G04_Projeto Urbano, Mercado e Paisagem: Uma contraproposta para a Santa Marina

Carolina Moraes, Gabriela Sayuri, Karina Rebello, Manoella Cabrera, Stela Mori

Entrega  01

A discussão teórica

O presente trabalho pretende explorar a relação, muitas vezes conflituosa, entre urbanismo e capital. Entende-se que as lógicas urbanas ocorrem de diversas maneiras e com diferentes valores para os agentes envolvidos. Surgem lógicas que muitas vezes parecem contraditórias no urbanismo. Existe um confronto frequente entre aquilo que tem valor para o mercado e aquilo que tem valor para a academia. Contradições em torno de uma única produção – a cidade.

Pretende-se estudar os valores e confrontos urbanos entre os diversos agentes e públicos neste meio. Porém, não há aqui nenhuma intenção em construir um esboço maniqueísta sobre a produção oriunda do mercado imobiliário. É claro que existem problemas, mas também existem porquês. Existem lógicas que o estruturam enquanto campo e o fazem assim também com o meio urbano. Esse trabalho, pretende então, investigar e confrontar sem ser demasiadamente tendencioso à medida que investiga maneiras de atuação.

O Bairro Novo – a falência do projeto urbano

“Como deve ser o bairro ideal para morar em São Paulo no século XXI? Quais as características de suas ruas, seus espaços públicos, suas habitações, seus locais de trabalho e de lazer, seu abastecimento local? Como se deve nele circular: a pé, de automóvel, com veículo especial? E qual a mescla de atividades mais adequada para obter a melhor qualidade de vida possível, maximizando a tecnologia de ponta deste século e refletindo a cultura e os hábitos paulistanos, cosmopolitas? Qual o projeto de um novo grande bairro que possa ser exemplar e paradigmático de uma São Paulo metrópole global, mais justa, moderna e bonita?

É objetivo do Concurso Bairro Novo transcender as proposições teóricas ou acadêmicas. Trata-se efetivamente de criar um Bairro Novo em área de cerca de 1 milhão de m², numa região próxima ao centro de São Paulo, que se caracteriza por possuir ótimas condições de acessibilidade, tanto por automóveis, quanto por sistemas de transporte público de média e alta capacidades e pela existência de grandes áreas vazias ou sub-utilizadas de propriedade pública e privada.”  
fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/04.044/2398?page=2

Essas foram as palavras das justificativas do termo de referência do concurso bairro novo que ocorreu em 2004. Havia aí intenções muito alinhadas com os anseios acadêmicos de repensar e, portanto, desenhar áreas urbanas que fossem capaz de promover mudanças necessárias no cenário paulista. Porém, em consonância com vários outros projetos urbanos, este foi apenas o último onde ocorreu um grande envolvimento intelectual em prol de melhorias urbanas mas que não saiu do papel.


O Jardim das Perdizes – uma inquietação

Ocupando uma considerável área do terreno destinado ao Bairro Novo, o Jardim das Perdizes, sem diálogos com as idéias concebidas no concurso, já construíu 10 torres residenciais com um desenho que ao invés de repensar a cidade a nega por meio de muros e tem em seu projeto a concepção total de 28 torres.

Dessa maneira, o jardim das perdizes traz consigo a não concretização de várias outras concepções de cidade anteriores ao projeto final construído. Soma-se a isso, a vontade e necessidade comum aos envolvidos no trabalho – e muitos urbanistas também; de entender São Paulo como uma cidade com grandes problemas urbanos e, por consequência, com grandes necessidades de transformações urbanas. Logo, encontrar possíveis alternativas de desenho no local de maior escala enquanto projeto urbano construído nos últimos tempos é maneira de dialogar diretamente com esse problema e investigar possíveis maneiras para os arquitetos e urbanistas se posicionarem frente ao mercado para serem absorvidos e, assim, proporcionarem outras urbanidades para São Paulo.

O estudo do empreendimento do Jardim das Perdizes foi pretexto para discussão de pano de fundo sobre a produção da cidade. Tangenciando a noção, presente no Urbanismo Contemporâneo, de democratização das decisões sobre o uso do capital excedente para urbanização. Questionando a estigmatização do olhar sobre o mercado e se posicionar a favor de uma coesão entre academia, estado, sociedade e os investidores. De forma a juntar as potencialidades, as demandas, ideias e recursos em prol de uma cidade que se transforma mais democraticamente. Além do juízo estético o que mais deveria ser criticado construtivamente a respeito do legado do mercado imobiliário que constrói massivamente a cidade?


