MPMF_G45_Cenografia e Contexto

Banca 01: medéias

A metodologia desenvolvida pelo grupo para esta etapa do trabalho foi analisar a representação do mito da Medeia, tragédia grega escrita por Eurípides, encenada de 431 a.C pela primeira vez, no Festival de Dionísio em Atenas. Esse esforço de análise visa entender as diferentes interpretações da mesma peça em diferentes contextos urbanos – modos de pensar, modos de fazer. Portanto, elencamos alguns diretores, artistas e escritores que produziram peças artísticas do mito da Medeia e fizemos estudos ainda muito preliminares dos seus elementos internos (figurino, cenário, cores, musicalidade) e externos (local, ano, diretor, pintor). Essa pesquisa pretende basear um produto que seria de cunho cenográfico. O grupo visa, com essa pesquisa, criar repertório para um futuro projeto, levando em conta as questões contemporâneas locais para se criar um projeto cenográfico atual – para essa peça ou não.

Entende-se que o entendimento e a vivência do espectador em relação a uma peça de teatro é somente integral e verdadeira se a mesma é vista ao vivo – e não por outros meios como filmagens, áudios e etc. Portanto, justifica-se um produto cenográfico real, onde as pessoas poderão ter uma apreensão única que somente fará sentido no local e na hora do acontecimento.

“Medéia, no sistema mitológico da Antigüidade, é a mulher bárbara que, para ultrajar o marido infiel, afronta as leis humanas e divinas, matando os próprios filhos. Para melhor entender o mito de Medéia, necessário se faz, no entanto, remontar a outra lenda da mitologia pagã: a conquista do velocino de ouro e a saga dos Argonautas. Junito Brandão (1987, p. 175-91) registra a seguinte versão: em Iolco, na Tessália, reinava Esão, que foi destronado pelo irmão Pélias. Jasão, filho de Esão, reivindicou mais tarde o trono a que tinha direito por herança. Pélias, no entanto, para livrar-se do sobrinho, impôs como condição que este conquistasse o velo de ouro consagrado ao Deus Ares em um bosque da Cólquida, na Ásia Menor. Em busca do velocino, Jasão chefiou uma grande expedição no navio Argos (daí a designação de “Argonautas” para seus tripulantes). Participaram da excursão cinqüenta heróis, entre eles os lendários Hércules e Orfeu e os gêmeos Cástor e Pólux. Após uma gesta repleta de aventuras e perigos por mares e terras desconhecidas, os navegadores chegaram à longínqua Cólquida, onde foram recebidos pelo soberano local, Eetes. Ao tomar conhecimento dos objetivos da expedição, o rei fingiu aceitar o pedido, desde que Jasão se dispusesse a cumprir quatro provas impossíveis para qualquer mortal comum: subjugar dois touros de pés e cornos de bronze, que lançavam chamas pelas narinas; lavrar com eles uma vasta área e nela semear os dentes de um dragão; matar os gigantes que nasceriam desses dentes; e eliminar o dragão que guardava o velocino de ouro nos jardins de Ares. Dispostos a retornar a Iolco, diante da impossibilidade de vencer sozinho as provas, Jasão foi socorrido pelos poderes do Amor. Apaixonada pelo herói, Medéia, filha de Eetes, relatou ao tessálio que o rei tencionava matá-lo e ajudou-o, com seus dons de magia, a cumprir as tarefas. De posse do velocino, Jasão e Medéia fugiram da Cólquida, levando como refém Apsirto, filho mais jovem de Eetes. Iniciou-se aí uma trajetória de amor, ódio, vingança e morte. Após abandonar o pai e a pátria, Medéia cometeu sucessivos crimes. Sua primeira vítima foi Apsirto que, trucidado pela irmã, teve seus membros esquartejados e lançados ao mar para atrasar a perseguição de Eetes. De volta a Iolco, Jasão descobriu que, durante a sua ausência, o usurpador Pélias havia assassinado Esão. O argonauta vingou-se, então, por meio dos feitiços de Medéia, que convenceu as filhas de Pélias a esquartejar e cozinhar os membros do pai para rejuvenescê-lo. Acasto, filho de Pélias, assumiu o lugar do rei e perseguiu Jasão e Medéia, que se refugiaram em Corinto, na corte do rei Creonte. Viveram em paz em Corinto, até que o rei resolveu casar sua filha Creúsa (ou Glauce) com o herói da Tessália. Repudiada por Jasão e expulsa da cidade, Medéia resolveu vingar-se tragicamente. Com suas poções mágicas e fatais, matou Creonte e Creúsa e incendiou o palácio real. Sua vingança, todavia, não ficou por aí. Para que o marido sofresse dor inigualável, trucidou os filhos que tivera com ele, Feres e Mérmero, fugindo depois para Atenas, em um carro puxado por duas serpentes aladas, presente de seu avô Hélios, o Sol” (DUTRA, Eneo Moraes. Universidade Federal de Santa Maria. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/letras/article/download/11403/6878).

