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Os indígenas Guarani ocupam a área do Pico do Jaraguá antes mesmo da criação do Parque Estadual do Jaraguá, na década de 1960. Contudo, em 2006, uma reintegração de posse retirou parte dos Guarani Mbya da região. No final de 2012, as famílias expulsas retornaram ao local de origem – a aldeia Itakupé. A partir de então, eles integram uma das cinco aldeias presentes nesta Terra Indígena, de mais de 550 habitantes. Através de muita luta, os Guarani do Jaraguá conseguiram aumentá-la de 2 para 530 hectares, deixando de ser a menor Terra Indígena do Brasil. A disputa pela demarcação do território ainda está em processo e é uma das principais demandas dos indígenas da região.
Para compreender a forma de habitação da comunidade, baseamos as vivências em muitas conversas com os líderes da aldeia Itakupé. A primeira visita foi um momento de conhecimento da aldeia, no qual Pedro – o líder espiritual – nos falou a respeito da importância da ampliação das Terras Indígenas e também da transmissão das ideias do modo de vida Guarani para os não-índios. Sentimos necessidade, então, de termos uma ideia de como os indígenas eram percebidos pelos não-índios. Portanto, fizemos, no centro da cidade de São Paulo, fizemos uma série de entrevistas durante a semana do Seminário Internacional.
Na visita seguinte, conversamos novamente com o Pedro na Casa da Reza – local onde a comunidade realiza rituais e reuniões coletivas. Procuramos entender qual o trabalho poderíamos desenvolver que nos trouxesse os conhecimentos desejados e também fosse de interesse dos indígenas da aldeia. Contudo, as demandas vindas do Pedro não pareciam estar ao nosso alcance ou na nossa área de atuação. Ao longo das visitas, fomos percebendo as relações intrínsecas entre a natureza, a espiritualidade, o alimento e a saúde. Estes temas se relacionam de forma a ser impossível demarcar o fim de um assunto e início do outro. Isto nos atentou para a possibilidade de utilizarmos um objeto como ponto de partida para abordar diversos temas mais amplos. Com isso, fomos elegemos a casa de reza como elemento-chave que impulsionaria os outros elementos. A tentativa, porém, não surgiu o efeito desejado. A nossa conversa com o Pedro não se direcionou para onde desejávamos e tornou-se muito dispersa, sem conseguirmos fazer as conexões desejadas. Durante essa terceira visita, ainda visitamos a aldeia Itu, localizada na mesma Terra indígena. Esta comunidade, extremamente mais populosa, não tinha espaço para o cultivo de plantas ou para a realização de outras atividades. Este fato nos alertou para a importância do território na manutenção da cultura e tradições.
No final do ano passado, após sair uma liminar de revogação da demarcação da Terra Indígena do Jaraguá, os indígenas das cinco aldeias invadiram o Parque Estadual e desligaram a antena que fica no topo do Pico. A convite dos indígenas Guarani, um cineasta fez um documentário sobre a preparação e as consequências desta manifestação, que foi exibido em março no CINESESC. Numa das cenas do filme, chamou-nos a atenção a fala de um líder Guarani que nomeava o milho-Guarani como uma semente sagrada. O Pedro já havia nos mostrado as peculiaridades do milho e alertado para a importância espiritual deste alimento. Com isso, passamos a achar que seria este o elemento-chave que nos levaria a discutir a relação da comunidade com diversos temas, como a terra, a natureza, a espiritualidade e a saúde do corpo.
Durante a última visita, a conversa com Pedro e também com o cacique – Mateus – abriu-nos muito campos de pesquisa. A conversa tangenciou os temas sobre os quais já desejávamos nos aprofundar e gerou uma série de perguntas e respostas a respeito da ocupação dos membros da aldeia Itakupé no território.
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Ao começarmos a estudar a comunidade indígena Guarani da Aldeia Itakupé, no Pico do Jaraguá, São Paulo, entendemos que o local onde eles habitam e a forma como habitam se tratam de um território de resistência, já que eles estão sempre necessitando reafirmar legitimamente a própria identidade, lutando por expansão das demarcações das próprias terras e constituem uma cultura em movimento. Essa cultura se apropria de elementos da nossa, mas sem fazer com que isso enfraqueça a deles. Tudo isso se torna ainda mais extremo quando se trata de uma aldeia que está inserida num contexto urbano de uma grande cidade e está em constante conflito com ela.
