G08+09_Grupo Experimental_Cruz das Almas

01.

Esse trabalho segue desenvolvendo algumas temáticas propostas no Jardim Filhos da Terra* e experimentando outros modos de atuar na cidade. Continuamos na Zona Norte, agora na Freguesia do Ó, em um conjunto de cinco equipamentos públicos de saúde e educação que conformam quase que todo um quarteirão. A EE Marquês de Tamandaré, UBS Cruz das Almas, CEI Vereador João Toniolo, EMEI 25 de Janeiro e EMEF Maria Aparecida Rodrigues Cintra, formam juntos um complexo com mais de 20 mil m2 completamente fragmentados. A gestão é feita de forma separada e os lotes são todos cercados sem nenhum tipo de conexão. Compartilham os problemas, especialmente de falta de segurança, a erosão e alagamentos de enxurradas de água pluvial.

A vivência anterior foi desenvolvida dentro de um contexto onde a intervenção prática imediata se fazia necessária. Nesse novo cenário, o que parece urgente é uma leitura mais precisa de toda a área e o pensamento de eixos estratégicos de intervenção. Em uma primeira aproximação, é flagrante a falta de unidade de projeto e a arbitrariedade das reformas feitas por cada gestão. Nossa hipótese é desenvolver um plano geral para a área, levando em conta as problemáticas de cada equipamento e propondo soluções que levam em conta o todo e o específico. Com isso, cada escola pode solicitar verbas junto a prefeitura e ao Estado e realizar obras mais efetivas.

O primeiro contato foi estabelecido com a creche, com a demanda de uma horta pedagógica. Pretendemos ajudar nesse projeto e implantação, numa ação que pode se tornar sistêmica no complexo. Além dessa atuação mais concreta, seguiremos com o desenvolvimento do plano geral. A pouca fluidez dos espaços, causada especialmente pelas grades é uma das questões principais que pretendemos trabalhar nessa escala, tendo como um horizonte otimista a retirada de algumas delas até o fim do ano. O sistema de escoamento de água, tanto da chuva quanto do esgoto, é mal dimensionado. A situação atual é precária, com vazamentos, infiltrações, erosão e alagamentos. Parece interessante uma proposta de intervenções que aumentem a retenção da água nos próprios terrenos, capte e armazene parte dessa água, revertendo o problema em uma potencialidade.

Ao propor e atuar em escolas públicas, experimentamos uma situação estruturalmente diferente da Associação do Mutirão, no Filhos da Terra. Lá, tratava-se de uma organização privada, com projetos conveniados à prefeitura e ao Estado. Nesse segundo caso, são situações completamente públicas. Faz parte do trabalho entender os caminhos burocráticos para que nossas propostas sejam efetivas. Ao mesmo tempo, é um momento para ensaiar meios para que esse tipo de atuação, onde o arquiteto articula e propõe, aconteça de maneira sistemática e remunerada.

*Experiência de projeto e canteiro de obras desenvolvida na Associação do Mutirão, localizada no Jaçanã, nos anos de 2017 e 2018 e que envolveu disciplinas de Exercício Único, Vivência Externa e Estúdio Vertical.

02.

Durante o mês de setembro, seguimos com as visitas semanais e o estreitamento da relação com o lugar. Para investigarmos melhor a possibilidade de estudantes de arquitetura atuarem de maneira real nos lugares, o trabalho tem se desenvolvido em três escalas: uma mais estratégica, que intenta produzir o plano diretor dos serviços; uma mais prática, que se debruça sobre a implantação de uma horta piloto (que eventualmente pode servir de base para uma ampliação em rede, inclusive nos outros serviços); e uma bastante objetiva que pretende responder a uma demanda pragmática de um trocador no interior das salas. Os processos de produção arquitetônica de respostas a essas questões nos interessam, tanto do ponto de vista do nosso relacionamento e experiência com o lugar, como também em relação aos caminhos burocráticos que levem a essas materializações. Durante as conversas, temos percebido que a relação dos gestores das escolas com o departamento de obras da prefeitura parece bastante conturbado e autoritário.

Avançamos na etapa de levantamento com foco no CEI. Entendemos o fluxo das crianças durante o dia e produzimos uma série de mapas que mostram a ocupação atual do espaço. Produzimos as bases do equipamento, evidenciando as grades, muros, vegetação e as áreas de permeabilidade do solo. No próximo momento, iremos aprofundar o levantamento nos outros serviços, para podermos fazer uma análise do todo e formular hipóteses mais assertivas de integração dos espaços.

Em relação à horta, por conta de desencontros com a coordenação da creche e com o prestador de serviços que iria realizar a obra, não houve intervenção física para a festa de primavera (realizada no dia 22). Consolidamos, no entanto, o levantamento da área e um estudo preliminar, com leitura da insolação, plano de massas com as intenções de plantio de acordo com as características de cada parte do terreno e alguns ensaios de soluções técnico-construtivas para a elaboração dos canteiros.

Em relação ao trocador, discutimos uma solução de estudo preliminar que resolvia à demanda com uma bancada fixa. Havia a necessidade de diminuir efetivamente o tamanho das salas por conta do número de alunos: para a creche, um número menor de crianças significa mais qualidade no atendimento, e a prefeitura insiste no contrário, para aumentar o numero de atendidos. Nesse sentido, um trocador interno na sala resolveria dois problemas, o da metragem da sala e o da demanda das professoras, que tem que trocar as crianças no trocador externo. O estudo apontava para uma solução só com a bancada, mas uma conversa recente da coordenadora do CEI com a supervisora da prefeitura revelou que, sem paredes, a intervenção não contava como diminuição da área útil da sala. Surgem questionamentos agora acerca do tipo de materialidade que essa parede deve ter para podermos seguir com o ante-projeto.

