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_A abordagem inicial do trabalho era criar um projeto hipotético e crítico a um desenvolvimento urbano e arquitetônico que vise, mais do que as pessoas que utilizam a cidade, uma imagem atrelada ao marketing e a venda da cidade como um ícone, como acontece na cidade de São Paulo.

Ao se tratar de um TC-EV, nos propusemos a, no primeiro semestre, gerar um estudo e embasamento sobre o tema e relacionar a cidade estudada, para nesse semestre, projetar. A partir desses estudos sobre São Paulo, levantamos algumas questões que nos encaminharam a uma indagação geral: como é representada a cidade de São Paulo?

A fim de compreender melhor o conceito de cidade genérica, a influência do marketing e da propaganda nas cidades e o processo de criação da identidade de grandes metrópoles, nos voltamos a textos de autores como Rem Koolhas (Cidades Genéricas; Junk Space; Mutations e Conan Islands – NY delirante), Robert Venturi e Denise Scott Brown (Aprendendo com Las Vegas), Bernard Tcshumi (Event Cities) e José Maria Montaner e Zaida Muxí (Arquitetura e Política: ensaios para mundos alternativos).

                         diagrama desenvolvido no último semestre a partir o texto Aprendendo com Las Vegas, Robert Venturi e Denise Scott Brown

 

Nos debruçamos também sobre trabalhos que criticam o desenvolvimento urbano através da representação satírica – e apocalíptica – da cidade, como a exposição “Happyland”, 2002, de Isay Weinfeld e Marcio Kogan, além da análise de filmes como “Play Time” e “Western World”. Toda a bibliografia abordada no trabalho passa por temas essenciais como cidades genéricas, o  marketing influenciando no desenho da cidade e a busca pela identidade.

Durante esse estudo, percebemos a relevância de parques urbanos para a formação identitária das cidades e fizemos um breve estudo comparativo entre os parques Ibirapuera (São Paulo), Shangai (São Paulo), Central Park (Nova York), La Villette (Paris) e Window of the World (Guangdong), que nos demonstraram a concepção desses parques ligadas ao projeto de desenvolvimento dessas cidades, construídos por trás de uma ideia de ícone sobre a paisagem urbana.

A partir desse entendimento, diferentemente dos parques, passamos a pesquisar lugares em São Paulo que representassem não só a tentativa de trazer o lúdico para a cidade, mas que demonstrassem a cidade como imagem a ser vendida, principalmente que atraíssem o investimento estrangeiro.  Sendo assim, esses lugares-imagens foram selecionados com base no estudo de guias turísticos e vídeos de marketing de São Paulo sob um olhar interno, a partir do vídeo da prefeitura Doria (https://www.youtube.com/watch?v=AWaWilujzdU) e sob um olhar externo, com um vídeo produzido pelo governo norte americano em 1944, sob o contexto da política de boa vizinhança (https://www.youtube.com/watch?v=InWifglIkQ0), sendo elencados, portanto, lugares considerados relevantes para a imagem da cidade, como o Shopping Light, a Marginal Tietê e a Ponte Estaiada. Outro exemplo da construção da cidade como imagem e cenografia urbana explícita é o bairro da Liberdade, sobre o qual nos debruçamos durante o workshop do seminário internacional, percebendo estereótipos da arquitetura oriental se sobrepondo à construções coloniais e ecléticas do passado paulistano.

frame vídeo governo Doria sobre a privatização de SP, 2017

frame vídeo governo norte-americano sobre SP, 1943

estudos da paisagem como imagem

Com esses dados, geramos cartografias da cidade de São Paulo que, sobrepostas a outras camadas como a de densidade populacional, equipamentos públicos, parques, serviços sociais, comércio e transporte público, nos levaram ainda a outra pesquisa: os vazios gerados por essas cartografias, ou seja, o que não é mostrado nesses mapeamentos – a anti-imagem de São Paulo.

estudo de sobreposição de camadas em SP

Essa abordagem ainda aparece de maneira analítica e reflexiva, mas como produto, já surge como crítica. Portanto, trabalhamos até então a imagem e a anti-imagem da cidade. A imagem representa lugares-ícones que, de acordo com a nossa pesquisa, são utilizadas para vender São Paulo, como o Autódromo de Interlagos, a Avenida Paulista e o Shopping Cidade Jardim, enquanto a anti-imagem trata do que não é – ou não quer ser – evidenciado e é, na maioria das vezes, apagado, como problemas sociais ou áreas degradadas da cidade.