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Banca 02: pré-produção

 

Quando se fala em artista e quando se fala em rua existe uma imagem que se forma. A rua é lugar de passagem e o artista é aquele que vai performar, em um lugar fechado, onde se tem controle do cenário, da luz, da música e do público. Assim o teatro vai se transformando no que é, casas de espetáculos que servem uma parte privilegiada da população e a rua, por sua vez, cada vez mais abandonada a sorte de conceitos do que creem ser uma “cidade linda”.

“A arte é necessária, é uma linguagem que mostra o que há de mais natural no homem; através da qual é possível verificar, até mesmo, que o homem pré-histórico e o pós-moderno não estão distantes um do outro quanto o tempo nos leva a imaginar. A arte é baseada numa noção intuitiva que forma nossa consciência. Não precisa de um tradutor, de um intérprete. Isso é muito diferente das línguas faladas, porque você não entenderia o italiano falado há quinhentos anos, mas uma obra renascentista não precisa de tradutor. Ela se transmite diretamente. E essa capacidade da arte de ser uma linguagem da humanidade é uma coisa extraordinária (OSTROWER, 1983).

A palavra “teatro” deriva dos verbos gregos “ver, enxergar”, lugar de ver, ver o mundo, se ver no mundo, se perceber, perceber o outro e a sua relação com o outro. Dessa forma, de acordo com a visão pedagógica, o teatro tem a função de mostrar o comportamento social e moral, através do aprendizado de valores e no bom relacionamento com as pessoas.

Assim como a música e a arquitetura, o teatro, essa arte que nasce na rua, comunica pelo sentir. É o entendimento do corpo para a mente, por tanto falar sobre o teatro é o mesmo que falar sobre arquitetura, o entendimento só se faz completo através da vivência que se faz ainda mais profunda pela participação, pelo envolvimento do espectador que se movimenta e vira protagonista, absorvendo a mensagem que o teatro ou a arquitetura quer transmitir.

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Banca 03: diálogos externos

 

 

 

Nosso trabalho consiste discutir a utilização do espaço urbano através de uma reinterpretação contemporânea da peça da Medeia, de Eurípedes (400 a.C). Isso será feito através de uma performance teatral (sem diálogos, no máximo um coro, mas com dança, música, elementos e iluminação. Esse resultado foi gerado a partir de uma pesquisa a respeito das diferentes reinterpretações dessa peça ao longo dos anos, e de como o contexto histórico e urbano tem efeitos no roteiro/iluminação/música/contexto.

A peça Medeia foi escolhida por possuir arquétipos ainda muito atuais que podem ser trabalhados de diversos jeitos: relacionamento abusivo, misoginia, assassinato, infanticídio, e até mesmo relações de poder (dentro de relações pessoais e relações entre estado e povo). Nossa ideia não é criar uma performance que contenha uma mensagem ou moral, o intuito é puramente fazer uma reinterpretação, tendo como guia a essência da Medeia de Eurípedes.

A ação pretende dar conta de trazer 3 momentos importantes: 1 – a ajuda de Medeia na constituição da identidade de Jasão e seu heroísmo. 2 – A relação deles e o abandono de Jasão + sofrimento da Medeia. 3 – Cena da vingança (assassinato dos filhos). Entendemos que essa cena da vingança tem que ser forte, chocante, mas ao mesmo tempo não ser ilustrativa demais. Estamos trabalhando em cima de algumas ideias.

