G02_COMPANHIA ANTARCTICA PAULISTA

ETAPA 1

ANTARCTICA PAULISTA

Entre a fábrica e a cidade: estabelecendo tecidos urbanos

A cidade de São Paulo comporta hoje diversos bairros que se originaram e desenvolveram por conta da atividade industrial. O desenvolvimento econômico impulsionado por este setor se deu com grande força entre o final do século XVIII e o início do século XX, tendo como uma de suas consequências urbanas a construção de uma paisagem e arquitetura fabril na cidade. Na década de 70, com a abertura do país para o capital estrangeiro, tem início a descentralização das indústrias e a interiorização da produção. O bairro da Mooca tem sua história marcada por este período, e o que um dia já foi um dos lugares mais importantes para a constituição de São Paulo, hoje se mostra em uma condição urbana precária e em constante abandono e decadência. A antiga Fábrica da Antarctica Paulista simboliza a conjuntura do bairro, e é o local escolhido pelo grupo para ser estudado e debatido ao longo deste semestre, tendo sempre em vista a situação urbana do bairro da Mooca e, consequentemente, de outros antigos bairros industriais da cidade.

A Fábrica Antarctica, implantada ao lado do eixo centro-sudeste da antiga São Paulo Railway, atual linha da CPTM, foi inaugurada em 1892 pela Cervejaria Bavária, e se tornou sede da companhia em 1920. A fábrica encerrou suas atividades em 2000 e foi tombada apenas em 2016. Hoje, seu futuro é incerto.

A primeira aproximação do grupo com a fábrica foi balizada pela compreensão de seu entorno, a partir de estudos de mapeamentos tradicionais, porém essenciais, como meio físico, mobilidade, uso predominante do solo, gabarito etc. A compreensão das principais barreiras neste local, como a Avenida do Estado, a linha do trem e alguns viadutos também foi fundamental para a percepção de que o tecido urbano ao redor da fábrica é, na realidade, inexistente. É neste momento em que a Fábrica se revela como a principal potencia modificadora deste espaço. O olhar para a Fábrica, para além das características próprias dos edifícios de diversas épocas e valor arquitetônico que a compõe, e de sua importância como patrimônio, é fundamental para a transformação de todo o bairro da Mooca, hoje em degradação e alvo crescente da especulação imobiliária. Nas próximas etapas de trabalho o grupo pretende aproximar-se do objeto da Fábrica em si, compreender a importância dos edifícios que a compõe para assim iniciar o desenvolvimento de uma proposta de intervenção no local.

 

 

 

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ETAPA 2

A segunda etapa de trabalho iniciou-se com um estudo cuidadoso dos edifícios que compõe a Fábrica Antarctica. A impossibilidade de visitar o local fez com que esta pesquisa se desse principalmente a partir de trabalhos acadêmicos já produzidos sobre o local e uma série de fotografias. A partir de uma análise envolvendo o conceito de patrimônio, as condições físicas e funcionais e espacialidade, o grupo propôs a retirada de uma série de edifícios do complexo, ampliando a área livre do terreno, e reformulando completamente seu programa.

O reestabelecimento de um tecido urbano na Mooca não poderia se dar pela implantação de um programa simples, ou de baixo alcance populacional. Os edifícios mantidos são todos remodelados, e o antigo programa da Fábrica Antarctica dá lugar então a um extenso complexo cultural e educacional, seguindo vertentes do já concretizo “modelo s” sesc e do senai. Neste cenário, gestão pública e dinheiro privado atuam de maneira a buscar uma unidade para esta área. A junção destes dois sistemas, um ligado à cultura/comércio e outro à educação/indústria são complementados pela implantação de habitação, programa fundamental neste contexto de esvaziamento do bairro e retomada de seu caráter de moradia.

Para balizar a ação do grupo no local, foram adotadas quatro ações de projeto: manter, subtrair, adicionar e conectar. Neste sentido, a primeira aproximação do grupo se deu em planta, pelo manter, em paralelo ao subtrair. A mudança de programa exige, obviamente, novas construções, principalmente nas áreas internas dos edifícios. O maior desafio, no entanto, se dá nas conexões. Como amalgamar este espaço, composto por programas diversos, muitos pavimentos e um uso predominantemente público? Não apenas internamente, mas com a cidade que a contorna, com o trilho do trem que a margeia. A próxima etapa de trabalho se dará pela ampliação e concretização destas ações.

 

ETAPA 3

A terceira etapa do trabalho teve como principal objetivo dar contorno aos programas definidos na etapa anterior, e seus modos de representação. Como forma de articular as intenções com o desenho, o conceito e a prática, foram produzidos diversos diagramas, como recurso de transcrição das intenções e desejos para o terreno e os edifícios em pauta. Compreendendo o diagrama como forma de representação arquitetônica e prática projetual, além de traduzir, de forma fiel, as intenções de projeto para o espaço abordado, esta prática predominou o processo de desenho do espaço nesta etapa. A reabilitação e implantação de novos programas nos edifícios procurou seguir diretrizes proporcionadas pelas espacialidades preexistentes, sem que isso impedisse diversas propostas de demolições e intervenções como a criação de novos pavimentos e aberturas. Por exemplo, as antigas adegas circulares deram espaço a um mercado com cobertura acessível, na antiga casa de máquinas foi implantada uma biblioteca, além de 36 habitações estudantis. A casa de fabricação e depósito de cevada foi transformada em um complexo educacional destinado à formação acadêmica ligada à indústria, nos pavimentos das adegas verticalizadas foram criadas novas lajes, para a criação de habitações de 45m² a 115m². Foi proposta também a abertura permanente do principal portão da fábrica, que também dá acesso a uma nova rua transversal no interior da fábrica, principal caminho para o novo acesso à estação Mooca da CPTM.

O novo desenho da Fábrica procurou, portanto, estabelecer e relacionar programas ligados à educação e lazer com novas habitações, como uma tentativa de resposta às carências da Mooca, sempre em diálogo com o desejo inicial de estabelecer um tecido urbano em um dos bairros mais importantes da história de São Paulo, hoje desvalorizado. A criação de ruas internas, o novo acesso para a CPTM e a abertura dos edifícios para a Avenida Presidente Wilson foram algumas das ações que, juntamente com os novos programas, trazem a antiga Antarctica Paulista para dentro do tecido urbano, rompendo com seu comportamento atual de barreira urbana. A próxima etapa do trabalho, que será desenvolvida por uma das integrantes do grupo como trabalho final de graduação, se dará pelo detalhamento do novo desenho proposto.