– + | Grupo 13

1ª Etapa

O projeto será resultado de toda essa pesquisa e diagnóstico, porém, diferentemente do especificado na ultima entrega, se dará no espaço público e compartilhado, trabalhando de forma indireta nos modos de morar. O espaço privado será enfrentado diretamente no segundo semestre, na continuação do trabalho de conclusão, criando uma linha única de raciocínio e aproveitando as análises feitas no primeiro semestre.Esqueça todos os seus conceitos sobre habitação. Como você realmente gostaria de morar? É esta a pergunta que motiva o grupo a buscar novas soluções para a habitação. Parte da sensação de que moramos de uma forma antiquada, onde as relações sociais estão em segundo plano, enquanto a fragmentação do espaço é o valor maior. Como é descrito na introdução do livro Plus +, de Lacaton e Vassal;

“(…) uma análise crítica da institucionalização de habitação social na Europa do pós-guerra, na qual a habitação é cada vez mais reduzida para o apartamento individual. Usos e espaços onde os indivíduos poderiam se encontrar fora de suas próprias quatro paredes para experimentar uma sensação de comunidade social foram eliminados.” em tradução livre.

E ainda, no livro “Cidade para pessoas” de Jan Gehl;

“A retração do número de moradores aumenta a necessidade de contatos sociais fora de casa. Como resultado das inúmeras mudanças na maneira em que a sociedade e a economia são organizadas, muitas pessoas agora vivem uma vida cada vez mais privada, com residências particulares, carros particulares, equipamentos domésticos particulares e escritórios particulares. Com essa situação percebe-se um sólido aumento no interesse em reforçar os contatos com a sociedade civil em geral.”

A privacidade é uma necessidade da sociedade que vivemos, assim como a coletividade. A investigação tem como objetivo estudar formas para potencializar os espaços compartilhados enquanto preservamos as funções dos ambientes de privacidade. Oskar Negt no texto “Espaço público e experiência” divaga sobre o equilíbrio entre a intimidade e a distância, e acrescenta:

“Uma intimidade excessiva com os problemas individuais não leva à formação de um organismo social, a sociedade é mais do que a simples soma dos indivíduos”

As diretrizes do projeto partem diretamente da cidade. As necessidades supridas pelo espaço público abrem as possibilidades para repensar a habitação. A varanda, por exemplo, deixa de ser uma necessidade quando a cidade fornece parques e espaços públicos próximos, na escala do pedestre. Assim, é possível reduzir os espaços ociosos e individualizados da casa, para tornar os ambientes utilizados mais aproveitáveis e compartilhados.

A desigualdade no Brasil permite uma variedade muito grande nas formas de morar. Em São Paulo, isto fica visível ao passear pelos diferentes bairros. Buscando uma solução idealizada, onde não existe nem o luxo da classe alta, nem a privação da classe baixa, nos propomos a projetar habitações para a classe média.

Com a consciência da amplitude do tema, um recorte para o trabalho se tornou necessário. Foram escolhidas 3 regiões de classe média da cidade, situadas nos bairros de Santa Cecília, Vila Mariana e Pinheiros. A partir de um raio de 5 minutos e 10 minutos de caminhada – equivalentes a aproximadamente 400m e 800m respectivamente – foi feito um levantamento de equipamentos e serviços fornecidos em cada área, necessários para o cotidiano contemporâneo. Com base neste diagnóstico o partido de projeto se enuncia, indicando também diferenças necessárias para cada contexto da cidade.

IMAGEM-1

IMAGEM-2

IMAGEM-4

IMAGEM-3

 

 

2ª Etapa

O projeto sofreu grandes transformações desde a última entrega. Ao se deparar com a dificuldade do tema escolhido, principalmente no âmbito projetual, o grupo, com a ajuda dos orientadores, acabou mudando o viés do trabalho, procurando uma abordagem mais palpável para o tema. As 3 regiões iniciais foram descartadas afim de buscar um recorte de trabalho mais acertado e que permitisse trabalhar os temas de interesse do grupo; a cidade, a habitação, e a relação entre essas duas escalas.Para isso, foi escolhido o Edifício Pauliceia, projetado por Jacques Pillon e Gian Carlo Gasperini, um edifício emblemático de São Paulo, que tem muitas características modernas, além de uma grande potencial de transformação. O térreo livre, a estrutura independente, e as diferentes tipologias contém dentro deles uma imensidão de possibilidades.


