Etapa 01
Estou olhando este projeto. Projeto este que não me agrada nem por um único momento.
Não é como se o projeto estivesse ruim, no entanto, considerando o tempo que desprendi, não chegava a ser satisfatório. Talvez sentisse isto devido ao desgaste emocional que tive com o cliente, desgaste este que se mostrou na disposição das janelas, no caimento do telhado e o lugar onde ficou a cozinha.
Era uma pessoa boa, tinha iniciativa e trazia referencias (embora fossem do A&C *cof cof*). O calor era forte no escritório que estava aos poucos pagando.
Mas o vento batendo nas folhas de pacová que ele me deu lembravam me que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando calmo o horizonte.
Aquele belíssimo pacová me remetia a minha conduta que destoava do início da nossa relação, ainda amistosa. Conduta essa que se mostrou difícil, inflexível e condescendente diante de sua boa vontade. Quisera eu ter me dado conta disso diante as longas horas de trabalho na prancheta carregando tal sentimento na ponta do lápis. O vento mais úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim de um instante.
Continuei observando o projeto, sem encontrar aquela palavra que sintetizasse meu sentimento. Sentimento?
Mas afinal de contas por que agora consideraria ser sensível? Ora essa. Afinal o que queria?
Nada. Estava fatigado, desiludido.
Mal sabe fadiga essa, completamente contornável, que ela refletia uma má vontade em considerar minúcias apresentadas pelo generoso cliente. Criar um canal claro e transparente de comunicação, que evitasse ruídos e presunções, é mais do que um sinal de respeito pela própria pessoa, mas também aceitar seus desejos e vontades no momento em que são proferidas.
Tragicamente, seu cotidiano não está habituado com os encargos de manter uma constante conversa nos termos descritos anteriormente, tanto pela agressividade, quanto pela agilidade demandada na hora de realizar tais empreitadas. Isso encadeia uma forma de pensar diretamente vinculada a uma forma de fazer totalitária e excludente, que impede uma troca franca entre cliente e arquiteto.
A busca por essa troca sincera entre as duas personagens visa compreender as sensibilidades do cliente como fomento na concepção de um projeto pelo arquiteto, ainda que essa busca consiga alimentar a construção efetiva de um novo método ou até mesmo a sua comprovação a partir da execução de um projeto.
A pretexto do termino deste projeto, separamo-nos.
Um memorial descritivo autoconsciente foi o nosso adeus. Sabíamos que não nos veríamos mais, se não por acaso.
Mais que isso: que não queríamos nos rever.
E sabia também que carregaria comigo este peso adiante.
O calor se tornará mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas.
Quisera quando ele uma vez me disse da luz entrando pela cortina entendesse que se tratava de uma ambiência almejável em seu projeto.
Darcy.
Etapa 02
A inquietação do grupo em um primeiro momento, discutiu sobre o modo de fazer e o modo de pensar da produção arquitetônica. Diante de tantos modos de pensar já discutidos por cada um de nós só na vida académica, enxergávamos que os modos de fazer se distanciavam claramente desse modo de pensar sensível.
Entendemos que há uma grande barreira de se comunicar o projetar com um embasamento sensível sobre o modo de pensar aquele projeto, e que seria interessante discutir que ponte seria essa.
Para isso, entramos no modo de entender o cliente/usuario do que está a ser projetado, criar uma aproximação ao cliente – seja ele público ou privado – e uma relação de vivência com quem se quer construir. Traduzido em nossa primeira entrega como uma crônica, onde o cliente e arquiteto se mostram frustrados por essa falta de sensibilidade e correlação entre as sensibilidades dos dois.
Abraçamos a partir daquele momento, a questão da relação entre pra quem se vai projetar e o projetista, como fazer uma aproximação sensível que pode ser traduzida de maneira prática para o projeto.
Revisamos algumas pesquisas que já havíamos feito em outras situações, e resolvemos colocar em discussão e maior aprendizado, uma pesquisa que está sendo aplicada no momento para a construção da nova unidade do Sesc, no Campo Limpo.
