G36 | CIDADE LÚDICA

Cidades Lúdicas

Este trabalho tem como principal intenção questionar o discurso do arquiteto e urbanista perante o desenho da cidade e, principalmente o discurso vindo por trás desse desenho. Esse questionamento partirá, não diretamente do desenho da cidade, mas sim de parques urbanos e parques de diversões que refletem essas propostas. Como constatação, desejamos chegar em um projeto de parque de diversão que reflita todas as questões pesquisadas ao longo do trabalho.

Durante a primeira pesquisa, realizada dentro do Workshop do Seminário Internacional, levantamos algumas questões visuais ligadas à Liberdade e, assim, chegando em uma pesquisa da realção das culturas orientais com o fake, pesquisa a qual demos andamento até o momento.

 

Existe,  principalmente dentro da cultura chinesa, uma forma de adoração ao Fake, ou seja, da cópia, da réplica e da imitação, utilizando desses gestos para realizar uma forma de homenagem ao elemento original. Porém, seja no campo das artes plásticas, do design ou da arquitetura, tal ação elimina qualquer significado intrínseco a obra, elimina seu sentido e sua essência, de modo que trata diretamente do campo ótico e gráfico, ou seja, de uma cópia provavelmente distorcida que remete a um elemento desejado.

Dentro dessa discussão, nessa primeira etapa realizamos estudos de textos* e análises dos seguintes parques: Central Park (Nova Iorque, Estados Unidos – 1857); Parque Shangai (São Paulo, Brasil – 1941); Parque Ibirapuera (São Paulo, Brasil – 1954); La Villette (Paris, França – 1987); Window of the world (1990-2000).

 

Estudos Parc de La Villette – Bernard Tschumi (1978)

Esses parques foram escolhidos uma vez que todos tratam a questão lúdica, trazendo um ideal de vida, de urbanização e de identidade visual e arquitetônica para cada cidade. Desse modo, todos tem – ou tiveram, como no caso do Parque Shangai – relevância urbanística para a cidade. Excepcionalmente o parque chines Windows of the world não trata de uma busca por identidade visual, mas sim a mostra de um ideal de arquitetura entendido culturalmente pela cidade na época.

Estudos do grupo sobre o Parque Windows of The World

Para a próxima etapa buscaremos, dentro desse contexto de análise, locais em São Paulo para serem estudados e analisados, visando alguma das reformas urbanas que estão em pauta na cidade e ja tendo em vista potenciais áreas de projeto a ser iniciado no final do semestre.

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A abordagem inicial do trabalho era criar um projeto hipotético e crítico a um desenvolvimento urbano e arquitetônico que vise, mais do que as pessoas que utilizam a cidade, uma imagem atrelada ao marketing e a venda da cidade como um ícone, como acontece na cidade de São Paulo.

Ao se tratar de um TC-EV, nos propusemos a, no primeiro semestre, gerar um estudo e embasamento sobre o tema e relacionar a cidade estudada, para no segundo semestre, projetar. Porém, a partir desses estudos sobre São Paulo, levantamos algumas questões que nos encaminharam a uma indagação geral: como é representada a cidade de São Paulo?

Na cultura oriental, principalmente a chinesa, existe uma adoração ao fake e é comum a reprodução de obras icônicas que, quando tiradas de contexto acabam resumidas à sua figura, perdendo sua essência original. Na primeira etapa do trabalho, estudamos como isso se aplica ao bairro da Liberdade, cuja cenografia urbana remete à estereótipos da cultura oriental e se mescla aos traços da arquitetura paulistana antiga e atual, essencialmente genérica.

A fim de compreender melhor o conceito de cidade genérica, a influência do marketing e da propaganda nas cidades e o processo de criação da identidade de grandes metrópoles, nos voltamos a textos de autores como Rem Koolhas (Cidades Genéricas; Junk Space; Mutations e Conan Islands – NY delirante), Robert Venturi e Denise Scott Brown (Aprendendo com Las Vegas), Bernard Tcshumi (Event Cities) e José Maria Montaner e Zaida Muxí (Arquitetura e Política: ensaios para mundos alternativos).

Diagrama que reflete sobre o texto “Arquitetura e Política: ensaios para mundos alternativos”

 

Nos debruçamos sobre trabalhos que criticam o desenvolvimento urbano através da representação satírica – e apocalíptica – da cidade, como a exposição “Happyland”, 2002, de Isay Weinfeld e Marcio Kogan, além da análise de filmes como “Play Time” e “Western World”. Toda a bibliografia abordada no trabalho passa por temas essenciais como cidades genéricas, o  marketing influenciando no desenho da cidade e a busca por identidade, como ocorre em São Paulo durante a década de 1950 na construção do quarto Bicentenário, com Niemeyer e Burlée Marx, por exemplo.