Para esta segunda entrega, nos propomos a analisar o edifício de uma forma ampla, mas aprofundada. Analisamos o entorno do edifício, a importância de sua localização na Avenida Paulista, e dos equipamentos em seu entorno, para onde os moradores recorrem no uso diário. Com as plantas originais encontradas no arquivo da FAU-USP foi possível levantar as plantas e cortes do edifício. A partir daí, foram escolhidas algumas análises principais; circulação e permanência, conforto ambiental, luz, ventilação e acústica, área privada e compartilhada por pessoa, área mobiliada e área livre, entre outros.

Para a próxima etapa o grupo se propõe a entrevistar os moradores afim de entender melhor as questões do edifício e para quem se projeta. Serão entrevistados moradores, trabalhadores, arquitetos, inquilinos e proprietários, em uma entrevista direcionada aos 3 domínios; cidade, edifício, e habitação (tipologia). Desta forma, se alcançará um panorama do edifício, dos espaços públicos aos privados.

g13_entrega02_img01g13_entrega02_img02g13_entrega02_img03g13_entrega02_img04

3ª Etapa

Alex Ferrer, 30 anos, designer de projetos
Inquilino desde dezembro/ 2015
“O tombamento? Não, não o tombamento é importante. A fachada chama atenção, acho que tem que manter assim.”
¬ “Os funcionários do prédio são ótimos, tem muitos velhos que moram aqui. Às vezes, admito que fico confuso com as três portarias.”
“Eu gosto de ter o escritório separado do quarto, nao queria ter nada no quarto de trabalho. Como não sou daqui, uso muito o quarto de hóspedes.”
Ana Castro, 42 anos, arquiteta
Proprietária há 7 anos
“Quando saio de carro, uso a São Carlos do Pinhal, mas senão, tudo pela Paulista.”
“Uma vez tentei fazer um jantar no térreo, tipo jantar piquenique, mas a síndica não deixou, ela não deixa nem as crianças andarem de bicicleta. Eu levo as crianças na pracinha do Hospital Osvaldo Cruz”
“Não gostaria que tivesse algum uso no térreo, gosto de ser algo mais contemplativo”
“O que mais mudou pra mim foi a ciclovia. Muito mais do que a abertura da Paulista de domingo. Agora tenho uma bicicleta, e uso.”
Flávia Prado de Cerqueira Cesár, 23 anos, estudante
Proprietária há 23 anos

“Sempre morei na paulista, sempre foi um caos, por mais que more na Paulista e tenha um espaço enorme, nunca teve um espaço público realmente, com muitos serviços e lazer, não é um lazer de ocupar a cidade, é um espaço livre.”
“A paulista já era um espaço democrático, agora muito mais.”
“amo meu edifício,” O espaço do térreo pode ser muito melhor aproveitado.”

Paula Dedeca, 33 anos, arquiteta
Proprietária desde 2009
“Não seria legal abrir o térreo por causa das portarias, teriam que ter 4 diferentes, fora a de carros.”
“Eu gosto da Paulista aberta de domingo, utilizo às vezes.”
“No térreo acho que faz falta um bicicletário. A síndica nao deixa nem as crianças andarem de bicicleta, precisa liberar o uso. Acho que seria legal recuperar o paisagismo original.”
“Tem que estar tombado mesmo! Inclusive os halls, outro dia vi um apartamento que desconfiguraram o hall completamente.”
Josias, porteiro, 50 anos
Trabalha no edifício hé 10 anos
“Há um tempo atrás você tinha que ver, teve um assalto que foi um horror. Entraram no carro de um morador. Mas tem um policial civil que mora no prédio, aí ele foi lá sozinho e rendeu os caras. Encheu tudo de polícia aqui ó. “
“O pessoal aqui é tranquilo. Tem muito velho, muito chinês também. Estão vindo muitos chineses morar aqui. Eles trabalham aí na Paulista.”

 

imagem-3imagem-4

4ºETAPA

 

PATRIMÔNIO E CONTEMPORANEIDADE NO EDIFÍCIO PAULICEIA

 

O Edifício Pauliceia e São Carlos do Pinhal são muito emblemáticos para a história da arquitetura moderna, por serem dois dos primeiros edifícios construídos em uma época em que a Avenida Paulista e seu entorno era quase completamente composta por casarões. Além de ser um dos marcos do processo de verticalização da região, o projeto de Gian Carlo Gasperini (1926) e Jacques Pilon (1905-1962) afirmou-se como um ícone da apropriação das diretrizes corbusianas. São quatro diferentes tipologias, de 60m2 até 170m2, com um, dois ou três quartos, que se intercalam pelos andares. Tombado pelo Condephaat em 2010, o edifício tem sob proteção as áreas comuns, o projeto paisagístico dos jardins – de autoria de Roberto Burle Marx – e a fachada original do conjunto.

