6291-10
3° fase
Partindo da vontade de estudar espaços da realidade cotidiana de São Paulo,
definimos como objeto de estudo os pontos de ônibus e suas relações espaciais e
sociais.
A fim de discutir essas questões adotamos para a análise as definições de
“lugar” e “não-lugar” do etnólogo e antropólogo Marc Augè. O autor de “Não-lugares”
descreve “lugares” como aqueles espaços que são vividos, ou seja, onde relações
humanas acontecem e “não-lugares” como aqueles em que as pessoas são apenas
espectadoras, refugiadas em um mundo virtual, se relacionando só com símbolos e
imagens. Augè deixa claro que um lugar pode, simultaneamente, atender aos dois
conceitos devido aos distintos significados que podem representar para cada pessoa –
por exemplo, no caso do ponto de ônibus, seu significado é distinto para um usuário e
um transeunte. A partir dessas definições criou-se embasamento para o olhar do
trabalho desenvolvido a seguir.
O recorte escolhido para estudo e desenvolvimento do trabalho foi a linha de
ônibus 6291-10, Terminal Bandeira/INOCOOP Campo Limpo, que atravessa os mais
variados contextos da cidade de São Paulo, decorrendo mais de 24 quilômetros e
perpassando por 54 pontos de parada. Como primeira aproximação realizamos uma
pesquisa a partir de entrevistas, relatos, visitas e análises com o intuito de selecionar
pontos que representassem situações diferentes (mas frequentes) na cidade no que
se refere aos critérios de perfil social dos usuários, quantidade de pessoas no ponto,
tipologia construtiva e espacial, entorno imediato e equipamentos próximos
considerados importantes para a infraestrutura da cidade. Foram selecionados, ao
final dessa etapa, quatro pontos de ônibus sendo eles localizados na Avenida Nove de
Julho, na Avenida Cidade Jardim, na Rua Deputado Laércio Corte (Morumbi) e na
Estrada Campo Limpo.
Para entender melhor esses “lugares/não-lugares”, na segunda etapa do
trabalho, procuramos vivenciar os pontos escolhidos. Realizamos visitas a campo em
diferentes horários e produzimos relatos etnográficos sobre elas. A partir deles
notamos a recorrência de temas considerados pertinentes para análise do objeto de
estudo. Foram eles: segurança, ruído e experiências como ansiedade, tédio, cansaço
e desconforto. Tais aspectos evidenciaram uma relação entre as pessoas e esse
espaço, traçando uma complexidade maior do que imaginávamos.
Com isso em mente, nessa última etapa decidimos reunir todo o material
levantado e produzido durante o semestre a fim de expressar, por meio de textos, a
experiência do grupo. A intenção é que o leitor possa compreender a complexidade
desses lugares, poucas vezes vistos como um espaço público.
2° fase
A linha 6291-10, Terminal Bandeira/INOCOOP Campo Limpo, atravessa São Paulo apresentando diversos recortes da cidade. Com mais de 24km, ela passa por 54 pontos nos mais variados contextos, entre eles as avenidas 9 de Julho, Cidade Jardim, Morumbi e a Estrada do Campo Limpo.
Focando no questionamento sobre o que faz de um lugar um lugar, foi realizada uma ampla pesquisa por meio de entrevistas, relatos, visitas e análises, e depois selecionados quatro pontos que pareceram interessantes para um estudo mais aprofundado. Os critérios usados para essa seleção foram o perfil e a quantidade de pessoas, a região, a tipologia do ponto e o seu entorno imediato, e os marcos importantes nas suas proximidades.
A fim de entender melhor esse lugar/não-lugar, nessa segunda etapa do trabalho, procurou-se vivenciar os pontos escolhidos. Foram feitas visitas em diferentes horários e produzidos textos descritivos e narrativos sobre as experiências. A partir deles notou-se a recorrência de temas considerados pertinentes para análise do objeto de estudo. Foram eles: segurança, atividade sonora e sensações como ansiedade, tédio, cansaço e desconforto. Tais aspectos levantaram questões sobre o relacionamento entre pessoas e espaço e de como um pode interferir sobre o outro.
