EV2017S02_G44_ 24h RECONHECENDO SAO PAULO

Entrega 01

Reconhecer está diretamente ligado à uma memória imediata. Só reconhecemos aquilo que já vimos antes em algum momento da vida ou ouvimos falar. E essa conversa vai além: podemos reconhecer pelo cheiro, um ruído, um tom de voz, uma imagem. Partindo disso, das diferentes maneiras que podemos reconhecer – um lugar, um objeto, uma pessoa – o grupo entende que uma das formas de se reconhecer, aquilo que é material, pode ser pela música.
Partir de um objeto imaterial para se reconhecer o que na cidade é concreto e visível foi o desafio que nos demos: afinal, a cidade de São Paulo “soa” uma certa música em uma esquina específica, em uma passarela ou uma estação de trem. A paisagem foi matéria prima de muitos músicos e cantores paulistanos, a citar os mais famosos: Tom Zé, Caetano Veloso, Adoniran Barbosa.

O grupo então se põe diante dos seguintes desafios: encontrar uma maneira gráfica de mapear as músicas e seus lugares, encontrar, nas letras o Norte desse mapeamento assim como entender a importância do recurso gráfico das capas dos álbuns mais emblemáticos. Uma vez com isso solucionado, descobriremos se será um objeto, um edifício, um lugar ou uma idade inteira. Afinal, é infinito o universo que norteia uma música, desta maneira, é tão bem grandíssima as maneiras de usa-la como ferramenta de memória coletiva.

 

Entrega 02

O grupo vem fazendo um largo estudo sobre como a música abraça a cidade de São Paulo. Uma de nossas grandes aproximações foi um longa conversa com o historiador e jornalista Assis Ângelo – contato primordial para nos mostrar que além das músicas se linkarem a lugares  e edifícios específicos,  as músicas que retratam São Paulo fazem o esforço do “ se fazer pertencer”. Não é por acaso que muitas delas foram feitas por imigrantes, a citar o mais famoso compositor e imigrante Adoniran Barbosa.

Tendo em mente um apanhado de lugares de São Paulo que são cantados e a noção de que esse lugares estão “ para fora das instituições”, eles estão NA cidade, o grupo tomou como norte de estudo o grande evento que tem como palco o espaço público: a Virada Cultural.

A escolha da Virada Cultural se deu por três razões:  ser o maior evento da cidade, o mais plural [ em questão de ritmos musicais] e por ser organizado por um órgão público. Sendo assim, os próximos passos que o grupo dará será no sentido de repensar o evento no âmbito cartográfico e espacial: a partir de todos os mapas produzidos do evento, faremos um estudo aproximado deles para depois propor caminhos alternativos para o evento se dar na cidade.

A virada cultural se dá no palco da cidade. Esta é uma das aproximações mais significativas entre música e cidade/espaço público.

 

Entrega 03

Após a primeira análise do funcionamento da Virada Cultural, surge como questão a descentralização do evento tendo como impulso a “Virada Descentralizada”, organizada pelo governo Dória que teve como resultado o esvaziamento da região central e um público abaixo do esperado nos principais shows  (1,5 milhões de pessoas, a virada com o menor público desde a primeira). A partir daí o trabalho vem entender como a virada poderia se compor, o que mudar/melhorar, mais especificamente a questão de ‘onde/como’.

 

Desde o começo a reivindicação do centro estava sendo discutida no nosso grupo, a compreensão da dinâmica positiva dos anos anteriores e o entendimento do centro como  “território comum para todos os paulistanos” nos leva a propor a recentralização do evento, recentralizando-o.

 

Partindo dessa ideia e do entendimento dos palcos do centro como algo já estabelecido, resolvemos encontrar meios de estabelecer o perímetro do espetáculo como espaço único. A possibilidade de 24h de evento, delimita um período de possibilidades infinitas e transformação completa e temporária da visão e uso desta cidade. Portanto, para essa transformação propomos atiçar o caráter sensitivo e fenomenológico entre população x cidade intervindo nos espaços ‘entre’ e reafirmação dos edifícios notáveis da cidade, utilizando eles não só como ponto de referência, mas como infraestrutura para o evento.