Uma pesquisa que criou uma metodologia de interpretação – com o objetivo bem claro de quem é o cliente, quais os usuários, e qual o objetivo desse projeto – sobre os produtores culturais da área do Campo Limpo.
Usando essa pesquisa como exemplo de um método criado, resolvemos discutir as possibilidades de aplicação em diferentes objetivos, tanto culturais privados, como em áreas públicas, projetos multifamiliares, etc. Mas sabendo que aquela pesquisa já tinha grande embasamento e aplicação em um caso específico e que poderia ser discutida como método a ser aplicado antes de qualquer projeto.
O objetivo desse trabalho então é expor essa metodologia e continuar aplicando-a em diferentes eventos, para que posse ser definida a partir de criticas que teremos em prática.
O método criado a partir da junção interdisciplinar envolve ensinamentos arquitetônicos, urbanísticos e etnográficos. Visando um conhecimento mais sensível e aprofundado da área em que se pretende projetar, entendendo de uma maneira como os habitantes já se relacionam com aquele espaço e como isso seria traduzido para um novo projeto que irá ser daquele local e não só naquele local.
A metodologia foi criada em foco de uma construção cultural privada, portanto iniciamos um estudo sobre as territorialidade culturais já existentes no Campo Limpo. Que chamamos de constelações:
constelação pode aqui ser entendida como um campo de forças cujos funcionamentos possíveis seguem uma forma não linear, se espalhando pelo tempo e pelo espaço (MAIER, 2012). As estrelas, assim como as territorialidades, existem: dadas ou construídas, de forma independente de quem as olhe. O observador ao olhar identifica um conjunto que ele julga conter relações, e esse conjunto se torna um instrumento-guia para o percurso (Ibidem).
Portanto, o objetivo deste primeiro mapa — constelar — é dar a ver o contexto, a localização e as condições de inserção urbana dos espaços operados por cada territorialidade cultural que puder ser identificada como tal, descrevendo e analisando as lógicas e os fatores de acessibilidade, de proximidade e atração, ou de distância e afastamento relativo, que as presidem e as caracterizam. (Um conceito mais urbanístico)
O segundo olhar seria pro que definiu-se como Redes, que entende como essas territorialidade culturais encontradas se ligam e se relacionam. Entender quais são as interações entre/em cada territorialidade observando a troca de informações e seus ritos atribuídos, tanto operacional/cotidiano, constante/perene quanto transitório/efêmero. Verificar quais são seus arranjos e, principalmente, a que escalas se referem. intensificação essa, a partir de idas a campo e interação com os agentes culturais (Um conceito mais etnográfico)
Aplicação já em um caso específico pelo nosso grupo, evento Farinha com açúcar, no Sesc Campo limpo.
