Equipe: Beatriz Dias, Camila Moraes, Camille Zuckmeyer, Inaê Negrão, Stella Bloise
Orientação: Daniel Corsi
1a Etapa
A partir do tema “modos de pensar, modos de fazer” , o grupo definiu que, na prática da arquitetura, o PENSAR e o FAZER estão em constante conflito.
O que é pensado, discutido e produzido no ambiente acadêmico nem sempre corresponde ao que é implantado nas cidades. A arquitetura, no mundo “real”, é comercializada como um produto de marca.
Dessa forma, chegou-se ao objeto de estudo: os empreendimentos residenciais Alphaville. Nas mídias sociais, a marca (que tem mais de 64 milhões de m² em empreendimentos por todo o Brasil) vende o estilo de vida Alphalife, e divulga fotos de pessoas brancas e dentro dos padrões de beleza vivendo uma vida de alto padrão, tomando sol à beira da piscina e usufruindo das diversas benesses de uma vida no estilo Alpha.
Fica o questionamento: por que esses empreendimentos, claramente bem-sucedidos em termos financeiros e de aceitação pública, seguem diretrizes por vezes diametralmente opostas ao que se coloca com uma boa arquitetura e um bom urbanismo no ambiente acadêmico?
Para as próximas etapas, pretendemos aprofundar a pesquisa de definição do lugar (coleta de informações cartográficas) e de embasamento teórico, e possivelmente discutir como é a reprodução desse padrão de empreendimento residencial em outros locais.
2ª Etapa
Nesta etapa, o grupo se aprofundou na análise da região dos condomínios Alphaville em Santana do Parnaíba e Barueri. Algumas atividades incluíram:
-criação de mapas para compreender melhor o zoneamento do local;
-análise de percursos possíveis a pé dentro dos condomínios;
-contagem de elementos como piscinas, quadras esportivas, porcentagem de áreas verdes/habitante e densidade populacional dentro dos condomínios para realizar comparações quantitativas com outros locais;
–mapas sobre a expansão do modelo Alphaville pelo Brasil.
Sobre os encaminhamentos para a próxima etapa: uma analogia para a linha de trabalho que pretendemos seguir é a série “Inserções em cirtuitos ideológicos”, de Cildo Meirelles, iniciada em 1970. Uma das obras mais emblemáticas é a inserção de decalques em garrafas retornáveis com instruções para se fazer um coquetel molotov . Ao inserir corpos estranhos num objeto de alta circulação que carrega seu próprio significado, o sentido da mensagem se inverte e seu conteúdo se corrompe. De maneira análoga, pretendemos trabalhar com inserções arquitetônicas que inoculem corpos estranhos nesses dois mundos que foram identificados.
3ª Etapa
-Ih… Mas ALPHAVILLE?!
Esse é apenas um exemplo da infinidade de comentários que ouvimos de colegas, professores e pessoas fora do mundo da arquitetura. Não há como negar que condomínios fechados de alto padrão são assuntos tabu – principalmente dentro das faculdades de Arquitetura. As posições são sempre muito extremas: Ou Alphaville é visto como o ápice do luxo, do conforto e da segurança, ou como o cúmulo da segregação, do elitismo e da negação da vida urbana.
Fica o questionamento: por que esses empreendimentos, claramente bem-sucedidos em termos financeiros e de aceitação pública, seguem diretrizes por vezes diametralmente opostas ao que se coloca com uma boa arquitetura e um bom urbanismo no ambiente acadêmico? Por que a discussão sobre Alphaville é sempre tão ferrenha, independente de quem esteja discutindo?
Um espaço infinito e vazio é o nada, mas murando-se uma porção dele, cria-se um lugar, mesmo que vazio.
Alphaville é um exemplo de construção de cidade a partir de uma tela em branco. Acreditamos que, apesar das questões ideológicas, políticas e estéticas, esse território pode ser visto com deslumbramento. O que é real e o que é ficção? Quais são os símbolos que ilustram a vida nos condomínios?
Seja Alphaville um bom ou mau exemplo, é um fenômeno que deve ser estudado, pois só se pode pensar as cidades do futuro entendendo as do presente. Por ter sido construído praticamente a partir de um tábula-rasa, o complexo Alphaville é um arquétipo de cidade contemporânea, e seus personagens, tramas, virtudes, falhas e contradições podem ser vistos em todas as outras cidades da atualidade.
