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“A recordação é uma traição à Natureza
Porque a Natureza de ontem não é Natureza
O que foi não é nada, e lembrar é não ver”
– Trecho retirado do poema O Guardador de Rebanhos XLII, Fernando Pessoa
Pensando na memória da cidade demarcada por seus edifícios ou lugares, a discussão teve como partida alguns desses locais que remetiam à lembranças experiências de cada um, sendo possível ainda, sintetizá-los em três frases:
_o que era mas não é mais;
_não era pra ser mas é;
_era, mas hoje é outra;
_Antigas Officinas Casa Vanorden – 1909
Monsenhor João Felippo, 1 – Mooca
Arquiteto: Jorge Krug
Construídas em 1909 durante o desenvolvimento industrial acelerado pela criação da São Paulo railway e financiada pela Sociedade Anônima Casa Vanorden, de Francisco Matarazzo, as antigas oficinas fazem parte dos grandes galpões do bairro da Mooca. Tendo seu uso original como uma tipografia fornecedora das principais repartições estaduais, municipais e federais, e das estradas de ferro em São Paulo. Não se sabe com precisão a data em que a Casa Vanorden foi desativada, no entanto, na região, as fábricas e oficinas em geral começaram a ser desligadas por volta da década de 1950.
A decisão de tombamento foi tomada em 2007 pelo CONPRESP para preservar e recuperar, junto com outros sete galpões da Mooca a importância histórica da antiga linha ferroviária São Paulo Railway e as instalações que marcam o processo de industrialização da cidade.
A Casa Vanorden representa, em nossa visão, o que era, mas não é mais, isto é, um espaço que traz o reconhecimento da importância que São Paulo adquiriu ao longo de sua industrialização, uma localidade com vida exuberante. Atualmente, os galpões vazios, além de servirem como estacionamento, encontram-se congelados no tempo, sem atividades ou vida, enquanto, ao seu redor tudo continuou se movendo.
_Rua do Gasômetro – Viaduto que liga o Largo da Concórdia com a Rua do Gasômetro__Rua do Gasômetro – Brás
Inaugurada a fábrica da San Paulo Gas Company, em São Paulo, 1872, produzia gás combustível destinado somente à iluminação pública, no estabelecimento denominado Gasômetro, sendo apenas em 1896 que começou a fornecer para indústrias e residências, expandindo suas instalações. A fábrica foi responsável pela implementação do fogão a gás na cultura paulistana, causando uma mudança nos espaços de habitação da época. O local tornou-se um dos locais mais conhecidos da cidade, dando nome à rua até hoje. O comércio de madeira e derivados tornou-se marco da rua do Gasômetro, sendo considerada uma das mais importantes no setor no bairro do Brás.
Com essa grande presença de comerciantes, compradores e ambulantes no trecho escolhido, o local segue com um movimento que cresce cada vez mais, mesmo sem qualquer tipo de infraestrutura.
A Rua do Gasômetro representa, na nossa interpretação, aquilo que não era para ser, mas é, nos instigando a olhar para esse local em busca de compreender sua trajetória e suas potencialidades.
_Casa do Povo – 1953
Rua Três Rios, 252 – Bom Retiro
Arquitetos: Mange, Martins e Engels
A Casa do Povo foi criada por imigrantes judeus progressistas e de várias correntes de esquerda que se estabeleceram no bairro do Bom Retiro a partir da Primeira Guerra. Durante os anos que o edifício estava em maior ativa, nas décadas de 1960 e 1970, funcionava como um centro onde ocorriam várias atividades, acolhendo projetos como o jornal Nossa Voz, a escola Scholem Aleichem, e o Teatro TAIB, marcados por retórica vanguardista.