Pensamos em representar o microcosmos de uma relação conturbada e abusiva (Medeia/Jasão) a partir de uma dança aérea que simule um pêndulo (o pêndulo foi escolhido por causa de análises nossas sobre a personagem. Ex: Medeia princesa-Medeia exilada/ Medeia mãe – Medeia fêmea). Essa relação será trabalhada através de uma dança em movimento pendular (dança aérea na fachada, Jasão no terraço). A dança vai pendular entre uma relação de carinho, apego, obsessão, recusa e abandono. O que vai seduzir Jasão pode ser uma figura representativa do feminino ou, falando do macrocosmos da peça, uma imagem do capitalismo atual. Para isso, é interessante que a protagonista represente algumas das minorias oprimidas da sociedade, o que traz a Medeia de Eurípedes para um contexto atual.

A partir de diálogos externos com dramaturgos, atores, roteiristas e coreógrafos, a ideia da performance se afunilou na possibilidade de utilizar a estrutura das aulas da CIA BASE, que acontecem na fachada do prédio SP Escola de Teatro, na Praça Franklin Roosevelt. A performance vai se desenvolver, daqui para frente, a partir dos ensaios com o coreógrafo Cristiano Cimino, quem escolherá uma de suas alunas para interpretar a Medéia. Desejamos, com isso, que a partir da dança, a performance consiga exprimir tanto questões da relação abusiva entre os protagonistas – que analisando a Medéia junto com o Ivam Cabral, percebeu-se que é uma relação de poder, não de amor -, quanto questões mais amplas, como as relações de poder na sociedade. Espera-se ainda dialogar com diretores de iluminação e cenografia para enriquecer nossa performance final.

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Banca 04: o corpo e a cidade

“O cinema não parece a Imaginação ou a Memória, embora possa retratá-las eficientemente. Porém parece muito mais com o Sonho. E assim sendo atinge-nos em veia profunda, pelo inconsciente, seja isso lá o que for. O Teatro atinge diferente. Sensorialmente, corporalmente, sensualmente, eroticamente” (Domingos Oliveira, 2011, Comparação entre Cinema e Teatro).

espaço cênico | estudos preliminares

A partir de uma breve linha do tempo a respeito dos diferentes espaços cênicos ao longo da história, percebemos que o teatro contemporâneo pode e deve romper as barreiras entre espaço interno e externo, entre palco e plateia, expandindo-se para a própria rua, que pode ser o próprio palco e plateia.

medéias

A partir de análises sobre as diversas representações do mito da Medeia, – tragédia grega escrita por Eurípides em 400 a.C. -, ao longo da história, pudemos entender que um mesmo objeto/narrativa poderia ser interpretada, reinterpretada, reescrita em diferentes contextos, que dependem de seus fatores externos, como localidade, história, cultura, situação política e etc. Essa pesquisa deu bases importantes para o produto final desse processo: uma ação performática como uma releitura contemporânea do mito da Medeia.
Entende-se que a vivência do espectador em relação a uma peça de teatro é somente integral e verdadeira se a mesma é vista ao vivo – e não por outros meios como filmagens, áudios e etc. Portanto, justifica-se um produto cenográfico real, onde as pessoas poderão ter uma apreensão única que somente fará sentido no local e na hora do acontecimento.

por quê medéia?

Sabendo que a Medéia de Eurípides, já em 400 a.C., traz arquétipos muito atuais a respeito da mulher e do feminino, entendemos que essa seria uma peça chave para dialogar com questões atuais. Além disso, depois de coletarmos inúmeras representações diferentes do mesmo objeto, no âmbito das artes plásticas, do cinema e do teatro, uma releitura própria e contemporânea se coloca aqui como necessária.

