráter rígido da estrutura, adjacente a um grande vazio por onde circula um elevador jardim. Esse objeto arquitetônico é capaz de pôr em discussão o diálogo entre natureza e maquina através de um enquadramento.
3ª etapa
Nessa etapa, o grupo se concentrou na concepção do projeto como forma de solução das problemáticas levantadas nas últimas etapas. Como uma esponja, que puxa a água e se preenche, o edifício selecionado – um estacionamento na Rua Aurora, 446 – teria a função de criar um cotidiano paralelo ao cotidiano hegemônico, trazendo as pessoas para o seu interior, oferecendo programas e atividades onde a percepção do ambiente e do corpo sejam mais intensas, fazendo com que a percepção do próprio tempo individual seja transformada, prolongada, espaçada. O edifício, descolado do dia a dia da República, se mantém atualmente como um empecilho urbano. Com o projeto, pretendemos inserir o edifício na cidade, oferecendo programas que conversem com os programas que existem no entorno, que são principalmente noturnos. Aproveitando a estrutura dos elevadores existentes, também se projetou um programa vertical, que possa circular pelo edifício e abastecer todos os andares. No caso, esse programa seria o bar. A partir de análises de insolação e entrada de vento, determinamos onde ficariam os programas levantados, todos conversando com a disciplina do corpo e das sensações físicas, e mantendo o edifício funcionando 24hrs: restaurante por kilo, bar móvel, estacionamento, sala de dança, estúdio de tatuagem, ambiente de contemplação (onde existe a interação visual com o andar acima) com redes e locais para descanso, piscina e sauna (que funcionarão em dias alternados para mulheres, homens e misto), motel, balada, e a cobertura teria outro bar e funcionaria também como local de encontro, convivência, fumódromo e mirante. A estrutura original foi modificada somente onde necessário, pois pretende-se manter a estrutura como memória da ruína. Para que algumas das premissas propostas para o projeto fossem contempladas, algumas lajes foram cortadas, mantendo relações visuais, sonoras e olfativas entre os programas. Mantiveram-se os vãos de elevadores, utilizando-os ao nosso favor. Ao fim, avançamos determinação da implantação de cada programa, a relação entre eles e do funcionamento geral do edifício, assim como resolvemos a interface principal com a cidade no térreo e a questão de trazer as pessoas para dentro do edifício, a fim de gerar uma heteroptopia.
Equipe: Alexandre Makhoul, Artur Correa, Laura Levi, Lívia Volpato e Stella Bloise
Orientação: Martin Corullon, Ruben Otero
2a Etapa
“Além da arquitetura, a cultura contemporânea em geral tende lentamente ao distanciamento, a uma espécie de dessensualização e de-erotização assustadoras da relação humana com a realidade.”- JuhaniPalasmaa, “Os Olhos da Pele”
Nesta etapa foram visitados e analisados os espaços levantados na definição anterior.
Chegou-se a duas hipóteses: um edifício abandonado pertencente ao INSS localizado na R. São Paulo, Liberdade, e um prédio de estacionamento parcialmente desocupado na R. Aurora, República.
A partir de visitas e análises do entorno, o edifício da R. Aurora se mostrou intimamente relacionado com os temas estudados pelo grupo com a leitura do livro “Os Olhos da Pele”. O entorno, repleto de fluxos intensos, indicou o caminho a ser seguido com o projto: explorar o sensorial, o corpo e a sensualidade através de programas como drive in, motel, restaurante, oficina de dança/circo/artes do corpo, tattoo, café/bar/casa de shows, cobertura como mirante e local de encontro. Assim, trabalha-se exatamente a chave CORPO FUNCIONAL X CORPO LÚDICO, estabelecida pelo grupo como desdobramento da vida cotidiana automatizada da atualidade.
Foram também definidas as intenções projetuais para o edifício da R. Aurora-446 e levantada sua estrutura existente.
