EV2017S02_G38 – Vila Maria Zélia

Etapa 1

VILA MARIA ZÉLIA

A Vila Maria Zélia, localizada no Bairro do Belenzinho, foi uma importante vila operária idealizada pelo industrial Jorge Street no início do século XX. Sua arquitetura contrasta com a paisagem urbana da cidade e revela os variados modos de morar daquele tempo. Para a sua construção inspirou-se nas vilas estrangeiras que estavam sendo construídas naquelas primeiras décadas do século 20, cuja inspiração não estava somente no plano de ruas, mas também presente nas edificações residenciais, escolas, e nos estabelecimentos comerciais que haveriam de ser construídos no local. Sendo assim, o que foi erguido era uma autêntica miniatura de cidade Europeia dentro da capital paulista, como se fosse um bairro à parte do Belenzinho.

A partir dela, também é possível entender os interesses capitalistas que pautaram sua construção, os quais se aproveitam de uma arquitetura conservadora para influenciar na disciplina dos operários. A Vila foi tombada em 1992 pelo CONDEPHAAT e hoje é ocupada por algumas das famílias de seus antigos moradores e pelo coletivo XIX de teatro, que usa as ruínas das casas como cenário de suas peças.

É interessante observar a situação repleta de conservadorismo da antiga ocupação industrial para o que é hoje, um lugar que se relaciona com a arte e propõe reflexões muito libertárias, pautadas na relação direta da vila com a cidade de São Paulo. Além disso, a arquitetura da Vila também contribui para reflexões interessantes acerca de suas atuais ruínas, tanto como conceito ou como matéria, estas dialogam com o tempo-espaço da cidade, de maneira que, se transformam e desenham uma paisagem urbana efêmera.

Nossa proposta para esse espaço começa com um estudo teórico do local e de seu entorno e, a partir disso, nos aprofundaremos na composição espacial em ruínas e na paisagem/cenário gerada por ela. Em consequência disso, iremos propor uma intervenção que busque dialogar com a arquitetura e cenografia.

 

 

Vila Maria Zélia. Blog Passear e fotografar. 2014

 

TEATRO OFICINA

O Teatro Oficina é considerado um patrimônio material cultural brasileiro localizado na cidade de São Paulo, desenhado pela arquiteta Lina Bo Bardi e tombado pelo CONDEPHAAT em 1982. Trata-se de um local que oferece uma experiência única da visão do espetáculo, seja de teatro ou performances, além de cursos e militância política, e que mesmo após seu tombamento e após sofrer um grande incêndio continua se reinventando para novas formas de se perceber seu espaço. Nosso interesse neste local se funda principalmente em relação ao vazio do seu entorno que sofre uma ameaça constante de ser ocupado.

A análise do espaço então começa com o estudo do local, sua história e seu entorno e a partir disso pensar em algum tipo de ação experimental como o próprio Teatro Oficina, seja por meio de mobiliário, instalação ou performance nesse ambiente.

Teatro Oficina vista do terreno. Foto por Marcos Camargo. 2015

 

VILA ITORORÓ

A Vila Itororó é um conjunto arquitetônico tombado como patrimônio histórico pelo CONPRESP e pelo CONDEPHAAT que vem se discutindo sua restauração desde 2013. Trata-se de uma área que pode ser entendida como um canteiro aberto devido a sua abertura e necessidade de ação, um patrimônio construído da cidade de São Paulo que tem sua história desde o século XX dentro do bairro do Bexiga. É uma área que tem questões que envolvem a reflexão do habitar contemporâneo dentro de modos de morar coletivo e sobre a sua consolidação como um “centro cultural”. Nossa proposta para esse espaço se baseia em um desenho do mobiliário ou de instalações artísticas dentro da arquitetura existente, permitindo que o público consiga refletir sobre a memória deste local.

Vila Itororó. Foto por Nelson Kon. 2010

01

Entender os lugares onde a cidade de São Paulo pode ser reconhecida nos levou a pensar na memória industrial da cidade, sobretudo das vilas operárias. Nesse sentido, escolhemos estudar o conjunto de edifícios da Vila Maria Zélia, o qual foi loteado e ocupado no passado industrial da cidade (1917) compondo a paisagem urbana do bairro do Belém.

Atualmente a vila maria Zélia ainda existe como o mesmo conjunto de edifícios – com exceção da creche, do jardim de infância, do clube de futebol e de 18 casas que foram demolidos – e ainda é ocupada pelas famílias de seus primeiros moradores. Além disso, os prédios de uso coletivo (armazém e boticário) estão sendo ocupados pelo grupo XIX de teatro e pela associação de moradores.

A partir de visitas e entrevistas que fizemos com moradores e integrantes do grupo de teatro, pudemos entender as disputas presentes naquele espaço, principalmente as que estão vinculadas ao tombamento dos edifícios. Todas as construções são tombadas pelo CONDEPHAT, apesar disso grande parte delas estão descaracterizadas ou em ruínas, o que deixa claro as dificuldades presentes no pós-tombamento, principalmente quando pensamos em patrimônios que são habitados.

Nesse sentido, nos propusemos a refletir sobre os edifícios de uso coletivo – os quais ainda são propriedade do INSS – e sobre as possibilidades de intervenção neles. Sobretudo quando entendemos que seus usos e sua materialidade em ruínas dialogam diretamente com o antes e o agora de São Paulo, provocando uma contradição muito simbólica entre estes dois tempos.

02

“A casa do trabalhador muda no tempo, assim como mudam a sociedade, o trabalho e o próprio trabalhador. É no contexto da metrópole de São Paulo, nos anos 1980, que ocorreram profundas transformações no mundo do trabalho, com indústrias transferindo-se para novos espaços e outras fechando ou demitindo mão de obra por força da reestruturação produtiva. Brás, Belém e Belenzinho, chamados no início do século XX de “outra cidade” ou “bairros do além-Tamanduateí”, a partir dos anos 1980 têm transformada a sua paisagem urbana com antigas unidades fabris tornando-se ruínas e, mais recentemente, condomínios residenciais. O emprego industrial encolheu, o operariado se reduziu e o desemprego aumentou. É nesse conjunto de novas condições que ocorreu o tombamento da Vila Maria Zélia, momento em que o mundo fabril já não era o mesmo dos primórdios da industrialização. Seria possível, nessas condições, querer preservar na íntegra a casa do operário, o qual, inclusive, já não é mais operário e, por vezes, se encontra ainda expropriado do mundo do trabalho fabril?”

SCIFONI, Simone. in: Rev. CPC, São Paulo, n.22 especial, p.176-192, abr. 2017.