Projeto Urbano – uma contrapartida

Entendendo que a fonte de discordâncias entre o urbanismo concebido na academia e o concretizado junto ao mercado de trabalho é a ocupação de cidade que os grandes empreendimentos imobiliários produzem, dessa forma, o presente trabalho pretende discutir desenho mas não apenas as concepções necessárias para negar o tipo de ocupação do mercado imobiliário. Em verdade, há aqui uma intenção clara em se aproximar das mesmas lógicas de produção do espaço urbano pelas construtoras para tentar atuar de maneira a produzir um desenho de cidade melhor do que aquele que vem sendo desenvolvido. É importante ressaltar que isso não significa uma crítica pela crítica. Ao contrário disso, pretende-se aceitar o contexto atual – a não absorção pelo mercado de bons projetos urbanos, para se posicionar enquanto arquitetas e urbanistas perante essa condição, para então, encontrar possíveis caminhos de inserção e absorção do bom urbanismo por esse mercado.

Desenvolvimento

Entendendo que a intenção do grupo era a de projetar na região analisando possíveis maneiras de inserção de um melhor desenho urbano, iniciou-se um estudo sobre as legislações entendendo serem elas também instrumentos que condicionam o desenho da cidade

Entrega 2

A Fábrica Santa Marina – A contrapartida


Tendo em mente que já houveram bons projetos urbanos para o terreno do Jardim das Perdizes e, principalmente, entendendo este caso como estagnado, escolheu-se um terreno muito próximo e em vias de especulação capaz de trazer mais uma camada da complexidade da ocupação deturpada na cidade de São Paulo – a paisagem.

Escolheu-se o terreno da antiga fábrica de vidros Santa Marina, uma vez que, tínhamos a suposição de que ele seria o próximo terreno da região a ser transformado pelo mercado imobiliário. E é então que o trabalho consiste em pensar nesse lugar, uma solução de desenho urbano que transforme o traçado de maneira adequada e seja um bom exemplo de urbanização, levando em consideração as questões que a permeiam. 

 

Entrega 3

A contrapartida – Estudos de volumetria e infraestrutura


Com um terreno de 252.187 m2, o projeto a ser proposto entra em diálogo com questões de infraestrutura urbana. Entende-se como um meio didático, partir do geral e das infraestruturas paulistanas para contemplar no terreno proposições que deem soluções em uma pequena escala de urbanismo de problemas maiores que o terreno. Nas imagens acima, percebe-se que as manchas verdes ocorrem de maneira dispersa e descontinuada, o que dificulta o funcionamento como um pequeno bioma, ou seja, como uma infraestrutura urbana. Ao analisarmos as águas, percebe-se uma significativa quantidade de antigas áreas de contenção e fruição desse contingente líquido urbano que hoje não existem. No viário, percebemos ruas cujas direções não necessariamente convergem, fazendo com que a fruição de carros e transeuntes ocorra de maneira desordenada. Por isso, partindo do macro para o micro, o projeto a ser proposto pretende entender essas três infraestruturas como conjuntos complexos que precisam ser interligados e recompensar defasagens da estrutura paulistana.

Compreendendo que o presente trabalho tem por intenção dialogar com as metas e os números do mercado imobiliário, o coeficiente de aproveitamento funciona como uma primeira conta que se alcança, porém como o terreno em questão se encontra em Zona de Estruturação Urbana, trata-se de um C.A. = 4, ou seja, muito denso. Soma-se à essa dificuldade, o partido de dialogar com a paisagem e a memória preexistente e, portanto, é de suma importância ilustrar, como nas imagens acima, que não basta aplicar esse índice para construir algo interessante tanto o mercado  quanto para a cidade, ao mesmo tempo que estes estudos nos aproximam da volumetria à medida que trazem a sensação espacial dessa densidade do lote.

Numa escala mais próxima foi de suma importância a aproximação com as edificações de valor patrimonial para entender como seria possível adensar as tipologias de acordo com elementos que se pretende manter. Nas imagens acima, tem-se sete casos que ilustram a tentativa de preservar respectivamente a fachada frontal, um enquadramento, a volumetria para passagem de viário no sentido longitudinal, a volumetria para passagem de viário no sentido transversal, a fachada, a cobertura e a projeção da edificação preexistente.

 

 

Entrega Final

Na conclusão do trabalho, chegamos há uma síntese das investigações realizadas durante o semestre sobre as questões que permeiam o projeto urbano.  A solução teve como parâmetro, os mesmos estipulados no início do semestre, o diálogo com as condições de viabilidade do mercado e das leis municipais, o tratamento adequado às pré-existências e os patrimônios tombados do terreno e a paisagem industrial histórica do bairro e ainda se aproximar de projetos urbanos qualificados pela academia. As áreas verdes que conformam a paisagem e a água, questão histórica de uma área de várzea, também foram tratados a fim de oferecer soluções ao problemas encontrados e principalmente serem colocados como condicionantes de um bom desenho urbano.