MPMF_G32 – 25 DE MARÇO DE 2017

(Fim da Parte I – Experiências e Práticas de Participação)

    Sobre as Experiências e Práticas de Participação

A primeira parte do trabalho se encerra quando, após realizarmos as primeiras “Intervenções”, redefinimos o caráter das mesmas como Experiências, agrupando-as num conjunto nomeado “Práticas de Participação”.

O nome deste conjunto parte da ideia de praticar na 25 de Março reflexões  sobre o contexto da Rua. Além disso são exercícios em que o grupo se coloca como participante da 25, trazendo dinâmicas que levantam os participantes desse espaço, esperando reações e suas opiniões próprias sobre a Rua.

Assim se antes acreditávamos que o processo das intervenções seguiria somente a ideia de melhorar a anterior, hoje nos parece que elas também se desenvolvem por temas: neste primeiro momento nos revelando os agentes da Rua e nosso lugar como praticantes da 25. Estas informações está nos levando para uma segunda fase do trabalho a ser realizada no próximo mês, quando as somaremos com especulações de estruturas a partir dos materiais do local.

       Prática I

A Prática I introduziu o grupo quanto ao espaço da 25 a partir da instalação de um objeto denominado Sombra, um tnt vermelho estendido pela calçada. A Sombra além de criar um contexto para o grupo entrar na dinâmica da Rua, também pretendia tocar em assuntos como o ritmo da 25 e seus agentes sobre o território: iniciando a instalação as 06h, quando os primeiros trabalhadores chegavam, sejam eles camelôs juntamente com seus carrinhos, ou os que esperavam as lojas abrirem.

A dinâmica da instalação criava repetidamente obstáculos na rua, ocupando o espaço da passagem dos carros nas primeiras horas da manhã. Neste primeiro movimento foi possível dialogar com um primeiro personagem no local: os motoristas dos veículos, porém, ao contrário do que se esperava, todos esperaram a Sombra se erguer novamente, não ouve nenhuma ação hostil.

O mesmo objeto vermelho não provocou nenhuma reação dos policiais que passavam observando ou, em conjunto, em meio de contestações levando ambulantes capturados por suas atividades ilegais.

A Sombra foi para grande parte dos trabalhadores das lojas um entretenimento, pois tiveram o que assistir até as 08 horas, quando finalmente as lojas em que trabalham se abrem. Ora ou outra os camelos observavam enquanto montavam suas barracas, alguns se manifestaram ajudando para que o objeto fosse instalado, uma escada foi emprestada, outros comentavam da “criatividade” do inédito objeto que surgiu pela manhã, nunca antes imaginado, num lugar onde nunca tinham presenciado alguma ação parecida.

       Prática II

A Prática II se diferencia da Prática I em seus princípios. O que antes era previsto numa escala para tomar a rua, neste segundo adaptamos o projeto para a demanda de objetos mais rápidos e simples para a calçada, sendo diretos quanto à sua proposta de “deslocamento visual”, gerando assim mais discussão para esta fase do trabalho.

O objetivo principal era criar situações de deslocamento dos usuários da 25 de Março em diferentes instâncias: visual, tátil e histórica. Basicamente os objetos propostos ressaltavam algo existente na região, mas que é passado despercebido muitas vezes devido à atmosfera do lugar, tais temas eram trazidos de maneira livre e lúdica.

Um dos objetos foi a Caixa de Projeções, feita de caixa de sapato, com furos para os olhos projetando imagens ao fundo sobre temas da rua 25 de Março ( alguns contavam com um filtro azul e vermelho para visualização de imagens 3D). Este objeto possibilitava um desvio no olhar – anestesiado – das pessoas pela rua , uma pausa durante o fluxo intenso entrando no mundo dessas pequenas caixas curiosas, gerando um deslocamento físico e visual dos transeuntes . Acoplamos as caixas nos postes com fitas hellerman e capturamos as reações das pessoas com GoPros e fotos do celular.

A outra intervenção foi baseada nas sensações ao andar pela rua. Foi elaborada uma Cortina de Toques, com 120 bolinhas de isopor penduradas por um fio de nylon, lembrando as inúmeras abordagens que acontecem na rua por parte dos ambulantes, hoje a maior tendência é o mini massageador, tais objetos nas mãos dos vendedores percorrem tocando livremente no fluxo de pessoas na calçada, uma sensação única. Assim ao atravessar a Cortina, sentia-se as bolinhas batendo no corpo, o massageador ganha a calçada para seu uso livre. Haviam os que perguntavam se tirava mau olhado e logo os ambulantes da região compraram a ideia e também faziam propaganda para que as pessoas passassem pela Cortina.

Neste dia também foram distribuídos flyers com o mapa de 1877 da região, revelando a existência do rio – um dos afluentes do Tamanduateí – que passava na rua e é um dos maiores personagens que trouxe a vocação comercial do lugar. Nesta folha havia uma mensagem, como um aviso, do rio pedindo para ser reencontrado com o endereço da “fonte” que descobrimos na Ladeira da Constituição.

As três ideias juntas naquele dia configuraram um percurso paralelo na 25 de Março, através das Estações de Deslocamento. Estes novos percursos despertaram mudanças e reações nos já existentes.

 

Fechamos esse bloco de Práticas notando que em todas elas nos deparamos com situações em que nossos objetos estimulavam os usuários da 25 relatarem suas próprias interpretações relacionadas à alteração que criamos no espaço, seguidamente de seus entendimentos pessoais sobre a cidade.

“Pra quem vocês pediram permissão para alugar o poste?”

“Aqui funciona de outro jeito, não é lugar pra ficar com banquinho, para e olhar, tipo nas Europa. Coloque qualquer coisa aqui, banco e até essas caixas bonitinhas, vai vir alguém e pegar. O brasileiro é desleixado, não cuida, não está nem aí.”

*Este último é brasileiro, assim como nós do grupo.

A medida que trazemos novas interferências, mais a complexidade deste lugar se revela, as camadas“Perambulações em Campo” criam novos ramos. Este que é o motor de nossos projetos, eles se desenvolvem nesses embates.