ENTREGA 01
Andando…
Mudança no piso da calçada e já sei que estou cada vez mais próxima. Entro em uma rua, mas é mais que uma rua: fluxos, pessoas e um ponto final. Vejo dela o céu enquadrado, cores, cheiros…
Paro no meio; dificil decidir se sigo a caminhada ou não…. Mas aquela rua emoldurada pela arquitetura não me deixava simplesmente passar.
Entrei no galpão à minha direita.
Uma fábrica? Não?!
Me deparo com pessoas lendo, outras estudando… Aquele lugar me acalmava e me convidava a permanecer, mas foi só dar uma olhada para a cobertura e ver toda sua extensão que senti a necessidade de continuar.
Chegando mais ao centro percebi uma nova vibração, que dessa vez me despertava…
“os sapinhos fazem úh áh úh”
“os sapinhos fazem úh áh úh”
Gritos, risadas, cantos se confundiam com crianças correndo embaixo do mezanino do galpão, uma agitação muito diferente da primeira que me deparei.
Comecei a pensar como um mesmo espaço conseguia comportar situações tão conflitantes de silêncio e gritaria e que também me deixava perceber, pela sua conformação, a possibilidade e delimitações dessa coexistência. Era um espaço que me deixava completamente confortável e acolhida, como se ele mesmo me dissesse: “fique aqui se quiser, mas vá por ali se achar melhor”. E ele me dizia.
Aceitei e “fui por ali”…
Cheguei em um rasgo de água no chão cheio de pedrinhas que me transportava para uma espécie de natureza que jamais imaginei sentir dentro de uma edificação de tijolos. A exposição e consonância da pedra, tijolo, metal, água me diziam que a natureza estava ali, que era rústica e que apesar de parecer “natural” era completamente projetada e não tinha a intenção de se esconder disso.
Assim como não era intencional se esconder a construtibilidade do espaço, também não se queria camuflar suas instalações, seu funcionamento. Canos para todos os lados conduziam meu olhar a construir aquela espacialidade em minha mente. Se entende de onde as coisas vem e para onde elas vão e as cores desses canos – azuis, vermelhos, laranjas, verdes – os faziam ainda mais perceptíveis, era como tudo viesse à tona.
E as cores… Elas também criavam toda uma atmosfera, uma temperatura a partir de sua combinação com a luz.
Resolvo voltar para a rua, a claridade me agitou novamente, caminhei até seu ponto final e lá entrei, me senti em um outro momento. Um espaço aberto de lazer, de passagem e de pausa.
Olho para o lado e vejo uma moça deitada no chão.
O que faz ela alí?
Está de biquíni tomando sol! Quanta liberdade se tem nesse espaço!
Liberdade tal que vejo também no edifício atrás dela, uma arquitetura que não se esconde, mostra como é feita. Grandes edifícios de concreto por onde entram pessoas para jogar futebol, nadar, dançar… Uma arquitetura que me respeita, dá espaço para respirar, para ser livre, me abrigar, me dar passagem. E respeita não só a mim, mas também àqueles galpões que já estavam lá antes dela.
Olho no relógio, vejo que algumas horas já passaram e eu ainda estou alí, parada, olhando para o céu, escutando o barulho das quadras, sentindo o cheiro da piscina. Tudo está tão calmo aqui dentro, e lá fora vejo carros passando, pessoas agitadas!
Me sinto protegida.
Mas chega a hora de voltar. Então subo a rua novamente, posso parar para almoçar, mas resolvo seguir, vejo a minha frente crianças eufóricas, paradas, comprando pipoca, atravesso a rua e pego meu ônibus.
Uma grande pausa.
Acordo e estou no terminal. Seria tudo um sonho? Seria possível ter tantas experiências e sensações em um só lugar? Seria possível toda àquela liberdade?
ENTREGA 02
Existe uma qualidade arquitetônica em alguns projetos, que é expressa pela atmosfera criada por um espaço, pela sua capacidade de se comunicar com a nossa percepção emocional. Esse trabalho, desde o início, pretende retomar o entendimento do espaço a partir dessa sensibilidade. Nessa primeira etapa de pesquisa, a leitura do texto “Atmosferas” do Peter Zumthor, onde há uma tentativa descrever os procedimentos e ferramentas utilizados na criação de atmosferas, evidenciou a importância da materialidade como elemento estruturador dessas atmosferas.
Com o intuito de experimentar a materialidade e as atmosferas, e assim desenvolver um olhar mais sensível, o SESC Pompéia foi escolhido como base de estudo, por ser um lugar com uma grande variedade de materiais, com qualidade espacial e de fácil acesso. Na primeira aproximação foi possível perceber como o material conforma o lugar, como ele cria espaços permanência e de passagem, como ele delimita as fronteiras entre o público e o privado e como a incidência de luz transforma o material e, assim, o ambiente.
Para traduzir esse entendimento da atmosfera de um espaço foi necessário investigar formas alternativas de representação, uma vez que plantas e cortes são insuficientes para transmitir uma atmosfera. Por isso, nessa primeira aproximação, foi realizado um vídeo numa tentativa de demonstrar essas relações espaciais observadas.
Buscando se aprofundar ainda mais e traduzir esse entendimento do espaço, foram realizadas experiências de fotos e fotomontagens que destacaram luzes específicas relacionadas com os materiais e com a maneira que o homem ocupa aquele lugar. Esses elementos são fundamentais para conformar essa atmosfera do SESC Pompéia.