COMO FALAR DE ALPHAVILLE?
Logo de início, o grupo sentiu a necessidade de embasar-se a criticamente para não perpetuar o eco das mesmas críticas e reações negativas sobre os condomínios de Barueri e Santana do Parnaíba.
Percebemos também que, antes de apresentarmos nossas intenções com essa pesquisa, a maioria das pessoas esperava que fizéssemos uma leitura irônica sobre a arquitetura e a organização socioespacial do local. A análise estética e a ironia são um caminho sedutor, mas pouco acrescentariam ao debate.
Assim, em primeiro momento, o grupo se debruçou sobre a análise da extensa bibliografia acadêmica que discute condomínios fechados. Aproveitamos, também, o fato de que três de cinco integrantes do grupo são ex moradoras de condomínios horizontais fechados no estado de São Paulo, sendo que uma residiu em Alphaville. Entrar em contato com a crítica estruturada sobre o assunto e discutir sobre experiências pessoais da vida em condomínios ajudou a criar uma visão menos maniqueísta, e acabou levando ao que seria o título e o tema da pesquisa:
PRECISAMOS FALAR SOBRE ALPHAVILLE.
Precisamos criar um espaço para se falar sobre Alphaville- bem ou mal. Precisamos mapear espaços, relações, significados, agentes e discursos pouco visíveis através de contra-mapas. Precisamos fazer outras leituras e proporcionar outras leituras do espaço. Precisamos entender o sistema de regras que regem Alphaville. Precisamos falar sobre Alphaville, fazer falar sobre Alphaville e escutar sobre Alphaville. Precisamos de um site.
Nesta etapa, o grupo trabalhou em duas frentes:
1)reunir e organizar os conteúdos que farão parte do site desenvolvido como produto final e pensar sua organização
2) elaborar e veicular uma pesquisa de opinião sobre condomínios fechados, com foco em Alphaville.
A pesquisa de opinião foi criada via Google Forms e divulgada na internet por redes sociais. O intuito era reconhecer a opinião de pessoas de diferentes contextos e que se distanciasse o máximo dos arquitetos, uma vez que como estudantes de arquitetura já temos uma grande proximidade com as ideias que perduram na academia. Sendo assim, a pesquisa se organizava de maneira diferente conforme a resposta dada pela pessoa sobre sua relação com Alphaville.
Conseguimos fazer a separação entre arquitetos/estudantes, morador/ex morador, quem já visitou mas não reside e quem nunca visitou. Obtivemos uma amostragem total de 356 respostas, dentre elas 197 são residentes/ex residentes e apenas 57 são arquitetos/estudantes. O questionário tentou abordar diversas questões, dessa forma as análises estão espalhadas pelo site de acordo com o tema de cada seção.
4ª Etapa
Nesta etapa, foram desenvolvidas as seguintes etapas:
1) design e organização do site
2) elaboração de textos e pesquisas para o site
3)elaboração de imagens para o site
4)entrevistas com moradores dos condomínios e estudiosos do modelo Alphaville
5)interpretação de dados da pesquisa
A ORGANIZAÇÃO DO SITE
A estrutura do portal foi dividida em ATOS e seus PERSONAGENS. Cada ato corresponde a um plano do desenho da página principal do site, e os personagens aparecem como detalhes que mudam de cor ao se passar o cursor do mouse sobre eles.
A imagem funciona como uma representação sintética das cidades atuais, com ênfase nos aspectos que julgamos pertinentes ao estudo. Como símbolo dos espaços murados, por exemplo, foram usados globos de neve contendo diferentes “cidades”. Uma placa sinalizando a divisa entre Santana do Parnaíba e Barueri foi usada como símbolo da relação entre os condomínios fechados e a municipalidade. Dessa forma, ao clicar em um personagem, o visitante do site pode acessar uma aba com diversos conteúdos organizados sob um mesmo tema. Essa divisão resulta em uma narrativa não linear e complexa no sentido que reúne diversos espaços e agentes inter-relacionados.
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