Relato de Campo: 2017_03_23_SESC campo limpo Local: SESC Campo Limpo Pesquisadores: Layla Kamilos, Gabriela Duarte, Marilia Serra, Pedro Norberto, Sofia Boldrini Data: 23/03/2017 Horário: das 17h às 23h Dia da Semana: Quinta-feira Palavras-Chave: Relato: A partir de uma busca na programação no site do SESC Campo Limpo, descobriu-se o evento do espetáculo Farinha com Açúcar ou Sobre a Sustança de Meninos e Homens, que a partir da materialidade cênica e poética, investiga a masculinidade negra periférica, idealizada pelo Coletivo Negro, grupo de afro-descentes que questionam o imaginário construído em relação ao negro brasileiro. Para chegar até a unidade do SESC Campo Limpo, foram usados dois trajetos distintos. O primeiro que partia do metrô república (linha amarela) e fazia a baldeação para pegar a linha lilás da CPTM, que era privilegiada por propiciar uma vista da cidade interessante em seu percurso. E o segundo que partira do Terminal Bandeira com sentindo Terminal Capelinha via Marginal, que apesar de lotado desde o terminal de partida proporcionou a experiência de ambulantes que vendiam “Água, pururuca! ”. Ambos, no entanto, com tempo de viagem aproximados de 1 hora. A medida que o destino se aproximava, nos dois trajetos, quantidade considerável de pessoas iam descendo, coisa que não estava acontecendo durante grande parte do percurso. No caminho do ponto de descida em direção ao SESC, optou-se por percorrer por meio Shopping Campo Limpo, que surpreendeu por sua dimensão e arquitetura. A direção até a unidade provisória foi uma só, sempre descendo os degraus do shopping, até que se alcançou o nível da rua, bem abaixo da cota de acesso. Ao andar permeando o gradio que envolve o espaço do SESC, notou-se uma grande movimentação de pessoas circulando e se apropriando daquele lugar e dos equipamentos ali disponíveis. Eram quadras poliesportivas onde jovens, das mais variadas idades, praticavam vôlei, basquete, jogavam futebol, andavam de skate. Eram adultos correndo ou fazendo powerwalk na pista de cooper e praticando ginástica funcional dentro de um container mais ao fundo do terreno. Eram idosos e casais passeando. Eram crianças aproveitando o xadrez gigante e as mesas de ping-pong. Assim que adentramos o terreno, em primeira instância avistou-se uma fila em frente a um stand que vendia itens do SESC e que se supôs estar vinculada a espera para retirada dos ingressos do evento. Havia uma discussão em torno das pessoas naquela fila e um staff do SESC tentava contornar a situação dizendo que “Sentia muito pelo transtorno, mas que uma escola havia reservado com antecedência, então caso houvesse espaço, seriam disponibilizados ingressos para as pessoas da fila. ” Uma dessas pessoas da fila comentou que trabalhara no SESC e que aquilo (essa situação de chegar conforme as informações divulgadas no evento, uma hora antes para retirada de ingressos, e não haver mais lugar disponível) era “bem do SESC fazer isso, mesmo! É porque eles acham que não vai ter público e aí chamam um monte de escolas. É claro que vai ter público, uma peça dessas, aqui, no Campo Limpo! ”. Observei ela mais uma vez questionando o staff sobre como era possível chegar (ambos olharam o relógio) 18:47 e não haver mais ingresso, sendo que a dita bilheteria abriria as 19 horas. Então apareceu mais um staff pedindo que a fila se deslocasse para frente do local da peça, uma tenda, envolta em uma lona impermeável branca. No entanto, chegando lá, a fila que estava na frente da lojinha já não era mais a mesma, pois estava desorganizada e com pessoas que nem sequer estavam na fila anterior, ou seja, virara bagunça. Visivelmente as pessoas que estavam ali para assistir a peça estavam nervosas, algumas inconformadas com tamanha falta de organização. Naquele momento, de nós cinco apenas um tinha entrada garantida por estar com sua câmera e, por conseqüência, ter convencido os organizadores que desejavam fazer o registro da peça. Vislumbrou-se, então, a possibilidade de não se fazer o relato a partir da peça. Parte do grupo resolveu ir buscar algo para comer e parte ficou na fila sem muito saber o que poderia acontecer no futuro. Estava muito frio e ventava bastante, talvez pela falta de uma arborização mais intensa e pelo fato de