mapa com todas as camadas sobrepostas, demarcando um foco na área central de SP

Ao final do último semestre, a fim de compilar todo o material pesquisado e evidenciar essas duas imagens – uma, anti-imagem -, desenhamos dois baralhos: um representado pelos lugares-ícones, o baralho Imagem, e o outro que mostra a imagem da cidade que não quer ser mostrada, o Anti-Imagem. Podendo ser utilizado como um baralho convencional, essas cartas, quando unidas como um quebra-cabeças, formam um grande mapa de São Paulo que ilustra a imagem e a anti-imagem a partir da cartografia levantada ao longo do trabalho.

baralho desenvolvido no último semestre

Com essa pesquisa, percebemos que a imagem que quer ser mostrada de São Paulo é seletiva: a mancha criada pelas camadas de infraestrutura e concentração de renda sobrepostas não representa nem um quinto do que aborda o perímetro da cidade, ela se concentra sobre os bairros nobres da cidade. A partir disso, decidimos evidenciar essa desproporção através da materialização da bolha, uma grande cúpula de vidro dentro da qual se desenvolverá a “Nova São Paulo”.

mapa com foco de intervenção

croqui com intenções de projeto: a implantação de uma bolha

 

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_No segundo semestre, nosso primeiro impulso se deu em uma abordagem projetual ao propormos a materialização do que chamamos de bolha: radicalmente, construir uma cúpula que separasse e evidenciasse essas discrepâncias dadas pela concentração de renda, capital e interesses especulativos. A partir disso, dentro dessa grande cúpula, iremos propor o projeto da “Nova São Paulo”, visando o lazer, os serviços e uma imagem atrativa nesse pedaço de cidade, em busca de evidenciar e criticar essa construção que visa uma imagem de mercadoria e não de fato, uma cidade.

diagrama-mapa de edifícios e lugares relevantes para a imagem da cidade dentro do recorte de estudo

estudo em diagrama para o texto Arquitetura na Era Digital-Financeira

Tomando como base o texto de Carlos B. Vainer, “Pátria, Empresa e Mercadoria”, no livro “A cidade do pensamento único”, o autor apresenta um panorama de cidade totalmente atrelado ao marketing e comparado a uma empresa, a partir da ideia do planejamento estratégico como um plano de desenvolvimento das cidades inspirado no planejamento empresarial (sistematizado na Harvard Business School), onde a questão central é a competitividade urbana (Vainer, 2000, p.76). De acordo com a World Economic Development Congress & The World Bank, 1998, trata-se da competição por investimento de capital e tecnologia, pela atração de novos investimentos, na qualidade dos serviços e na atração de força de trabalho. Ao nos depararmos com o recorte da área de estudo comparado ao restante da cidade, se torna ainda mais visível esses setores bastante segregados e em constante competição. – seja entre bairros ou áreas maiores da cidade.

Nos deparamos também com o conceito da cidade mercadoria e objeto de luxo, de modo que, para especialistas do marketing urbano, vender a cidade é vender atributos valorizados pelo capital transanacional, como espaço para convenções e feiras, parques industriais, torres de comunicação e comércio, em busca de se passar a imagem e a impressão de uma cidade segura, atrativa e democrática, mascarando questões de pobreza e marginalização que, para Borja & Castells, 1997, não são solváveis.

Esses mesmos autores propõe que “as grandes cidades são as multinacionais do século XXI”, de modo que se torna visível a referência do planejamento urbano no modelo ideal, racional e funcional, da fábrica taylorista, atrelando o processo de construir e gerir uma cidade ao processo de gestões empresariais. A partir desse raciocínio, com a teoria do marketing urbano, acredita-se, portanto, que as cidades devem funcionar como empresas, de modo que a melhor solução é convocar empresários para as gerir. Na cidade de São Paulo, vivenciamos há pouco uma questão como essa e enfrentamos a realidade da desequalização de oportunidades, serviços e qualidade de vida entre áreas da cidade.

estudo em imagem para o texto Pátria, empresa e mercadoria

A construção de São Paulo foi bastante pautada nos interesses de grandes empresas e empresários, mas na última gestão, percebemos uma preocupação ainda maior com o tratamento da imagem da cidade a fim de atrair os olhos estrangeiros. Um exemplo disso é o vídeo feito pela sua prefeitura para um evento em Dubai, no qual se demonstra o interesse de privatização de lugares como o Parque Ibirapuera e as imagens passadas no vídeo demonstram uma São Paulo que nunca para de trabalhar e de oferecer oportunidades, velando todos os problemas urbanos concentrados na cidade.