Acessar apresentação da 2a Etapa
1a etapa
HETEROTOPIAS COMO RUPTURAS DE TEMPO
O cotidiano hegemônico – usual, tradicional – gira em um movimento cíclico entre CASA, ESTUDO e TRABALHO – incluindo todas as variantes desse ciclo genérico. Digamos que o cotidiano hegemônico é devidamente automático, pois consta em cumprir com obrigações cristalizadas diárias. Porém, essa condição de automaticidade, regada pela pressa do dia-a-dia, não nos proporciona experimentações sensoriais significativas, somente a visão – o que contribui ainda mais para uma percepção do tempo também hegemônica, rápida, apressada e corrente. Segundo o livro “Olhos da Pele”, de Juhani Pallasmaa, somos seres visuais. A arquitetura da cidade é feita para olhar, interior ou exteriormente. Sentidos como o tato, paladar e audição ficam muitas vezes à parte dessa experimentação da cidade.
A percepção do tempo é determinada por vários fatores, como AÇÕES e ESPAÇOS. O império da visão contribui para que essa percepção continue batida, apressada, rápida. Fatores como o ritmo, percurso, necessidade de produzir, e os programas dos espaços, são determinantes nessa percepção do tempo do cotidiano hegemônico. Para isso, será necessário
encarar a modernidade mais como uma atitude do que como um período da história. Por atitude, quero dizer um modo de relação que concerne à atualidade; uma escolha voluntária que é feita por alguns; enfim, uma maneira de pensar e de sentir, uma maneira também de agir e de se conduzir que, tudo ao mesmo tempo, marca uma pertinência e se apresenta como uma tarefa. Um pouco, sem dúvida, como aquilo que os gregos chamavam de êthos (Foucault, 2008, p. 341-342).
Existem espaços parados no tempo, inseridos na cidade, mas descolados das dinâmicas urbanas. Dentro deles, imperam tempos paralelos, únicos, individuais. Pretendemos reinserir esses espaços no cotidiano, proporcionando tempos diferentes, pausas, percepções do tempo não-hegemônico. Para tanto, o que irá contribuir para tal finalidade são as sensações esquecidas pelo dia-a-dia. Esses espaços levantados são ruínas urbanas, com programas e espaços esquecidos, desabitados. Pretendemos induzir novos tempos do cotidiano, através da reintegração dessas ruínas na cidade, através de projetos de espaços sensoriais.
Essas ruínas em si, conformam heterotopias, conceito formulado por Michael Foucault:
“Heterotopia (hetero = outro + topia = espaço).
Lugares e espaços que funcionam em condições não-hegemônicas. Espaços que têm múltiplas camadas de significação ou de relações a outros lugares e cuja complexidade não pode ser vista imediatamente.
- Heterotopias podem unir múltiplos espaços incompatíveis entre si;
- Heterotopias podem conectar diferentes períodos de tempo;
- Heterotopias são locais separados da sociedade e com regras limitando a entrada e saída;
- Heterotopias tem uma função relacionada ao espaço ao redor.”
Porém nossa vontade é fazer com que as heterotopias sejam experimentadas –já que, segundo Foucault, “[…] o corpo humano é o ator principal de todas as utopias” (Foucault, 2013, p. 12). Para tanto, a reestruturação desses espaços será indispensável para que haja uma atração das pessoas tais lugares, na curiosidade e vontade de experimentar outros tempos inseridos no cotidiano, mas contidos pelas fachadas dessas ruínas. Funcionariam como portais de suspensão do tempo-hegemônico.. Portanto, “resistir é também provocar contraposicionamentos, inventar outros espaços, implodir posicionamentos e suas histórias temporais” (Passeti, 2003, p. 114 apud MARINHO, Cristiane Maria, 2015, p. 4). E assim o fazem os corpos heterotópicos.
Faremos um levantamento de ruínas em São Paulo. É importante frisar que esses espaços se encontrem no fervo da cidade. Não pretendemos deslocar as pessoas para atraí-las para esses lugares, como parques temáticos. Eles hão de estar nos caminhos e percursos do cotidiano cíclico, onde a entrada do público aconteça por acaso.
“É preciso uma forte ritualização das rupturas, dos limiares, das crises. Estes contraespaços, porém, são interpenetrados por todos os outros espaços que eles contestam: o espelho onde não estou reflete o contexto onde estou, o cemitério é planejado como a cidade, há reverberação dos espaços, uns nos outros e, contudo, descontinuidades e rupturas. […]. Não refletem estrutura social nem a da produção, não são um sistema sócio-histórico nem uma ideologia, mas rupturas da vida ordinária, imaginários, representações polifônicas da vida, da morte, do amor, de Éros e Tánatos” (Defert, 2013, p. 37-38).
APRESENTAÇÃO
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