ser um local bem aberto, tornava um pouco desconfortável ficar na fila. Para consumir os produtos da comedoria, era necessário emitir uma ficha em um outro container que o da retirada do produto. Tinham 3 pessoas na nossa frente e foi rápido esse processo. O pão de queijo estava bem duro. Próximo a comedoria, estava acontecendo uma aula de dança e o único jovem e homem era um integrante do nosso grupo. A professora, vestida de trajes esportivos, falava ao microfone “1, 2, tchá tchá tchá“ enquanto ao fundo tocava uma música de ritmo latino. O sino em algum lugar perto avisava que eram 19 horas. Em uma cadeira de praia, próxima ao tabuleiro de xadrez, observava aquele espaço. As crianças, que ali brincavam, começaram uma discussão pelo/ por causa do jogo. A música da aula de dança, agora com um som mais distante, mudara o ritmo para eletrônico. Escuto uma das crianças perguntar para uma adulta que passava próxima a ela, “Moça, você joga?“ “Não“. Voltam a brigar “Sai fora, essa é a minha peça“, escuto com mais clareza, pelo tom alto com que discutiam. Olho no celular e são 19:53. No meio dessas observações, escuto o telefone tocar. Ali na fila, sentei-me no chão junto com mais uma integrante, enquanto prestávamos atenção nas conversas que nos rodeavam. Algumas pessoas vinham de muito longe para ver a peça e a fila aumenta. A escola chega e era o CIEJA (Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos). Um grupo de três jovens negros, à nossa frente, conversavam sobre como uma das meninas era muito bonita, “deusa“ e exaltavam traços físicos tipicamente negros da moça e, nesse sentido, revelava o quanto valorizavam essa beleza característica, mas sem deixar de sempre fazer graças e tentar estabelecer um contato visual. Já o grupo atrás da gente de, aproximadamente, 6 pessoas, sendo apenas uma branca, que parecia até gringa, conversavam sobre o frio, sobre arte, sobre apresentações... Correspondendo o contato visual, conhecemos Elias, estudante de direito no Mackenzie, Tamires e Solange. Ficamos bem entretidos ali e, ao longo de nossas conversas, havia grande valorização da cultura negra. Percebendo que aquela parte do grupo que tinha ido comer não havia retornado ainda e estava ficando próximo das 20 horas, uma das integrantes, a fim de encontrá-las, saiu da fila. Encontrando uma integrante apenas, resolve voltar para fila com ela e, chegando lá, os ingressos já tinham sido distribuídos. A outra integrante, por ter permanecido na fila nesse meio tempo, conseguira o seu, restando para as outras duas a única alternativa de ir para o final da fila. Elias, inconformado com tamanha injustiça (de ter que ir para o final da fila sendo que a integrante estava lá, com ele, antes das muitas pessoas que, agora, estavam bem a sua frente), começou a defendê-la fervorosamente. Ainda que a staff do Sesc e as pessoas que a integrante estava na frente fossem empáticos com Elias, não havia como explicar isso para o resto da fila e, portanto, não havia o que ser feito. Olho no relógio, 20 horas, a peça iria começar, a última integrante chega e comenta o fato de um dos integrantes ter ligado para ela a fim de que ela voltasse para fila, pois os ingressos estavam sendo distribuídos. A par de toda essa situação, ficamos nós 3 esperando para ver se conseguiríamos entrar. A primeira chamada para “Farinha com açúcar“ soa e me coloco em outra fila para entrar, de lá, observo Elias defendendo a causa da nossa integrante, sem sucesso. Resolve-se, por isso, dividir o grupo, contentando-nos com o fato de que uma parte teria a experiência da peça e a outra parte outra experiência que fosse. A segunda chamada soa e adentra-se no galpão- teatro. O local do espetáculo era a tenda com suas limitações de estrutura, arquibancada estruturada a partir de andaimes, e localização. A relação palco plateia é quase diluída, por não haver palco e a capacidade era de 80 espectadores + produção. Só havia lugares na primeira fileira e a maioria das pessoas ali presentes eram os alunos do CIEJA, homens e mulheres com mais de 40 anos, majoritariamente negros. Pouco antes de a peça começar, avisaram-nos para não esticar as pernas, pois o ator principal se movimentaria bem próximo a nós, afinal o espaço do galpão era pequeno. Um metro de distância separavam os primeiros elementos do cenário, dois conjuntos de peças de roupa no chão e placas de madeira com um escrito que dizia “Por que o senhor atirou em mim?