Durante esse estudo, percebemos a relevância de parques urbanos para a formação identitária das cidades e fizemos um breve estudo comparativo entre os parques Ibirapuera (São Paulo), Shangai (São Paulo), Central Park (Nova York), La Villette (Paris) e Window of the World (Guangdong), que nos demonstraram a concepção desses parques intimamente ligadas ao projeto de desenvolvimento dessas cidades, construídos por trás de uma ideia de ícone sobre a paisagem urbana.

A partir desse entendimento, diferentemente dos parques, passamos a pesquisar lugares em São Paulo que representassem não só a tentativa de trazer o lúdico para a cidade, mas que demonstrassem a cidade como imagem a ser vendida, principalmente que atraísse o investimento estrangeiro.  Sendo assim, esses lugares-imagens foram selecionadas com base no estudo de guias turísticos e vídeos de marketing de São Paulo sob um olhar interno, a partir do vídeo da prefeitura Doria (https://www.youtube.com/watch?v=AWaWilujzdU) e sob um olhar externo, com um vídeo produzido pelo governo norte americano em 1944 (https://www.youtube.com/watch?v=InWifglIkQ0) , sendo elencados, portanto, lugares considerados relevantes para a imagem da cidade, como o Shopping Light, a Marginal Tietê e a Ponte Estaiada. Com esses dados, geramos cartografias da cidade de São Paulo que, sobrepostas a outras camadas como a de densidade populacional, equipamentos públicos, parques, serviços sociais, comércio e transporte público, nos levaram ainda a outra pesquisa: os vazios gerados por essas cartografias, ou seja, o que não é mostrado nesses mapeamentos – a anti-imagem de São Paulo.

frame vídeo Doria

frame vídeo governo norte americano sobre o Brasil

estudos da paisagem como imagem

 

Essa abordagem ainda aparece de maneira analítica e reflexiva, mas como produto, já surge como crítica. Portanto, tendo em vista que o trabalho se estende para o próximo semestre, trabalhamos até então a imagem e a anti-imagem da cidade, sendo a primeira representada por lugares-ícones que, de acordo com a nossa pesquisa, são utilizadas para vender São Paulo, como o Autódromo de Interlagos, a Avenida Paulista, o MASP e o Shopping Cidade Jardim, enquanto a anti-imagem trata do que não é – ou não quer ser – evidenciado e é, na maioria das vezes, apagado, como problemas sociais ou áreas degradadas da cidade.

A fim de compilar todo o material pesquisado no semestre e evidenciar essas duas imagens – uma, anti-imagem -, desenhamos dois baralhos: um representado pelos lugares-ícones, o baralho Imagem, e o outro que mostra a real imagem da cidade que não quer ser mostrada, o Anti-Imagem. Podendo ser utilizado como um baralho convencional, essas cartas, quando unidas como um quebra-cabeças, formam um grande mapa de São Paulo que ilustra a imagem e a anti-imagem a partir da cartografia levantada ao longo do trabalho.

Além disso, o baralho Imagem retoma a questão do fake a partir de imagens espelhadas, sendo a de um edifício ou lugar de São Paulo espelhado em uma referência do exterior, trazendo também a discussão das cidades genéricas atreladas aos lugares-ícones. Já as cartas do Anti-Imagem não são espelhados, uma vez que, apesar de serem problemas comuns em grandes cidades, tratam de imagens reais da cidade, como o edifício Wilton Paes, a Cidade Tiradentes e a Cracolândia. As cartas coringas são representadas por pessoas: no baralho Imagem, por arquitetos e políticos espelhados – Lina Bo Bardi e Zaha Hadid, Prestes Maia e Georges-Eugène Haussmann -, representando aqueles que desenham e vivem a cidade, enquanto os coringas do baralho Anti-Imagem trazem a figura de quem, de fato, constrói e vive a cidade mas por sobrevivência, como o motoboy e o morador de rua. Os ícones que acompanham as cartas são redesenhados e valorados a partir de uma vertente: a Cultural, o Estado, a Natureza e o Capital, enquanto para o baralho Anti-Imagem.

 

 

Com esse baralho, buscamos ressaltar o que pretendemos estudar durante o segundo semestre: o vazio, a não – ou anti – imagem da cartografia que levantamos e, a partir daí, iremos propor um projeto de crítica nessas áreas apagadas, na tentativa de evidenciá-las de alguma forma.

BIBLIOGRAFIA:

KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre a cidade: a cidade genérica.

KOOLHAAS, Rem. Mutations.

KOOLHAAS, Rem. Junkspace.

KOOLHAAS, Rem. Nova Iorque Delirante: Coney Island.

CALDEIRA, Tereza. Cidade de Muros 

VENTURI, Robert. SCOTT BROWN, Denise. Aprendendo com Las Vegas 

SITTE, Camillo. A construção de cidades segundo seus princípios artísticos 

TSCHUMI, Bernard. Event Cities

HERÓDOTO, Barbeiro. Meu velho centro