Em suma, a fim de evidenciar essa realidade e com o intuito de demonstrar satiricamente o que a construção dessa cidade-imagem – e não da cidade-humana – pode acarretar, iremos propor um projeto distópico da cidade (não) ideal, compactuando com as teorias do marketing urbano e com a realidade apresentada por São Paulo, seus habitantes e “dirigentes”.

link para o trabalho do último semestre: http://ev.escoladacidade.org/portfolio/g36-cidade-ludica/

 

 

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_A abordagem inicial do trabalho era criar um projeto hipotético e crítico a um desenvolvimento urbano e arquitetônico que visa, mais do que as pessoas que utilizam a cidade, uma imagem atrelada ao marketing e a venda da cidade como um ícone, como acontece na cidade de São Paulo.

Ao se tratar de um TC-EV, nos propusemos a, no primeiro semestre, gerar um estudo e embasamento sobre o tema e relacionar a cidade estudada, para nesse semestre, projetar. A partir desses estudos sobre São Paulo, levantamos algumas questões que nos encaminharam a uma indagação geral: como é representada a cidade de São Paulo?

A fim de compreender melhor o conceito de cidade genérica, a influência do marketing e da propaganda nas cidades e o processo de criação da identidade de grandes metrópoles, nos voltamos a textos de autores como Rem Koolhas (Cidades Genéricas; Junk Space; Mutations e Conan Islands – NY delirante), Robert Venturi e Denise Scott Brown (Aprendendo com Las Vegas), Bernard Tcshumi (Event Cities) e José Maria Montaner e Zaida Muxí (Arquitetura e Política: ensaios para mundos alternativos).

Esse tema (um tanto amplo) nos levou no semestre passado à diversas pesquisas – desde a análise de parques como elementos estruturais para compreender a identidade e o desenvolvimento das cidades, até o mapeamento de atrações turísticas, espaços e temas representados em videos de marketing e à produção de um baralho à que brinca com a superficialidade do que é considerada a imagem de São Paulo.  

Chegamos ao 2o semestre com o desafio de afinar nosso tema e delimitar uma área de projeto. Nosso primeiro impulso se deu em uma abordagem projetual ao propormos a materialização do que chamamos de bolha: radicalmente, construir uma cúpula que separasse e evidenciasse essas discrepâncias dadas pela concentração de renda, capital e interesses especulativos. Mas ao percebermos a quantidade de material teórico que coletamos ao longo dessa pesquisa (que acontece desde o semestre passado) mudamos o direcionamento do trabalho. Nos pareceu um pouco superficial convergir tudo o que lemos e discutimos em um único projeto, o que fez com que o grupo começasse a flertar com a ideia de uma publicação com o tom crítico que é buscado desde o início.

No semestre passado, nossa metodologia mais interessante foi a leitura de textos e produção de diagramas síntese, além de uma reflexão sobre como essa bibliografia se relaciona à nossa cidade. Com uma coletânea de textos, podemos seguir uma linha semelhante de trabalho. Nosso norte, agora mais translúcido.

dórias – diagrama 1

Bibliografia:

KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre a cidade: a cidade genérica.

KOOLHAAS, Rem. Mutations.

KOOLHAAS, Rem. Junkspace.

KOOLHAAS, Rem. Nova Iorque Delirante: Coney Island.

CALDEIRA, Tereza. Cidade de Muros 

VENTURI, Robert. SCOTT BROWN, Denise. Aprendendo com Las Vegas 

SITTE, Camillo. A construção de cidades segundo seus princípios artísticos 

TSCHUMI, Bernard. Event Cities

HERÓDOTO, Barbeiro. Meu velho centro

VAINER, Carlos B. Pátria, empresa e mercadoria. In: ARANTES, O.; VAINER, C.; MARICATO, E. (Org.). A cidade do pensamento único; desmanchando consensos. Petrópolis: Vozes, 2000. p.75-103.

Arantes, P. F. Arquitetura na era digital-financeira: desenho, canteiro e renda da forma. São Paulo: Editora 34, 2000.

Referências:

Happyland, 2002. Exposição de Isay Weinfeld e Marcio Kogan.

Play Time, 1967. Jacques Tati.

Westworld, 2016. Jonathan Nolan e Lisa Joy.

Gorgeous Perversity, 2016. Estúdio 3.14.