“, e o lugar que sentava. A peça começara. Primeiramente os músicos se posicionaram: bateria, baixo, teclado, guitarra, DJ, então, com as luzes ainda baixa, entrava em cena o ator principal e vocalista, trajando branco. Tratava-se de um monólogo musical, misturando fala, RAP e a música dos Racionais. Começando com os depoimentos de 12 homens negros da periferia de diferentes idades transformados em um só discurso, terminava com música e interação com a plateia, que se divertia. A peça se desdobrava em três momentos de grande impacto intervalados por um mesmo silêncio absoluto, o primeiro, no qual as placas de madeira eram derrubadas e, no lugar, se revelavam flores e velas, simbolizando túmulos daqueles que foram mortos. O segundo, o protagonista distribuía uma grande quantidade de legumes frescos e, num momento de revolta, atirava-os ao chão e o cheiro daquilo pairou até o final da peça. E num terceiro, que a partir de um jogo de luz e percussão juntamente com as frases “Será que ele merecia?” e “podia ter acontecido com você vindo para cá ou saindo daqui” proferidas diversas vezes, promoviam uma reflexão acerca da questão apresentada na peça e, também, uma empatia a partir da representatividade contemplada pela platéia. Com aproximadamente uma hora e meia de duração, a peça acaba e os atores/ músicos agradecem ao som de longos aplausos. Algumas pessoas que chegavam, simplesmente entravam, “contatos“, pensamos. Umas 10 pessoas a nossa frente conseguiram entrar e, foi então, que comunicaram a nós 3 e mais 30 pessoas, que ainda estavam na fila, que não havia mais ingressos a serem distribuídos. Várias reclamações e críticas foram proferidas ao organizador que trouxe a notícia. Resolvemos passear pelo espaço uma última vez antes de fazermos o caminho de volta para a Escola. Do lado de fora, dava para escutar a trilha sonora dos Racionais que vinha do espetáculo e lamentamos estar perdendo e depois seguimos para a Estação Campo Limpo da CPTM. Procuro o outro integrante, que durante a peça esteve tirando fotos, para voltarmos juntos. Vamos ao encontro de Elias e Tamires, que nos receberam com sorrisos e nos convidam para ir no “slack“. Saindo do portão principal do SESC, o mesmo que usamos para entrar, havia um slackline posicionado entre os postes na frente do parklet, próximo a esse portão. Lá, um grupo de jovens do bairro conversava. Tínhamos um pouco de pressa para ir até a Estação, pois seria uma longa viagem até nossas respectivas casas. Tratamos de nos despedir deles dois e, após algumas tentativas, atravessamos a rua.
A partir de várias idas a campo, para eventos diferentes, o objetivo é mapear e sistematizar os TIPOS dos espaços onde se dá a produção cultural coletiva no território do Campo Limpo. A noção de tipo serve aqui, portanto, para identificar, caracterizar e agrupar, em séries pertinentes, as estruturas morfológicas da cidade e dos edifícios que, reconhecidas e enunciáveis em termos de geometria, dimensão e uso, constituem o(s) “lugar(es)” de operação cada territorialidade cultural.
Gregotti (1975) propõe que "[...] o conceito de tipo tende a organizar a experiência segundo esquemas que permitam sua operabilidade (cognitiva e construtiva), reduzindo a um número finito de casos (enquanto esquemas mais ou menos amplos) a infinidade de fenômenos possíveis". Trata-se de configuração (espacial dimensional, geométrica e construtiva) dos lugares (rua, praça, quadra, galpão etc.) onde se dá a produção cultural coletiva, propriamente dita.
1. ficha descritiva e gráfica de cada situação espacial, remarcando suas dimensões métricas (área e comprimento ou profundidade desde um ponto dado), operativas (circuitos e uxos) e funcionais (uso do solo na vizinhança imediata);
A questão que se apresenta objetivamente para esta pesquisa é “provocar” o projeto arquitetônico no sentido de que esta não seja apenas “no” mas também “do”, onde a transposição/ponte para atravessar a barreira do modo de pensar e modo de fazer, criando assim a ligação entre o embasamento sensível de uma pesquisa do cliente/usuário e o projeto.
