Introdução
A pesquisa que pretendemos desenvolver teve início em 2016 com a oportunidade de projetarmos e construirmos uma residência na Praia do Espelho, Sul da Bahia. Em decorrência desse processo, novos projetos e propostas surgiram, nascendo assim a necessidade da estruturação de um coletivo de arquitetura para que pudéssemos nos apresentar ao mundo da prática real da arquitetura. Em 2018, ao final de uma vivência de seis meses em canteiro, e em pleno contato com as implicações práticas da profissão, percebemos uma grande disparidade de conhecimento entre nós e nossos colegas de sexto ano. Muitas dúvidas e questões relativas ao papel do arquiteto nas relações e processos reais que cabem a esse profissional surgiram deste encontro. Dessa forma dois eixos principais de pesquisa foram identificados e pretendem ser explorados neste trabalho: um pautado nas experiências, sociais, psicológicas, antropológicas e subjetivas da profissão do arquiteto iniciante em seus diferentes contextos de atuação tanto geográfico quanto em relação aos diferentes processos específicos que cada projeto demanda. Sendo a outra da experiência prática de obra, levantando as questões específicas dessa prática e suas técnicas.
Justificativa:
Durante todo o aprendizado no percurso de estudos da Escola da Cidade é desenvolvida uma extensa grade técnica e teórica dos conceitos necessários para a devida formação de recursos importantes para que o aluno tenha uma base sólida para o desenvolvimento de um bom projeto arquitetônico, provendo o aluno de bons raciocínios de partidos arquitetônicos, técnicas construtivas, pré dimensionamentos, referências projetuais e históricas, entre outras ferramentas. Porém observamos uma tendência da parte de alguns docentes da Escola da Cidade a necessidade da limitação desses recursos e ferramentas, sendo as questões práticas do exercício da profissão, interpretados como necessidades externas ao escopo da formação do arquiteto em um curso de graduação. Acreditamos que essas limitações acadêmicas sejam fruto de alguns preconceitos da parte do corpo docente, sendo esses, identificados por nós: o primeiro é a banalidade e pragmaticidade que esse tema é interpretado, que em muitos casos consideram inevitável o contato com essas questões a partir do momento em que o arquiteto recém-formado entra no mercado de trabalho ou passa a estagiar em algum escritório. O outro é a delicadeza e sensibilidade requerida ao se abordar questões reais da profissão, que um docente da Escola da Cidade talvez não se sinta confortável de abordar por motivos diversos, sendo estes: a elaboração de uma proposta de trabalho competitiva para o mercado, as diversas questões éticas borderline que o arquiteto se depara ao lidar com cliente, engenheiros, burocráticos, e empreiteiros, maneiras de lucrar e capitalizar com seu projeto, entre outros. No primeiro caso podemos identificar que o argumento não se sustenta, pois como aluno, em contato com diversos colegas que estagiaram em diversos escritórios, sentem que nunca tiveram a possibilidade de acesso a esses tipos de questões como estagiários e não associados ao escritório. No segundo caso identificamos que este papel talvez não caiba ao docente responder, mas sim ao colega discente, que por possuir uma relação mais horizontal com os colegas pode abordar tais temas com maior honestidade e mais distanciado de julgamentos de caráter ou posição.
Por parte dos do corpo discente se identifica, em sua maioria, a ausência dos conhecimentos necessários para que ele atue como arquiteto completo, desconhecendo os modos operantes da profissão, seus agentes e o conhecimento técnico necessário para levantar seus projetos da dita, prancheta de desenho. Alguns motivos já identificados contribuem para essa situação: os motivos já assinalados anteriormente de responsabilidade do corpo docente e pedagógico da nossa instituição e um motivo de maior escopo, onde inevitavelmente a maioria dos alunos da Escola da Cidade se reconhecem como agentes e vítimas do mesmo, este é a falta de confiança e segurança generalizada no aluno ou recém formado para atuar efetivamente num contexto real. Essa incapacidade provêm de novas questões sociais e geracionais específicas do momento histórico que nos encontramos que merecem amplo debruçamento e pesquisa, como a questão da abundância de informação, o desejo do imediatismo, inerente nos jovens desta geração, a má relação com frustrações, dentre outros sintomas dessa patologia específica que aflige essa geração.
Enxergamos assim uma lacuna a ser preenchida na formação do arquiteto perante a sua formação acadêmica e como futuro profissional competente. Sendo o primeiro passo para apresentarmos alguma solução, a identificação com essas questões para que assim possamos propor soluções cabíveis e em harmonia com essas deficiências. Levando nosso trabalho a uma abordagem desvinculada ao processo de projetar propositivamente alguma solução arquitetônica para algum espaço, sendo essa abordagem, geralmente, sempre passível de crítica subjetiva e de pouco interesse para terceiros, e outros alunos ou recém formados. Sendo então nossa proposta o estudo dos agentes e práticas que nos levaram a essa conjuntura e a apresentação de uma possível solução para tais questões.
Objeto:
Como objeto, o grupo visa a elaboração de um produto útil e de referência para os estudantes de arquitetura, onde através de pesquisas elaboradas por nossa metodologia, possamos compilar e propor soluções para as dúvidas mais recorrentes ou se quer deslumbradas por um arquiteto em formação ou recém formado. Os produtos seriam uma publicação aos moldes de um manual informativo e o outro a elaboração de uma aula ministrada pelo grupo sobre a implementação de projetos e saneamento de dúvidas em relação a profissão do arquiteto e suas implicações cotidianas, com a possibilidade de convidar outros arquitetos dispostos a expor os conflitos cotidianos da arquitetura para esses alunos.
