tempo_espaço

Com uma perspectiva de reflexão bastante ampla, este trabalho pretendia inicialmente criar um paralelo entre os modos japonês e brasileiro de compreender as noções de tempo e espaço, resultando no modo de conceber seus espaços arquitetônicos.

O grupo iniciou a pesquisa por meio de análises linguísticas, por considerarmos que a língua é uma expressão cultural tangível, assim como a linguagem arquitetônica.

Após ter contato com uma gama de percepções temporais e espaciais encontradas em literatura científica ocidental (livro “Os sonhos de Einstein”), o grupo começou a elencar espaços que produzissem quebras nas sensações de tempo dentro do nosso campo de conhecimento como: locais de culto sagrado, museus e galerias, shoppings, dentre outros, compreendendo uma forma ocidental – e capitalista – de tomar o tempo linear e cronologicamente, sempre rumando a algum tipo de progresso, sendo o tempo e espaço dissociáveis e infinitos.

Em contraposição, em nossas pesquisas, tivemos contato com o termo japonês “Ma”, formador tanto do conceito espaço quanto do tempo, sendo então uma compreensão ancestral da origem deste dois conceitos interligados. A palavra “Ma” remete especialmente a um espaco-tempo ausente, sustentado dentro de uma materialidade – é possível usar como exemplo o espaço branco do papel que se mantém em um desenho, ou o intervalo de silêncio em uma música, sendo vazios extremamente importantes para o sustento e valorização da imagem ou do som. Este conceito, que tem sua origem no espaço tempo arquitetônico resultante do vazio criado entorno de templos e espaços sagrados japoneses, continua a se expressar na arquitetura japonesa.

Conforme encontramos em pesquisas, muitos brasileiros buscaram compreender o conceito e tentaram aplica-lo à construções da arquitetura brasileira, elencando os vazios potenciais de edifícios como masp, mube, minhocão-aberto, fau, dentre outros.

Houveram muitas tentativas vindas do próprio Oriente de tentar expressar o conceito para o Ocidente, constantemente deparando-se com o obstáculo de transportá-lo em alguma definição menos subjetiva ou volátil. Tendo em vista a complexidade do desafio, dedicaremos nossa pesquisa para tentar compreendê-lo sob a chave da memória e da arquitetura, ainda que o resultado seja tão subjetivo e volátil quanto as provocações que o impulsionaram.

ENTREGA 2

Como continuidade às reflexões a respeito das percepções e marcas de tempo e espaço na cultura japonesa e sua manifestação no Brasil pelas grandes levas de imigrantes, o grupo tomou como objeto de estudo o Casarão do Chá, objetivando a pesquisa.

Bastante emblemática, a construção do Casarão envolve o contexto de imigração japonesa com o estabelecimento de costumes, formas de manejo agrícola (como o chá e seu beneficiamento), sistemas construtivos e a integração de todos estes aspectos com o Brasil em diferentes contextos históricos.

Para realizar esta análise, o grupo decidiu dividi-la por temas desenvolvidos a princípio em 6 livros utilizando linguagens variadas que dialoguem com o tema específico:

  • Sistemas construtivos: segundo as pesquisas realizadas, a associação japonesa que realizava a produção de chá em Mogi das Cruzes contratou o marceneiro japonês Hanaoka para construir o Casarão. Este livrinho pretende analisar as diferentes formas construtivas utilizadas: os encaixes de madeira natural, em uma estrutura sem pregos ou parafusos, a taipa japonesa e o telhado e treliças com sistema construtivo europeu, em uma mistura harmônica e que permitiu a presença dos grandes vãos existentes. Além disso, se pretende analisar uma parte do repertório construtivo de Hanaoka e seu histórico no Japão. O livro será manual técnico e descritivo.
  • Ritual do chá: Partindo do desconhecimento de rituais de chá e seu valor na cultura brasileira, este livrinho pretende analisar a relação japonesa estabelecida com o produto do Casarão, pensando na importação de costumes japoneses estabelecidos no Brasil. A descrição será por meio de ilustrações relatando o ritual em seus processos.
  • Ciclo da planta do chá: pretendendo compreender este objeto estruturante do casarão, este livro pretende analisar os tempos e manejos relacionados à planta do chá, pensando nas influências dos conhecimentos japoneses na agricultura antes realizada em Mogi das Cruzes. O formato seria por meio de lustrações lúdicas deste ciclo natural ressaltando as interferências humanas.
  • Indústria e beneficiamento do chá: Ainda analisando este objeto central, este livrinho se foca no ciclo de produção do chá para consumo, desde a chegada ao Casarão após a colheita, até o ensacamento e exportação. Para isso se imagina um formato de diário de um produtor industrial, explicando por meio de suas anotações os ciclos de produção.
  • Imigração e histórico da Associação do Casarão do Chá: hoje a estrutura do Casarão deve a seu restauro, manutenção e mantimento à Associação que se formou por parte da comunidade local de Mogi da Cruzes e lutou pelo reconhecimento de seu valor. Por meio de quadrinhos (talvez relacionados ao mangá) este livrinho irá relatar seu histórico e se aprofundar nas origens imigrantes da família responsável pela Associação.
  • Tombamento e institucionalização: por meio de texto narrativo, o Casarão se torna personagem e sua história institucional será descrita, detalhando seu histórico com órgão de preservação, o Estado brasileiro e o japonês.