Como forma de investigação o grupo se propôs a adaptá-lo ao Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo de 2014. Por ser um patrimônio público e um ícone arquitetônico da cidade, eram necessárias diretrizes para as alterações no prédio, para o qual, o grupo recorreu a dois âmbitos: primeira da legislação, como citado anteriormente, e em seguida através das entrevistas com moradores dos edifícios, que forneceu questões pontuais a serem resolvidas. De forma alguma o grupo concordou em descaracterizar o edifício ou desrespeitar o patrimônio público com o intuito único de adaptá-lo para o plano diretor atual, mas simplesmente de responder às questões surgidas com o passar dos anos no condomínio. Mais do que isso, o grupo se propôs a estudar um símbolo de uma época e de um movimento, para indagar sobre as mudanças das necessidades e anseios da sociedade desde a década de 1960. A escolha pelo Edifício Pauliceia foi portanto bastante racional no sentido em que foi pautada pelo o que há de mais emblemático de uma época na cidade de São Paulo, permitindo comparações com sua situação atual, um levantamento de seus problemas e qualidades após 50 anos. As intervenções adotadas tem, portanto, a intenção investigativa dos modos de morar e tem como intuito principal a ativação do espaço.

A entrevista com os moradores procurou tratar da questão do edifício em três diferentes escalas; da cidade, do edifício e do apartamento. De forma análoga o projeto abrange todas essas esferas, de maneira a interligá-las. As principais reclamações dos moradores eram em relação ao térreo, que pouco utilizam e que contém diversas restrições condominiais. Inicialmente, o projeto não continha nenhum tipo de fechamento para o público, tornando a praça parte da cidade. Para contornar questões de segurança e manter o caráter privado da praça, mas procurando retomar a intenção inicial do projeto, determinamos que assim como os parques e praças da cidade ele será aberto para o público, no entanto terá um horário de fechamento, que neste caso será das 18h-7h.

A praça de frente para a Avenida Paulista funcionará como uma extensão da calçada, para isso, e contará com mesas e tomadas para trabalho ao ar livre. As rampas de acesso a garagem, hoje desativadas permanecerão assim uma vez que a calçada da Avenida Paulista tem uma movimentação muito grande de pedestres e a entrada de carros atrapalharia esse fluxo, assim como do transporte público. Para reutilizar esse espaço será feita uma grande rede, onde se poderá deitar e descansar, dando novo uso à área mas deixando a lembrança de sua utilidade prévia. Outras alterações previstas para o térreo dizem respeito a mobiliários de ativação do espaço. Será criada uma área de lazer lúdica para as crianças, na área mais próxima a Rua São Carlos do Pinhal, com piscina de bolinhas, bancos, brinquedos e acesso para os gramados. A praça entre os dois prédios terá um caráter de contemplação, com redes de descanso e bancos em decks de madeira.

     Uma importante determinação do Plano Diretor do Município de São Paulo é o conceito de fachadas ativas, com comércio voltados para a rua, que pretende alterar o paradigma dos muros que dominam a cidade. Para adaptar esse uso ao Edifício Pauliceia, será criada uma área comercial na calçada da rua São Carlos do Pinhal, em detrimento da área de garagem, que será parcialmente reduzida.

     Para dentro do edifício, haverá uma grande mudança que intenta retomar o desejo de Gasperini em permitir que pessoas de classes sociais variadas o habitem. Respaldados pela cota solidária, conceito do Plano Diretor, no qual 10% da área de um empreendimento habitacional deve ser doada para habitações sociais, os primeiros e segundos andares de cada edifício serão destinados à este uso. A fim de evitar o emprego de habitações mínimas, pois seria a única opção viável uma vez que o edifício está localizado em uma região muito valorizada da cidade o grupo escolheu adotar um novo conceito de moradia chamado co-habitação. Surgida na década de 1970, nos países nórdicos, este tipo de habitação consiste na divisão dos espaços coletivos, como cozinha e sala, como outras famílias. Com este método, os espaços coletivos ganham áreas mais generosas, e o espaço individual, ou seja, banheiro e quarto é mantido, permitindo que cada individuo preserve sua privacidade. Alguns usos como lavanderia e área de estudos, por exemplo ganham muito mais força quando podem ser divididas em mais pessoas. Desta forma, pretende-se refletir sobre formas de morar mais em acordo com o cotidiano contemporâneo, que sofreu grandes alterações desde a construção do edifício. Para conectar as co-habitações será construída uma passarela metálica com estrutura leve, como uma área comum para o condomínio.  

 

 

 

corte 1 Planta terreo  Perspec cohabitaçãoImagem 3

Apresentação