Parece-nos crescentemente evidente que o homem insiste em ser o lobo do homem. Tem-se assistido, tanto em escala nacional quanto internacional, a repetição de fatos históricos, os quais se imaginava servirem como um registro das atrocidades cometidas pela humanidade. O descontentamento incita a intolerância e a revolta fazendo com que o ciclo que elege opressores e gestores, que devasta nossas florestas, exaure nossos recursos e soterram nossas cidades se repete pontualmente. A ganância e a ambição que regem o capitalismo tem por subproduto inevitável um imenso contingente de injustiçados, de “outros” que, desprovidos de oportunidade ou escolha, hão de arcar com a imprudência dos privilegiados. Prova disso foi a indiferença e a inconsequência dos responsáveis pelo rompimento da barragem de Brumadinho, não alarmados pela mesma situação ocorrida apenas 4 anos antes em Mariana.
Nesse sentido, é inevitável o paralelo com a obra-prima de Émile Zola “Germinal”, de 1885. Nesse romance que marcou a literatura naturalista francesa do século XIX, Zola pincela a precária situação das minas de carvão na virada do século, bem como a frágil estabilidade social e exploração do trabalhador que marca o período de avassalador crescimento industrial e, simultaneamente, da desigualdade e descontentamento. No livro a mina de Le Voreux é descrita como um ser onipresente que, dia após dia, engole trabalhadores pela manhã e, pela tarde, cospe-os de volta ao mundo exauridos. No Brasil, já se assistiu situação semelhante na corrida pelo ouro na Serra Pelada – registrada, entre outros, por Sebastião Salgado – e assiste-se, atualmente, as atrocidades cometidas por empresas privadas, como a Vale.