Etapa 1
O trabalho propõe a pesquisa de parques de diversões e sua relação com o espaço urbano, com o intuito de investigar o parque de diversão como um possível laboratório de cidade.–
Etapa 2
Pensar e fazer arquitetura pode se dar pela maneira mais lógica e racional. Isto é, aprender a pensar e fazer através dos grandes exemplos da história. Os que fizeram o uso racional do material, os que entenderam de maneira mais sensível o que significava o seu gesto, o contexto do projeto, suas implicações. É um raciocínio lógico: aprender para replicar aquilo que deu certo. Porém, o grupo não acredita que esse seja o único caminho para o êxito tanto em projeto de arquitetura quanto de cidade. Sendo assim, abriu-se um caminho: a partir da análise de Rem Koolhaasde que os parques de diversões de Coney Island foram palco para diversos testes arquitetônico antes de serem aplicados na cidade, ou seja, serviu propriamente como um laboratório, o grupo entende que objetos fantásticos, ligados diretamente ao desejo humano são passivos de análise critica. O fantástico, na cidade, opera, quase que na sua maioria, sob o aspecto do contraexemplo: daquilo que esteticamente é duvidoso, que tem propósitos outros além de cumprir com um programa lógico e direto. Esses objetos podem ser muitos: como já citado o parque de diversões, os motéis, igrejas, shoppings center., etc.
Muitas vezes, tais estabelecimentos operam sob a regra da sedução, são espaços absolutamente outros, como vai dizer Foucault , ou seja, são objetos que não impressionam somente por sua monumentalidade, textura, ou uso de materiais, mas também por sua subjetividade como símbolo. Decidiu-se então tomar o fantástico como uma maneira de pensar a cidade, muito mais sob o aspecto dele como objeto do que ele em um contexto maior, histórico ou social.
Uma vez que a cidade já é formada por inúmeros signos fantásticos, foi preciso escolher um para que, a partir dele, entendêssemos essa via de mão dupla entre cidade e objeto.
Templo de Salomão: o lugar de São Paulo mais envolto dentro de mitos, histórias criadas por pessoas que desejam entender aquele fenômeno que aqui pode-se entender como fantástico. Um ato natural: uma vez que não frequentamos tal lugar ou teoria, inventamos uma realidade para que durmamos em paz. Mitos? São vários: de que só é possível o acesso àquele lugar usando um automóvel, existe uma plantação de trigo lá dentro, é preciso pagar para entrar no Templo, etc.
Visto que o Templo de Salomão funciona como um sistema de comunicação (os elementos dele, como objeto, o explica como fenômeno) queremos entender como que suas partes o explica como objeto para, posteriormente, estudar como que ele pode servir como objeto crítico da cidade de São Paulo. Vale frisar que não esta em jogo aqui a moralidade que, evidentemente, permeia esse projeto. O grupo entende que a moralidade da propaganda comercial, o jogo de interesses e que certas questões políticas podem ter tido efeito no trabalho sintético do arquiteto. Porém, este não é um território que queremos adentrar uma vez que se trata muito mais de um estudo de método do que de conteúdo.
O modo (fantástico) de fazer arquitetura e cidade tem muito mais a ver com a atual produção de cidade do que imaginamos. A retomada do olhar para uma arquitetura surreal e sedutora é fundamental para a compreensão do contexto urbano atual de São Paulo uma vez que a cidade pode ser, em certos momentos, muito mais um fenômeno de comunicação de seus signos do que um episódio lógico e programático.
Etapa 3
Mapeamento textual
Chega-se ao Templo de Salomão de muitas maneiras. Há diversas linhas de ônibus na Celso Garcia, há a estação Bresser Mooca e há, principalmente, um grande estacionamento com capacidade para cerca de 3 mil carros em seu subsolo e num pequeno edifício garagem nas costas do Templo. Independente da maneira como nos aproximamos, O Templo chama a atenção por destoar (em escala e arquitetura) do restante do antigo bairro do Belém. O lugar é inconfundível.
O Templo de Salomão encara diariamente uma pequena Igreja católica, do outro lado da rua. A Igreja fica pequena perto dele, assim como a outra unidade da Universal na quadra ao lado. A impressão ao encarar o Templo é que ele brilha em meio ao cinza do Belém. Por trás das grades pretas e douradas há um grande recuo frontal, fundamental para a ampla visual do edifício. A rua é intensa, movimentada, cheia, pessoas vão e vem, aparentemente habituadas ao monumento que as ilumina. Entra-se no Templo de duas maneiras: de carro, pelo estacionamento, e à pé, pela esplanada frontal. Quem vem a pé sobe à esplanada para depois descer um pavimento ao estacionamento. Lá se encontra quem chegou de carro, pela rua lateral. Há dois momentos antes de se acessar o salão principal. O primeiro, para deixar os pertences (eletrônicos são expressamente proibidos), e o outro, para a revista. Não há imagens de dentro do Templo disponíveis para além daquelas fornecidas para a televisão. Após a revista sobe-se um lance de escadas. No pequeno hall, seguranças e leviatãs orientam a pequena multidão. Enfim entra-se no grande vão. A iluminação contrasta com o estacionamento, o brilho é tão forte que tem-se a impressão de estar enxergando melhor. Há 9.950 poltronas dentro do imenso salão. Aos domingos, alguns fiéis assistem ao culto em pé. Os gigantes adornos fazem referência aos símbolos do antigo testamento. Candelabros, cortinas vermelhas, um enorme “Santuário do Senhor” e dois telões, tudo acompanhado de tinta dourada, recebem aqueles que se espalham nas poltronas vermelhas importadas. O bispo pode ser visto no telão. Ele já está falando. O comportamento de cada indivíduo está sob intensa observação dos funcionários dispersos no espaço e dos próprios fiéis. Para quem saí antes do culto terminar, há uma pequena porta na lateral do salão, onde há um elevador para um total de 6 pessoas.