Todas as informações na pesquisa aplicada ao Sesc até o momento estão no site a seguir:
http://www.ct-escoladacidade.org/sesc-campo-limpo-3/pesquisa/
Etapa 03
“No ideário moderno, o arquiteto que cede a anseios estilísticos do cliente será malvisto pelos colegas. A maior ou menor autonomia que exibe em seus projetos é um índice de seu prestígio e lugar no campo arquitetônico: o arquiteto bem-sucedido imprime a sua marca aos clientes. Estes, por seu turno, passam a disputar a grife de um arquiteto famoso como aval para as suas realizações. No “contrato” de um bom cliente com um arquiteto famoso, é feito um acordo mútuo, lucrativo para ambas as partes: o cliente fornece meios para que o arquiteto exercite a sua capacidade de criar formas e se afirme entre os colegas. O arquiteto, no papel de “tradutor espacial” de sonhos preexistentes, forneceria a chance de bom-gosto, arrojo e criatividade ao sonho alheio. (…) a descoberta de uma das falhas mais graves que pode ter um arquiteto aos olhos de outro: procurar atender aos anseios do cliente(…) Podemos inferir que o arquiteto que não é reconhecido como dominante somente consegue ter autonomia, ou melhor, guardar observância aos códigos valorizados em seu métier, em projetos regidos por outras lógicas – parentesco, amizade- que aquelas corriqueiras de mercado.”
CAVALCANTI, Lauro. Moderno e brasileiro: A história de uma nova linguagem na arquitetura (1930-60). 1. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. pp. 113.
O trecho de Lauro Cavalcanti acima expõe a inquietação inicial do grupo e justifica a escolha pelo método de pesquisa que está sendo aplicado na construção da nova unidade no Sesc Campo Limpo, uma vez que se busca discutir o modo de fazer e o modo de se pensar a arquitetura.
Nessa etapa de trabalho, revelou-se necessário detalhar a pesquisa, previamente já apresentada, passo por passo, a fim de se registrar minuciosamente esse método e seus agentes.
O esforço de inserir as etapas do método em um contexto geral, de abrir toda a pesquisa, sem filtrá-la, mostrando todos seus passos e a abertura deles no método para assim revisar o que se considera importante, promoveu discussões sobre a diagramação desse panorama e as implicações de suas formas (como elas ajudam a compreender o método). Ao se pensar como se colocam as partes em um todo, gera-se um raciocínio lógico, de tempo e produção, na prancha, sendo as formas desse diagrama as responsáveis por relacionar as etapas que foram feitas antes com as que foram feitas depois. Assim, esse esforço também revelou-se importante por trazer luz para a questão sobre ter completo conhecimento do método, pois uma vez não se tendo controle de seu funcionamento em seu amplo contexto dificulta-se o seu próprio entendimento.
Essa etapa, também, foi fundamental para perceber quais eram as ações realizadas diante do método e como isso contribui para análisá-lo melhor, podendo retornar a ele com o resultado final, observando, então, como ele se aplica nas fases do processo e se o significado disso é positivo, no sentido de perceber conclusões, sem necessariamente estarem vinculadas a um “fim”, entendendo tudo o que foi feito até então.
Nesse sentido, o trabalho caminha para, a partir dessa discussão e do registro dessa pesquisa, construir conjuntamente uma leitura apurada sobre o que isso representa no modo de fazer e de pensar a produção arquitônica. A leitura, dessa maneira, ao ser realizada em cima de uma pesquisa onde se está constantemente vislumbrando um modo de pensar e fazer o projeto, por sua vez, revela o seu caráter de que talvez esse modo de fazer não se aplique a um projeto, mas sim de fazer essa pesquisa algo relevante para quem é pesquisado, o que enfatizaria ainda mais o notável abismo entre o modo de fazer e pensar de um arquiteto ao enfrentar o projeto e a pesquisa.
