EV2017S02_G36 – MOINHO MATARAZZO


A queda.

Dentro da proposta de reconhecer São Paulo, decidimos fazer o caminho inverso, e a partir de um edifício estratégico, chegar até uma resultante que englobe a conformação do espaço urbano e sua importância histórico/econômica dentro do contexto da mais influente metrópole da América do Sul.
O principal eixo desenvolvimentista da cidade durante o século XX, viabilizado pelo café, foi a indústria. E não é possível seu entendimento sem referenciar a importância e a sagacidade do império Matarazzo.

A escolha do Moinho Matarazzo como foco de estudo empírico nos apareceu, após as primeiras pesquisas, surpreendentemente, como um ponto catalizador de todos os processos de criação e produção da indústria paulista, assim como o reconhecimento, pelo ponto de vista dos trabalhadores dos conflitos entre capital e trabalho, que se intensificaram nos anos de 1907 e na Greve Geral de 1917, em uma condição de industrialização insipiente, jornadas exaustivas e incessantes de trabalho, e de falta de segurança e de condições humanas adequadas para a produção.

A grande formação das Indústrias Reunidas Matarazzo, que se deu início com a produção de banha de porto, foi resultado da substituição dos produtos necessários na cadeia produtiva que eram importados pela produção nacional.

O grande fluxo de imigração do período foi uma alternativa para suprir a necessidade de mão de obra, e a inserção do trabalho livre, ao mesmo tempo em que aparece como novo mundo possível de alternativas à condições dadas pela situação na Europa. Tal processo também resultou em uma mudança cultural e de consumo dentro da sociedade e paulista. Olhando pelo ponto de vista da nova comunidade italiana, são inseridos dentro da cesta básica de alimentação da população, alimentos à base de farinha branca, elemento necessário para a elaboração de massas como o macarrão e a pizza. A farinha passa a ser então, mais um dos produtos variados que eram produzidos pela família.

A diversificação na produção foi é o que leva a IRM ao sucesso mas também à ruína. A
dificuldade de se adaptar às novas tecnologias necessárias para os diferentes processos
produtivos é uma das causas sintomáticas. É interessante como podemos relacionar a situação de decadência da família com seus respectivos edifícios e conglomerados industriais.

A indústria tem papel principal na cidade, podemos ver do ponto de vista semiótico onde era localizada a sua sede administrativa (palácio das indústrias) e hoje, onde é a atual localização, dentro do prédio sede das Indústrias Reunidas Matarazzo. O caráter significativo na presença dos Matarazzo em todas as temáticas importantes em relação à São Paulo é também o foco de estudo. A família mais influente no período conformou bairros industriais inteiros como a Lapa e o Brás, como exemplo. E também o impacto logístico de transporte e comercialização dos produtos para o resto do país.

O tombamento e a destruição criminosa da Mansão Matarazzo que era localizada na Avenida Paulista é um ponto de análise importante. Assim com a característica atual de quase todos os edifícios do conglomerado, que também se deterioraram e perderam a sua função no passo de que a estrutura produtiva se renovou e modernizou, sendo não mais necessárias as plantas industriais antigas e complexas para os mesmos circuitos produtivos. Não é mais necessário o mesmo tipo de maquinário, a mesma área, e também a mesma quantidade de pessoas na produção.

Olhando pelo ponto de vista do que resta hoje do edifício, particular e ausente de acesso livre para a entrada, é possível entender a sua função social como apenas a utilização e o consumo da sua estética obsoleta, onde o seu produto é o aluguel para a utilização como cenário de produções cinematográficas e festas que veneram e consomem a sua atualidade física decadente. O que dificulta o processo de reabilitação para outras formas de uso que possam reconhecer a importância histórica do Moinho Matarazzo como patrimônio cultural e memória de milhares de trabalhadores que formaram a história da cidade de São Paulo.

Entender o Moinho Matarazzo é também entender a morte e vida do nome que marcou
fisicamente e culturalmente a cidade, e a maioria dos trabalhadores que aqui residiam durante a sua existência.


 

Entrega FINAL

O material a ser apresentado conterá quatro painéis (160 cm x 110 cm) frente e verso, organizados em um quadrado expositivo, tendo cada uma das frentes uma forma de análise:
1. pesquisa de material na internet;
2. aproximação atual e física;
3. relações tridimensionais e com a cidade;
4. desenhos técnicos e colagens sobre o uso.
E no fundo destes, a conjuntura paulista, brasileira e do edifício em relação à todos os acontecimentos já pesquisados em forma de linha do tempo. Mesmo sendo uma linha do tempo, a ideia é não ser linear, sendo assim conterá mais de uma lógica de organização, com sobreposição de informações em escala. Como por exemplo: o tempo linear, o tempo de descoberta do trabalho, o tempo do moinho matarazzo como edifício, o tempo da ascensão e queda do império matarazzo, o tempo de São Paulo.
Não somente analisamos o Moinho, como também imaginamos seus futuros possíveis, especulações de diferentes usos e formas de apropriação e requalificação do edifício sob a forma de uma perspectiva crítica ilustrada.