O E.V do primeiro semestre propõe como tema “modos de pensar, modos de fazer.” Em meio à crise mundial em relação aos refugiados, uma pesquisa foi desenvolvida com base nos centros de acolhida e os centros de referência para refugiados e imigrantes, para o maior entendimento do trajeto feito por eles ao chegarem no Brasil, que envolve além de assuntos imediatos como aonde podem vir a se instalar. Logo, nos deparamos com a questão de como é desenvolvida a habitação popular em São Paulo, principalmente para aqueles com baixa renda familiar, que é na maior parte das vezes, a situação apresentada pelos refugiados, que acabam indo se instalar na periferia.
Tendo em vista tais condições, foi firmada parceria com alguns dos centros de acolhimento aos refugiados, MISSÃO PAZ e a FLM, frente de luta por moradia, movimento social que defende moradia popular através da pratica da ocupação que é a apropriação de prédios desocupados. Esta parceria resultou na criação do GRIST, grupo de refugiados internacionais sem teto. O propósito do GRIST é estabelecer uma veia de entrada para facilitar a ambientação dos refugiados que se interessarem em morar ocupações. A entrada refugiados junto as ocupações oferece uma solução para famílias que buscam habitação de baixo custo na cidade, além de potencializar a integração e a troca de culturas devido à convivência em coletivo.
Situado no centro da cidade de São Paulo, bem servido de transportes públicos e rodeado de serviços, o edifício ocupado tem uma localização privilegiada. O terreno está esta entre a rua Álvaro de Carvalho e a Avenida 9 de Julho (que contem um importante corredor de ônibus), as estações de metro Republica e Anhangabaú estão próximas estando há cerca de 1,5 quilômetros de uma e 600 metros da outra. A entrada principal se da pela rua de trás (Álvaro de Carvalho), uma vez que a entrada original do prédio foi lacrada pela Prefeitura. Há um desnível de aproximadamente 15m entre uma rua e a outra.
Edifício de estilo Art Decò é datado de 1942 e foi construído pelo arquiteto Jaime Fonseca Rodrigues, inicialmente funcoinando como sede do INSS. O Presidente vigente, Getúlio Vargas inaugurou o prédio, havia inclusive um busto do presidente, mas foi roubado, infelizmente.
O prédio foi ocupado de 2001 à 2011, houve uma reintegração pacífica, sob promessa de regularização do edifício para HIS, porém, por conta da burocracia jurídica o prédio voltou a ser ocupado em outubro de 2016 e ainda se encontra assim, o movimento ainda espera pela regularização do edifício.
Atualmente, há uma cozinha na Ocupação do Hotel Cambrigde que produz bolos para revenda, eles custam R$14,00, a ideia é que o morador desempregado, refugiado ou não, compre esse bolo e café e vá vende-los na rua, como é comum nas estações de metrô ou em frente de obras.
A relação entre a ocupação 9 de Julho e o Cambridge é direta, ambos são ocupações do movimento MSTC, atualmente o Cambrigde está prestes a passar por uma reforma, pois já foi regularizado diante a prefeitura e só está esperando sair o financiamento da Caixa para iniciar as obras, todos os moradores deverão sair do edifício por tempo determinado e, nesse período, estes ficarão morando na 9 de Julho.
Foi compreendida a demanda por dispositivos/objetos que facilitem a inserção do imigrante no comercio ambulante e autônomo. O produto disto é a elaboração em conjunto de uma barraca efêmera que se coloca no contexto urbano, com atributos como baixo custo de produção, rapidez na montagem e desmontagem, facilidade de transportar em longas, medias e curtas distancias. Além disso, a barraca possui um caráter identificador capaz de criar um referencial na paisagem da cidade, potencializando o apelo das vendas e sugerindo uma modulação capaz de conectar essas barracas, formando um espaço de vendas, também conhecido como feirinhas.
As barraquinhas serão construídas em oficinas realizadas no novo espaço disponibilizado pela FLM na ocupação do antigo prédio do INSS na AV. 9 de Julho para atividades que envolvam marcenaria e carpintaria. O espaço da marcenaria não é voltado somente para as atividades do GRIST, mas para oferecer também a todos os moradores interessados a possibilidade de atender a demandas internas e externas por mobiliário, reparos, cenografias, etc, dando a chance aos moradores de produzirem uma nova fonte de renda.
A marcenaria tem uma localização privilegiada dentro da ocupação, esta bem no centro do edifício, de modo que é possível avista-la antes mesmo de entrar no prédio. O projeto de reforma cobiçado pelo movimento MSTC pretende transformar o quarto andar do edifício (entrada pela rua Álvaro de Carvalho), em um térreo de serviços, no qual se encontrariam a marcenaria, uma padaria, escritórios e etc. Nesse andar ainda se encontra um espaço para lavanderia, banheiro e uma futura quadra que o nosso grupo pretende produzir. Além disso a grande quantidade de áreas verdes que existe nesse andar permitem a realização de uma galeria urbana interessante e agradável.
A proposta de viabilidade do projeto passa por algumas etapas. A primeira foi a consolidação do espaço reservado pelo movimento em uma marcenaria funcional. Entende-se aí um processo de coleta de matéria prima, madeira, e ferramentas / maquinários para a construção das primeiras mesas prateleiras e armários. Este processo de coleta foi realizado através de doações, parcerias e campanha na internet. A estrutura dessa coleta de material envolve mapeamento e levantamento de parceiros para, a partir daí, coordenar logística de carretos de transporte. E, logicamente, criar um sistema que se auto-sustente, sempre repor as maderias usadas ou ir na fábrica de madeira mensalmente.
Uma campanha de arrecadação de ferramentas nas redes sociais nos rendeu diversos tipo de ferramentas manuais e até algumas máquinas, como uma lixadeira e duas furadeiras. Após um mês, muitas delas sumiram, pois o prédio está em obras e as pessoas que trabalham no mutirão estão usando as ferramentas, porém não as devolvem na marcenaria, o que gera um problema: o sumiço das ferramentas. É necessário pensar o que fazer para isso não voltar a se repetir, porque a marcenaria é um espaço de uso coletivo, portanto é preciso usa-la coletivamente. Mas de toda experiência fica uma lição e essa é nossa metodologia de projeto, fazemos na prática e se der errado, voltamos e refazemos até dar certo e funcionar perfeitamente.
A marcenaria já está sendo usada pelo movimento, estão reformando as janelas do edifício, o que mostra como o movimento quer se apresentar perante a sociedade, uma vez que as janelas pertencem a fachada e essa à cidade.
A criação da marcenaria abre um universo de possibilidade para a ocupação, fazendo com que os moradores possam construir e reformar os próprios móveis, podem ser dados cursos de capacitação ou de construção de mobiliário para áreas comuns do edifício e, o mais importante, devolver a cidadania dentro de cada integrante do movimento, que se perdeu ou nunca teve a chance de demonstrar diante das dificuldades da vida.
Criamos uma página no Facebook para divulgar esse trabalho, porque é fundamental que o projeto tenha ampla divulgação, muitas pessoas simpatizam com a causa da luta por moradia, mas não tomam conhecimento das iniciativas para ajudar de alguma maneira. Além disso, entendemos arquitetura como algo muito mais amplo que simplesmente um desenho bonito, é algo interdisciplinar e visa a viabilidade do projeto, por isso fazemos um trabalho de comunicação e, para tal, somos parte de um grupo muito maior que o presente no Estúdio Vertical. Temos amigos e colaboradores que participam ativamente das atividades que realizamos na ocupação, além dos próprios moradores, porque, sem eles, seria impossível viabilizar o projeto.
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