Timelapse – montagem diagrama:
https://www.youtube.com/watch?v=9jEYP_9C1qE&feature=youtu.be
Etapa 04 – Final
Pesquisa, projeto
Cliente, arquiteto
“Com a consciência limpa termino minha proposta. Está em suas mãos a responsabilidade de decidir entre os caminhos. De um lado eu me coloco, não só, mas como representante dos arquitetos brasileiros, defendendo a economia, a ordem e acima de tudo, o futuro. De outro lado o empirismo, a reação a imprevisão. Qualquer solução que você venha a dar não mudará as relações entre nós, nem a opinião futura sobre o que eu acabo de escrever. Se o prédio for bom, bem projetado, bem planejado, por um bom arquiteto, você gostará, todos gostarão; se ele não prestar, se custar muito, se não funcionar, se for feio ou sem personalidade, sem valor artístico, sem plano nenhum; o resultado será o mesmo. Em todos os dois casos você adquirirá experiência e acabará por trabalhar sempre do meu lado e com os meus argumentos. Nós venceremos sempre como eu queria demonstrar.”
J. B. V. Artigas, em Carta ao cliente
Ao sermos apresentados com o tema “Modos de fazer, modos de pensar” do Estúdio Vertical deste semestre, refletimos sobre diversas formas de abordar o assunto. A partir de uma inquietação do grupo a respeito da relação entre arquitetx(s) e cliente(s) e a tradução dos desejos e demandas deste(s) em arquitetura, escrevemos uma crônica. O texto acompanha Darcy, um arquitetx frustradx que, ao reconhecer sua própria frustração frente a criação e execução de um projeto para um determinado cliente, reflete sobre o que poderia ter sido diferente durante esse processo de conversa. Assim começaríamos nossos estudos do EV.
Após essa primeira abordagem, levantamos projetos/trabalhos que se vinculassem a essa inquietação, a fim de se discutir como se continuaria o trabalho. Dessa premissa, consideramos então os trabalhos do USINA, do Grupo de Pesquisa da Escola da Cidade (GPEC); de outros EVs (tanto de alguns dos integrantes do grupo, quanto de outros alunos da instituição) e por último, o Trabalho de Conclusão (TC) da ex-aluna Paula W. Melardi. Como base para discussão, decidimos utilizar a metodologia de pesquisa desenvolvida pelo GPEC para o projeto do Sesc Campo Limpo.
Essa decisão se deu por diversos motivos, tais como o fato de ser um trabalho já desenvolvido, contar com o envolvimento de dois integrantes do grupo com a pesquisa e, portanto, possibilitar acesso direto ao conteúdo e, também, pelo fato
de o trabalho abordar com profundidade a relação com os usuários (produtores culturais) e o cliente Sesc.
Escolhido o trabalho a ser analisado, os integrantes do grupo que participam da pesquisa introduziram os outros às diferentes fases da metodologia e se iniciou uma imersão, em grupo, nas fases Redes/Tipos da pesquisa, com uma visita de campo à unidade do Sesc Campo Limpo. Produzimos então um relato de campo, respectivo a parte etnográfica do método; uma ficha descritiva e gráfica, que descrevia o espaço de manifestação cultural por planta, corte, perspectiva e um relatório descritivo de acordo com o método etnográfico previsto em pesquisa.
Porém, após a apresentação, o grupo sentiu a necessidade de desdobrar e analisar minuciosamente o método, em todos os seus aspectos, a fim de que seus mecanismos pudessem ser vistos/revistos pelo grupo. Assim, durante esse processo, chegamos ao consenso de que um diagrama/mapa interativo seria a melhor forma/ferramenta para demonstrar as conexões e relações nele contidas.
Para, dessa maneira, destrinchar e expor o método em todas as suas partes, lançando-se questões sobre o seu funcionamento, a sua forma de aplicação, além da questão inicial que envolve o EV: como o arquitetx pode traduzir/transpor as vontades e demandas do cliente/usuário para a contribuição do projeto?
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