Cotidiano é o período no qual se dá a vivência entre o espaço e o tempo. Ele é vulnerável, transitório e maleável. Pode se alterar por motivos físicos, emocionais, econômicos, ambientais, políticos e sociais. Ao viver o cotidiano urbano, percebemos sua individualidade, uma falta de senso coletivo, ao mesmo tempo em que há uma certa falta de liberdade. O cotidiano acontece de maneira automatizada, sem domínio próprio, sem ofecer, no espaço público da cidade, possibilidade de uniões e trocas de experiências. O objetivo do nosso trabalho é, então, oferecer essa ocasião às pessoas que se cruzam diariamente nas ruas da cidade de São Paulo.
Com a intenção de escolher um espaço público com potencial de criar encontros, escolhemos o Vale do Anhangabaú, por ter um grande fluxo de pessoas, equipamentos urbanos (mobiliário, escadarias, iluminação), por ser uma área exclusivamente de pedestre, ter um evidente planejamento paisagístico e pela sua facilidade de acesso. Portanto, querendo interferir no cotidiano automatizado das pessoas que circulam na área, organizamos uma performance: criamos um espaço doméstico com o desenho de uma planta de um apartamento tipo, onde colocamos diversos móveis de papelão e uma atriz vivendo esse espaço.
Quando essa performance foi concluída, vimos que houve pouquíssima interação vinda das pessoas que passavam por alí e percebemos que as características do Vale do Anhangabaú não proporcionam uma interação coletiva. São vários motivos que impedem essa interacão: a ausência de comércio e residência em grande parte de sua extensão, o conflito social, a escala monumental, a carência de interação das fachadas dos edifícios. Esse espaço, apesar dos esforços de redesenho e qualificação, permanece como lugar de passagem, hostil e desconfortante para quem o atraversa.
Vimos, também, que a performance não possibilitou a interação, por causa de sua própria organização, mas só chamou atenção sem oferecer um espaço de confronto e diálogo entre os espectadores. As pessoas que estavam transitando não pararam, mas só olharam rapidamente na intervenção e continuaram em seus trajetos. Deste modo, achamos que, no espaço urbano de São Paulo, não faltam atividades, mas sim espaços favoráveis à interação. Nessa cidade enorme e caótica, sempre há eventos acontecendo e chamando atenção; o que é raro é um espaço para parar e descansar em uma situação de sociabilidade.
Procuramos mudar o meio de trabalho, buscando encontrar um novo local de estudo, cujo contexto possibilite a interação, além de repensar uma nova intervenção.
Escolhemos um lugar com caraterísticas diferentes: a Praça do Patriarca. A diferença entre o novo local e o Vale do Anhangabaú é evidente, não só pelo tamanho dos dois espaços, sendo o Vale dez vezes maior, mas sobretudo pelas qualidades e propriedades deles. O caráter de praça da Praça do Patriarca é sublinhado pelas fachadas mais ativas dos prédios do entorno, que convidam a uma permanência maior nesse lugar.
Procuramos então referências de intervenções de caráter social feitas por coletivos artísticos brasileiros: atividades e ideias que propõem intervalos no fluxo urbano e possibilidade de encontros entre os cotidianos individuais das pessoas, ações e objetos simples mas com um grande potencial de união.
As imagens tornam-se de novo, para nós, um meio de pesquisa lúdica das possíveis intervenções, uma ferramenta de imaginação de situações incomuns.
SEGUNDA ETAPA
grupo27entrega2
Do estado gasoso do cotidiano, revela-se o fenômeno natural, vulnerável e transitório que o compõe, caracterizando sua vivacidade na relação espaço-tempo, a qual justifica a prática individual e coletiva do ser, fazer e ter, refletidos nos espaços públicos e privados.
Tais espaços, são contextualizados por uma herança colonial de padrões e áreas pré-definidas, onde rua e casa não se completam e nem se legitimam a mesma hierarquia, visto que rua se designa ao cotidiano dos insolentes, e casa ao cotidiano dos civilizados, resultando em uma cidadania posta à mercê do espaço, e não da moral.