 

Nos edifícios notáveis, as galerias entram com uma importância especial, por ser uma característica especial da região central, como também por permitir a costura da cidade em uma situação completamente diferente, adicionadas a suas possibilidades de infraestrutura básica como banheiros, além de uma escala outra, ‘entre’, acolhedora.

 

Entrega Final

Reconhecer São Paulo através da música foi o primeiro passo que o grupo deu no EV desse semestre: tentamos reconhecer um lado musical que a cidade tem e expira nas esquinas e em sua arquitetura. A primeira aproximação foi em encontrar uma maneira de tratar de uma coisa tão abstrata [ a música ] em relação ao seu oposto: algo tão físico, concreto e cheio de relação a tratar e combinar.

Depois de uma conversa o jornalista e um dos maiores especialistas em música popular brasileiro, Assis Ângelo, começamos a pensar: além dos espaços mais imediatos ligados a música – como o bairro do Brás, o Bixiga e o centro de São Paulo – qual seria o lugar/ momento em que a cidade vive a música de maneira mais intensa – tanto do ponto de vista de tamanho de evento como pluralidade de ritmos. Tínhamos que ser certeiros nessa escolha: a probabilidade de cairmos em um lugar/acontecimento imediato/óbvio deixando para trás a diversidade musical que a cidade tem era grandíssima. Uma cidade feita de imigrantes não tem como ser diferente. E ainda bem que é assim.

Chegamos então a um ponto em que não tínhamos saída: a virada cultural de São Paulo se mostrou alvo certeiro para o grupo e tínhamos três grandes razões para essa escolha: era o evento mais diverso [ pensando em ritmos musicais e público que se aglomeram no centro da cidade para as atividades culturais], o maior em tamanho [ chegando a um público de 4 milhões de pessoas em 2008] e por ser um evento planejado por um órgão público. Sendo assim, nossas pesquisas começaram em várias direções: entender o fiasco da virada de 2017 [ entender sua gestão/ e razões que levou o evento a ter menos que a metade do esperado], entender as razões do centro ser o grande polo/aglomerante de pessoas e atividades, assim como estudar se uma virada cultural expandida [ levada para unidades do Sesc e Céu mais distantes do centro da cidade] dava certo/era algo positivo.

Toda nossa pesquisa nos levou, em um segundo momento, a uma conversa com a Gabrielle de Abreu Araújo, Coordenadora de programação da Virada Cultural de São Paulo. Para ela nossas perguntas eram várias: quais eram os maiores desafios do evento – do ponto de vista da infraestrutura, da programação, da segurança, dos orçamentos -, como os organizadores lidavam com os espaços semi públicos como as várias galerias no centro – se o evento incluía esses espaços, como eram os acordos para eles fazerem parte do evento. Foi nesse momento que ela apontou um desafio da grande festa que nos chamou atenção: os entre palcos eram sempre um problema. E as razões eram várias mas principalmente o desafio que era colocado para a organização de planejar uma atividade ali que conseguisse conviver com o barulho/interferência de outras grandes palcos – isso para conseguir fazer com que o lugar continuasse vivo.

Ettore Sottsass Jr. – The Planet As A Festival, 1972

Essa foi então nossa principal motivação para interferir nesses locais e encontrar uma maneira de habitar e fazer com que aquele lugar vibrasse se tornou nosso grande desafio. Assim como o evento, queríamos que esses lugares fossem o mais plural possível: que ele conseguisse agregar a maior quantidade de interferências e atividades que convivessem “a parte” do evento. Que eles fossem motivados por desejos pessoais/grupos/entidades menores. Para isso, usamos a arquitetura como nosso facilitador e o andaime se tornou um importante suporte para esses acontecimentos que desejávamos. Sendo assim, propomos uma segunda pele para a cidade: e o mais legal é que ela poderia ser desenhada/pensada de acordo com desejos e situações especificas. Dessa maneira, o andaime se mostrou a ferramenta certeira para esse arranjos pois era fácil de se transportar e ele poderia se adaptar a diferentes situações e empenas da cidade.

Nessa segunda pele da cidade poderia acontecer diversas atividades: comércio de alimentos, espetáculos de música, teatro, dança, piqueniques, projeções, cinema ao livre, etc. Ao final do trabalho, percebemos que a música era um meio de se reconhecer um lugar familiar e muito querido. Esse meio proporcionava acontecimentos que ficariam para sempre na memória dos habitantes da cidade de São Paulo.