A saída ao final do culto é pela lateral do edifício, em direção ao pátio frontal. O fluxo da saída confunde-se com o de entrada: é necessário retornar ao subsolo para se recuperar os pertences deixados na entrada. Mais uma vez se desce ao estacionamento. Poucos minutos atrás, estavam todos no pavimento acima. Entre o estacionamento e o salão dourado, uma fina camada de concreto.
Etapa 4
O seguinte projeto foi imaginado dentro da matéria de Estúdio Vertical na Escola da Cidade. Tal espaço é dedicado para que os alunos de diferentes anos apresentem uma análise/projeto dentro de um tema proposto a cada semestre. O tema do projeto proposto aqui é Modos de Pensar, Modos de Fazer no que, depois de 5 meses de analises, o grupo composto por Gabriella Gonçalles, Lara Girardi, Laura Pappalardo, Sofia Borges e Tali Liberman pensou que o Templo de Salomão seria um bom objeto de estudo. Tudo começou assim: queríamos mostrar que o exemplo para um “fazer e pensar” a arquitetura podia vir não só de grandes projetos de arquitetura, grandes exemplos da história. Os que fizeram o uso racional do material, os que entenderam de maneira mais sensível o que significava o seu gesto, o contexto do projeto, suas implicações. É um raciocínio lógico: aprender para replicar aquilo que deu certo. Porém, o grupo não acredita que esse seja o único caminho para o êxito, tanto em projeto de arquitetura quanto de cidade. Sendo assim, abriu-se um caminho: a partir da análise de Rem Koolhaas de que os parques de diversões de Coney Island foram palco para diversos testes arquitetônicos antes de serem aplicados na cidade, ou seja, serviu propriamente como um laboratório, o grupo entende que objetos fantásticos, ligados diretamente ao desejo humano, são passíveis de análise critica. O fantástico, na cidade, opera, em geral, sob o aspecto do contraexemplo: daquilo que esteticamente é duvidoso, que tem propósitos outros além de cumprir um programa lógico e direto. Esses objetos podem ser muitos: o já citado parque de diversões, os motéis, igrejas, shopping center., etc. Muitas vezes, tais estabelecimentos se dão pelo viés da sedução, são espaços absolutamente outros, como vai dizia Foucault , ou seja, são objetos que não impressionam somente por sua monumentalidade, textura ou uso de materiais, mas também por sua subjetividade como símbolo. Decidiu-se então tomar o fantástico como uma maneira de pensar a cidade, muito mais sob o aspecto dele como objeto do que ele em um contexto maior, histórico ou social. Uma vez que a cidade já é formada por inúmeros signos fantásticos, foi preciso escolher um para que, a partir dele, entendêssemos essa via de mão dupla entre cidade e objeto. Templo de Salomão: o lugar de São Paulo mais envolto em mitos, criados por pessoas que desejam entender aquele fenômeno que aqui estamos chamando de fantástico. Um ato natural: uma vez que não frequentamos tal lugar ou teoria, inventamos uma realidade para que durmamos em paz. Mitos? São vários: de que só é possível o acesso àquele lugar usando um automóvel, de que existe uma plantação de trigo lá dentro, de que é preciso pagar para entrar no Templo, etc. Visto que o Templo de Salomão funciona como um sistema de comunicação (os elementos dele, como objeto, o explicam como fenômeno) na análise entendemos como suas partes o explicam como objeto para estudar como que ele pode servir como objeto crítico da cidade de São Paulo. Vale frisar que não estão em jogo aqui os valores estéticos ou religiosos que, evidentemente, permeiam esse projeto. O grupo entende que a moralidade da propaganda comercial, o jogo de interesses e as questões políticas podem ter tido efeito no trabalho sintético do arquiteto. Porém, este não é um território que queremos adentrar, uma vez que se trata muito mais de um estudo de método do que de conteúdo. O modo (fantástico) de fazer arquitetura e cidade tem muito mais a ver com a atual produção de cidade do que imaginamos. A retomada do olhar para uma arquitetura surreal e sedutora é fundamental para a compreensão do contexto urbano atual de São Paulo, uma vez que a cidade pode ser, em certos momentos, muito mais um fenômeno de comunicação de seus signos do que um episódio lógico e programático.
https://sofiavillela.wixsite.com/templao
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