RECONHECER SÃO PAULO
Cesar Shundi
Francisco Fanucci
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“Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão
A ave passa e esquece, e assim deve ser
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve pra nada
A recordação é uma traição à Natureza
Porque a Natureza de ontem não é Natureza
O que foi não é nada, e lembrar é não ver
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!”
Fernando Pessoa
O Guardador de Rebanhos XLII
Conhecida genericamente por atributos superlativos ligados ao papel econômico, à escala urbana ou à diversidade populacional, a cidade de São Paulo merece, do ponto de vista arquitetônico-urbanístico, um estudo aprofundado dos espaços incorporados ao cotidiano de sua população que, por este mesmo motivo, podem ser reconhecidos simbolicamente como representativos da metrópole.
Que edifícios ou espaços públicos podem explicar São Paulo?
Onde a cidade está – ou poderia estar – lembrada?
Não somente os conhecidos cartões postais – Copan, MASP, Avenida Paulista ou Parque do Ibirapuera – podem figurar em uma lista hipotética de edifícios ou lugares-síntese de nossa cidade. Além destes, poderíamos nos aproximar a locais únicos como a Rua 25 de março, a Feira da Madrugada do Brás, o Largo da Batata, entre tantos outros. Espaços que marcam a vida comunitária proporcionada pela apropriação dos espaços públicos, através de diferentes formas de convivência na diversidade da composição de nossa metrópole – seja a partir de aspectos ligados à sua importância histórica, à sua pujança econômica ou à precariedade de suas áreas periféricas.
Independentemente da escala, localização ou uso, propomos um exercício de reconhecimento de nossa cidade, do alcance da ação dos arquitetos e urbanistas por meio de suas obras, mas também do levantamento de espaços latentes ou potenciais que, mesmo que não possuam quaisquer atributos arquitetônicos em especial, sejam reconhecidos por parte da população e incorporados à vida cotidiana de nossa cidade.
Reconhecer São Paulo tem como objetivo constituir um trabalho de pesquisa coletivo e interdisciplinar, formatando bases para as atividades do XIII Seminário Internacional da Escola da Cidade – Arquitetura é forma de conhecer – que acontecerá em fevereiro de 2018 em parceria com o SESC SP.
Formatado como uma exposição e um catálogo, Reconhecer São Paulo visa apresentar nossa cidade e, simultaneamente, constituir reflexão e plataforma para um diálogo sobre nossa atuação profissional e novas proposições para a cidade que, por sua vez, poderão ser desenvolvidos ao longo do ano de 2018, também no âmbito do Estúdio Vertical.
Para o público mais amplo, a mostra terá o papel de divulgar edifícios e espaços públicos sob o ponto de vista de suas relações com a cidade em seus diversos aspectos, revelados e interpretados por meio de modelos tridimensionais, fotografias, vídeos ou desenhos produzidos em nosso Estúdio Vertical.
Do ponto de vista metodológico, sugerimos como primeira atividade de nosso curso uma listagem de três obras arquitetônicas ou espaços públicos da cidade, a ser elaborado por cada equipe, amparada por um pequeno texto e uma imagem que justifique sua escolha como espaço representativo da cidade.
A partir deste trabalho inicial, a coordenação do EV realizará uma tabulação dos locais apontados, base para uma conversa entre estudantes e professores para a escolha dos exemplos a serem estudados por cada equipe. Não se pretende realizar uma eleição apenas quantitativa dos mais indicados, mas selecionar também exemplos menos conhecidos que expressem o reconhecimento público de seus atributos urbanos
Os eixos temáticos sugeridos para organizar a pesquisa são:
- edifícios
- espaços públicos formais
- espaços públicos apropriados
- intervenções em espaços coletivos
- mobiliário urbano
- infraestrutura
A partir destes eixos, proporemos a indicação de palestrantes para os quatro encontros a se realizar no segundo semestre de 2017, em parceria com o SESC/ SP.
Com a definição do lugar e das premissas de abordagem, as linhas de pesquisa serão livres: projetos de intervenção, “reprojetos”, mapeamentos, estudos e registros de aspectos de uso, vivências e percepções, hipóteses de melhorias, análise crítica, etc.
As inumeráveis chaves que podem nos revelar aspectos da essência do lugar poderão ser apresentadas através das linguagens e técnicas mais adequadas à melhor expressão, de livre escolha para cada equipe.