Mergulho
A deriva está na gênese deste trabalho. A partir dessa vontade de percorrer os caminhos da cidade nos deparamos com um dos seus elementos mais marcantes na sua paisagem, o muro. Este que aparece ora como elemento muito marcante, ora como elemento pouco notado, seja pelo desnível de um ponto ao outro, seja por qualquer bloqueio à passagem do pedestre. Na cidade de São Paulo, com sua multiplicidade de espaços, o que mais nos intrigou e tornou-se o objeto de estudo deste trabalho, foi a Avenida 23 de maio.
Na primeira etapa do trabalho, debruçamos sobre uma bibliografia que nos auxiliasse com subsídios teóricos para entender a Avenida 23 de Maio. Entender a 23 de Maio como um todo, que se constitui com um muro, uma grande cicatriz urbana que aparta a cidade, tanto para carros como para pedestres. Leituras de espaço, como o de Bernardo Secchi e Paula Viganó, Rem Koolhaas e Nelson Brissac Peixoto foram cruciais para esta análise.
Buscando além de conhecer a história dessa avenida e conseguir tecer comparações de grandes anormalidades em outros lugares do mundo e como ela se consolida, visamos conhecer sua essência. Nos utilizando para isso de mapeamentos que analisavam a presença e a quantidade de suas áreas residuais, de cortes que para entender como se dava seu funcionamento e também através de leitura dos decibéis que sua via atinge, sendo este um dos piores desconfortos sofridos durante o seu caminhar.
Procuramos, portanto, nesta entrega, transmitir o sentimento de aversão que a avenida 23 de maio provoca aos que por ali passam, pois ela se forma negando quase que por absoluto a coexistência com o pedestre, transformando-se assim em um espaço desprovido de humanidade e receptibilidade para o caminhar.
Da barreira à permanência
Este trabalho foi inspirado inicialmente pela Teoria da Deriva de Guy Debord, ela nos moveu a analisar a malha da cidade para tensionar a relação entre pedestre e espaço.
Nos debruçamos sobre uma das maiores avenidas da cidade, uma que nega quase por completo a existência do transeunte como possibilidade, a Avenida 23 de Maio em São Paulo. Numa análise mais a fundo, realizamos uma experiência de deriva onde percebemos a quantidade de barreiras que a cidade de São Paulo e em específico a 23 de Maio apresenta aos seus pedestres.
Como suporte, usamos três trabalhos de teóricos de diferentes áreas, Nelson brissac em paisagens urbanas traz uma perspectiva teórica sobre o conceito de muros e barreiras, Secchi e Viganó trazem o conceito de Isotropia das cidade e Koolhaas em “Exodus” apresenta uma proposta conceito-projetual do muro como elemento de cidade a partir da análise do muro de Berlin.
A partir dos conceitos destes teóricos, o trabalho se constrói como uma provocação, uma intervenção na 23 de Maio que questiona a falta de permeabilidade e permanência no seu cotidiano.
Pensar no cotidiano nos levou como arquitetos e urbanistas em formação a pensar nos indivíduos dentro da trama do tecido urbano que tivessem um olhar próprio e investigativo da cidade.
Entre todos os agentes da cidade nos instigou o olhar do skatista. Foi a partir desta perspectiva que resolvemos trabalhar, um olhar que nos permite perceber esse andar à deriva na cidade, permitindo perder-se para encontrar-se, buscando na ação do skate as oportunidades próprias de cada espaço.
Como primeira aproximação desse estudo escolhemos a Praça Franklin Roosevelt por ser um espaço já conquistado pelos skatistas, para depois através de uma pesquisa de errância, aprofundar sobre o local ou desprender-se e ganhar a cidade e os percursos dos skatistas.
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