Momentos do nosso percurso até agora já apontam desafios de um trabalho que segue regido por duas lógicas internas ao mesmo tempo: por um lado uma demanda de nós estudantes e da faculdade, por outro, uma situação real, onde algumas conversas já estavam em andamento e em que fatos novos interferem a todo o tempo na urgência de determinados assuntos ou em seu adiamento.

03.

Nesse momento começamos a construir. Entendendo a horta como uma intervenção externa, numa área onde é possível experimentar soluções construtivas mais imediatas e provisórias com consolidação futura, pegamos as enxadas e fomos intervir no terreno. Foram quatro dias de construção nessa etapa (22, 25 e 29/10 e 05/11). Definimos previamente um plano de ocupação, com possibilidades de soluções construtivas e intenções de plantio e, com isso em mente, fomos lidando com o espaço de maneira mais espontânea. No primeiro dia fizemos um canteiro seguindo a linha das jabuticabas que ficam no talude da borda do parquinho, dividindo as duas escolas. O canteiro foi uma maneira de testar uma hipótese de contenção de terra apenas com a geometria da terra, mais fundo no meio e com uma espécie de morrote na borda, evitando a erosão da superfície onde será realizado o plantio.

A área da horta fica na borda do parquinho das crianças. Incluí-las, de alguma forma, no processo da construção, é importante para que elas aproveitem e entendam melhor as mudanças. Nesse primeiro dia mostramos as minhocas que achamos e vários experimentaram mexer na terra com as enxadas pequenas. Começamos conversas com as professoras e funcionárias da creche também.

Nos dias seguintes, avançamos mais rápido. As diretoras da Emei deixaram que usássemos os materiais que tinham para descartar e concordaram que abríssemos um pouco o alambrado que separa as duas escolas, criando uma conexão direta. Tínhamos troncos de brinquedões velhos, tábuas de tamanhos diversos, mesas e carteiras de fórmica, telhas de fibrocimento e entulho de concreto. Com isso, o grupo começou a testar soluções de contenção diferentes.

Alguns alunos do primeiro ano também vieram para ajudar. Recolhemos os pedaços de entulho que estavam espalhados pelo terreno para fazer a parede ciclópica. Os troncos que estavam demarcando o canteiro do parquinho foram realocados para os canteiros laterais, que já foram consolidados nesse dia, cobertos com humus e com folhas secas (que estavam acumulados nas canaletas de drenagem).

Nesse dia, a creche contratou um prestador de serviços para integrar a nossa equipe. O Robson nos ajudou com as enxadas e o preparo da massa (com 1 parte de cimento, 2 de cal, 3 de terra e 10 de areia, que vieram do próprio parquinho). Já com as pedras separadas, fizemos a borda do canteiro quase completa. No próximo passo, devemos consolidar a encosta com tábuas de madeira e realizar o plantio.

Essa ação seguiu como atuação prática e teste piloto, enquanto o plano geral foi sendo desenhado no estúdio. Já formulamos uma primeira hipótese, em que a floresta que bordeia o terreno se torna um parque articulador, gerando uma conexão entre as ruas Pe. Feliciano Domigues e Joaquim Rezende. Propôe uma reorganização das áreas de estacionamento, tanto da Emei quanto da Cei, deixando os espaços recreativos mais livres. Reestabelece o fluxo de entrada original da Emei, rearrajando as pracinhas em frente (que hoje são subdivididas com gradis e muros, e passariam a ter um outro paisagismo, mais acolhedor e com áreas de cultivo e jardins de chuva, feitos para absorver e infiltrar água, diminuindo erosão e alagamento. As grades retiradas seriam colocadas nos limites exteriores, melhorando a segurança das escolas e ao mesmo tempo tornando a circulação interna mais fluida.

04.

Essa ação seguiu como atuação prática e teste piloto, enquanto o plano geral foi sendo desenhado no estúdio. Em nossa hipótese, a floresta que bordeia o terreno se torna um parque articulador, gerando uma conexão entre as ruas Pe. Feliciano Domigues e Joaquim Rezende. Propôe uma reorganização das áreas de estacionamento, tanto da Emei quanto da Cei, deixando os espaços recreativos mais livres. Reestabelece o fluxo de entrada original da Emei, rearrajando as pracinhas em frente, que hoje são subdivididas com gradis e muros, e passariam a ter um outro paisagismo, mais acolhedor e com áreas de cultivo e jardins de chuva, feitos para absorver e infiltrar água, diminuindo erosão e alagamento. As grades retiradas seriam colocadas nos limites exteriores, melhorando a segurança das escolas e ao mesmo tempo tornando a circulação interna mais fluida.

No canteiro, tivemos mais dois dias de obra, agora com planejamento mais cuidadoso, para finalizar e consolidar nossa construção. O canteiro de cima, que era inicialmente de concreto ciclóptico, passou a ter um arremate de tijolo. Acabaram os entulhos e não foi possivel terminar como começamos, além disso, o tijolo de barro deu um acabamento mais uniforme e regular, sem pontas.

Para assentar os tijolos, tivemos problemas com o nivelamento da base. A parede ciclópica estava muito irregular, e teve que ser parcialmente demolida na parte de cima e regularizada com concreto na parte de baixo.

Também resolvemos a encosta como havíamos desenhado, com patamares, agora arrematados com tábuas de madeira. O patamar inferior, em cima da canaleta de drenagem, foi preenchido com entulho e brita, se tornando um passeio. O acesso ao canteiro superior, de tijolo, também foi finalizado com brita. Realinhamos os degraus das escadas e preparamos a terra e fizemos o plantio de sementes de milho, girassol e ervas medicinais e aromáticas.