O local, portanto, começou a se esvaziar por volta da década de 1980, tendo como consequência um edifício degradado e, de certo modo, abandonado permanecendo assim até 2013, com uma reinauguração. Desde então, recebe diversas atividades culturais sediadas na casa e ainda possui uma atividade regular dos membros que constituem o corpo burocrático – e artístico – fazendo experimentações culturais e acolhendo projetos, conformando um espaço que agrega programas de cunhos diferentes, recolocando o edifício e suas diversas possibilidades de uso em evidência novamente, mas agora, com outro aspecto e outro caráter.
O híbrido, o metamórfico e o efêmero nos pareceram características claras, uma vez que o edifício teve um propósito inicial mas, pelos diversos usos trazidos e devido a possibilidade de abrigar todas essas atividades a Casa do Povo se torna um destaque de estudo partindo por diversas outras abordagens; era, mas hoje é outra.
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__Antigas Officinas Casa Vanorden
___sobre memória e tombamento
No trabalho de conclusão “O espaço residual construído: transformação da Rua Conselheiro Crispiniano e edifício João Bricola”, Fernando Paál escreve que “de acordo com Walter Benjamin (…) a memória é construída de impressão, experiência e sua importância e significado especial estão no fato de que ela é o que nós retemos e o que nos dá dimensão de sentido no mundo”.
Beatriz Kuhl, em sua tese “Preservação do Patrimônio Arquitetônico de industrialização: problemas teóricos de restauro”, nos informa que nos principais escritos sobre preservação do país, raramente os problemas de critérios de intervenção são abordados e que, somado a fracas políticas públicas patrimoniais e a lacuna deixada sobre modalidades de intervenção e princípios teóricos culminam em intervenções desrespeitosas ou mesmo em completas demolições.
Outro vestígio que muitas vezes é deixado, se da referente a documentação – ou a não documentação – desses edifícios. A falta de consciência em relação à necessidade de preservar o documento técnico do edifício, se dá por arquivos que não dão conta de toda a complexidade envolvida, já que muitas vezes fora considerado apenas o registro gráfico ou escrito.
Há, portanto a vontade e a urgência de ressaltar a importância do papel da memória para a cidade e sua relevância para os que nela residem de conhecer, reconhecer e preservar os espaços, contribuindo para com a conscientização, a discussão, a multidisciplinaridade e a valorização do ato de tombar e respeitar um edifício histórico.
___sobre a Mooca
O bairro da Mooca é, assim como seus bairros vizinhos, representativo do processo de industrialização da cidade de São Paulo. Ali, em meados de 1890, os loteamentos de chácaras começaram a crescer.
Aconteceu devido a localização na várzea do rio Tamanduateí e pelo valor baixo dos terrenos que atraíram as fábricas. Estavam, também, próximos à ferrovias, o que facilitava o transporte das matérias-primas. Relembremos que, ali, a partir de 1870 ocorreram importantes melhorias urbanas como a instalação do gasômetro, as primeiras linhas de bonde, o início das obras de saneamento da várzea e de abastecimento de água e esgoto. Tudo isso contribuiu para um crescimento populacional e de desenvolvimento urbano e industrial na região, somado pela disponibilidade de mão-de-obra, formada principalmente por imigrantes europeus (portugueses, espanhóis e italianos), formando, portanto, um novo mercado consumidor.
Nesse período, estima-se que pelo menos 40 fábricas começaram a operar na região e posteriormente, por volta dos anos 1950, começaram a ser desativadas e, muitas vezes, abandonadas. Atualmente, os remanescentes da industrialização tem sido vítimas de especulação imobiliária por possuírem grandes áreas num bairro que está valorizando e adensando, sendo demolida ou descaracterizada parte dos vestígios de história e memória deixados pela arquitetura para dar origem a complexos residenciais murados ou estacionamentos que negam qualquer relação com o espaço público.
___sobre o complexo industrial Mooca
Aconteceu em 2007 o processo de tombamento do complexo industrial da Mooca, na vontade de preservar e recuperar, junto com outros sete galpões, a antiga linha ferroviária São Paulo Railway e outras instalações que marcam o processo de industrialização da cidade e para a conformação do bairro a partir do século XIX.