Ponto Campo Limpo
A calçada tem em torno de dois metros. O ponto de ônibus é apenas um totem com um aglomerado de pessoas em volta. Bem atrás do ponto, uma barraquinha que vende salgadinhos, doces e bebidas com um rádio e uma mesa onde dois senhores conversam.
A barraca está localizada na extremidade de um terreno baldio, cheio de mato, que tem acesso à rua de baixo. Na vizinhança, vários outros serviços como chaveiro, salão de beleza, academia, sapateiro, autoescola, escola de inglês, lavanderia, lan house, gráfica, costureira, locadora de decoração, marmoraria, imobiliária, pizzaria…
Do outro lado da Estrada do Campo Limpo um muro, duas vezes do tamanho de uma pessoa, que cerca árvores, maiores que os postes da rua, pertencentes ao Horto do Ipê. Umas dez pessoas aguardam o ônibus e umas outras tantas apenas cruzam.
É uma via movimentada. Passam caminhões e ônibus com destinos desconhecidos, a maioria deles metropolitanos. Passam também alguns ônibus vazios, talvez a caminho da garagem.
Quinta-feira, 15h30
Logo atrás, na barraca azul que vendia salgados e embalados, um pequeno rádio tocava uma música pop no último volume. Algumas pessoas acompanhavam a música e cantavam em voz baixa.
Quem está no ponto a espera do ônibus encontra dificuldades de se manter em um lugar só. A calçada é estreita para ser dividida em tantas partes, as pessoas que ficam ali no ponto são obrigadas a compartilhar o 1,5 metros de calçada com os transeuntes, com a barraca de comida, com o comércio local, com os carros entrando e saindo dos comércios e principalmente sendo obrigadas a lidar com o sol em suas cabeças.
Todos se movimentam a toda hora.
Os carros não paravam de entrar e sair da lan house vizinha a barraca – que por sua vez fica logo atrás do ponto – obrigando todos que esperavam abrir espaço para o carro passar.
Quarta-feira, 19h20
O barulho do rádio, criavam uma atmosfera peculiar para aquele ponto: era agitado. O volume era bem alto e contrastava com o silêncio das pessoas que esperavam no ponto. O som que vinha da rua também ecoava nesse espaço, prevalecia o dos carros, dos ônibus e até de uma ambulância, que por um momento, causou estridência.
“Aí jogando o time do Corinthians…” “Pisa na bola, PUXA, CHUTA…”
Provavelmente a existência somente dessa vendinha e da pizzaria abertas, fazia com que as pessoas não ficassem tão afastadas do totem de sinalização de parada; elas se mantinham ali e às vezes se dispunham beirando a rua para avistar seu ônibus.
Muitos usam o totem até como encosto, já que ali não tinha nenhum banco ou mobiliário de apoio.
1° fase
O ponto de ônibus na cidade de São Paulo é um elemento crucial em sua dinâmica. Na cidade de São Paulo são quase 15.000 ônibus distribuídos em mais de 1.300 linhas e 18,8 mil pontos. Ele é o lugar de espera, e como lugar, merece um olhar que não o restrinja a um ponto na cidade, mas sim um espaço público.
Dentro dessa vontade de olhar para o ponto de ônibus como um espaço público o grupo escolheu recortar a análise como método de aprofundamento. O grupo optou pela linha 6291-10 que entre mais de 20 quilômetros e uma média de 12.000 passageiros por dia, desenha um corte da cidade de São Paulo, saindo do centro (terminal bandeira) e terminando em regiões mais periféricas (campo limpo).
A experiência do percurso trouxe questões importantes que falam sobre o entorno de São Paulo: os pontos com mais fluxos ligados aos polos de trabalho na cidade, os perfis das pessoas que frequentam essa linha, e a própria cidade, com o desenho de seus espaços.
Essas características não só foram importantes para entender a dinâmica dessa linha, mas também para denotar os espaços que se destacavam para se recortar ainda mais o trabalho e gerar análises que possam embasar intervenções na cidade, capazes de trazer a reflexões quanto ao espaço público onde são implantados os pontos de ônibus.
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