o teatro e a rua

Quando se fala em artista e quando se fala em rua existe uma imagem que se forma. A rua é lugar de passagem e o artista é aquele que vai performar, em um lugar fechado, onde se tem controle do cenário, da luz, da música e do público. Assim o teatro vai se transformando no que é, casas de espetáculos que servem uma parte privilegiada da população e a rua, por sua vez, cada vez mais abandonada a sorte de conceitos do que creem ser uma “cidade linda”.
“A arte é necessária, é uma linguagem que mostra o que há de mais natural no homem; através da qual é possível verificar, até mesmo, que o homem pré-histórico e o pós-moderno não estão distantes um do outro quanto o tempo nos leva a imaginar. A arte é baseada numa noção intuitiva que forma nossa consciência. Não precisa de um tradutor, de um intérprete. Isso é muito diferente das línguas faladas, porque você não entenderia o italiano falado há quinhentos anos, mas uma obra renascentista não precisa de tradutor. Ela se transmite diretamente. E essa capacidade da arte de ser uma linguagem da humanidade é uma coisa extraordinária” (OSTROWER, 1983).
A palavra “teatro” deriva dos verbos gregos “ver, enxergar”, lugar de ver, ver o mundo, se ver no mundo, se perceber, perceber o outro e a sua relação com o outro. Dessa forma, de acordo com a visão pedagógica, o teatro tem a função de mostrar o comportamento social e moral, através do aprendizado de valores e no bom relacionamento com as pessoas.
Assim como a música e a arquitetura, o teatro, essa arte que nasce na rua, comunica pelo sentir. É o entendimento do corpo para a mente, por tanto falar sobre o teatro é o mesmo que falar sobre arquitetura, o entendimento só se faz completo através da vivência que se faz ainda mais profunda pela participação, pelo envolvimento do espectador que se movimenta e vira protagonista, absorvendo a mensagem que o teatro ou a arquitetura quer transmitir.

a ação

A ação pretende dar conta de trazer 3 momentos importantes: 1 – a ajuda de Medeia na constituição da identidade de Jasão e seu heroísmo. 2 – A relação deles e o abandono de Jasão + sofrimento da Medeia. 3 – Cena da vingança (assassinato dos filhos).

Percebemos um movimento pendular da protagonista durante a peça, e traremos esse movimento para a nossa performance. A Medéia pendula em diversas dicotomias: mulher-mãe/ mulher-fêmea; princesa/ foragida; amante/ traída; paixão/vingança. A escolha do lugar e da formalização da ação surgiu das possibilidades em criar pêndulos na cidade de São Paulo, seja através de tecidos aéreos, balanços ou cabos de aço.

a dança aérea em espaços urbanos

A CIA BASE promove a união da dança com a arquitetura de estruturas urbanas e espaços não convencionais, num diálogo entre o corpo e a cidade. A Companhia tem foco na pesquisa e na criação coreográfica da dança vertical integrada com as substâncias do circo contemporâneo, com os recursos expressivos da dança, do teatro, utilizando-se da pesquisa do movimento e da ocupação do espaço aéreo. As aulas acontecem na fachada da SP Escola de Teatro, na praça Roosevelt, o que viabiliza a ação aqui idealizada, num lugar que em muito dialoga com as questões artísticas e eventos culturais na cidade de São Paulo.

a escolha do lugar

A partir de diálogos interdisciplinares com os atores, dramaturgos, diretores e coreógrafos, mudamos a escolha do local da performance para a fachada da SP Escola de Teatro. À convite de Ivam Cambral, diretor da Escola de Teatro, estamos em processo de entrada como residentes na instituição, o que possibilitará que possamos utilizar as estruturas de todos os departamentos da Escola: iluminação, cenografia, sonorização, coreografia… Assim, quando o processo de residência se tornar efetivo, faremos convites à voluntários (alunos, professores e colaboradores) que tiverem interesse de participar do projeto.
A ação será apresentada no evento das Satyrianas, que ocorre em novembro em São Paulo. Acreditamos que o acontecimento, em um local com muita vida noturna, possa através do som, da luz e da dança, significar uma parada cultural na cidade, visando que as Satyrianas já é um evento de teatro bastante importante. Com isso, conseguiremos concretizar um projeto interdisciplinar (teatro, dança, arquitetura) transbordando o espaço cenográfico fechado, estabelecendo reflexões a partir da relação do corpo, a arte e a cidade.