Em julho desse mesmo ano, a partir da RESOLUÇÃO Nº 14/2007, são tombados apenas alguns dos galpões industriais da Rua Borges de Figueiredo e da Avenida Presidente Wilson. Os conjunto das edificações estão localizadas no Artigo 1º: “TOMBAR o conjunto das edificações localizadas no perímetro formado pela Rua Borges de Figueiredo, Rua Monsenhor João Felipo, Avenida Presidente Wilson e Viaduto São Carlos (Setor 028, Quadra 046), bairro da Mooca. O Artigo 2º dessa Resolução prevê o gabarito máximo permitido será de 25 metros, “de maneira a manter as referências na paisagem tanto das chaminés remanescentes, quando das construções tombadas de maior porte. O Artigo 4º informa que “qualquer projeto ou intervenção, incluindo pequenos reparos, nos imóveis tombados(…)deverá ser previamente analisada pelo DPH e aprovada pelo Conpresp.”
Em novembro de 2007, os galpões que ficaram fora do perímetro de tombamento são impiedosamente demolidos e, em janeiro de 2012, as ruínas dos galpões demolidos é finalmente tombado pelo Conpresp.
___sobre as antigas oficinas
As antigas Oficinas Casa Vanorden, localizada na Rua Monsenhor João Felippo, 1, na Mooca, foram construídas em 1909, pela Sociedade Anônima Casa Vanorden, de Francisco Matarazzo, com projeto arquitetônico desenvolvido pelo arquiteto engenheiro Jorge Krug, que construiu diversos outros galpões de mesma tipologia na Mooca.
O projeto foi concebido para abrigar uma tipografia fornecedora das principais repartições estaduais, municipais e federais, e das estradas de ferro em São Paulo.
Foi originalmente um conjunto de dez galpões de desenho contínuo e com uma cobertura empregada por sheds como solução para iluminar e ventilar o espaço interno, somado a um sobrado na esquina que teria abrigado primeiramente os escritórios administrativos da empresa. Sabemos que, posteriormente, o edifício passou a ter uma gráfica no lugar da tipografia, que já não era mais tão relevante para o mercado.
Em 2007, quando foi iniciado o processo de tombamento pelo Conpresp, as Antigas Officinas eram propriedade da RFFSA (Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima), porém com sua extinção – em 22 de janeiro de 2007 –, seus bens imóveis não-operacionais (17 galpões) foram transferidos para a Secretaria de Patrimônio da União – SPU .
Atualmente, a parte dos escritórios das Antigas Officinas é propriedade de Dumar Park Estacionamentos S/C Ltda que a utiliza como um estacionamento de caminhões. O que não pertence à Dumar Park, ou seja, os galpões, estão aparentemente abandonados sendo, portanto, um edifício subutilizado e sem qualquer função social.
Na Resolução n4/2007, já citada anteriormente, dispõe no Artigo 1º as diretrizes referentes às Antigas Officinas da Sociedade Anônima Casa Vanorden: “a) Preservação íntegra do conjunto de dezessete galpões modulares que fazem frente a rua Borges de Figueiredo e do antigo escritório na esquina da rua Borges de Figueiredo com a rua Monsenhor João Felipo (edifício 1), incluindo os remanescentes de seu sistema construtivo, como estruturas, tesouras, coberturas, alvenarias, envasaduras e caixilhos.”
___sobre as mudanças
Construído em alvenaria de tijolos aparentes, com pilastras bem evidenciadas quebrando os planos contínuos nas fachadas voltadas para as duas ruas, com aberturas que apresentam composições diferenciadas no pavimento térreo e no andar superior, embora todas sejam arrematadas com esquadrias de madeira. Em 1911, a casa recebeu a primeira modificação, na qual foi ampliado o imóvel da esquina, aumentando dois módulos da sequência de galpões, triplicando sua área que passou de 4,5 m de largura pra 13,5, mantendo 20 de profundidade e 11 metros de altura; mantendo as mesmas características construtivas e arquitetônicas originais.