Metodologia:
A metodologia do trabalho terá início com o desenvolvimento de uma imagem clara desse público no qual queremos assistir, sendo assim o primeiro passo a definição desse público alvo e o levantamento das necessidades e inseguranças que estes apresentam. Primeiro será elaborada uma pesquisa qualitativa, sendo os integrantes menos experientes do grupo de trabalho peça chave para o início dos trabalhos, a partir de conversas e questionários estamos estudando a necessidade e viabilidade do nosso objeto levando em consideração as inseguranças e dúvidas que nos são apresentadas. Em paralelo a essas entrevistas será levantada e estudada a pesquisa bibliográfica para nos proporcionar embasamento teórico para a identificação das necessidades desses alunos e os motivos de suas deficiências. Após o desenvolvimento da pesquisa qualitativa será idealizado e desenvolvido um questionário mais preciso e pragmático para ser realizado em volume, levando-nos assim ao estágio de pesquisa quantitativa, a fim de identificarmos se essas questões partem exclusivamente dos alunos da Escola da Cidade ou se é um problema generalizado da maioria dos estudantes ou recém formados da arquitetura. Em paralelo a esta pesquisa, e conseguinte a mesma, é levantado a partir de entrevista e conversas um escopo de possíveis profissionais dispostos a contribuir nessa publicação ou aula, como com técnicos em regularização fundiária, engenheiros, funcionários de prefeituras, arquitetos mais experientes, professores de estrutura, etc.
ETAPA 02 _ 08/05
tema_ a vivência externa, as experiências e as dúvidas
– a dimesão do “projeto desenho” dentro do “projeto global”
– a distância entre o arquiteto e o meio construtivo do projeto
– os benefícios e ganhos entre uma parceria arquitetura x construção; qualidade de execução, tempo de construção, diminuição de erros e gastos…
meio_ análise de projetos
– optou-se por fazer um trabalho de pesquisa e crítica
– escolha de 03 projetos, comparando processos e seus resultados
– análise relacionadas ao tema a partir da visita a construção, método construtivo, desenhos, relação com os demais agentes do projeto, relação do arq. com a obra, modelo de negócio
– cada projeto vai trazer dúvidas, questões e críticas individuais sobre seu desenvolvimento, de forma que cada uma dessas que surgirem, posteriormente, podem servir de comparativo crítico
crítica_ comparações e objetivos
– temos como objetivo fazer uma comparação entre os 03 exemplos estudados a partir das análises e em cima do tema escolhido, para assim conseguirmos avaliar quais são, ou não, os benefícios reais e o resultado final que cada projeto conseguiu desenvolver
_ análises dos projetos
– cada projeto será estudado a partir do material fornecido pelo arquiteto, conversas com a equipe que trabalhou no projeto e visita em campo.
– os projetos foram escolhidos baseados nas fontes que conseguiríamos ter mais material e proximidade com as questões do tema.
01. vila taguaí – arq. cristina xavier
02. res. rua pombal – arq. rafic farah
03. res. juranda – arq. anderson freitas
25/06/18 – ETAPA FINAL
Esse processo se mostrou uma experimentação para o grupo, o sentimento foi de elaborar uma pequena escola itinerante de residências e arquitetos do nosso tempo desenvolvida por nós. Desde o inicio tínhamos o intuito de oferecer aos nossos colegas um meio acessível para os mistérios da profissão do arquiteto e após nossa jornada o que se descobre é que não há maneira efetiva de vivenciar o arquiteto sem o contato próximo com a pessoa e sua arquitetura. O Mundo moderno a muito tempo favorece o ensino pasteurizado e generalizado de todas as faculdades humanas, sendo nossa faculdade um dos poucos exemplos da possibilidade de realizarmos uma experiência quase renascentista de relação aprendiz e mestre e não mais de professor e aluno e é esse aspecto que nos comprometemos a explorar e se possível expandir ainda mais. Ao vivenciar os arquitetos em suas residências não só a atenção do aprendiz como a dedicação do mestre florescem, a partir do momento onde a suspensão do descrédito do ambiente da faculdade se esvai, barreiras de posições se dissolvem e o diálogo se torna mais rico, tanto no ambiente do projetar tanto quanto no ambiente do ser arquiteto, que depois dessa experiências se mostra como experiências extremamente distintas porém simbiontes.
Gostaríamos de expressar nosso agradecimento pelos arquitetos envolvidos Cris Xavier, Rafic Farah e Anderson Freitas, através deles podemos nos auto analisar como arquitetos, revendo nossos conceitos sobre a arquitetura e sobre nós mesmos, nos preparando categoricamente mais para nosso futuro como profissionais atuantes, sendo talvez a verdade com suas arquiteturas e honestidade perante eles e suas obras as maiores lições apreendidas neste trabalho.
Para finalizar, gostaríamos de aconselhar aos estudantes que se depararem com esse trabalho que se deve entender como direito do estudante de arquitetura, em faculdade ou não, buscar os seus mestres e os indagar por conselhos dos mais variados possíveis em caráter profissional e que estejam dispostos a entender os processos históricos e sociais que os levaram a produzir suas obras, e se possível irem aos seus escritórios, obras e residências, para assim melhor entender seus caminhos pela arquitetura, e o aluno como aprendiz se munir de referências de erros e sucessos dos seus mestres para assim seguir seu caminho embasado em lições concretas daqueles que bem sucederam no caminho da arquitetura.