PEGUEI MINHAS COISAS FUI EMBORA
No Brasil, vivem atualmente mais de 8.800 pessoas em condição de Refugio internacional, ao todo de 79 diferentes nacionalidades, sendo as maiores comunidades originárias de Síria, Angola, Colômbia, República Democrática do Congo, Haiti e Palestina.
Na pratica o período de chegada e adaptação dos indivíduos e famílias no novo país encontra três barreiras fundamentais: IDIOMA, HABITAÇÃO E TRABALHO.
Tendo em vista tais condições, foi firmada parceria entre um dos centros de acolhimento ao refugiado, MISSÃO PAZ e a FLM, frente de luta por moradia, movimento social que defende moradia popular no centro de SP através de diversas disputas urbanas envolvendo a ocupação e apropriação de prédios em condição ociosa.
Esta parceria resultou na criação do GRIST, grupo de refugiados internacionais sem teto. o proposito do GRIST é estabelecer uma veia de entrada especializada no tema facilitando a ambientação do refugiado que se interessar em morar com os movimentos de moradia do centro. Os encontros são realizados aos sábados e articulados por um grupo de colaboradores voluntários de diferentes segmentos e saberes.
A incorporação dos refugiados junto as ocupações oferece uma solução para famílias que buscam habitação de baixo custo na zona central da cidade, além de potencializar a integração e a troca de culturas devido a convivência em coletivo com brasileiros e outros estrangeiros.
O projeto da Marcenaria surgiu com o intuito de complementar as dinâmicas realizadas no GRIST. A ideia é integrar as discussões a cerca das barreiras mais urgentes que o refugiado enfrenta ao chegar em SP (idioma, habitação e trabalho) intervindo na questão do trabalho e produção de fonte de renda.
Foi particularmente compreendida a demanda por dispositos/objetos que facilitem a inserção do imigrante no comercio ambulante e autônomo. O produto disto é a elaboração em conjunto de uma barraca efêmera que se permeia no contexto urbano, com atributos como baixo custo de produção, rapidez na montagem e desmontagem, facilidade de transportar em longas, medias e curtas distancias carregando variados tipos de ofertas e também um caráter identificador capaz de criar um referencial na paisagem da cidade, potencializando o apelo das vendas e sugerindo uma modulação capaz de conectar essas barracas, formando um espaço de vendas, também conhecido como feirinhas.
Os carrinhos serão construídos através de oficinas realizadas no novo espaço disponibilizado pela FLM na ocupação do antigo prédio do INSS na AV. 9 de Julho para atividades que envolvam marcenaria e carpintaria. O espaço da marcenaria nao é voltado somente para as atividades do GRIST, mas para oferecer também a todos os moradores interessados a possibilidade atender a demandas internas e externas por mobiliário, reparos, cenografias etc. Dando a chance aos moradores produzirem uma nova fonte de renda.
Com a marcenaria inserida na ocupação os trabalhos de oficina de construção das barracas junto ao GRIST podem iniciar. Até lá nas reuniões do grupo serão discutidos coletivamente o desenho e a funcionalidade destas barraquinhas além da elaboração de uma exposição ao fim do semestre que pontue o trabalho realizado e comemore os produtos finais.
CONCLUSÃO – ENTREGA FINAL
A ideia de atuação no prédio ocupado pela FLM e pelo GRIST na Avenida Nove de Julho veio, inicialmente, por uma vontade de trabalhar com refugiados que chegavam na cidade de São Paulo e não encontravam por aqui alternativas de moradia e trabalho.
Ao se deparar com um momento de crise no país, somado à barreira da língua e também o preconceito racial, muitos imigrantes vêm no movimento de moradia e ocupação uma possibilidade de estabilização, e assim, integração nessa sociedade. A ocupação, em várias situações, faz as vezes de instituições sociais que não estão dando conta da quantidade de imigrantes que chegam na cidade: promovem a viabilidade de uma moradia e buscam criar oportunidades de geração de emprego e renda própria.
Entrando em contato com o movimento de moradia, particularmente o FLM + GRIST (que inclui refugiados nas ocupações), percebemos que uma rápida e efetiva possibilidade de geração de renda era a venda de produtos como bolo e café, produzidos no Hotel Cambrigde – ocupação conexa – em barraquinhas portáteis tipo ambulante. Como a circunstância era urgente, um trabalho informal era a alternativa que se mostrou mais lógica para ser o primeiro passo.
A partir dessa premissa, deselvolvemos dois protótipos de barraquinhas que foram recebidos no movimento com muita positividade, e assim fomos conduzidos à próxima questão: porque não produzir essas barraquinhas no próprio edifício da ocupação, ou melhor, porque todos os moradores não usufruírem de uma marcenaria instalada no prédio para executar não só as barraquinhas, mas qualquer mobiliário ou equipamento que for necessário?
Lavando essa questão nas reuniões do GRIST, em conversas com os cordenadores do movimento e os próprios moradores de ocupação, iniciamos a concretização do projeto de marcenaria em conjunto com vários outros programas coletivos e participativos que estavam sendo previstos para serem implantados nos espaços comuns do edifício.
Houve uma campanha de doações onde foram arrecadados diversos equipamentos, ferramentas e materiais, e durante mutirões e em junto à todos os participantes da ocupação, a consolidação do espaço se deu.
A marcenaria em construção não é um projeto que termina com o fim do semestre. Ao contrário, foi aí que ela se iniciou. Como o movimento de moradia, ela é uma ferramenta de transformação, e ambos trabalham em conjunto: quanto mais nasce uma comunidade ali, também nascem seus espaços e necessidades.
O restauro de um edifício vem com o trabalho de sua ruína, de ocupar o desocupado, e estar em constante mudança e construção. É nesse contexto que nasce essa marcenaria.
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