MPMF_G23

Etapa 01

A Imagem da Cidade

Entendemos que a construção atual da cidade de São Paulo, e o modo pelo qual ela se faz, decorre de instrumentos urbanísticos deturpados por interesses corporativos e de uma reprodução extensiva de produtos de consumo pelo território: a imagem da cidade se constrói principalmente através destes objetos edificados e é sobre eles que nos debruçaremos.

A primeira etapa do presente exercício tem como premissa analisar 3 edifícios produzidos por setores do mercado imobiliário na cidade de São Paulo, a partir do que de fato constitui a primeira impressão para com a sociedade: sua pele; superfície sobre a qual se estira toda uma linguagem arquitetônica, cujos elementos são objetos de nosso primeiro interesse.

O uso irrestrito destas ferramentas constitui o que vemos pelo “excesso figurativo em arquitetura, no qual a cidade – entendida como res publica, como coisa pública e, portanto, comum por excelência – é a vítima.” (AURELI, 2009) A cidade passa a condecorar monumentos de um ideário perpetuado pela elite econômica, sua construtora de fato.

O exercício deve, por fim, estabelecer diretrizes para continuação do trabalho no sentido de consolidar uma crítica ao desenho da cidade e à relação inerente do arquiteto com o sistema de poder.

 

Max Haus

Avenida Monfarrej, 1500 – Vila Leopoldina, São Paulo. 3 torres, 496 apartamentos. 3 tipologias: 140m2, 210m2 e 280m2. Planta livre. Tecnologias controladas por aplicativo: cozinha, banheiros, elevadores, portas, iluminação e som. Áreas de lazer: lobby, academia, maxcafé com wifi e lavanderia. Serviços de condomínio: sistema de carro compartilhado e pay-per use de limpeza.

Smart Santa Cecília

Avenida Duque de Caxias, 61 – Santa Cecília, São Paulo. 3 tipologias: 26 m2, 36m2 e 52m2; 1 ou 2 dormitórios. Área de lazer: bar, academia, lounge, piscina, salão de festas e terraço/solário. Compartilhamento: lavanderia, 1 carro para uso dos moradores, 1 manobrista, 10 bicicletas comuns, 2 bicicletas elétricas, bicicletário, espaço para co-working, internet por fibra ótica e wifi em todas as áreas comuns. Unidade mobiliada para acomodar visitantes. Aplicativo para reserva dos itens compartilhados.

106 Seridó

Rua Seridó, 106 – Jardim Europa, São Paulo. 2 torres; 31 andares; 2 apartamentos por andar. Tipologia simples: 412 m2, 511 m2.Tipologia duplex: 764 m2, 958 m2. 5-8 vagas por apartamento. Áreas de lazer: ampla academia, piscina com raia de 25 m, piscina recreativa, salão de festas, praças, quadra de tênis de saibro, quadra de futebol, SPA oferecido pelo 106 Health & Club- 700 m2 para cuidados com estética disponível 365 dias por ano.

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Bibliografia preliminar:

AURELI, Pier Vittorio. More and More About Less and Less: Notes Toward a History of Nonfigurative Architecture. Log No. 16 Spring/Summer, Anyone Corporation, 2009. Pag. 7-18.

MACIEL, Carlos Alberto. Arquitetura, indústria da construção e mercado imobiliário. In: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/14.163/4986, 2013. Acessado no dia 6/3/2017.

RAMOS, Fernando Guillermo Vázquez. Sobre a erudição (parte 1/4). In: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.182/5621, 2015. Acessado no dia 6/3/2017.

Etapa 02

O Problema do Limite

Esta etapa se detém à análise dos edifícios selecionados de modo que os identificamos como artefatos restritos à sua própria complexidade. Não procuram se inserir no tecido urbano ou constituir qualquer relação com o entorno construído. Sua produção é contrária à ideia de Arquitetura que é, por natureza, coletiva. (ROSSI, 1966)

A linguagem arquitetônica apropriada à prática comum de mercado é um instrumento de venda não comprometido com a cidade, irrelevante para a estrutura sobre a qual se desenvolvem os edifícios.

O edifício de mercado não se predispõe a criticar o ethos da cidade.

A linguagem não é uma questão.

