A manifestação da natureza nos ambientes urbanos se da nas mais diversas escalas e possibilidades espaciais. Desde as ações planejadas ( como parques, praças, hortas . . . ) até em pequenos focos espontâneos que aparecem devido a negligencia por parte do homem, fazendo com que haja o crescimento de plantas ruderais em escombros, rachaduras de pavimentações e lugares abandonados – são plantas precursoras do meio urbano e muito presentes em grandes cidades, como São Paulo. Essas áreas possuem uma diversidade dinâmica vegetativa, além disso , provoca diferentes apropriações físicas e do imaginário – podendo gerar uma serie de delírios sobre como o meio urbano pode se transformar e gerar uma nova realidade – nos levando aos conceitos sobre espaços residuais de Gilles Clement – botânico , jardineiro , entomólogo e escritor – na sua publicação “ Manifesto da terceira paisagem “ .
No texto, Gilles explica como a cidade surge de forma artificial em meio ao mundo natural. Ao se expandir, a membrana urbana acaba por se segregar da vegetação que conformava o bioma preexistente, criando bolhas verdes que se sustentam com sua própria policultura. No decorrer do crescimento da cidade esses espaços vão se fragmentando cada vez mais – principalmente com a instalação de aparelhos de infraestrutura urbana e a rede viária – e geram espaços residuais a espera de um uso ou alguma ocupação, surgindo o conceito de terceira paisagem onde o mesmo define como: “É um espaço que não expressa nem o poder e nem a submissão ao poder” (CLEMENT, Gilles). A evolução territorial da terceira paisagem coincide com a evolução do crescimento da malha urbana, ou seja, quanto maior a cidade maior a quantidade de resíduos. Nas áreas centrais são menores e mais escassos, na zona periférica são maiores e mais numerosos.
São Paulo , por ter uma construção desordenada , verticalizada e não planejada , culminou na setorização das poucas áreas verdes que restaram na cidade, gerando espaços subutilizados dentro da sua malha urbana. O ponto de partida para a transformação do olhar dos habitantes parte do Parque Dom Pedro II, que tem uma relação histórica muito importante com a criação de São Paulo e hoje se encontra em estado de abandono, devido aos processos de transformação ao longo do tempo que o modificou e segregou do resto do desenho urbano.
Seguindo esse contexto – aliado com o cenário caótico da cidade – é criado uma serie de delírios, por meio de ilustrações feitas a mão, que buscam refletir qual é o potencial paisagístico e as possibilidades de crescimento dessas áreas residuais, afim de unir esses fragmentos por meio de uma massa vegetal nova. Toda a vegetação que resta no parque nos permite delirar sobre uma possível construção de futuro, tendo o Parque Dom Pedro II como um embrião da terceira paisagem em meio aos resquícios do crescente caos que é a cidade hoje.
‘É uma cidade igual a um sonho: tudo o que pode ser imaginado pode ser sonhado[…] As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas e que todas as coisas escondam uma outra coisa.