G32_Caminhar como forma de ocupar

Etapa 1

‘Is it not truly extraordinary to realize that ever since [humans] have walked, no one has ever asked why they walk, how they walk, whether they walk, whether they might walk better, what they achieve by walking, whether they might not have the means to regulate, change, or analyze their walk: questions that bear on all the systems of philosophy, psychology, and politics with which the world is preoccupied?’

Honoré de Balzac

Nesse semestre se pretende estudar o tema da ocupação da cidade pelo caminhar. Partindo de uma pesquisa histórica que passa brevemente pelo conceito de flâneur e inquietações das vanguardas dadaístas e surrealista, chega-se a noção de jogo trazida pelos situacionistas.

“Jogar significa sair deliberadamente das regras e inventar as próprias regras, liberar a atividade criativa das constrições socioculturais, projetar ações estéticas e revolucionárias que ajam contra o controle social.”

Através da ideia de percurso buscava-se a aproximação entre arte e vida por meio da interação e do diálogo. A prática da caminhada foi entendida como forma de combate a alienação e a opressão que segundo eles eram características provenientes da sociedade moderna cuja cultura do espetáculo e do consumo exacerbado era dominante. Ainda, de acordo com Guy Debord, a deriva tinha caráter político:

“o aspecto aleatório é menos determinante do que se poderia supor: do ponto de vista da deriva, existe um relevo psicogeográfico da cidade, com correntes contínuas, pontos fixos e vórtices que tornam difícil o acesso a certas zonas ou a saída delas”

Seguindo essa linha de pensamento, o objetivo do trabalho a ser desenvolvido é de compreender se tal lógica de ocupação pode ser atualizada e, considerando paradoxos espaciais, pensar em possíveis maneiras de traze-la à tona no contexto da cidade de São Paulo.

The naked city – Guy Debord

Monumentos de Passaic – Robert Smithson

Etapa 2

Na segunda etapa de pesquisa identificamos diferentes tipos de caminhar: passear, andar, marchar, vagar, entre outros. Partindo de uma reflexão acerca da noção de ocupação da cidade, entendeu-se que o a maneira de caminhar que interessa o grupo é aquela que envolve a consciência de tal ato.

Posto este critério a compreensão de caminhares alheios passou a ser impossível. A partir daí se tornou a evidente a necessidade de realizarmos essa atividade. Assim, nos posicionamos como atores.

Foram estabelecidos 4 percursos entre os endereços de residência dos 4 membros­ e a Escola da Cidade. Cada integrante realizou todos, possuindo porem, a possibilidade escolha sobre qual caminho cursar. A metodologia de registro foi livre com a intenção de promover maior abrangência.

Por fim, foram produzidos mapas que revelam os trajetos de cada um, levantamentos fotográficos e textos que exprimem as diferentes visões sobre a cidade.

 

Etapa 3

A análise do material produzido na ultima etapa nos levou a compreensão de que percursos executados inteiramente a pé permitiam uma maior aproximação do corpo com o espaço, e consequentemente, registros mais detalhados.

Portanto, na próxima fase de trabalho, que será apresentada em seguida, decidiu-se que os trajetos precisavam restringir-se a uma distância caminhável (de até 5km) e que deveriam acontecer num lugar previamente desconhecido por todos os membros do grupo.

A fim de que melhores comparações pudessem ser realizadas, os caminhos foram estabelecidos em grupo. Assim, todos os integrantes passaram pelos mesmos locais.

O recorte estipulado para a pesquisa encontra-se na região central da capital, entre os bairros da Barra Funda e do Bom retiro, perpassando parte de Santa Cecília. A área é de várzea e está delimitada pelo Rio Tietê e pelos trilhos de linha ferroviária. Além disso, localizada dentro do Arco Tietê, é um ponto da cidade que, por conta da desindustrialização, tem sofrido transformações significativas. 

Ao se considerar a consciência como fundamento imprescindível para a ação de ocupar, tornou-se evidente a necessidade de caminhar fazendo uso de todos os sentidos. Expressar esse caráter subjetivo é um desafio e para tanto decidiu-se fotografar e escrever acerca de cada caminhada. Assim, os registros produzidos durante os percursos realizados têm um caráter meramente metodológico: foram adotados para que fosse possível fazer comparações.

Sobrepondo informações contidas neles, percebeu-se então que as semelhanças, ou em outras palavras, as percepções comuns não acrescentam muito pelo fato de que representam o lado genérico das observações. Isso explica a inversão do gradiente no mapa síntese, que agora considera de maior relevância justamente os locais observados por apenas um integrante do grupo. 

O conhecimento, esse sim baseado na coletividade, é construído por meio de subjetividades distintas. Ou seja, a apreensão do lugar ganha profundidade justamente pela soma de percepções diferentes e minuciosas.

Pode-se concluir então, que o caminhar é estratégia compreensão da cidade através de uma vivência prática. O conhecimento proveniente dessa atividade abrange o entendimento de relações interpessoais e das pessoas com o espaço.

Primeiro percurso

Segundo percurso

Terceiro percurso

Mapa síntese

 

Etapa 4

A partir da realização dos cinco trajetos e o cruzamento de impressões entre os membros do grupo, busca-se exprimir a experiência do semestre por meio desse relato de encerramento.

De antemão é necessária uma volta à apresentação a fim de reiterar que o recorte escolhido, entre os bairros da Barra Funda e Bom Retiro, não é o tema do trabalho desenvolvido. O interesse dele, que toma tal região como objeto de estudo, como um caso específico, deteve-se em estudar o caminhar como ferramenta de ocupação.

Ao se considerar a consciência como fundamento imprescindível para a ação de ocupar, tornou-se evidente a necessidade de caminhar fazendo uso de todos os sentidos. Assim, os registros produzidos durante os percursos realizados têm um caráter meramente metodológico: foram adotados para que fosse possível fazer comparações.

Sobrepondo as informações contidas neles, percebeu-se que haviam apreensões comuns em um nível “físico” como também num outro sensorial.

O primeiro trouxe um conhecimento sobretudo arquitetônico do lugar: foram muito claramente notadas as diferentes tipologias de edifícios presentes no bairro e, como consequência, pudemos perceber as transformações que ele vem sofrendo ao longo do tempo.

Já as sensações são o resultado da combinação e repetição de diferentes elementos presentes nos percursos. Procuramos exprimi-las por meio da manipulação das imagens produzidas durante as caminhadas, em forma de colagens.

De caráter subjetivo, ambas camadas trazem um conhecimento mais detalhado do lugar. Além disso, o ato de caminhar promove o sentimento de pertencimento à cidade. No momento em que essa atividade é experimentada, ela se inscreve como ação perceptiva e, dessa forma, sobrevive e resiste no corpo de quem a pratica. É uma forma de apropriação do espaço.

Através da união de subjetividades distintas o entendimento acerca da região ganha profundidade. Justamente pela soma de percepções foi possível construir um conhecimento minucioso.

Portanto pode-se concluir que o caminhar é estratégia de compreensão da cidade através de uma vivência prática que abrange a assimilação de relações interpessoais e das pessoas com o espaço. 

 

Montagens que trazem as sensações percebidas ao longo dos percursos 

Localização no mapa das sensações