A legislação urbana define na construção da cidade e é objeto constante de disputa pela forma urbana, é um campo político. O limite assume papel fundamental nos planos da cidade a partir do momento em que delimita o espaço privado e público. A sua condição ressalta a consciência coletiva e a concepção de cidade que se perpetua na sociedade.

Nos aproximaremos do limite determinado por recuos, espaços residuais, monofuncionalidade, muros e aparatos de segurança e calçadas subutilizadas; no sentido de questionar o lote urbano e o térreo privado.

A imagem da cidade é um fato, e o edifício solto no lote ainda é a questão central do exercício.

O exercício passa, assim, a avaliar uma constante na construção da cidade: o problema do limite.

Etapa 03

Método e Projeto

A presente fase do exercício consiste em uma definição metodológica e projetual decorrente do desenvolvimento da pesquisa que nos fez analisar, por fim, uma quadra ordinária da Zona Oeste da cidade de São Paulo.

Nossa abordagem prática sintetiza nossas duas primeiras aproximações frente à Arquitetura da cidade: a imagem da cidade e o problema do limite.

Tomamos a cidade como finita, sua forma como objeto de trabalho. A cidade de São Paulo se constitui fervorosamente sobre o princípio estrutural da propriedade privada do solo, que não somente concerne ao seu caráter negativo, mas também à danosa consequência da sua extrema divisão (ROSSI, 1966); contribuindo para a manutenção de um ideário perpetuado pela elite econômica, através da reprodução de objetos de consumo pelo território.

Sobre esses aspectos se dará nossa prática. Entendendo que essas características continuam a se dar no desenvolvimento da cidade, não às suprimimos, mas às reconfiguramos, tensionando o modo pelo qual se pensa a cidade.

O projeto, assim, oferece um modelo, ou uma aplicação de um conjunto de regras à um caso específico da forma de cidade sobre a qual desenvolvemos o trabalho: a quadra composta por edifícios soltos no lote. A reconfiguração do limite se dá por um elemento linear construído que almeja uma economia formal e de meios para, por sua vez, contrapor-se ao excesso figurativo que se confirma na cidade. (AURELI, 2009) Este edifício assimila a volumetria existente e a subutilização de espaços resultantes dos recuos e do extensivo domínio privado sobre o solo, de modo que gera espaços públicos e semi-públicos de qualidade e em quantidade pertinente ao caso específico.

O problema do limite é abordado no sentido de atribuir-lhe certa complexidade, ao passo que o identificamos como elemento estruturante da cidade e a partir do qual as confere qualidade ou não. O limite não se dá em linha única e segregadora, mas em uma linha dupla contentora de programas que beneficiam a rua, a vida da cidade.

Esse processo se dá, basicamente, pela supressão dos muros de frente e fundo de lote e seus aparatos de segurança e de usos triviais dos térreos dos edifícios, ao passo que ora este novo limite é o objeto construído de fato ora o próprio limite edificado já existente.

Limite original: seus muros e aparatos de segurança.

Limite reconfigurado: térreo comercializado e redesenhado.

Assim, imaginamos que ampliamos o inventário de formas urbanas e modos de fazer a cidade ao passo que suspendemos aspectos intrínsecos e fundamentais ao desenvolvimento da cidade de São Paulo, o modus operandi que deve ser revisado em via de densificar e aproveitar o solo urbano e suas infraestruturas. Pensamos o presente da cidade.

Imagem da vista a partir da Rua Seridó

Etapa 04

Aproximações

Imagem aproximada da vista a partir da Rua Seridó, uma nova esquina constituida

Vista por uma das vitrines da área privativa do edifício, através do que se configura como seu novo limite

Aproximação 1

Aproximação 2

Aproximação 3

Aproximação 4

Aproximação 5

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Bibliografia preliminar:

ROSSI, Aldo. L’Architettura della Città. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

AURELI, Pier Vittorio. More and More About Less and Less: Notes Toward a History of Nonfigurative Architecture. Log No. 16 Spring/Summer, Anyone Corporation, 2009. Pag. 7-18.

NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para a arquitetura. Antologia teórica (1965-1995). Coleção Face Norte, volume 10. São Paulo, Cosac Naify, 2006.

– RAJCHMAN, Jonh. Novo Pragmatismo.

– ALLEN, Stan. Condições de Campo.

– SPEAKS, Michael. Inteligência de Projeto.