Foram também construídos mais nove galpões idênticos aos anteriores, mantendo os padrões de 4,5 metros,com cerca de 6,5 metros de altura, ocupando a face voltada para a Rua Borges de Figueiredo, numa extensão de 90 metros. Atualmente, o emprego de platibandas por toda a extensão das fachadas não permite ver, no nível do solo, a cobertura de telhas francesas.
As antigas Officinas Casa Vanorden representa, em nossa visão, o que era, mas não é mais, isto é, um espaço que traz o reconhecimento da importância que São Paulo adquiriu ao longo de sua industrialização, uma localidade com vida exuberante. Atualmente, os galpões vazios, além de servirem como estacionamento, encontram-se congelados no tempo, sem atividades sociais ou vida, enquanto, ao seu redor tudo continuou se movendo.
Referências bibliográficas
CONPRESP, Resolução Nº 14/2007 (http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/8b69c_14_T_Galpoes_da_Mooca.pdf)
FORTUNATO, Aline. O patrimônio industrial da Mooca. São Paulo: trabalho de conclusão FAUUSP, 2016.
KUHL, Beatriz. Preservação do patrimônio arquitetônico da industrialização: problemas teóricos de restauro. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009
PAÁL, Fernando. O espaço residual construído: transformação da Rua Conselheiro Crispiniano e Edifício João Bricola. São Paulo: trabalho de conclusão Escola da Cidade, 2016
Link das imagens:
http://www.saopauloantiga.com.br/casa-vanorden-1922-2015/
http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx
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__Diretrizes
Após a densa pesquisa sobre o objeto de estudo, as Antigas Officinas Casa Vanorden e o contexto em que se inseria – e que ainda está inserida – optamos por, nessa etapa, unir todas as informações encontradas. Essas informações se dão por importantes para o reconhecimento da história industrial de São Paulo, ou mais precisamente da industrialização da Mooca, entrando também na questão do tombamento, relevando a importância da conscientização de tal ato para o reconhecimento e a preservação dessa história.
Essa pesquisa também será importante para a consolidação do trabalho para a próxima etapa: a construção de uma maquete que represente o edifício inserido no contexto dos edifícios industriais da Rua Borges Figueiredo, Mooca (tombados pelo CONPRESP, de resolução 1407), o edifício em seu estado atual e seus detalhes construtivos.
estudos de janelas do edifício
estudos de janelas do edifício
estudos de janelas do edifício
estudos de janelas do edifício
elementos construtivos
elementos construtivos
elementos construtivos
elementos construtivos
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Nessa etapa conseguimos unir todas as informações encontradas sobre o edifício em estudo, as Antigas Officinas Casa Vanorden, e o complexo tombado – pelo CONPRESP – em que está inserida. Tivemos, portanto, a vontade de reunir toda essa pesquisa realizada ao longo do semestre para que o reconhecimento desse edifício seja, de alguma forma, propagada e disponível para que outros pesquisadores continuem contribuindo para com essa pesquisa que, de certo modo, traz ainda um caráter inicial.
Para isso, produzimos um caderno que contém todas essas informações técnicas e históricas, além de fotos tiradas no local que mostram tanto o seu exterior quanto seu interior atualmente. A exposição contará também com três maquetes de escalas (1:50 / 1:200 / 1: que mostram a implantação do edifício, o edifício como um todo e seus detalhes interiores e construtivos.
imagens do edifício
detalhe fachada
interior do galpão: estacionamento
segundo pavimento_sala 1
segundo pavimento_sala 1
segundo pavimento_sala 2
segundo pavimento_sala 2
segundo pavimento_corredor
detalhe maquete_1:2000
detalhe maquete_1:2000
detalhe maquete_1:200
detalhe maquete_1:200
detalhe maquete_1:50
maquete em execução_1:50
maquete em execução_1:50
maquetes em execução
caderno
caderno
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