Etapa 1
Etapa 2
“Apenas a imagem do espaço, graças a sua
estabilidade, é que nos dá a ilusão de não mudar através
do tempo, e de reencontrar o passado no presente; e
é exatamente assim que se pode definir a memória”– Bernard Lepetit – Lugares Urbanos e Memória Coletiva
Etapa 3
São Paulo, uma cidade já estabelecida e extremamente densa em todos os seus sentidos, passou por grandes mudanças físicas dentro de um curto período de tempo, se desenvolvendo a partir das novas dinâmicas econômicas e culturais. Considerando a proporção da cidade e suas novas demandas uma série de espaços foram ressignificados e esquecidos.
Existe uma cidade subterrânea notória em São Paulo com diversos lugares ociosos e potenciais, construções negligenciadas que poderiam ser transformadas em uma oferta de espaço público, é injustificável privar essa oportunidade de novos usos e ocupações. O subterrâneo esconde situações particulares de lugares que já foram abandonados e hoje apresentam usos diferentes do que o proposto em sua construção inicial, como o antigo túnel do quartel da rota, na Av. Tiradentes. Existem também os espaços que não se modificaram com o tempo, tanto em sua forma quanto em sua função, é o caso das galerias do subsolo da Avenida Paulista, que estão abandonadas desde a suspensão das obras. Algumas estações de CPTM e do metrô também se encontram nesta situação, reflexo da não responsabilização do estado pelos anos de abandono e o desinteresse financeiro de investidores. Hoje é possível observar da estação Pedro II uma plataforma de metrô abandonada e inacessível ao público, lugar esse que é o foco de estudo do grupo.
A plataforma abandonada da estação Pedro II representa um problema recorrente da cidade, a proposta do grupo é debater esse tipo de ocupação, fruto da má gestão e crescimento descontrolado, reflexo da dificuldade governamental em lidar com as edificações que envolvem processos legislativos, monetários ou sociais. Com anos de descaso, este espaço não se modificou na mesma velocidade que São Paulo, permanecendo inerte e seu espaço físico o mesmo desde então, perdendo sua função primária de transporte, carregando somente a passagem do tempo estampada na matéria.
A estação construída para baldeação entre as linhas amarela e vermelha do Metrô foi construída no fim da década de 1970, onde faria conexão com a estação Pedro II. Além da insuficiência de recursos monetários, a expansão da cultura do automóvel da década de 1970 refletiu diretamente nas obras governamentais, somando esses fatores com a crise do petróleo, os problemas financeiros latentes das décadas de 1970 e 1980 e o crescimento mal administrado da cidade, a estação nunca foi finalizada com a justificativa de ter baixo fluxo de pessoas.
O trabalho surge com a intenção de discutir este problema da cidade, não apropriando o espaço com um novo uso projetual a fim de resolver todas essas problemáticas, mas sim evidenciando as potencialidades desse lugar, refletindo o que ele poderia ter sido em todos esses anos que permaneceu fechado. Através desta premissa foram produzidos ensaios imagéticos que se relacionam com o tempo histórico e fatídico da cidade e da estação, fazendo um contraposto dos acontecimentos da cidade com o imaginário da plataforma. Assim, reforçando a ideia de que se trata de um espaço que desde o início de sua construção nunca possuiu um uso e que desde então permanece estagnada, independente do crescimento e desenvolvimento da cidade de São Paulo.
Para entender como essa construção chegou nesse nível de esquecimento, é apresentada a história dos acontecimentos mais importantes e críticos da época na cidade através de janelas temporais que se sobrepõem ao que estava acontecendo no subterrâneo da estação. Em contraposição a realidade, os ensaios imagéticos trazem as possibilidades e potencialidades que esse espaço teria em um tempo fictício, desde antes de sua construção até um futuro hipotético, enfatizando que o tempo transcorrido na plataforma não fez com que essa perdesse a sua potencialidade, mas que a mesma não foi aproveitada pelas gestões administrativas. O tempo imaginário percorrido pelo livro é uma crítica do quão desvalorizados esses espaços são e como eles teriam capacidade de suprir alguns déficits que a cidade possui, evidenciando as problemáticas que cercam a cidade contemporânea e a má administração do crescimento de São Paulo.
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