1ª Etapa
2ª Etapa
vídeo https://youtu.be/FRAB5WJNr3c
3ª Etapa
estados de sonho | do possível ao etéreo
canto
conte-me
cante me
canto aonde
ninguém vê
mostre
se
me
embaixo de onde eu quero ver
via e duto passavam aqui
conforme a forma e escala que vi.
eis que agora mata adentra
expande-se centro e convivência
volte público, água, mata e sarro
contente
carro barreira embaixo com barro
só . terrado
O trabalho explora os processos de adição e subtração de elementos do espaço ao longo do tempo: um projeto que percorre do possível ao etéreo, do real ao utópico. Através de uma maquete narrativa, o projeto é esgarçado: suas camadas de processo são então reveladas, em um mesmo espaço. O tempo real, com a Avenida 9 de julho passando por baixo do viaduto. O tempo possível: a instalação realizada no local com luz e som. O tempo suspenso, no meio da maquete: as passarelas que conectam a cota das ruas Avanhandava e Santo Antônio, atravessando a Avenida 9 de julho. E o tempo etéreo: o enterramento da Avenida, a criação de uma praça central, a abertura de um rasgo no viaduto, correspondente a um espelho d’água na cota da praça.
O projeto desenvolve cenários prováveis: desejos coletivos colocados ao longo do eixo do tempo, hipóteses para o futuro do espaço.
4ª Etapa
O projeto discute maneiras de construir monumentos que problematizam narrativas da cidade contemporânea: como atuar no espaço público através de projetos no campo expandido de arte e arquitetura que deem vida a outras memórias de cidade e proponham novos imaginários. A intenção é de explorar a tensão entre estratégias possíveis de contar novas narrativas urbanas, sinalizar e problematizar espaços invisíveis na cidade e interagir com comunidades.
A construção de São Paulo foi até então pautada por uma glorificação ao urbanismo rodoviarista: desde Prestes Maia (Plano de Avenidas, 1934-1945), Paulo Maluf (Elevado Costa e Silva, 1970) e até o projeto da Ponte Estaiada (Ponte Octavio Frias de Oliveira, 2005). Através de todos estes momentos históricos, o tecido urbano da cidade foi marcado por cicatrizes profundas: viadutos que recortam territórios e criam vazios monumentais entre sua superfície e o elemento que buscam atravessar.
Muitos dos espaços criados a partir dessas grandes obras infra-estruturais tornaram-se espaços residuais na cidade, invisíveis e ocupados, portanto, por pessoas também em condição de invisibilidade. De acordo com a Teoria do Lixo, de Michel Thompson, “muitas vezes, é o descarte e o abandono de um objeto, no passado, que vão justificar especificamente sua tesaurização no presente”.
Diante disso, o projeto “Templos Urbanos” buscou provocar um debate sobre a memória social e coletiva dos espaços do viaduto por meio de uma intervenção poética e pontual: dois holofotes projetavam uma sombra que oscilava no teto do viaduto, enquanto um canto ressoava, criando uma atmosfera de suspensão, abrindo uma fenda no cotidiano da cidade. Um vislumbre de um outro lugar possível.
Conforme Argan, em História na Metodologia de Projeto (1992, p. 02), o ato de projetar é, em uma primeira camada, a análise crítica do existente. A escolha do viaduto Júlio de Mesquita como recorte territorial e de contexto se deu principalmente por entender que os viadutos marcam a glorificação do modelo de urbanismo rodoviarista tão recorrente na história das cidades brasileiras. Portanto, a atribuição do caráter de templo a essas infraestruturas se dá por uma inversão de significado. No entanto, outra camada de análise pode se dar pelo seu inegável papel de referência e marco desse elemento na paisagem e no imaginário coletivo da cidade, além de sua própria configuração espacial. Compreendendo o viaduto a partir de tais dimensões, é possível justificar a atribuição de tal valor de maneira semelhante: tal espaço possui de fato um caráter monumental.
A arte pode funcionar “como um memorial de lembrança do passado mas também de um memorial para um presente e um futuro”. É do presente que o memorial tira sua existência, e que deriva sua ambiguidade. O projeto rememora as escolhas de cidade que pautaram o desenvolvimento de São Paulo até hoje, mas também adiciona camadas. Pensar a instalação desses dispositivos fomenta, portanto, uma atualização da narrativa e imaginário da cidade, e explicita os embates de forças existentes na esfera pública (e muitas vezes invisíveis):
“como documentos, os monumentos são criações marcadas social e historicamente, Testemunham, porém, melhor a época de sua execução do que o período que pretendem evocar. Não só o momento em que foi construído, mas também o presente.”
Após inúmeras vivências do lugar, o grupo percebeu que o Templo já existia lá: a atmosfera da floricultura, com pássaros e barulho de água corrente, os aromas das flores, a convivência cotidiana entre os usuários do Centro de Apoio a pessoas em situação de rua. No entanto, essas atmosferas estavam escondidas por detrás dos pilares do viaduto. Através dessa leitura, o projeto traz esses elementos para o centro, pairando sob a Avenida 9 de Julho. Uma conexão de icosaedros-biosferas permite espaços de permanência e passagem, envolvidos por uma massa verde.
Tubos metálicos fazem a estrutura suspensa, compondo sistemas de iluminação, irrigação, passagem e estar, cultivando o ecossistema a ser criado ao longo do tempo. Redes e plantas compõe o percurso pela passarela direta que conecta a Rua Santo Antonio e a Rua Avanhandava, a convivência e a floresta.
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