Desta imposição de significados, desvinculamos a rua como espaço público, no sentido de pertencer a todos e ser uma área de fração comum, gerando-se massas de espaços singulares e oprimidos, “ilhotas separadas“ que inibem a concepção de relações e espaços coerentes e totalizadores.
Assim, o cotidiano da sociedade reformula-se diariamente, despreocupados de que tão importante quanto os marcos regulatórios, empreendimentos imobiliários e contextos econômicos, é a atitude cotidiana da sociedade em decidir se abrir ao espaço público, de ter a rua e a casa como extensões umas das outras, de romper barreiras e limites que segreguem e desqualifiquem o cotidiano, afim de assumir que o meio faz as pessoas e as pessoas fazem o meio, um não inibe o outro, trata-se constantemente de uma frequência, e não apenas de um período.
TERCEIRA ETAPA
Cotidiano [s.m.]
Período no qual se dá a vivencia entre espaço e tempo.
Ao vivermos o cotidiano urbano, percebemos a individualidade que permeia as ruas e falta de senso coletivo e de liberdade que automatiza o mesmo, acarretando em espaços inférteis e inconscientes.
Com o propósito de investigar tal cenário, verificamos que muitos destes espaços acabam-se tornando espaços meramente de passagem, por mais que tenham características de permanência; os conflitos sociais, a falta de mobiliários, iluminação e atrativos desconfiguram estes espaços, atribuindo-os a espaços de passagens imediatas, com fluxos interruptos, sem ressaltar o alto potencial de encontro e interação que o espaço público deve por direito oferecer.
Para tanto, ao interferir no cotidiano do espaço público com o propósito de resgatar a vivacidade coletiva e consciente do mesmo, criamos um dispositivo atrativo e convidativo que causasse intervalos no fluxo urbano.
O dispositivo é um cubo de canos de PVC de 4m², decorado com tiras de tecido azul, então com características visuais que destoam completamente do cenário urbano, causando impacto e curiosidade de quem vê. Penduramos também algumas fotografias que nos mesmas tiramos, retratando a realidade diárias das ruas, onde as pessoas sempre estavam sozinhas, tanto em espaços de passagem, como em espaços de permanência. O cubo serviu para convidar as pessoas para tirarem uma foto, que posteriormente seriam publicadas em uma página do Facebook, gerando novos convívios, interações e intervalos conscientes no cotidiano urbano.
A intervenção foi realizada em quatro diferentes espaços, conduzidos da mesma forma e pelo mesmo tempo, escolhidos devidos as suas características:
Vale do Anhangabaú – espaço de passagem, em grande escala.
Praça do Patriarca – espaço de passagem, em pequena escala.
Praça da República– espaço de passagem e permanência em grande escala.
Pátio do Colégio – espaço de passagem e permanência em pequena escala.
As intervenções obtiveram grande êxito nos quatro lugares, cujas pessoas interagiam de forma natural e espontânea, curiosas pelo dispositivo, quebravam o fluxo automatizado para manifestar a disposição de interagir, usufruindo do espaço de forma consciente, fértil e coletiva.
A partir desta investigação, concluímos que a interação pública é possível tanto em espaços de passagem, quanto em espaços de permanência, e que a carência não se dá apenas pela ausência de mobiliários, comércios, fachadas ativas e tão pouco ás escalas, mas sim pela ausência de atividade que deixem o espaço público mais permeável á vida e as suas transformações.
Assumindo que cada lugar possui suas particularidades de público, de uso, de conflitos sociais e físicos, mas que todos possuem um grande potencial de fazer com que o espaço público não seja um cotidiano de passagem, distante do caráter acolhedor, coletivo e seguro que permeiam os espaços privados, mas sim que seja uma extensão do mesmo, porque no fim, a cidade se alimenta do todo.
APRESENTAÇÃO
Você precisa fazer login para comentar.