Ainda em uma tentativa de se aproximar mais da materialidade, também foram feitas impressões de biscuits dos materiais SESC e tiradas fotos deles sobre uma determinada luz, focalizando texturas especificas. Relacionando o uso dos materiais no projeto do SESC Pompéia com as fotos dos biscuits foram realizadas análises buscando compreender as relações de ritmo, de luz e sombra, rigidez de cada material com o espaço. Uma vez que aquelas elas não eram mais uma representação do SESC, houve um esforço de realizar uma análise mais sensível e abstraída das amostras que explicitassem as relações entre as propriedades dos materiais e suas possíveis qualidades, sem incorrer ao catálogo de materiais.
Nesse sentido, esse trabalho se propõe a pensar uma nova abordagem para entender arquitetura, revendo também o próprio processo de projeto a partir da construção de um olhar sensível.
ENTREGA 03
Na primeira etapa desse trabalho, o grupo investigou a concepção de atmosferas na arquitetura e sua capacidade de se comunicar com a nossa percepção a partir da experiência espacial.
Escolhendo o Sesc Pompéia para entender essa experiência e realizar uma análise, foi possível perceber inúmeros aspectos que desenhavam essas atmosferas tão diversas e, ao mesmo tempo, tão consoantes. A luz, o som e o desenho do piso são alguns dos elementos fundamentais para a estruturação do espaço extremamente harmônico e sensível do Sesc, que consegue englobar diversos usos em um mesmo ambiente, como por exemplo, espaços de leitura, de brincar, de introspecção, de exposição e de passagem, sem conflitos.
Com o objetivo de retomar essa abordagem mais sensível para entender arquitetura e, também, para projetar, a intenção é trabalhar essas qualidades arquitetônicas observadas no Sesc em um outro espaço. A capacidade de convivência de diferentes usos foi o aspecto que ganhou maior ênfase na análise anterior e, por isso, foi, também, decisiva na escolha do lugar de intervenção.
Pensando na coexistência de usos as praças de São Paulo se tornaram objetos de destaque. Além de serem um local que supostamente comportam uma variedade de atividades e funções, o atual abandono destas como espaço público de convivência foi um dos fatores que levaram a escolha da Praça Marechal Deodoro como lugar de intervenção. Uma área de muitos fluxos de carros, pessoas e ônibus, um entroncamento do sistema viário e a presença marcante do minhocão, conformam um entorno ‘caótico’ e uma experiência sufocante para o pedestre. A praça, que poderia ser um local de respiro, de encontro, com uma multiplicidade de usos, é um espaço exclusivamente de passagem.
O minhocão, que se transforma em um aparelho público aos finais de semana e a proximidade com estação de metrô Marechal Deodoro, situam essa praça em um ponto estratégico. O intuito é potencializar esse espaço a partir de uma intervenção específica que contemple as mesmas qualidades de aconchego e sensibilidade que o Sesc traz, retomando a potência dos espaços públicos do centro de São Paulo e repensando o próprio papel do arquiteto hoje em dia, a partir da criação de uma atmosfera sensível. E, assim, resgatar a relação entre arquitetura e indivíduo, cidade e indivíduo pelo simples ato de sentir.
comparações SESC – MARECHAL
ENTREGA 04
Transformada em resquício urbano com a construção do Minhocão, a praça Marechal é, atualmente, um local subutilizado como espaço de estar, usado principalmente como passagem. O grande fluxo de carros e ônibus, somado à condição de implantação da praça, conformam um entorno ‘caótico’ e a praça torna-se um espaço exclusivamente de passagem.
O projeto, no entanto, cria um espaço na cidade que busca ressignificar algumas de suas características, evidenciando certos elementos, para a compreensão destes a partir da concepção de uma estrutura única em rede, que gera um espaço flexível. Um exemplo é o uso dos canteiros, que são caracterizados por elementos de divisões de fluxos e não são realmente ocupados, propondo sobre
eles o avanço daquela estrutura projetada, evidenciando a não utilização e permitindo a ocupação dos mesmos.
Além de revelar as questões dos canteiros nos espaços públicos da cidade, o projeto propõe a integração dos dois lados da praça Marechal, que hoje encontra-se dividida pela rua Angélica, e também busca a comunicação dela com seu entorno, conectando-a ao ponto de ônibus presente sob o minhocão e aos os usos limítrofes à ela.
Outra questão abordada é a presença dos diversos usos na praça – o uso de passagem ligado ao de estar e o uso da área infantil, que mesmo reduzida está presente no local – continuando com a presença deles, porém de uma maneira distinta, com espaços de estar no canteiro, entre árvores ou embaixo da estrutura criada, e com a presença de diferentes níveis. Com isso e com a utilização da rede, àqueles que vivenciarão o espaço passarão por outro momento na cidade, podendo desacelerar em relação ao cotidiano vivido.
O projeto, portanto, tem como intuito potencializar esse espaço a partir de uma intervenção específica e pontual que contemple as mesmas qualidades de aconchego e sensibilidade que o Sesc apresenta, retomando a potência dos espaços públicos do centro de São Paulo e repensando o próprio papel do arquiteto atualmente, a partir da criação de uma atmosfera sensível, resgatando a relação entre arquitetura, cidade e indivíduo.
planta
corte transversal
fotos maquete
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