O trabalho busca analisar qual a forma de vida dessa comunidade tendo o interesse do território de resistência como assunto central. Mesmo assim, isso ainda é um tema de grande abrangência para conseguirmos compreender de uma vez. Para tentar deixar essa conversa mais tangível, escolhemos alguns pequenos assuntos para discutirmos com eles e, a partir disso, compreendermos algumas questões mais gerais da comunidade. Dedicamos a entrega passada, portanto, ao assunto do milho Guarani e sua importância na tradição da comunidade, na forma de plantar, cozinhar e de passar o conhecimento adiante. As conversas com eles renderam frutos muito importantes para o desenvolvimento do trabalho.
Durante essas últimas semanas buscamos fundamentar alguns conceitos-chave do trabalho e formalizá-los em diagramas. Também decidimos os produtos que serão feitos para o final do semestre e para o final do ano, visto que este trabalho trata-se de um Trabalho de Conclusão. Nestes dois próximos meses, pretendemos criar uma zine que colete relatos dos moradores da aldeia Itakupé. Entendemos que as subjetividades que estiverem contidas na fala de cada um têm muita importância na formação das ideias coletivas. Como também não estamos em busca de alguma verdade absoluta, essas subjetividades mostram que se trata de uma cultura que está em constante modificação, mas que ao mesmo tempo luta para não perder as suas raízes das tradições.
O outro produto a ser entregue para esse semestre é uma série de vídeos-entrevistas. O conteúdo será muito similar ao das zines já que serão tirados das mesmas conversas com eles. Porém, entendemos que seria interessante esse meio para conseguirmos fazer uma divulgação maior. O meio por onde esses vídeos serão disponibilizados ainda não foi decidido. Há a possibilidade de criarmos uma plataforma nossa, do grupo, onde esses vídeos estarão, mas também há a possibilidade deles divulgarem esses vídeos no Facebook e outras ferramentas digitais que eles já possuem.
Estas zines contarão cada uma entre dois e três relatos transcritos de diferentes membros da comunidade. A ideia é que os relatos abordem diferentes assuntos centrais da comunidade, como relação com a natureza, espiritualidade, relação com a cidade, plantação, construções, entre outros. Para isto, continuaremos a nos utilizar da técnica de partir de um elemento menor e mais tangível para entendermos essas grandes questões. A princípio havíamos pensado em fazer cada zine sobre um assunto central. Porém, fomos percebendo ao longo das semanas que separá-los seria quase impossível e não faria sentido para a comunidade deles, já que certos pontos são indissociáveis. Natureza e espiritualidade é um deles, mas também plantação e espiritualidade, pois é Nhanderu (Deus) quem decide o quanto frutificará.
Para o final do ano, reuniremos estes relatos num único livro. A formatação deste livro será decidida no semestre que vem. A ideia com isso é que seja um instrumento de estudo das crianças sobre a própria cultura e um documento de auto-afirmação da comunidade.
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Entendemos como território a soma do espaço físico e das relações humanas que nele acontecem, cuja leitura pode ser feita através de recortes que funcionam como lentes. Enxergamos, portanto, a Tekoá Itakupé – uma aldeia indígena Guarani Mbyá localizada no Pico do Jaraguá, em São Paulo – através do entendimento desse território como um espaço de (re)existência, um aspecto que é ressaltado pelo contexto no qual está inserida: um contexto urbano de uma grande metrópole, cuja cultura e política geram constantes conflitos e divergências com os povos indígenas.
Baseamos nossa leitura nos principais elementos culturais que apareceram no nosso contato com o povo Guarani que vive na Tekoá Itakupé. O milho Guarani, ou Avati Para’i, por exemplo, é um dos elementos que representa a resistência através da preservação da tradição do plantio de um alimento sagrado que toca em diversos aspectos culturais.
A ideia do trabalho, em parceria com os moradores da aldeia, é disseminar informações sobre esse território e a cultura do povo Guarani da Tekoa Itakupé para pessoas não-indígenas, a fim de proporcionar uma aproximação com essa realidade. Deste modo, buscamos desconstruir certas visões e estereótipos pré-estabelecidos sobre os povos indígenas, trazendo uma valorização da cultura e do modo de vida Guarani Mbyá e uma maior visibilidade para as questões dos povos indígenas que residem em uma metrópole como São Paulo.
Para dar força à luta e voz a essa população, transcrevemos uma série de relatos contados por diversos membros da aldeia. Cada história explora e toca diversas singularidades do cotidiano e da tradição, abrindo espaço para que as subjetividades presentes nesse território apareçam e, a partir disso, possamos compreender de forma mais ampla algumas questões dessa comunidade. Para isso, no formato de uma revista, também compilamos alguns artigos, reportagens e informações que acompanham e auxiliam o entendimento da nossa trajetória.
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